A (re)construção do ethos discursivo do presidente Jair Bolsonaro no Twitter.

• Autor(a) principal: Rute Ferreira Fraga
• Data de Publicação: 2022
• Tipo de documento: Dissertação
• Idioma: por
• Título da fonte: Repositório Institucional da UFMG
• Texto Completo: http://hdl.handle.net/1843/47324
• topic: Análise do Discurso; ethos; Jair Bolsonaro; minorias sociais; Twitter; Discourse Analysis; ethos; Jair Bolsonaro; social minorities; Twitter; Análise do discurso; Discurso político; Retórica; Minorias

O discurso populista de caráter conservador parece ter ganhado cada vez mais espaço no cenário mundial, como sugere, no Brasil, a eleição à presidência de Jair Bolsonaro em 2018. Nesse contexto, o presente trabalho, situado no campo da Análise do Discurso de vertente francesa, tem como objetivo principal investigar o ethos de Jair Bolsonaro, tal como ele se manifesta em sua conta oficial do Twitter. Apesar de se voltar contra a velha política e se apresentar como forasteiro ou outsider do sistema político, Jair Bolsonaro começou sua carreira há quase três décadas. O que nos chama mais a atenção – e que ensejou esta proposta de trabalho – é o fato de ele utilizar-se das redes sociais como um de seus principais meios de comunicação, em especial, o Twitter. Desse modo, buscamos investigar e comparar o ethos (ou os ethe) que emergem de seus tweets, em três momentos específicos de sua vida política: enquanto deputado (2017), enquanto candidato à presidência (2018) e em seu primeiro ano como presidente da República (2019). Do ponto de vista metodológico, como grande parte de suas postagens diz respeito a questões identitárias, debruçamo-nos sobre aquelas que fazem referência às minorias sociais. Selecionamos, assim, cinco postagens para cada um dos anos indicados, totalizando quinze. Como dispositivo teórico, partimos das premissas de Dominique Maingueneau, Patrick Charaudeau e Ruth Amossy acerca do conceito retórico de ethos. Em seguida, mobilizamos, como dispositivo de análise, alguns planos da Semântica Global de Maingueneau, quais sejam: os temas, a intertextualidade, o vocabulário, a dêxis enunciativa e, sobretudo, o modo de enunciação, que, privilegiando o “tom” do discurso, permite verificar mais claramente mudanças no ethos que o enunciador/Bolsonaro constrói em seus tweets. Como resultado, observamos que houve uma tentativa por parte do enunciador de desconstruir seu ethos prévio – atrelado, via de regra, a atitudes e falas preconceituosas – para construir um novo ethos, sendo a ambiguidade uma das principais estratégias linguístico-discursivas utilizadas. Observamos ainda que há uma mudança no “tom”, que se torna mais comedido, nos discursos relacionados às comunidades indígenas, à população negra, aos (i)migrantes/refugiados e às mulheres já na campanha eleitoral (2018). Todavia, ao fazer referência ao público LGBTQIAP+, o enunciador mantém o “tom” agressivo nos três momentos analisados. Desse modo, apesar da tentativa empreendida por Bolsonaro de (re)construir sua imagem (seu ethos), os tweets analisados apontam, em síntese, para a manutenção de seu ethos prévio no que diz respeito às minorias sociais, mesmo diante da assunção de um “tom” mais moderado em alguns momentos.