Sob o desígnio moral: o cinema além do filme (1900-1964)

• Autor(a) principal: Geovano Moreira Chaves
• Data de Publicação: 2018
• Tipo de documento: Tese
• Idioma: por
• Título da fonte: Repositório Institucional da UFMG
• Texto Completo: http://hdl.handle.net/1843/BUOS-B2ZNRT
• topic: Igreja católica; História; Moral; Cinema; Igreja Católica; História; Ética; Cinema

As interpretações sobre o cinema, em muitos casos, o reduzem ao específico fílmico. No entanto, o cinema como um todo é algo bem mais amplo que vai além do filme em si. Nos contornos da projeção, objeto máximo do cinema, orbitam um conjunto de atividades que dimensionam a ideia de cinema para algo muito mais complexo. Nesta pesquisa, as relações entre cinema e moral são investigadas no sentido de buscar a compreensão de como esta associação provocou movimentações nos rumos que o percurso histórico das atividades cinematográficas foram tomando na medida em que o cinema se popularizava e se desenvolvia, e por isso causava incômodos em grupos que se organizaram no anseio de tentarem direcionar os destinos e aplicabilidades do cinema no social. Para tanto, a pesquisa principia analisando a autorregulação moral dos primórdios da indústria de cinema norte-americana, ou seja, os modos como por meio de uma pressão advinda sob o argumento da moralização, legislações foram sendo criadas até o surgimento do Código de Produção, que promoveu um filtro direcionado aos filmes considerados imorais temendo perder os grandes lucros faturados pela indústria. Devido ao poderio financeiro da indústria de cinema norte-americana na distribuição de filmes pelo mundo, este filtro moral autorregulatório influenciou as percepções sobre o cinema em vários países, com destaque nesta pesquisa para o Brasil. Neste cenário, organizações católicas foram criadas visando tentarem solucionar as ameaças que o cinema causava ao que estas concebiam como as devidas condutas morais dos indivíduos cristãos, sendo que mais se destacaram neste sentido o Office Catholique Internationale Du Cinema e a Legião da Decência dos Estados Unidos, esta última, portadora de grande influência junto as indústrias de cinema e as altas autoridades hierárquicas católicas, influência esta que culminou na articulação e produção por parte do Vaticano de um documento legitimador que serviu como base para direcionar as ações católicas para o cinema: a encíclica Vigilanti Cura. Paralelo a estas situações, houve também o anseio de direcionar os rumos do cinema pelo viés do argumento moral através das teorizações dos papas que, desde o final do século XIX, compreenderam que havia a necessidade de disputarem no âmbito do discurso o que consistia e qual era o lugar do cinema dentro da modernidade que por eles era, inclusive, negada. Esta anti-modernidade cujo cinema era um produto de perigo levou ao surgimento da Ação Católica, entidade esta que criou secretariados e departamentos específicos para lidar com o cinema, o que por outro lado acabou gerando uma intensa movimentação cinematográfica no Brasil, através da fomentação de atividades que levaram a formação de intelectuais militantes da causa moral para o cinema, assim como também potencializaram o cineclubismo, revistas de cinema e a criação do primeiro curso superior acadêmico de cinema no Brasil. Portanto, esta pesquisa procura evidenciar as formas em que através do eixo argumentativo/discursivo que procurou atrelar o cinema ao discurso moral constructo conforme as conveniências, várias foram as situações que, partindo desta vinculação, movimentaram as atividades cinematográficas nos Estados Unidos e no Brasil durante grande parte do século XX