Sexualidade, gênero e adolescência: o cuidado de si por meio de um jogo online.

• Autor(a) principal: Aline de Abreu Silvestre Sales
• Data de Publicação: 2020
• Tipo de documento: Dissertação
• Idioma: por
• Título da fonte: Repositório Institucional da UFMG
• Texto Completo: http://hdl.handle.net/1843/43252; https://orcid.org/ 0000-0003-2340-4684
• topic: Adolescente; Sexualidade; Gênero; Cuidado; Jogos e Brinquedos; Tecnologia Educacional; Adolescente; Sexualidade; Identidade de Gênero; Empatia; Jogos e Brinquedos; Tecnologia Educacional; Dissertação Acadêmica

Introdução: A sexualidade na adolescência compreende uma etapa da vida marcada por rupturas, ressignificações do corpo e dos papéis sociais. Tais mudanças são acompanhadas por experimentações e pelo exercício da autonomia. A atuação da/o adolescente na proposição de estratégias de cuidado de si e na tomada de decisão possui influência positiva para a melhoria das relações consigo e para o seu desenvolvimento social e emocional. A partir dessa premissa e da carência de espaços que promovam o diálogo sobre sexualidade e sobre relações de gênero de forma livre, inventiva e autônoma, foi criado o Jogo online Papo Reto para adolescentes. Por meio de situações-problema, o jogo simula realidades e possibilita a interação entre pares, sem a intervenção de adultos e sem amarras aos conceitos cristalizados. Objetivo: O objetivo neste estudo foi analisar as estratégias de cuidado propostas por adolescentes, a partir de suas interações no Jogo online Papo Reto, à luz da teoria Foucaultiana do cuidado de si. Método: Estudo de abordagem qualitativa, descritiva e exploratória, com análise de conteúdo das narrativas de adolescentes de 15 a 19 anos, provenientes de escolas públicas de São Paulo, Belo Horizonte e Sabará (Minas Gerais). Foram levantadas as situações-problema com maior nível de interação, extraindo-se quatro categorias de análise: conflito e violência nas relações de intimidade; relações abusivas perpetradas por terceiros; relação com o corpo; e exercício da sexualidade. Resultados: Na primeira categoria, verificou-se que as estratégias de cuidado foram individualizadas e restritas ao casal. O governo de si revelado nas proposições, nos discursos e nas argumentações das/os adolescentes mostrou-se bastante presente, levando a estratégias como conversar com a/o parceira/o, controlar a agressividade, terminar o namoro e chamar a polícia. A segunda categoria apresentou estratégias de cuidado fortemente direcionadas para a publicização das situações de violência, em consonância com o conceito de governamentalidade, como solicitar a interferência da polícia, bem como controlar os corpos das/os adolescentes. Na terceira categoria, as estratégias de cuidado foram direcionadas para a tomada de decisão sobre o próprio corpo, além de estratégias de controle e de disciplina sobre os corpos, em representação ao biopoder. A última categoria revelou estratégias de cuidado direcionadas para a resistência aos espaços de sujeição, à disciplina e ao controle dos corpos. Também estiveram presentes estratégias regidas pelo biopoder, com a reprodução de discursos normativos e disciplinares mediante a reprovação da homossexualidade e a valorização de virilidade masculina. Considerações finais: Este estudo revelou a capacidade das/os adolescentes para tomada de decisão autônoma, criticidade, argumentação e definição de estratégias com o intuito de se protegerem, se cuidarem e estabelecerem o seu modo de estar no mundo. Foi ainda destaque a reprodução das desigualdades entre os gêneros como um pressuposto para o estabelecimento de estratégias de cuidado divergentes para meninos e meninas. É inequívoca a necessidade de implantação de políticas públicas nessa área, com maior abertura governamental e escolar, bem como participação familiar para serem colocadas em prática de forma ampla, democrática e dentro dos princípios da autonomia, da cidadania e dos direitos sexuais e reprodutivos das/os adolescentes.