Deixis na Romania Nova: o lugar dos demonstrativos no portugues de Belo Horizonte e no espanhol da Cidade do Mexico

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Sara Alves Stradioto
Data de Publicação: 2012
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional da UFMG
Texto Completo: http://hdl.handle.net/1843/LETR-8UBNYX
Resumo: A relação entre a linguagem humana e o mundo exterior tem sido objeto de estudo em diferentes áreas de pesquisa e sob diferentes perspectivas. No campo da dêixis, verifica-se que diferentes culturas dividem, analisam e classificam o espaço de forma diferente (ULLMANN, 1966, p. 68). O propósito desta pesquisa foi entender os mecanismos sincrônicos de referência dêitica em duas variedades da România Nova, a saber, o português falado em Belo Horizonte e o espanhol falado na Cidade do México, com especial atenção à produtividade da construção demonstrativo + locativo. Sabe-se que há duas tendências comuns no sistema de demonstrativos das línguas românicas: a redução de uma das formas de demonstrativo, passando de um sistema inicialmente composto de três elementos para outro composto de dois, e a adjunção de locativo a essas formas (CAMBRAIA & BIANCHET, 2008, p. 29). Essas tendências parecem estar relacionadas, uma vez que a perda de diferenciação da informação semântica ocasionada pela redução do sistema de demonstrativos aparentemente seria compensada com o significado espacial oferecido pelo locativo. Esta pesquisa segue orientação teórica funcionalista e adota os postulados de Givón (1979), Hopper & Traugott (1993) e Traugott (2008) ao tratar a combinação dos demonstrativos e locativos nas línguas românica como uma provável construção gramaticalizada. Os métodos de coleta de dados foram aplicação de questionário, baseado em Milano (2007), e realização de experimento com informantes das duas cidades consideradas. Confirmamos que no português de Belo Horizonte há uma perda de este (e flexões) no sistema dos demonstrativos e que no espanhol da Cidade do México a forma em desuso é aquel (e flexões). Observamos, além disso, que não só há tendência de desuso de uma das formas mas também os valores que elas expressam também sofrem mudanças: a tendência ao desaparecimento de uma forma de demonstrativo tem levado à fixação, como centro dêitico no português de Belo Horizonte, do espaço em que falante e ouvinte se encontram (representado indistintamente por esse [e flexões]) e, no espanhol da Cidade do México, do espaço do falante (representado indistintamente por este [e flexões]). No entanto, a adjunção de locativos não é igualmente produtiva nas duas variedades linguísticas aqui consideradas. Enquanto nos dados do português de Belo Horizonte houve uma alta ocorrência de demonstrativos acompanhados de locativo em um mesmo sintagma nominal, essa estratégia não se manifestou significativamente no espanhol da Cidade do México. Por último, verificamos que o gesto de apontar, ato intrinsecamente dêitico, não constitui um mecanismo compensador da perda de forma de demonstrativos, conforme hipotetizou Pereira (2005, p. 100-101). Ao contrário: essa estratégia está profundamente entrelaçada na produção linguística de forma geral.
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Sabe-se que há duas tendências comuns no sistema de demonstrativos das línguas românicas: a redução de uma das formas de demonstrativo, passando de um sistema inicialmente composto de três elementos para outro composto de dois, e a adjunção de locativo a essas formas (CAMBRAIA & BIANCHET, 2008, p. 29). Essas tendências parecem estar relacionadas, uma vez que a perda de diferenciação da informação semântica ocasionada pela redução do sistema de demonstrativos aparentemente seria compensada com o significado espacial oferecido pelo locativo. Esta pesquisa segue orientação teórica funcionalista e adota os postulados de Givón (1979), Hopper & Traugott (1993) e Traugott (2008) ao tratar a combinação dos demonstrativos e locativos nas línguas românica como uma provável construção gramaticalizada. Os métodos de coleta de dados foram aplicação de questionário, baseado em Milano (2007), e realização de experimento com informantes das duas cidades consideradas. Confirmamos que no português de Belo Horizonte há uma perda de este (e flexões) no sistema dos demonstrativos e que no espanhol da Cidade do México a forma em desuso é aquel (e flexões). Observamos, além disso, que não só há tendência de desuso de uma das formas mas também os valores que elas expressam também sofrem mudanças: a tendência ao desaparecimento de uma forma de demonstrativo tem levado à fixação, como centro dêitico no português de Belo Horizonte, do espaço em que falante e ouvinte se encontram (representado indistintamente por esse [e flexões]) e, no espanhol da Cidade do México, do espaço do falante (representado indistintamente por este [e flexões]). No entanto, a adjunção de locativos não é igualmente produtiva nas duas variedades linguísticas aqui consideradas. Enquanto nos dados do português de Belo Horizonte houve uma alta ocorrência de demonstrativos acompanhados de locativo em um mesmo sintagma nominal, essa estratégia não se manifestou significativamente no espanhol da Cidade do México. Por último, verificamos que o gesto de apontar, ato intrinsecamente dêitico, não constitui um mecanismo compensador da perda de forma de demonstrativos, conforme hipotetizou Pereira (2005, p. 100-101). Ao contrário: essa estratégia está profundamente entrelaçada na produção linguística de forma geral.The relationship between human language and the outside world has been on the focus of several different fields of research under a number of perspectives. As far as deixis is concerned, it is argued that cultures divide, analyze, and classify space in different ways (ULLMANN, 1966, p. 68). The aim of this paper is to understand how deictic reference functions in two varieties of Romania Nova, namely, Portuguese spoken in Belo Horizonte and Spanish spoken in Mexico City, with special focus on the productivity of the demonstrative + locative construction. It is known that there are two main trends in romance languages: the dropping of one of the demonstratives, thus rendering an initially three-element structure simpler, with only two elements; and the eventual joining of a locative to these elements (CAMBRAIA & BIANCHET, 2008, p. 29). The aforementioned trends seem to bear some sort of relation since the loss of semantic information brought forward by the rearranging of the demonstrative elements appears to be balanced by the spatial meaning provided by the locative particle. This study is based on a functionalist approach that relies on postulates by Givón (1979), Hopper & Traugott (1993), and Traugott (2008) in addressing the combination of demonstrative and locative elements in romance languages as a probable grammatical construction. The methods for data collection were the conduction of survey questionnaires, based on Milano (2007), and the carrying out of an experiment performed by subjects from both cities. It was noted that the demonstrative form este (and its inflections) has been dropped by Portuguese speakers from Belo Horizonte whereas the demonstrative form aquel (and its inflections) has been dropped by Spanish speakers from Mexico City. It was also possible to realize that not only there is the trend of dropping one demonstrative form but also that the semantic value that they express are changing: the trend of dropping of one demonstrative form has led to different trends across languages: the deictic center of Portuguese spoken in Belo Horizonte is now considered to be the space where both the speaker and the hearer are (indistinctively represented by esse and its inflections); in Spanish spoken in Mexico City the deictic center is the space where the speaker is (indistinctively represented by ese and its inflections). Nevertheless, the joining of locatives is not equally productive across both aforementioned languages. While Belo Horizonte Portuguese data displayed a high number of demonstrative pronouns joined by a locative adverb within the same noun phrase (which characterizes the construction), Mexico City Spanish data have not shown the same pattern. Finally, it is argued that pointing gestures an intrinsically deictic strategy does not function as a compensatory mecanism for the dropping of demonstrative form, as has been suggested by Pereira (2005, p. 100-101). On the contrary: this strategy is closely connected with the linguistic production in a much broader sense.Universidade Federal de Minas GeraisUFMGLinguas romanicasLingua espanhola DeixisLingua espanhola Espanhol falado Cidade do México (México)Lingua portuguesa Gramática comparada EspanholLingua portuguesa DeixisLíngua portuguesa Português falado Belo Horizonte (MG)Lingua espanhola Gramática comparada Português BrasilGramatica comparada e geral DeixisDeixisPortuguesDeixis na Romania Nova: o lugar dos demonstrativos no portugues de Belo Horizonte e no espanhol da Cidade do Mexicoinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisinfo:eu-repo/semantics/openAccessporreponame:Repositório Institucional da UFMGinstname:Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)instacron:UFMGORIGINAL1506m.pdfapplication/pdf4231097https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/LETR-8UBNYX/1/1506m.pdf27c03e00ec9d6376fe55f20479684705MD51TEXT1506m.pdf.txt1506m.pdf.txtExtracted texttext/plain387094https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/LETR-8UBNYX/2/1506m.pdf.txt2225a7ae94abe68c4a004161c371df47MD521843/LETR-8UBNYX2019-11-14 19:46:52.973oai:repositorio.ufmg.br:1843/LETR-8UBNYXRepositório de PublicaçõesPUBhttps://repositorio.ufmg.br/oaiopendoar:2019-11-14T22:46:52Repositório Institucional da UFMG - Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)false
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