Atravessamentos entre o afirmação na pós, pessoas negras e a UFMG: por uma ontologia do cruzo

• Autor(a) principal: Elisângela de Jesus Furtado da Silva
• Data de Publicação: 2023
• Tipo de documento: Tese
• Idioma: por
• Título da fonte: Repositório Institucional da UFMG
• Texto Completo: http://hdl.handle.net/1843/51392
• topic: Coletivos negros universitários; Ontologia do Cruzo; Afirmação na Pós; Escrevivências; Administração; Estudo e ensino (Pós-graduação); Negros; Educação; Programas de ação afirmativa; Brasil

A questão que norteou a realização dessa pesquisa foi a de como se dá a produção e a disseminação do conhecimento no Afirmação na Pós enquanto um coletivo negro universitário. O objetivo geral foi o de analisar o cruzo, enquanto possibilidade de acesso à dimensão política de produção e disseminação do conhecimento no Afirmação na Pós, um coletivo negro universitário. A tese que defendo é a de que no Afirmação na Pós, enquanto coletivo negro universitário, a produção e a disseminação do conhecimento indicam a existência de uma Ontologia do Cruzo. Foi realizado um estudo sob o método de inspiração indutiva, de abordagem qualitativa, reflexivo e descrito em capítulos teórico-empíricos. O primeiro objetivo específico foi o de conhecer as práticas do Afirmação na Pós, o que foi feito por meio de entrevistas em profundidade e escrevivências. Foi possível perceber que os movimentos sociais negros geralmente são apresentados no singular, o que sugere erroneamente se tratar de um processo social homogêneo, pois na verdade são práticas amplamente distintas, fluídas e plurais. O segundo objetivo específico foi o de problematizar os atravessamentos das vidas paridas no cruzo organizadas na academia, o que foi feito por meio da Análise dos Cruzos, por ser ótica analítica tão plural quanto às práticas e os sujeitos do grupo em questão. Foi possível perceber que os sujeitos, considerados ativistas, em função de que compartilham um determinado ideário político, o e enegrecer a universidade, reconhecem seus próprios atravessamentos, em meio a quizumba contextual, local e individual, e que a malandragem, entendida como arranjos criativos inventados no cotidiano, para os sujeitos paridos no cruzo aponta para as possibilidades organizativas e de agenciamento. O último objetivo específico realizado foi o de analisar a construção e disseminação do conhecimento presentes no Afirmação na Pós enquanto possibilidade de sistema de saber singular, originado e significado no cruzo. Foi observado que os sujeitos acessam capacidades, atributos associados a Exu, e que são capazes de ver e compreender as encruzilhadas, como também os dilemas, os paradoxos em si mesmos e nas relações sociais. Esses fatores conferem aos sujeitos uma possibilidade distinta de agenciamento, segundo a qual, as diferenças sociais, que anteriormente estavam associadas à subalternização, desontologização e desumanização, são deslocadas e se tornam a base para uma produção científica politicamente engajada com mudança social. Os dados produzidos a partir da observação e da análise da vida social organizada dos membros permitiram identificar elementos que apontam uma gnose distinta, um campo distinto, a forma de acesso e como esse campo se apresenta enquanto real. O repertório que compõe o quadro de referência para leitura e análise dos fenômenos é plural, na medida em que considera os saberes tradicionais, a religiosidade, os ditados populares, as expressões artísticas e culturais e o conhecimento científico. A cientificidade é fruto do ebó epistêmico que concilia responsabilidade, ética e estética com valores ancestrais e tradicionais ligados à encruzilhada. Esse estudo não procura se tornar expressão última de um fenômeno observado em um grupo. A intenção é justamente a de perceber quais as possibilidades vislumbradas partem dos achados aqui apresentados e, nesse sentido, problematizar novos sistemas de pensamento, que contribuem para construirmos outra ciência e outra universidade, mais próximas e sensíveis às singularidades do nosso país.