“Eu troquei a experiência profissional pela minha saúde”: análise dos impactos do trabalho precário na saúde mental dos advogados inseridos nos escritórios de massa

• Autor(a) principal: Tamiris Vilas Bôas da Paixão
• Data de Publicação: 2021
• Tipo de documento: Dissertação
• Idioma: por
• Título da fonte: Repositório Institucional da UFMG
• Texto Completo: http://hdl.handle.net/1843/44294
• topic: Precarização social do trabalho; Adoecimento mental; Escritórios especializados no contencioso de massa; Direito do trabalho; Saúde mental; Escritórios de advocacia; Ambiente de trabalho

A presente pesquisa tem por objetivo investigar as condições de trabalho nos escritórios especializados no contencioso de massa e a sua possível relação com o desenvolvimento de distúrbios mentais pelos advogados. Para tanto, parte-se da hipótese de que a dinâmica laboral estabelecida nos escritórios do contencioso de massa é expressão do fenômeno da precarização social do trabalho que atinge toda a classe trabalhadora no Brasil, reunindo um conjunto de indicadores da precarização que, de forma integrada, contribuem para o adoecimento dos advogados. Tomamos como pontos de partida teóricos a contribuição marxiana sobre a centralidade do trabalho na autoconstituição de homens e mulheres e a contradição assumida pela atividade laboral no modo especificamente capitalista de reprodução social da vida, ao metamorfosear-se em espaço de estranhamento e alienação. Filiamo-nos à abordagem do campo de estudos da SM&T, que reconhece o potencial do trabalho de contribuir diretamente para os processos de saúde e doença dos trabalhadores e aos estudos que associam a precarização social do trabalho ao avanço do adoecimento psíquico com nexo laboral, como antes nunca se viu na história do capitalismo. Para a realização da pesquisa empírica, optamos pela adoção do método das entrevistas semiestruturadas como forma de acessar as vivências laborais dos profissionais e as suas percepções mais sensíveis a respeito do impacto do trabalho na advocacia de massa na sua trajetória de vida e na sua saúde. O acúmulo teórico propiciado pela revisão de literatura e a sua articulação com as narrativas dos advogados nos permitiram concluir que o trabalho realizado nas firmas jurídicas do segmento de massa se firma no horizonte dos jovens profissionais como uma atividade marcada por extrema precarização. Os seus efeitos se espraiam para dentro e para fora do ambiente laboral na medida em que comprometem tempos de vida de descanso, lazer e da família. Assim, as práticas perpetradas pela organização laboral objeto de análise confirmam a hipótese inicialmente levantada, desvelando a estreita relação entre a precarização e o surgimento de transtornos psíquicos. Além disso, os marcadores sociais de gênero e de raça emergiram nas entrevistas como elementos que aprofundam o adoecimento com nexo laboral nos escritórios de massa.