A institucionalização da desconfiança em uma relação intersetorial : os estabelecidos e os outsiders no caso do rompimento da barragem de Fundão, em Mariana (MG)

• Autor(a) principal: Rafael Coutinho Chagas Pereira
• Data de Publicação: 2019
• Tipo de documento: Dissertação
• Idioma: por
• Título da fonte: Repositório Institucional da UFMG
• Texto Completo: http://hdl.handle.net/1843/35637
• topic: Relações intersetoriais; Estabelecidos e outsiders; Barragem de Fundão, Mariana (MG); Fundação Renova; Desconfiança

Em 05 de novembro de 2015, ocorre o maior crime/desastre socioambiental do Brasil: rompe na cidade de Mariana, no estado de Minas Gerais, a barragem de Fundão no complexo minerário de Germano, da empresa Samarco. Uma barragem que represava 50 milhões de metros cúbicos de rejeitos da mineração de ferro. Desse resíduo, 45 milhões de metros cúbicos foram lançados no meio ambiente, percorrendo quase 700 km ao longo da bacia do Rio Doce até alcançar o Oceano Atlântico. A onda de lama tóxica soterrou os subdistritos de Bento Rodrigues e Paracatu de Baixo, em Mariana (MG), e provocou uma destruição incalculável. Nessa tragédia, o foco se volta para a Fundação Renova, surgida em 2016, após um Termo de Transação e de Ajustamento de Conduta (TTAC). Este acordo homologado e celebrado entre a mineradora Samarco, a Vale, a BHP Billiton, os governos estaduais de Minas Gerais e do Espírito Santo e o governo federal, cunhou termos que vislumbravam uma possível governança compartilhada sobre o caso e concebeu uma Fundação que, desde o início, tornou-se a principal protagonista no andamento das negociações e cujas ações geram reações múltiplas e adversas entre as pessoas atingidas pela lama de rejeitos e entre outros/as envolvidos/as nessa situação. Percebendo essa complexidade, o objetivo desta dissertação de mestrado é investigar um espaço de negociação e diálogo em uma situação de crime/desastre tecnológico-ambiental para averiguar se a relação intersetorial estabelecida tem favorecido os/as principais atingidos/as e vítimas ou as empresas e organizações responsáveis pelo ocorrido. A partir de um estudo de caso sobre o rompimento da barragem de Fundão, com visitações à Mariana (MG) e observações anotadas em caderno de campo, descobriu-se que a mineradora Samarco, por meio da Fundação Renova, busca permanecer no centro das negociações e tomadas de decisão na busca pela resolução dos problemas. Ela age para se distanciar da situação, enquanto, simultaneamente, adota uma postura de conciliação e contínua tentativa de permanecer próxima aos/às atingidos/as a partir da construção de relações com laços fracos, o que lhe permite ter acesso a informações cruciais e que acaba gerando um ambiente regido pelo sentimento constante de desconfiança entre os/as agentes envolvidos/as. Ademais, a empresa e a fundação se autoproclamam estabelecidas e atuam de forma homogênea, preservando seus interesses e alimentando mentiras, estigmas e relações conflituosas com os/as atingidos/as que, por sua vez, tornam-se os/as outsiders nos processos de negociação.