Influências do quadro litoestrutural e dos processos fluviais na configuração do modelado do relevo no Médio Paraguaçú/Jiquiriçá, Região de Milagres/Itatim - BA

• Autor(a) principal: João Henrique Moura Oliveira
• Data de Publicação: 2020
• Tipo de documento: Tese
• Idioma: por
• Título da fonte: Repositório Institucional da UFMG
• Texto Completo: http://hdl.handle.net/1843/35197
• topic: Evolução do relevo; Erosão fluvial; Relevo granítico/metamórfico; Inselbergues; Paisagens semiáridas; Estado da Bahia; Geomorfologia - Bahia; Relevo - Bahia; Transporte de sedimento

A morfogênese das paisagens semiáridas do Brasil foi tradicionalmente explicada privilegiando os aspectos morfoclimáticos, seguindo o modelo de pediplanação, contudo, atualmente, a pesquisa geomorfológica adquire uma nova perspectiva em compreender a gênese e a evolução do relevo considerando os aspectos estruturais ou morfoestruturais. O Estado da Bahia serviu como grande laboratório no desenvolvimento de pesquisas geomorfológicas pela perspectiva morfoclimática, carecendo, atualmente, de estudos que se atentem aos fatores estruturais formadores do relevo. Para tanto, elegeu-se como área de estudo um setor da bacia do rio Paraguaçu em sua margem direita à altura de seu médio curso (área de ocorrência do Campos de Inselbergues de Milagres-Itatim-Iaçu), estendendo-se até os divisores com a média bacia do rio Jiquiriçá (sub-bacias: do Ribeirão e Verde). Assim, objetivou-se analisar a configuração morfogenética do modelado a partir do condicionamento do quadro litoestrutural e dos processos fluviais no Médio Paraguaçu/Jiquiriçá, região de Milagres/Itatim-BA. Foram utilizados dados do modelo digital de elevação de 30m (MDE-SRTM) e 12,5m (ALOS-PALSAR) de resolução espacial para obtenção da altimetria, declividade e relevo sombreado. Também foram utilizadas imagens de satélite de média e alta resolução, análise in loco, análise de rochas por difratometria de raio X (DRX), interpretação de perfis longitudinais e de Swath, índices morfométricos: fator de assimetria de bacias de drenagem (FABD), fator de forma (FF). Foi empreendida caracterização geomorfológica na qual se discriminaram cinco Unidades no setor da bacia do Paraguaçu e duas na bacia do Jiquiriçá: Planalto de Maracás e Patamar do Médio Jiquiriçá-Verde. O condicionamento estrutural das drenagens e das formas de relevo, mais especificamente inselbergues e serras marginais, foi identificado por meio de descrição e análise direcional. Identificou-se que ambos se encontram condicionados ao padrão de zonas de cisalhamento compressional (WNW-ESE), zonas miloníticas (NNW-SSE; E-W), linhas de fratura (NNW-SSE; NNE-SSW) e lineamentos estruturais. A influência da morfoestrutura e o papel dos rios foram demonstrados por meio da análise de perfis longitudinais, em que se identificaram knickpoints. Isso foi corroborado pela identificação no divisor Paraguaçu/Ribeirão-Verde, de desequilíbrios morfológicos e topológicos utilizando análise χ-maps, e feições anômalas de drenagem como cotovelos, indicando processos de rearranjo de drenagem. Os inselbergues mapeados demonstraram uma variedade de tipos e evidenciaram seu condicionamento em relação às estruturas geológicas e lineamentos. A análise das rochas via DRX apontou diferença mineralógica entre rochas dos inselbergues, lajedos (depressão) e frente de escarpas. As rochas dos inselbergues são mais ricas, proporcionalmente, em minerais potássicos (K-feldspatos); as rochas dos lajedos possuem valores menores de K-feldspatos e maiores proporções de minerais sódicos. Por fim, foi proposta uma síntese evolutiva na qual a drenagem tributária do rio Paraguaçu, posicionada à altura do que atualmente se constitui a Depressão do Médio Paraguaçu, passou a dissecar um manto de alteração originado em uma fase climática úmida. A gênese, a profundidade e a expansão desse front de alteração foram condicionadas pela diferença entre a trama de fraturas e a variação litológica dos blocos rochosos que viriam a constituir os inselbergues e substrato da superfície erosiva. Sucessivas fases dessa morfogênese são perceptíveis atualmente nos inselbergues, em que paleosuperfícies epigênicas e tafoni são os principais marcadores das diversas fases evolutivas reconhecíveis na Depressão do Médio Paraguaçu. Conclui-se, por fim, que a compreensão dos aspectos estruturais, morfoestruturais e litológicos do relevo da área investigada foram fundamentais para a compreensão de sua morfogênese.