O Severino com câncer diante da morte: a morte na visão do sertanejo nordestino em tratamento oncológico

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Carvalho, Lana Veras de
Data de Publicação: 2009
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UNIFOR
Texto Completo: https://biblioteca.sophia.com.br/terminalri/9575/acervo/detalhe/85878
Resumo: O estudo, ?O Severino com câncer diante da morte?, tem, como objetivo, compreender os sentidos atribuídos à morte pelo sertanejo nordestino em tratamento oncológico. Para essa finalidade, estudou-se a morte em suas facetas histórica e psicológica; explorou-se a realidade histórico-cultural do homem do sertão nordestino em seus aspectos ligados à perda; e compreendeu-se a pessoa com câncer em sociedade, considerando as contribuições da antropologia médica na construção de uma psico-oncologia mundana. As realidades: morte, sertão e câncer foram entrelaçadas, considerando a mútua constituição da experiência vivida do sertanejo com câncer diante da morte. Esse entrelaçamento foi realizado a partir de uma abordagem qualitativa e com o auxílio do método fenomenológico mundano à luz do referencial merleau-pontyano. Foram utilizados dois instrumentos de coleta de dados: a observação participante e a entrevista fenomenológica. A observação participante ocorreu, inicialmente, na casa de apoio do Hospital do Câncer do Ceará, de onde emergiram sete colaboradores, pacientes em tratamento oncológico oriundos de cidades do sertão, com os quais foram realizadas entrevistas fenomenológicas. Para continuidade do processo de observação participante, as cidades de dois sertanejos colaboradores foram visitadas: Independência-CE e Quixeramobim-CE. As discussões sobre o material produzido, a partir das entrevistas e observações, constatam que a morte é vista pelo sertanejo com câncer sem negação, como um dever, doloroso, mas inevitável e esperado. A dor é reconhecida como intensa, porém, a reabilitação é necessária. A compreensão de adoecimento e morte é bastante abrangente, envolvendo aspectos psicossociais. O caráter universal do morrer é confirmado por meio das sucessivas vivências de perda. A presença no momento da morte de algum familiar é considerada demonstração de dedicação ao outro, e é citada como reconfortante no período do luto. A morte também é compreendida como destino pré-determinado por Deus, o que contribui para seu enfrentamento com resignação, e dá sentido à perda, o que facilita o processo de luto. A fé é uma das formas de enfrentamento mais utilizadas, e o medo da morte é pouco referido. Os rituais funerários tradicionais ainda existem, mas neles foram evidenciadas modificações, pois redes de planos funerários se espalham pelo sertão e a cultura local é encharcada por referenciais importados, porém, esta reage, incorporando essas novas práticas ao seu modo, e resignificando-as. O câncer é ainda uma patologia envolta em tabus, e os profissionais de saúde usam eufemismos para nomeá-lo. Os colaboradores relatam fazer uso conjunto da medicina, dos conhecimentos populares e das orações. A alternância entre fartura e pobreza é comum na vida do sertanejo e a convivência com essas polaridades coloca essas pessoas em uma situação de transitoriedade, em que os sucessivos ciclos de ganhos e perdas impedem uma sensação de perenidade e segurança. Palavras-chave: Morte, Sertanejo, Câncer, Psicologia Social, Fenomenologia.
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Esse entrelaçamento foi realizado a partir de uma abordagem qualitativa e com o auxílio do método fenomenológico mundano à luz do referencial merleau-pontyano. Foram utilizados dois instrumentos de coleta de dados: a observação participante e a entrevista fenomenológica. A observação participante ocorreu, inicialmente, na casa de apoio do Hospital do Câncer do Ceará, de onde emergiram sete colaboradores, pacientes em tratamento oncológico oriundos de cidades do sertão, com os quais foram realizadas entrevistas fenomenológicas. Para continuidade do processo de observação participante, as cidades de dois sertanejos colaboradores foram visitadas: Independência-CE e Quixeramobim-CE. As discussões sobre o material produzido, a partir das entrevistas e observações, constatam que a morte é vista pelo sertanejo com câncer sem negação, como um dever, doloroso, mas inevitável e esperado. A dor é reconhecida como intensa, porém, a reabilitação é necessária. A compreensão de adoecimento e morte é bastante abrangente, envolvendo aspectos psicossociais. O caráter universal do morrer é confirmado por meio das sucessivas vivências de perda. A presença no momento da morte de algum familiar é considerada demonstração de dedicação ao outro, e é citada como reconfortante no período do luto. A morte também é compreendida como destino pré-determinado por Deus, o que contribui para seu enfrentamento com resignação, e dá sentido à perda, o que facilita o processo de luto. A fé é uma das formas de enfrentamento mais utilizadas, e o medo da morte é pouco referido. Os rituais funerários tradicionais ainda existem, mas neles foram evidenciadas modificações, pois redes de planos funerários se espalham pelo sertão e a cultura local é encharcada por referenciais importados, porém, esta reage, incorporando essas novas práticas ao seu modo, e resignificando-as. O câncer é ainda uma patologia envolta em tabus, e os profissionais de saúde usam eufemismos para nomeá-lo. Os colaboradores relatam fazer uso conjunto da medicina, dos conhecimentos populares e das orações. A alternância entre fartura e pobreza é comum na vida do sertanejo e a convivência com essas polaridades coloca essas pessoas em uma situação de transitoriedade, em que os sucessivos ciclos de ganhos e perdas impedem uma sensação de perenidade e segurança. Palavras-chave: Morte, Sertanejo, Câncer, Psicologia Social, Fenomenologia.The dissertation, ?Severino with cancer facing death?, has the objective to understand the meanings a patient from the northeast of Brazil, facing the oncological treatment, gives to death. Death was studied analyzing its historical and psychological aspects, the history and culture of the reality faced by the man from the countryside of northeast was focused on the aspects related to loses, and, the person with cancer was referred to as part of his/her society. It all considered the contributions of the medical anthropology for the construction of a mundane psychooncology. The realities: death, countryside and cancer were entwined, considering the mutual constitution of the experience lived by the man from the countryside that has cancer and is facing death.This net was built according to the qualitative approach and having the help of the mundane phenomenological method, as well as the words and theory from Merleau-Ponty. Two instruments were used to collect the data: the participant observation and the phenomenological interview. The participant observation took place in the supporting house from Ceara?s Cancer Hospital and it was possible to meet seven collaborators, all of them patients during treatment and coming from the countryside. Those patients participated in the phenomenological interviews. And also, in order to reinforce the importance of the participative interview, two cities were visited: Independência-CE and Quixeramobim ? CE.The discussions about the material raised from the interviews and the observations affirmed that death is not denied by those men with cancer, it is seen as a duty; painful, but unavoidable and awaited. The pain is recognized as intense, however the rehabilitation is necessary. The comprehension of getting sick and the comprehension of death involve psychosocial aspects. The universal aspect of dying is confirmed through the repetitive loses in life; the presence of a family member in the moment of the death is considered an act of dedication and it is mentioned as comforting during the mourning period. Death is seen as destiny, pre-determined by God, and that contributes during the period the person has to face the disease with resignation; it also gives meaning to the losses and eases the process of morning. Faith is one of the most common ways to face the disease, and, the fear of death is rarely mentioned. The traditional funeral rituals still exist, but it was possible to see some modifications. Since funerary organizations spread through the countryside and the local culture is flooded by external references, the man from this region reacts incorporating all this new habits and giving them new meanings. Cancer is still a pathology often referred as a taboo and health professionals use euphemisms not to mention it. The interviewed collaborators said they use medicine, popular knowledge and prays. The reality of the changes between poverty and wealth are present in the life of those men, and the fact that they deal with these polarities puts them in a temporary situation, in which the constant cycles of ups and downs impede feelings of security and perennialty. Key-Words: Death, Man from the Countryside of Northeast, Cancer, Social Psychology, PhenomenologyCavalcanti, Virginia de Saboia MoreiraCavalcanti, Virginia de Saboia MoreiraEwald, Ariane PatríciaCavalcante Júnior, Francisco SilvaUniversidade de Fortaleza. Programa de Pós-Graduação em Administração de EmpresasCarvalho, Lana Veras de2009info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisapplication/pdfhttps://biblioteca.sophia.com.br/terminalri/9575/acervo/detalhe/85878https://uol.unifor.br/auth-sophia/exibicao/5565Disponibilidade forma física: Existe obra em CD-Rom de código : 81582porreponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UNIFORinstname:Universidade de Fortaleza (UNIFOR)instacron:UNIFORinfo:eu-repo/semantics/openAccess2024-01-25T21:54:09Zoai::85878Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttps://www.unifor.br/bdtdONGhttp://dspace.unifor.br/oai/requestbib@unifor.br||bib@unifor.bropendoar:2024-01-25T21:54:09Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UNIFOR - Universidade de Fortaleza (UNIFOR)false
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