Caos e pós-modernidade na cultura pernambucana - a estética do mangue

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Romário Saldanha Neto, Manuel
Data de Publicação: 2004
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional da UFPE
Texto Completo: https://repositorio.ufpe.br/handle/123456789/7962
Resumo: Buscando explicitar as bases econômicas, sociais e políticas do que veio a denominar-se movimento mangue , a presente monografia caminhou no sentido de fazer um estudo interdisciplinar, concretando ao final uma pesquisa plástica. Com vistas, mostrar os liames profundos que unem o universo do fazer artístico às relações da sociedade pernambucana, deu-se ênfase ao período que vai de 1990 à 2000. Nesta perspectiva, explicitamos, ao longo do texto, certas referências simbólicas arquetípicas de homem, natureza e cultura do universo imaginário nordestino, tais como, resistência, fome, seca e pobreza , que permeiam profundamente o discurso da cultura Mangue, marcado pela fusão do imaginário do sertão com o imaginário do litoral pernambucano. A partir de autores, tais como: Euclides da Cunha, Gilberto Freyre e Josué de Castro, objetivamos melhor estudar e compreender o referido movimento cultural. Além de buscar compreender criticamente o processo de pós-modernização da sociedade pernambucana, buscamos mostrar, principalmente através de dados estatísticos e recortes jornalísticos, a emergência do referido movimento, enquanto representação e identidade da cidade do Recife. Por fim, buscamos traçar um quadro comparativo entre o presente movimento cultural e a questão do avanço da cidadania, buscando desta forma explicitar as linhas emancipatórias ou conservadoras presentes na cena social da cidade do Recife e do Estado de Pernambuco. Ao analisar o que veio a configurar-se como Movimento Mangue , encontramos em sua gênese pensadores, tais como Euclides da Cunha (1866-1909), que em sua obra os sertões descreve a base natural e cultural sobre a qual repousa a representação do homem nordestino, principalmente do interior. Nos capítulos que compõem a referida obra, encontramos a dialética entre o sul do Brasil moderno e o nordeste arcaico nas figuras emblemáticas de uma luta entre o sul republicano, industrial e positivista e o nordeste agrário, arcaico e messiânico. A nível da esfera mais íntima desta dialética, encontramos a figura dos políticos/coronéis/jagunços e latifúndios x a figura do povo desapropriado, místico e violento. O binômio contraditório Pobreza e Riqueza , no âmbito pernambucano, é explicitado na luta entre um interior estadual abandonado à pobreza e à violência de suas políticas internas, x a faixa litorânea detentora do poder decisório e da riqueza, marcado pela violência do trabalho escravo. Seria ingênuo de nossa parte destacarmos tais expressões concreto-simbólicas do jogo de interesses e influências que o capitalismo (Marx e Engels, 1845), já mundializado, exercia no desenvolvimento do universo brasileiro e nordestino. O atual momento cultural pernambucano será, pois, um dos pontos de culminância mais crítico do projeto de pós-modernização brasileiro, em sua seção nordestina, onde a paulatina falência do processo agro-industrial levará o Estado a direcionar seus investimentos para o setor terciário (serviços e turismo) como forma de suprimir suas carências sócioeconômicas de sobrevivência. Este estado de pós-modernidade (Vide Josué de Castro, Fome um Tema Proibido e Chico Science, da Lama ao Caos, do Caos à Lama) trará em si a implantação superficial das novas tecnologias na administração política, na produção econômica e na vida cotidiana da sociedade, aliando mais uma vez, devido aos mecanismos históricos de concentração de riqueza, o desenvolvimento à pobreza. Nossa hipótese de pesquisa é que a emergência da Cultura Mangue se afirmará como resposta e resistência à desconstrução político-econômica e social pela qual tem passado o Estado de Pernambuco. Dando-se ênfase, do início ao fim desta dissertação, à vida comum como expressão par excellence do referido movimento artístico cultural, tentou-se desta forma desmistificar o processo do fazer artístico , da obra de arte e do artista , como algo excepcional. Nesta perspectiva, o viver ou sobreviver cotidiano é a base e síntese da obra de arte em essência. Por fim, conectando o nível da hermenêutica histórica, buscou-se explicitar a complexidade das mudanças sociais, políticas e econômicas pelas quais tem passado o Estado de Pernambuco, com o seu atual momento simbólico-cultural, tentando apresentar, de uma forma mais abrangente, a sociedade pernambucana. Admitimos, finalmente, que, uma vez explicitada a hipótese da existência de uma estética particular presidindo a dimensão cultural da sociedade pernambucana, afirmamos, que esse mesmo olhar mostra-se mais como um recorte ou leitura sobre a realidade, não pretendendo de forma alguma esgotar a infinidade e vastidão do assunto, servindo apenas como mais uma abertura e subsídio ao debate e a melhor compreensão da atual realidade pernambucana
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Nesta perspectiva, explicitamos, ao longo do texto, certas referências simbólicas arquetípicas de homem, natureza e cultura do universo imaginário nordestino, tais como, resistência, fome, seca e pobreza , que permeiam profundamente o discurso da cultura Mangue, marcado pela fusão do imaginário do sertão com o imaginário do litoral pernambucano. A partir de autores, tais como: Euclides da Cunha, Gilberto Freyre e Josué de Castro, objetivamos melhor estudar e compreender o referido movimento cultural. Além de buscar compreender criticamente o processo de pós-modernização da sociedade pernambucana, buscamos mostrar, principalmente através de dados estatísticos e recortes jornalísticos, a emergência do referido movimento, enquanto representação e identidade da cidade do Recife. Por fim, buscamos traçar um quadro comparativo entre o presente movimento cultural e a questão do avanço da cidadania, buscando desta forma explicitar as linhas emancipatórias ou conservadoras presentes na cena social da cidade do Recife e do Estado de Pernambuco. Ao analisar o que veio a configurar-se como Movimento Mangue , encontramos em sua gênese pensadores, tais como Euclides da Cunha (1866-1909), que em sua obra os sertões descreve a base natural e cultural sobre a qual repousa a representação do homem nordestino, principalmente do interior. Nos capítulos que compõem a referida obra, encontramos a dialética entre o sul do Brasil moderno e o nordeste arcaico nas figuras emblemáticas de uma luta entre o sul republicano, industrial e positivista e o nordeste agrário, arcaico e messiânico. A nível da esfera mais íntima desta dialética, encontramos a figura dos políticos/coronéis/jagunços e latifúndios x a figura do povo desapropriado, místico e violento. O binômio contraditório Pobreza e Riqueza , no âmbito pernambucano, é explicitado na luta entre um interior estadual abandonado à pobreza e à violência de suas políticas internas, x a faixa litorânea detentora do poder decisório e da riqueza, marcado pela violência do trabalho escravo. Seria ingênuo de nossa parte destacarmos tais expressões concreto-simbólicas do jogo de interesses e influências que o capitalismo (Marx e Engels, 1845), já mundializado, exercia no desenvolvimento do universo brasileiro e nordestino. O atual momento cultural pernambucano será, pois, um dos pontos de culminância mais crítico do projeto de pós-modernização brasileiro, em sua seção nordestina, onde a paulatina falência do processo agro-industrial levará o Estado a direcionar seus investimentos para o setor terciário (serviços e turismo) como forma de suprimir suas carências sócioeconômicas de sobrevivência. Este estado de pós-modernidade (Vide Josué de Castro, Fome um Tema Proibido e Chico Science, da Lama ao Caos, do Caos à Lama) trará em si a implantação superficial das novas tecnologias na administração política, na produção econômica e na vida cotidiana da sociedade, aliando mais uma vez, devido aos mecanismos históricos de concentração de riqueza, o desenvolvimento à pobreza. Nossa hipótese de pesquisa é que a emergência da Cultura Mangue se afirmará como resposta e resistência à desconstrução político-econômica e social pela qual tem passado o Estado de Pernambuco. Dando-se ênfase, do início ao fim desta dissertação, à vida comum como expressão par excellence do referido movimento artístico cultural, tentou-se desta forma desmistificar o processo do fazer artístico , da obra de arte e do artista , como algo excepcional. Nesta perspectiva, o viver ou sobreviver cotidiano é a base e síntese da obra de arte em essência. Por fim, conectando o nível da hermenêutica histórica, buscou-se explicitar a complexidade das mudanças sociais, políticas e econômicas pelas quais tem passado o Estado de Pernambuco, com o seu atual momento simbólico-cultural, tentando apresentar, de uma forma mais abrangente, a sociedade pernambucana. Admitimos, finalmente, que, uma vez explicitada a hipótese da existência de uma estética particular presidindo a dimensão cultural da sociedade pernambucana, afirmamos, que esse mesmo olhar mostra-se mais como um recorte ou leitura sobre a realidade, não pretendendo de forma alguma esgotar a infinidade e vastidão do assunto, servindo apenas como mais uma abertura e subsídio ao debate e a melhor compreensão da atual realidade pernambucanaporUniversidade Federal de PernambucoAttribution-NonCommercial-NoDerivs 3.0 Brazilhttp://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/3.0/br/info:eu-repo/semantics/openAccessmovimento manguepesquisa plásticaCaos e pós-modernidade na cultura pernambucana - a estética do mangueinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisreponame:Repositório Institucional da UFPEinstname:Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)instacron:UFPEORIGINALarquivo8316_1.pdfapplication/pdf3301977https://repositorio.ufpe.br/bitstream/123456789/7962/1/arquivo8316_1.pdf493f5d6a27e6bd79f7dd21d1c1a48162MD51LICENSElicense.txttext/plain1748https://repositorio.ufpe.br/bitstream/123456789/7962/2/license.txt8a4605be74aa9ea9d79846c1fba20a33MD52TEXTarquivo8316_1.pdf.txtarquivo8316_1.pdf.txtExtracted texttext/plain245304https://repositorio.ufpe.br/bitstream/123456789/7962/3/arquivo8316_1.pdf.txta1b22444b569ab6c845b2e6d0ec1b0e3MD53THUMBNAILarquivo8316_1.pdf.jpgarquivo8316_1.pdf.jpgGenerated Thumbnailimage/jpeg1645https://repositorio.ufpe.br/bitstream/123456789/7962/4/arquivo8316_1.pdf.jpgbbebff28baebc0f50910c016f0462a71MD54123456789/79622019-10-25 02:20:15.511oai:repositorio.ufpe.br:123456789/7962Tk9URTogUExBQ0UgWU9VUiBPV04gTElDRU5TRSBIRVJFClRoaXMgc2FtcGxlIGxpY2Vuc2UgaXMgcHJvdmlkZWQgZm9yIGluZm9ybWF0aW9uYWwgcHVycG9zZXMgb25seS4KCk5PTi1FWENMVVNJVkUgRElTVFJJQlVUSU9OIExJQ0VOU0UKCkJ5IHNpZ25pbmcgYW5kIHN1Ym1pdHRpbmcgdGhpcyBsaWNlbnNlLCB5b3UgKHRoZSBhdXRob3Iocykgb3IgY29weXJpZ2h0Cm93bmVyKSBncmFudHMgdG8gRFNwYWNlIFVuaXZlcnNpdHkgKERTVSkgdGhlIG5vbi1leGNsdXNpdmUgcmlnaHQgdG8gcmVwcm9kdWNlLAp0cmFuc2xhdGUgKGFzIGRlZmluZWQgYmVsb3cpLCBhbmQvb3IgZGlzdHJpYnV0ZSB5b3VyIHN1Ym1pc3Npb24gKGluY2x1ZGluZwp0aGUgYWJzdHJhY3QpIHdvcmxkd2lkZSBpbiBwcmludCBhbmQgZWxlY3Ryb25pYyBmb3JtYXQgYW5kIGluIGFueSBtZWRpdW0sCmluY2x1ZGluZyBidXQgbm90IGxpbWl0ZWQgdG8gYXVkaW8gb3IgdmlkZW8uCgpZb3UgYWdyZWUgdGhhdCBEU1UgbWF5LCB3aXRob3V0IGNoYW5naW5nIHRoZSBjb250ZW50LCB0cmFuc2xhdGUgdGhlCnN1Ym1pc3Npb24gdG8gYW55IG1lZGl1bSBvciBmb3JtYXQgZm9yIHRoZSBwdXJwb3NlIG9mIHByZXNlcnZhdGlvbi4KCllvdSBhbHNvIGFncmVlIHRoYXQgRFNVIG1heSBrZWVwIG1vcmUgdGhhbiBvbmUgY29weSBvZiB0aGlzIHN1Ym1pc3Npb24gZm9yCnB1cnBvc2VzIG9mIHNlY3VyaXR5LCBiYWNrLXVwIGFuZCBwcmVzZXJ2YXRpb24uCgpZb3UgcmVwcmVzZW50IHRoYXQgdGhlIHN1Ym1pc3Npb24gaXMgeW91ciBvcmlnaW5hbCB3b3JrLCBhbmQgdGhhdCB5b3UgaGF2ZQp0aGUgcmlnaHQgdG8gZ3JhbnQgdGhlIHJpZ2h0cyBjb250YWluZWQgaW4gdGhpcyBsaWNlbnNlLiBZb3UgYWxzbyByZXByZXNlbnQKdGhhdCB5b3VyIHN1Ym1pc3Npb24gZG9lcyBub3QsIHRvIHRoZSBiZXN0IG9mIHlvdXIga25vd2xlZGdlLCBpbmZyaW5nZSB1cG9uCmFueW9uZSdzIGNvcHlyaWdodC4KCklmIHRoZSBzdWJtaXNzaW9uIGNvbnRhaW5zIG1hdGVyaWFsIGZvciB3aGljaCB5b3UgZG8gbm90IGhvbGQgY29weXJpZ2h0LAp5b3UgcmVwcmVzZW50IHRoYXQgeW91IGhhdmUgb2J0YWluZWQgdGhlIHVucmVzdHJpY3RlZCBwZXJtaXNzaW9uIG9mIHRoZQpjb3B5cmlnaHQgb3duZXIgdG8gZ3JhbnQgRFNVIHRoZSByaWdodHMgcmVxdWlyZWQgYnkgdGhpcyBsaWNlbnNlLCBhbmQgdGhhdApzdWNoIHRoaXJkLXBhcnR5IG93bmVkIG1hdGVyaWFsIGlzIGNsZWFybHkgaWRlbnRpZmllZCBhbmQgYWNrbm93bGVkZ2VkCndpdGhpbiB0aGUgdGV4dCBvciBjb250ZW50IG9mIHRoZSBzdWJtaXNzaW9uLgoKSUYgVEhFIFNVQk1JU1NJT04gSVMgQkFTRUQgVVBPTiBXT1JLIFRIQVQgSEFTIEJFRU4gU1BPTlNPUkVEIE9SIFNVUFBPUlRFRApCWSBBTiBBR0VOQ1kgT1IgT1JHQU5JWkFUSU9OIE9USEVSIFRIQU4gRFNVLCBZT1UgUkVQUkVTRU5UIFRIQVQgWU9VIEhBVkUKRlVMRklMTEVEIEFOWSBSSUdIVCBPRiBSRVZJRVcgT1IgT1RIRVIgT0JMSUdBVElPTlMgUkVRVUlSRUQgQlkgU1VDSApDT05UUkFDVCBPUiBBR1JFRU1FTlQuCgpEU1Ugd2lsbCBjbGVhcmx5IGlkZW50aWZ5IHlvdXIgbmFtZShzKSBhcyB0aGUgYXV0aG9yKHMpIG9yIG93bmVyKHMpIG9mIHRoZQpzdWJtaXNzaW9uLCBhbmQgd2lsbCBub3QgbWFrZSBhbnkgYWx0ZXJhdGlvbiwgb3RoZXIgdGhhbiBhcyBhbGxvd2VkIGJ5IHRoaXMKbGljZW5zZSwgdG8geW91ciBzdWJtaXNzaW9uLgo=Repositório InstitucionalPUBhttps://repositorio.ufpe.br/oai/requestattena@ufpe.bropendoar:22212019-10-25T05:20:15Repositório Institucional da UFPE - Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)false
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