Uso e atitudes linguísticas sobre a concordância nominal de número na variedade guineense do português : repercussões do contato linguístico e implicações na identidade sociolinguística

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: PARAISO, Thayse Carolina Ferreira
Data de Publicação: 2023
Tipo de documento: Tese
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional da UFPE
dARK ID: ark:/64986/001300000j69t
Texto Completo: https://repositorio.ufpe.br/handle/123456789/55905
Resumo: Este estudo objetivou investigar o uso e as atitudes linguísticas sobre a concordância nominal de número no Português da Guiné-Bissau (PGB), com foco nas repercussões do contato linguístico do português com o guineense, bem como verificar as implicações desse cenário na identidade sociolinguística dos cidadãos guineenses falantes dessa variedade do português. A hipótese desta pesquisa é que, em relação ao uso da concordância nominal de número, considerando que se constitui uma regra variável na língua escrita de sujeitos com um menor nível de escolarização (sem o Ensino Superior completo) - com base nos dados de Paraiso (2019), devido, entre outros fatores, à influência da morfossintaxe do guineense no PGB -, é possível que os dados de fala indiquem a manutenção dessa tipologia de regra linguística e que os dados de percepção apontem para a consciência dos falantes frente a essa variação, sendo caracterizada pela demonstração de avaliações subjetivas predominantemente positivas em relação ao uso da concordância nominal de número no PGB. A justificativa desta investigação baseia-se em Labov ([1972] 2008: 150), o qual defende que, além das análises quantitativas, mostra-se importante, para os estudos sociolinguísticos, verificar outras formas de comportamento social sobre dada variante linguística, o que inclui características que podem ser observadas em tipos de comportamento avaliativo explícito, que associamos às atitudes linguísticas. Os objetivos específicos deste trabalho buscam compreender: 1) como se dá a coexistência do guineense com o PGB; 2) que contrastes são possíveis entre a morfologia flexional de número no guineense e no PGB encontrada nos dados em análise; 3) quais são os padrões de concordância nominal de número encontrados na língua falada do PGB; e 4) que comparações são possíveis entre os dados de produção (fala) e os dados de percepção (atitudes linguísticas), tendo em mente a identidade sociolinguística dos falantes do PGB. Para tanto, embasamos a investigação na teoria da Sociolinguística Variacionista (LABOV [1972] 2008), uma vez que esse aporte teórico contempla a avaliação social dos falantes sobre os usos linguísticos, domínio que analisamos pelo campo das atitudes linguísticas sob o enfoque da Psicologia Social de Lambert; Lambert ([1966] 1981). Metodologicamente, realizamos entrevistas com 70 colaboradores guineenses falantes do PGB - estudantes da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira, localizada no Ceará (UNILAB-CE); bem como aplicamos um questionário sociolinguístico, ambos baseados em Pissurno (2017); como também aplicamos um teste de percepção linguística, baseado em Cardoso (2015). Os resultados obtidos indicam que: 1) com base nos dados de fala coletados, o PGB é utilizado majoritariamente no ambiente escolar, onde seu uso é obrigatório, enquanto o guineense é amplamente utilizado no país, inclusive na escola, como língua que media o processo de ensino- aprendizagem, ainda que isso não seja explicitamente permitido; 2) a morfologia flexional do guineense difere da do PGB no sentido de que, naquele, nem todos os elementos do sintagma precisam receber marca morfológica de plural, enquanto neste, todos os elementos necessários devem receber o morfema de plural; 3) o tipo de regra associado à concordância nominal de número na língua falada do PGB, com base nos dados deste estudo, é variável, com um percentual de 92% para a forma com concordância padrão e de 8% para a forma não padrão; 4) apesar dos dados de fala terem apontado para uma construção identitária baseada, predominantemente, na relação dos participantes com o guineense, suas avaliações subjetivas frente ao PGB foram majoritariamente positivas, indicando que eles conseguem reconhecer que o PGB é mais uma variedade do português e que possui características próprias advindas do contato linguístico existente no país.
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A hipótese desta pesquisa é que, em relação ao uso da concordância nominal de número, considerando que se constitui uma regra variável na língua escrita de sujeitos com um menor nível de escolarização (sem o Ensino Superior completo) - com base nos dados de Paraiso (2019), devido, entre outros fatores, à influência da morfossintaxe do guineense no PGB -, é possível que os dados de fala indiquem a manutenção dessa tipologia de regra linguística e que os dados de percepção apontem para a consciência dos falantes frente a essa variação, sendo caracterizada pela demonstração de avaliações subjetivas predominantemente positivas em relação ao uso da concordância nominal de número no PGB. A justificativa desta investigação baseia-se em Labov ([1972] 2008: 150), o qual defende que, além das análises quantitativas, mostra-se importante, para os estudos sociolinguísticos, verificar outras formas de comportamento social sobre dada variante linguística, o que inclui características que podem ser observadas em tipos de comportamento avaliativo explícito, que associamos às atitudes linguísticas. Os objetivos específicos deste trabalho buscam compreender: 1) como se dá a coexistência do guineense com o PGB; 2) que contrastes são possíveis entre a morfologia flexional de número no guineense e no PGB encontrada nos dados em análise; 3) quais são os padrões de concordância nominal de número encontrados na língua falada do PGB; e 4) que comparações são possíveis entre os dados de produção (fala) e os dados de percepção (atitudes linguísticas), tendo em mente a identidade sociolinguística dos falantes do PGB. Para tanto, embasamos a investigação na teoria da Sociolinguística Variacionista (LABOV [1972] 2008), uma vez que esse aporte teórico contempla a avaliação social dos falantes sobre os usos linguísticos, domínio que analisamos pelo campo das atitudes linguísticas sob o enfoque da Psicologia Social de Lambert; Lambert ([1966] 1981). Metodologicamente, realizamos entrevistas com 70 colaboradores guineenses falantes do PGB - estudantes da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira, localizada no Ceará (UNILAB-CE); bem como aplicamos um questionário sociolinguístico, ambos baseados em Pissurno (2017); como também aplicamos um teste de percepção linguística, baseado em Cardoso (2015). Os resultados obtidos indicam que: 1) com base nos dados de fala coletados, o PGB é utilizado majoritariamente no ambiente escolar, onde seu uso é obrigatório, enquanto o guineense é amplamente utilizado no país, inclusive na escola, como língua que media o processo de ensino- aprendizagem, ainda que isso não seja explicitamente permitido; 2) a morfologia flexional do guineense difere da do PGB no sentido de que, naquele, nem todos os elementos do sintagma precisam receber marca morfológica de plural, enquanto neste, todos os elementos necessários devem receber o morfema de plural; 3) o tipo de regra associado à concordância nominal de número na língua falada do PGB, com base nos dados deste estudo, é variável, com um percentual de 92% para a forma com concordância padrão e de 8% para a forma não padrão; 4) apesar dos dados de fala terem apontado para uma construção identitária baseada, predominantemente, na relação dos participantes com o guineense, suas avaliações subjetivas frente ao PGB foram majoritariamente positivas, indicando que eles conseguem reconhecer que o PGB é mais uma variedade do português e que possui características próprias advindas do contato linguístico existente no país.This study aims to investigate the use and linguistic attitudes about nominal number agreement in Guinea-Bissau Portuguese (GBP), focusing on the repercussions of linguistic contact between Portuguese and Guinean, as well as verifying the implications of this scenario on the sociolinguistic identity of Guinean citizens who speaks this variety of Portuguese. The hypothesis of this research is that, concerning the use of nominal number agreement, considering that it constitutes a variable rule in the written language of people with a low level of education (without complete University Education) - based on data from Paraiso (2019), due, among other factors, to the influence of Guinean morphosyntax in the GBP -, it is possible that the speech data indicate the maintenance of this typology of linguistic rule and that the perception data point to the speakers' awareness of this variation, being characterized by the demonstration of predominantly positive subjective evaluations regarding the use of nominal number agreement in GBP. We justify this investigation based on Labov ([1972] 2008: 150), who argues that, in addition to quantitative analyses, it is important for sociolinguistic studies to verify other forms of social behavior on a linguistic variant, including features that can be observed in types of explicit evaluative behavior, which we associate with linguistic attitudes. The specific objectives of this work seek to understand: 1) how does Guinean coexist with the GBP?; 2) what contrasts are possible between the inflectional morphology of number in Guinean and PGB found in the data under analysis; 3) what are the patterns of noun number agreement found in the spoken language of PGB; and 4) what comparisons are possible between production data (speech) and perception data (linguistic attitudes), bearing in mind the sociolinguistic identity of GBP speakers. To do so, we based the investigation on the theory of Variationist Sociolinguistics (LABOV [1972] 2008), since this theoretical contribution includes the social evaluation of speakers about linguistic uses, a domain that we analyze in the field of linguistic attitudes from the perspective of Social Psychology by Lambert; Lambert ([1966] 1981). Methodologically, we conducted interviews with 70 GBP-speaking Guinean collaborators - students at the University of International Integration of Afro-Brazilian Lusophony, located in Ceará (UNILAB-CE); as well as applying a sociolinguistic questionnaire, both based on Pissurno (2017); as also applying a linguistic perception test, based on Cardoso (2015). The results obtained indicate that: 1) based on the collected speech data, GBP is mostly used in the school environment, where its use is mandatory, while Guinean is widely used in the country, including at school, as a language that mediates the process of teaching-learning, even if this is not explicitly allowed; 2) the inflectional morphology of Guinean differs from that of GBP in the sense that, in the former, not all elements of the phrase need to receive the morphological plural mark, while in the latter, all the necessary elements must receive the plural morpheme; 3) the type of rule associated with nominal number agreement in the spoken language of GBP, based on the data from this study, is variable, with a percentage of 92% for the form with standard agreement and 8% for the non-standard form; 4) although the speech data pointed to an identity construction based predominantly on the participants' relationship with Guinean, their subjective evaluations regarding GBP were mostly positive, indicating that they are able to recognize that GBP is another variety of Portuguese and which has its own characteristics arising from the existing linguistic contact in the country.Este estudio tiene como objetivo investigar el uso y las actitudes lingüísticas sobre la concordancia numérica nominal en el portugués de Guinea-Bissau (PGB), centrándose en las repercusiones del contacto lingüístico entre el portugués y el guineano, así como verificar las implicaciones de este escenario en la identidad sociolingüística del guineano, ciudadanos que hablan esta variedad del portugués. La hipótesis de esta investigación es que, en relación al uso del número nominal concordancia, considerando que constituye una regla variable en el lenguaje escrito de sujetos con menor nivel de escolaridad (sin Educación Superior completa) - con base en datos de Paraíso (2019), debido, entre otros factores, a la influencia de la morfosintaxis guineana en el PGB-, es posible que los datos del habla indiquen el mantenimiento de esta tipología de regla lingüística y que los datos de percepción apunten a la conciencia de los hablantes sobre esta variación, caracterizándose por la demostración de valoraciones subjetivas predominantemente positivas en relación al uso de concordancia de número nominal en PGB. La justificación de esta investigación se basa en Labov ([1972] 2008: 150), quien sostiene que, además de los análisis cuantitativos, es importante que los estudios sociolingüísticos verifiquen otras formas de comportamiento social acerca de una determinada variante lingüística, la cual incluye rasgos que pueden observarse en tipos de comportamiento evaluativo explícito, que asociamos con actitudes lingüísticas. Los objetivos específicos de este trabajo buscan comprender: 1) cómo convive el guineano con el PGB; 2) qué contrastes son posibles entre la morfología flexiva del número en guineano y PGB encontrada en los datos bajo análisis; 3) ¿cuáles son los patrones de concordancia de número de sustantivo que se encuentran en el lenguaje hablado de PGB; y 4) qué comparaciones son posibles entre datos de producción (habla) y datos de percepción (actitudes lingüísticas), teniendo en cuenta la identidad sociolingüística de los hablantes de PGB. Para ello, basamos la investigación en la teoría de la Sociolingüística Variacionista (LABOV [1972] 2008), ya que este aporte teórico incluye la evaluación social de los hablantes sobre los usos lingüísticos, dominio que analizamos en el campo de las actitudes lingüísticas desde la perspectiva de Psicología Social de Lambert; Lambert ([1966] 1981). Además, metodológicamente, realizamos entrevistas con 70 colaboradores guineanos hablantes de PGB - estudiantes de la Universidad de Integración Internacional de la Lusofonia Afrobrasileña, situada en Ceará (UNILAB-CE); así como aplicamos un cuestionario sociolingüístico, ambos basados en Pissurno (2017); como también aplicamos un cuestionario de percepción lingüística, basado en Cardoso (2015). Los resultados obtenidos indican que: 1) con base en los datos del habla recopilados, el PGB se usa principalmente en el entorno escolar, donde su uso es obligatorio, mientras que el guineano se usa ampliamente en el país, incluso en la escuela, como un idioma que media el proceso de enseñanza-aprendizaje, aunque esto no sea expresamente permitido; 2) la morfología flexiva del guineano difiere de la del PGB en el sentido de que, en el primero, no todos los elementos de la frase necesitan recibir la marca morfológica de plural, mientras que en el segundo, todos los elementos necesarios deben recibir el morfema de plural; 3) el tipo de regla asociada a la concordancia de número nominal en el lenguaje hablado de PGB, según los datos de este studio, es variable, con un porcentaje del 92% para la forma con concordancia estándar y del 8% para la forma no estándar; 4) aunque los datos del habla señalaron una construcción identitaria basada predominantemente en la relación de los participantes con el guineano, sus evaluaciones subjetivas con respecto al PGB fueron en su mayoría positivas, lo que indica que son capaces de reconocer que el PGB es otra variedad del portugués y que tiene sus propias características derivadas del contacto lingüístico existente en el país.porUniversidade Federal de PernambucoPrograma de Pos Graduacao em LetrasUFPEBrasilAttribution-NonCommercial-NoDerivs 3.0 Brazilhttp://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/3.0/br/info:eu-repo/semantics/openAccessConcordância nominalPortuguês guineenseContato linguísticoAtitudes linguísticasIdentidade sociolinguísticaUso e atitudes linguísticas sobre a concordância nominal de número na variedade guineense do português : repercussões do contato linguístico e implicações na identidade sociolinguísticainfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisdoutoradoreponame:Repositório Institucional da UFPEinstname:Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)instacron:UFPELICENSElicense.txtlicense.txttext/plain; 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Atitudes linguísticas
Identidade sociolinguística
description Este estudo objetivou investigar o uso e as atitudes linguísticas sobre a concordância nominal de número no Português da Guiné-Bissau (PGB), com foco nas repercussões do contato linguístico do português com o guineense, bem como verificar as implicações desse cenário na identidade sociolinguística dos cidadãos guineenses falantes dessa variedade do português. A hipótese desta pesquisa é que, em relação ao uso da concordância nominal de número, considerando que se constitui uma regra variável na língua escrita de sujeitos com um menor nível de escolarização (sem o Ensino Superior completo) - com base nos dados de Paraiso (2019), devido, entre outros fatores, à influência da morfossintaxe do guineense no PGB -, é possível que os dados de fala indiquem a manutenção dessa tipologia de regra linguística e que os dados de percepção apontem para a consciência dos falantes frente a essa variação, sendo caracterizada pela demonstração de avaliações subjetivas predominantemente positivas em relação ao uso da concordância nominal de número no PGB. A justificativa desta investigação baseia-se em Labov ([1972] 2008: 150), o qual defende que, além das análises quantitativas, mostra-se importante, para os estudos sociolinguísticos, verificar outras formas de comportamento social sobre dada variante linguística, o que inclui características que podem ser observadas em tipos de comportamento avaliativo explícito, que associamos às atitudes linguísticas. Os objetivos específicos deste trabalho buscam compreender: 1) como se dá a coexistência do guineense com o PGB; 2) que contrastes são possíveis entre a morfologia flexional de número no guineense e no PGB encontrada nos dados em análise; 3) quais são os padrões de concordância nominal de número encontrados na língua falada do PGB; e 4) que comparações são possíveis entre os dados de produção (fala) e os dados de percepção (atitudes linguísticas), tendo em mente a identidade sociolinguística dos falantes do PGB. Para tanto, embasamos a investigação na teoria da Sociolinguística Variacionista (LABOV [1972] 2008), uma vez que esse aporte teórico contempla a avaliação social dos falantes sobre os usos linguísticos, domínio que analisamos pelo campo das atitudes linguísticas sob o enfoque da Psicologia Social de Lambert; Lambert ([1966] 1981). Metodologicamente, realizamos entrevistas com 70 colaboradores guineenses falantes do PGB - estudantes da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira, localizada no Ceará (UNILAB-CE); bem como aplicamos um questionário sociolinguístico, ambos baseados em Pissurno (2017); como também aplicamos um teste de percepção linguística, baseado em Cardoso (2015). Os resultados obtidos indicam que: 1) com base nos dados de fala coletados, o PGB é utilizado majoritariamente no ambiente escolar, onde seu uso é obrigatório, enquanto o guineense é amplamente utilizado no país, inclusive na escola, como língua que media o processo de ensino- aprendizagem, ainda que isso não seja explicitamente permitido; 2) a morfologia flexional do guineense difere da do PGB no sentido de que, naquele, nem todos os elementos do sintagma precisam receber marca morfológica de plural, enquanto neste, todos os elementos necessários devem receber o morfema de plural; 3) o tipo de regra associado à concordância nominal de número na língua falada do PGB, com base nos dados deste estudo, é variável, com um percentual de 92% para a forma com concordância padrão e de 8% para a forma não padrão; 4) apesar dos dados de fala terem apontado para uma construção identitária baseada, predominantemente, na relação dos participantes com o guineense, suas avaliações subjetivas frente ao PGB foram majoritariamente positivas, indicando que eles conseguem reconhecer que o PGB é mais uma variedade do português e que possui características próprias advindas do contato linguístico existente no país.
publishDate 2023
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