Negros, mas nem tão africanos

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Machado, Rafael Bisso
Data de Publicação: 2006
Tipo de documento: Trabalho de conclusão de curso
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional da UFRGS
Texto Completo: http://hdl.handle.net/10183/275343
Resumo: Marcadores localizados na região não-recombinante do cromossomo Y (NRY) e o DNA mitocondrial (mtDNA), o primeiro de herança exclusivamente paterna e o segundo de herança exclusivamente materna, são utilizados para a caracterização genética das populações, mapeamento de rotas migratórias, delineamento de questões demográficas e estimativas de mistura interétnica. Surge daí a Genética Histórica que visa, por exemplo, responder questões referentes à formação da população brasileira, que teve sua origem no encontro de três distintos backgrounds genéticos: Europeu, Ameríndio e Africano. Visto que questões desta natureza, como a dinâmica da mestiçagem, são de natureza complexa, generalizações frequentemente incorrem em erros. De fato, heterogeneidade entre e dentro das regiões do país tem sido descrita recentemente. Neste trabalho, buscou-se ampliar o conhecimento sobre a população brasileira e suas particularidades. Para isso investigou-se 11 SNPs (Single Nucleotide Polymorphisms ou polimorfismos de base única) localizados na NRY, em duas amostras de populações brasileiras classificadas fenotipicamente como negras (pretos e pardos) das cidades e regiões metropolitanas do Rio de Janeiro (RJ) e Porto Alegre (PoA). Dos cento e trinta indivíduos amostrados para o RJ e dos cinquenta e sete indivíduos amostrados para PoA, 45% e 63%, respectivamente, apresentaram cromossomos de origem não-africana. Destes, todos são de origem européia no RJ, mas em PoA, 59% são de origem européia e 5% são de origem ameríndia. Após a contagem direta dos cromossomos, foram realizados testes exatos de diferenciação populacional, com a utilização do programa ARLEQUIN Ver 2.000, que mostraram que existem diferenças significativas entre estas populações. Sendo assim, apesar de ambas amostras serem de indivíduos identificados como negros, nota-se que, do ponto de vista genômico, estes tanto podem ser considerados afro-descendentes, como eurodescendentes, ou ainda ameríndio-descendentes. Observou-se também uma marcante diferença na proporção de ancestralidade africana entre as duas populações. Isso pode ser explicado por alguns fatores históricos, como, por exemplo, o fato de o RJ receber escravos direto da África, e o RS receber escravos do mercado interno, com uma considerável porcentagem de escravos já nascidos no Brasil. Essa diferença também pode ser explicada pela arbitrariedade na identificação e “classificação” das pessoas segundo critérios morfológicos, como a cor da pele. Os dados aqui apresentados também foram discutidos conjuntamente com aqueles relativos ao DNA mitocondrial, obtidos recentemente para as mesmas amostras.
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Neste trabalho, buscou-se ampliar o conhecimento sobre a população brasileira e suas particularidades. Para isso investigou-se 11 SNPs (Single Nucleotide Polymorphisms ou polimorfismos de base única) localizados na NRY, em duas amostras de populações brasileiras classificadas fenotipicamente como negras (pretos e pardos) das cidades e regiões metropolitanas do Rio de Janeiro (RJ) e Porto Alegre (PoA). Dos cento e trinta indivíduos amostrados para o RJ e dos cinquenta e sete indivíduos amostrados para PoA, 45% e 63%, respectivamente, apresentaram cromossomos de origem não-africana. Destes, todos são de origem européia no RJ, mas em PoA, 59% são de origem européia e 5% são de origem ameríndia. Após a contagem direta dos cromossomos, foram realizados testes exatos de diferenciação populacional, com a utilização do programa ARLEQUIN Ver 2.000, que mostraram que existem diferenças significativas entre estas populações. Sendo assim, apesar de ambas amostras serem de indivíduos identificados como negros, nota-se que, do ponto de vista genômico, estes tanto podem ser considerados afro-descendentes, como eurodescendentes, ou ainda ameríndio-descendentes. Observou-se também uma marcante diferença na proporção de ancestralidade africana entre as duas populações. Isso pode ser explicado por alguns fatores históricos, como, por exemplo, o fato de o RJ receber escravos direto da África, e o RS receber escravos do mercado interno, com uma considerável porcentagem de escravos já nascidos no Brasil. Essa diferença também pode ser explicada pela arbitrariedade na identificação e “classificação” das pessoas segundo critérios morfológicos, como a cor da pele. Os dados aqui apresentados também foram discutidos conjuntamente com aqueles relativos ao DNA mitocondrial, obtidos recentemente para as mesmas amostras.Markers located in the Non-Recombining Y (NRY) and the mitochondrial DNA (mtDNA), the first having an exclusively paternal heritage and the second having an exclusively maternal heritage, are used for genetic characterization of the populations, migratory routes mapping, demographic questions delineation and interethnic admixture estimation. From this came the Historical Genetics to resolve questions referring to the Brazilian population formation, which had its origin in the gathering of distinct genetic backgrounds: European, Amerindian and African. Knowing that questions of this nature, as the “mestization” dynamics, have a complex nature, generalizations frequently incur mistakes. In fact, heterogeneity between and in the regions of the country has been described recently. In this work, we searched for the widening of the knowledge of the Brazilian population and its particularities. To answer this question, 11 SNPs (Single Nucleotide Polymorphisms), located in the NRY, were investigated, in two samples of Brazilian populations phenotypically classified as black (black and mulatto) from the cities and metropolitan regions of Rio de Janeiro (RJ) and Porto Alegre (PoA). From the one hundred and thirty individuals sampled from RJ and from the fifty seven individuals sampled from PoA, 45% and 63%, respectively, showed chromosomes of non-African origin. From these, all are of European origin in RJ, but in PoA 59% are of European origin and 5% are of Amerindian origin. After de direct counting of the chromosomes, exact tests of sample differentiation have been made, with the utilization of the software ARLEQUIN Ver 2.000, that showed that significant differences between these populations exist. So, despite both samples being of individuals identified as black, from the genomic point of view, they can be considered as Afro-descendants, as Euro-descendants or still, Amerindian-descendants. Also, a marking difference in the proportion of African ancestrality between the two populations has been observed. This can be explained by some historical factors, such, for example, the fact that RJ had received slaves direct from Africa, and RS received slaves from the domestic market, with a considerable percentage of slaves already born in Brazil. This difference can also be explained by the arbitrariness in the identification and “classification” of persons according to morphological criteria, as skin colour. The data shown here had also been discussed with those related to the mitochondrial DNA, recently obtained to the same samples.application/pdfporGenética de populaçõesCromossomo YAfrodescendenteRio de Janeiro (RJ)Porto Alegre (RS)Y chromosomeSNPBlack populationsNegros, mas nem tão africanosinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/bachelorThesisUniversidade Federal do Rio Grande do SulInstituto de BiociênciasPorto Alegre, BR-RS2006Ciências Biológicas: Ênfase Molecular, Celular e Funcional: Bachareladograduaçãoinfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Repositório Institucional da UFRGSinstname:Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)instacron:UFRGSTEXT000578354.pdf.txt000578354.pdf.txtExtracted Texttext/plain140926http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/10183/275343/2/000578354.pdf.txta623239842992b06b2e74bdf13746bf0MD52ORIGINAL000578354.pdfTexto completoapplication/pdf13923154http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/10183/275343/1/000578354.pdf30e033ada48b326a226165cb32077beaMD5110183/2753432024-05-12 06:42:16.364623oai:www.lume.ufrgs.br:10183/275343Repositório de PublicaçõesPUBhttps://lume.ufrgs.br/oai/requestopendoar:2024-05-12T09:42:16Repositório Institucional da UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)false
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