Amnésia social e representações de imigrantes : consequências do esquecimento histórico e colonial na Europa e na América
Autor(a) principal: | |
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Data de Publicação: | 2018 |
Outros Autores: | |
Tipo de documento: | Artigo |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Repositório Institucional da UFRGS |
Texto Completo: | http://hdl.handle.net/10183/188362 |
Resumo: | Em vários países de imigração hoje, especialmente na Europa e na América do Norte, os “novos” imigrantes não europeus são vistos como mais problemáticos do que os imigrantes “históricos” da Europa. Geralmente, os movimentos e políticos anti-imigrantistas negam que sejam racistas, alegando que os novos imigrantes não aceitam os valores ocidentais, e que suas características culturais impedem a integração e produzem atitudes antidemocráticas, machistas e até terroristas. O artigo apresenta evidências históricas de que tal caracterização dos novos imigrantes, como se fossem portadores de uma alteridade insuperável, sem nenhuma relação com os países de imigração, só é possibilitada por duas formas de amnésia social: o esquecimento do tratamento sofrido por muitos imigrantes da periferia europeia no passado, e o esquecimento do passado colonial e neocolonial dos países de imigração. No passado, vários grupos imigrantes da periferia da Europa sofreram bastante hostilidade e estigmatização nos principais países de imigração Também precisamos levar em conta o passado colonial para compreender as mudanças nos fluxos migratórios e as representações dos novos imigrantes, muitos dos quais não chegaram em grandes números antes, porque eram excluídos por políticas racistas de imigração. Distinguimos entre impérios de ultramar e impérios continentais, que muitas vezes incorporam povos conquistados como minorias nacionais e arbitrariamente dividem nações, redefinindo como “imigrantes” ou “ilegais” povos que migram dentro de seus próprios territórios. Argumentamos que a amnésia histórica e colonial não corresponde somente à vontade psicológica de deslegitimar os novos imigrantes; também é institucionalizada nos lugares e nas instituições da memória, que excluem da memória pública a integração dolorosa dos imigrantes da periferia europeia e as relações coloniais e neocoloniais entre os países de imigração e os territórios de origem dos novos imigrantes. |
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Monsma, Karl MartinTruzzi, Oswaldo Mário Serra2019-01-30T02:33:20Z20181517-4522http://hdl.handle.net/10183/188362001085152Em vários países de imigração hoje, especialmente na Europa e na América do Norte, os “novos” imigrantes não europeus são vistos como mais problemáticos do que os imigrantes “históricos” da Europa. Geralmente, os movimentos e políticos anti-imigrantistas negam que sejam racistas, alegando que os novos imigrantes não aceitam os valores ocidentais, e que suas características culturais impedem a integração e produzem atitudes antidemocráticas, machistas e até terroristas. O artigo apresenta evidências históricas de que tal caracterização dos novos imigrantes, como se fossem portadores de uma alteridade insuperável, sem nenhuma relação com os países de imigração, só é possibilitada por duas formas de amnésia social: o esquecimento do tratamento sofrido por muitos imigrantes da periferia europeia no passado, e o esquecimento do passado colonial e neocolonial dos países de imigração. No passado, vários grupos imigrantes da periferia da Europa sofreram bastante hostilidade e estigmatização nos principais países de imigração Também precisamos levar em conta o passado colonial para compreender as mudanças nos fluxos migratórios e as representações dos novos imigrantes, muitos dos quais não chegaram em grandes números antes, porque eram excluídos por políticas racistas de imigração. Distinguimos entre impérios de ultramar e impérios continentais, que muitas vezes incorporam povos conquistados como minorias nacionais e arbitrariamente dividem nações, redefinindo como “imigrantes” ou “ilegais” povos que migram dentro de seus próprios territórios. Argumentamos que a amnésia histórica e colonial não corresponde somente à vontade psicológica de deslegitimar os novos imigrantes; também é institucionalizada nos lugares e nas instituições da memória, que excluem da memória pública a integração dolorosa dos imigrantes da periferia europeia e as relações coloniais e neocoloniais entre os países de imigração e os territórios de origem dos novos imigrantes.In several countries of immigration today, especially in Europe and North America, the “new” non-European immigrants are seen as more problematic than the “historic” immigrants from Europe. Anti-immigrant movements and politicians generally deny that they are racists, alleging that the new immigrants do not accept western values, and that their cultural characteristics impede integration and produce antidemocratic, sexist and even terrorist attitudes. This article presents historical evidence that this characterization of the new immigrants, as if they were bearers of an insuperable alterity, completely unrelated to the countries of immigration, is only made possible by two forms of social amnesia: the forgetting of the treatment suffered by many immigrants from the European periphery in the past and the forgetting of the colonial and neocolonial past of the countries of immigration. In the past, several immigrant groups from the European periphery suffered hostility and stigmatization in the principal immigrant receiving countries We also need to take the colonial past into account, in order to understand changes in migrant streams and the representations of the new immigrants, many of whom did not arrive in great numbers earlier, because they were excluded by racist immigration policies. We distinguish between overseas and continental empires, which often incorporated conquered peoples as national minorities and arbitrarily divide nations, redefining as “immigrants” or “illegal” peoples who migrate within their own territories. We argue that historical and colonial amnesia does not only correspond to the psicological need to delegitimate the new immigrants; it is also institutionalized in places and institutions of memory, which exclude from public memory the painful integration of immigrants from the European periphery and the colonial and neocolonial relations between the countries of immigration and the places of origin of the new immigrants.application/pdfporSociologias. Porto Alegre, RS. Vol. 20, n. 49 (set./dez. 2018), p. [70]-108ImigraçãoRacismoColonialismoMemória socialSociologiaImmigrationRacismColonialismSocial memoryAmnésia social e representações de imigrantes : consequências do esquecimento histórico e colonial na Europa e na AméricaSocial amnesia and immigrant representations : consequences of historical and colonial oblivion in Europe and Americainfo:eu-repo/semantics/articleinfo:eu-repo/semantics/otherinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Repositório Institucional da UFRGSinstname:Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)instacron:UFRGSTEXT001085152.pdf.txt001085152.pdf.txtExtracted Texttext/plain94437http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/10183/188362/2/001085152.pdf.txtc8ba3191bbcdb44d6823af8fcfe3d976MD52ORIGINAL001085152.pdfTexto completoapplication/pdf237798http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/10183/188362/1/001085152.pdf4ad02baa9a41d6345a20635e0bbc2b69MD5110183/1883622023-08-18 03:39:27.262795oai:www.lume.ufrgs.br:10183/188362Repositório de PublicaçõesPUBhttps://lume.ufrgs.br/oai/requestopendoar:2023-08-18T06:39:27Repositório Institucional da UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)false |
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