Conectividade da paisagem para Alouatta guariba clamitans em área periurbana no extremo-sul do Brasil
Autor(a) principal: | |
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Data de Publicação: | 2021 |
Tipo de documento: | Trabalho de conclusão de curso |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Repositório Institucional da UFRGS |
Texto Completo: | http://hdl.handle.net/10183/239268 |
Resumo: | Os ecossistemas e, consequentemente, a paisagem, se alteram drasticamente ao longo do tempo, evidenciando mudanças tanto na estrutura quanto na composição da matriz. Essas mudanças são causadas, principalmente, por interferência antrópica (Mitchell et al. 2015b). As principais atividades humanas que causam a degradação do habitat são os desmatamentos, as queimadas, a alta taxa de urbanização e a utilização de áreas para agricultura. A perda e degradação do habitat causada por ação antrópica é um impacto cada vez mais frequente, que causa grande alteração nos ecossistemas e representa uma grande ameaça à biodiversidade, sendo a principal causa de extinção de primatas no mundo (Estrada et al. 2017). Enquanto a ocupação humana avança e altera o ambiente, as espécies que não se adaptarem a essa nova configuração da paisagem, seja persistindo no habitat modificado ou dispersando, estão indubitavelmente ameaçadas localmente de extinção. O movimento que um indivíduo precisa executar para realizar suas atividades diárias ou eventuais dispersões depende estritamente da permeabilidade da paisagem em que está inserido (Nathan et al. 2008) e da sua percepção em relação a ela. Em consequência da expansão urbana, os principais fatores de risco ao deslocamento dos primatas que habitam áreas periurbanas são construções, estradas e cabos de energia elétrica, o que resulta em uma matriz heterogênea com baixa permeabilidade (Wellian & Smith 2021). As populações de primatas que habitam áreas periurbanas são afetadas diretamente pela fragmentação do habitat, fazendo com que o grau de permeabilidade da matriz exerça papel fundamental no sucesso ou fracasso do deslocamento de indivíduos, seja para as atividades diárias ou para dispersões. Com o habitat reduzido, baixa disponibilidade de alimento, impossibilidade de explorar a matriz para dispersar e presença de elementos urbanos, estes primatas acabam sendo expostos a riscos como choques na rede elétrica, 16 atropelamentos, ataque por cães, mortes, doenças, endogamia e até mesmo extinções locais (Silva et al. 2018). Uma paisagem fragmentada e pouco permeável limita o potencial de deslocamento de espécies, obrigando estes animais a procurarem por alternativas dentro do contexto periurbano para garantir sua sobrevivência. Consequentemente, o que se observa, além das fatalidades citadas anteriormente, é a utilização de elementos antrópicos para realização de movimentos de espécies arborícolas. Um estudo de caso realizado por Corrêa et al. (2018) identificou uma contribuição significativa de 23% do uso dos fios da rede elétrica no deslocamento diário de um grupo de bugios-ruivos, representando uma importante conexão entre as árvores e exercendo uma conectividade estrutural que já não estava mais ali. Porém, é importante salientar que quanto mais estes animais utilizam os fios, maiores as chances de acidentes na rede elétrica (Lokschin et al. 2007). Diante deste cenário, são desenvolvidas ações a fim de mitigar estes impactos, manter a ligação entre fragmentos e áreas naturais protegidas, bem como assegurar a persistência das espécies a longo prazo. Tais ações incluem, instalação e manejo de travessias de fauna, mapeamento e monitoramento de conflitos e promoção de atividades de educação ambiental. Desde 1993, o Programa Macacos Urbanos (PMU) atua pela conservação do bugio-ruivo nos municípios de Porto Alegre e Viamão, sendo responsável pela confecção, instalação e manejo de pontes de corda. Atualmente, estas etapas são realizadas em parceria com a equipe gestora da Reserva Biológica do Lami José Lutzenberger (RBL), e algumas vezes com moradores da região, demonstrando uma importante articulação entre órgãos ambientais e comunidade para implementação de medidas mitigatórias (Buss 2012). Três espécies de mamíferos já foram registradas utilizando as pontes de corda no bairro Lami, Porto Alegre, área de estudo para este trabalho: o bugio-ruivo (Alouatta guariba clamitans), o gamba-de-orelha-branca (Didelphis albiventris) e o ouriço- 17 cacheiro (Sphiggurus villosus) (Teixeira et al. 2013). Atualmente, existem 15 pontes de corda instaladas no município de Porto Alegre, sendo 10 delas localizadas na área de estudo. Para que estas estratégias sejam cada vez mais efetivas, é necessário que se faça um mapeamento da conectividade da paisagem e uma avaliação da permeabilidade da matriz. Os principais fatores envolvidos nesta avalição consideram: número, tamanho e qualidade dos fragmentos; número, comprimento e qualidade dos corredores; e características da matriz (Rodriguez-Toledo et al. 2003). Porém, estas variáveis não se enquadram para estudos em escalas maiores, visto que frequentemente os animais se restringem a poucos agrupamentos de árvores ou até mesmo árvores isoladas. Por isso, estudos de conectividade e deslocamento com enfoque local são necessários para entender como as espécies se movimentam em uma matriz antropizada, buscando contribuir para o bemestar dos animais, evitando acidentes e visando o aumento a chance de sua persistência a longo prazo, possibilitando um sistema de imigração-emigração e garantindo a diversidade genética. Na região extremo-sul do município de Porto Alegre, grupos de bugio-ruivo (Alouatta guariba clamitans) habitam fragmentos florestais de encosta de morros e matas de restinga ao longo do Lago Guaíba. Nesse contexto periurbano, esses animais transitam entre os fragmentos e se deslocam na matriz tanto durante seus deslocamentos diários quanto para dispersão, sofrendo choques elétricos, ataques por cães e atropelamentos (Printes 1999; Lokschin et al. 2007). Neste estudo, nós mapeamos a permeabilidade entre fragmentos e agrupamentos de árvores em uma área periurbana, bem como analisamos se a permeabilidade da matriz corresponde com o uso do espaço pelos bugios. Especificamente buscamos 1) avaliar se mapas de conectividade baseados nos elementos de vegetação podem prever 18 deslocamentos de grupos de bugios numa escala local e 2) avaliar o papel de elementos como telhados e redes elétricas na permeabilidade da matriz de acordo com os deslocamentos de grupos de bugios numa paisagem fragmentada. Por fim, comparamos se os pontos com registros de conflitos (atropelamentos, ataque por cães e choque elétrico) e medidas de mitigação (pontes de corda) coincidem com locais de alta ou baixa permeabilidade. |
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Enquanto a ocupação humana avança e altera o ambiente, as espécies que não se adaptarem a essa nova configuração da paisagem, seja persistindo no habitat modificado ou dispersando, estão indubitavelmente ameaçadas localmente de extinção. O movimento que um indivíduo precisa executar para realizar suas atividades diárias ou eventuais dispersões depende estritamente da permeabilidade da paisagem em que está inserido (Nathan et al. 2008) e da sua percepção em relação a ela. Em consequência da expansão urbana, os principais fatores de risco ao deslocamento dos primatas que habitam áreas periurbanas são construções, estradas e cabos de energia elétrica, o que resulta em uma matriz heterogênea com baixa permeabilidade (Wellian & Smith 2021). 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Consequentemente, o que se observa, além das fatalidades citadas anteriormente, é a utilização de elementos antrópicos para realização de movimentos de espécies arborícolas. Um estudo de caso realizado por Corrêa et al. (2018) identificou uma contribuição significativa de 23% do uso dos fios da rede elétrica no deslocamento diário de um grupo de bugios-ruivos, representando uma importante conexão entre as árvores e exercendo uma conectividade estrutural que já não estava mais ali. Porém, é importante salientar que quanto mais estes animais utilizam os fios, maiores as chances de acidentes na rede elétrica (Lokschin et al. 2007). Diante deste cenário, são desenvolvidas ações a fim de mitigar estes impactos, manter a ligação entre fragmentos e áreas naturais protegidas, bem como assegurar a persistência das espécies a longo prazo. Tais ações incluem, instalação e manejo de travessias de fauna, mapeamento e monitoramento de conflitos e promoção de atividades de educação ambiental. Desde 1993, o Programa Macacos Urbanos (PMU) atua pela conservação do bugio-ruivo nos municípios de Porto Alegre e Viamão, sendo responsável pela confecção, instalação e manejo de pontes de corda. Atualmente, estas etapas são realizadas em parceria com a equipe gestora da Reserva Biológica do Lami José Lutzenberger (RBL), e algumas vezes com moradores da região, demonstrando uma importante articulação entre órgãos ambientais e comunidade para implementação de medidas mitigatórias (Buss 2012). Três espécies de mamíferos já foram registradas utilizando as pontes de corda no bairro Lami, Porto Alegre, área de estudo para este trabalho: o bugio-ruivo (Alouatta guariba clamitans), o gamba-de-orelha-branca (Didelphis albiventris) e o ouriço- 17 cacheiro (Sphiggurus villosus) (Teixeira et al. 2013). Atualmente, existem 15 pontes de corda instaladas no município de Porto Alegre, sendo 10 delas localizadas na área de estudo. 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(2018) identificou uma contribuição significativa de 23% do uso dos fios da rede elétrica no deslocamento diário de um grupo de bugios-ruivos, representando uma importante conexão entre as árvores e exercendo uma conectividade estrutural que já não estava mais ali. Porém, é importante salientar que quanto mais estes animais utilizam os fios, maiores as chances de acidentes na rede elétrica (Lokschin et al. 2007). Diante deste cenário, são desenvolvidas ações a fim de mitigar estes impactos, manter a ligação entre fragmentos e áreas naturais protegidas, bem como assegurar a persistência das espécies a longo prazo. Tais ações incluem, instalação e manejo de travessias de fauna, mapeamento e monitoramento de conflitos e promoção de atividades de educação ambiental. Desde 1993, o Programa Macacos Urbanos (PMU) atua pela conservação do bugio-ruivo nos municípios de Porto Alegre e Viamão, sendo responsável pela confecção, instalação e manejo de pontes de corda. Atualmente, estas etapas são realizadas em parceria com a equipe gestora da Reserva Biológica do Lami José Lutzenberger (RBL), e algumas vezes com moradores da região, demonstrando uma importante articulação entre órgãos ambientais e comunidade para implementação de medidas mitigatórias (Buss 2012). Três espécies de mamíferos já foram registradas utilizando as pontes de corda no bairro Lami, Porto Alegre, área de estudo para este trabalho: o bugio-ruivo (Alouatta guariba clamitans), o gamba-de-orelha-branca (Didelphis albiventris) e o ouriço- 17 cacheiro (Sphiggurus villosus) (Teixeira et al. 2013). Atualmente, existem 15 pontes de corda instaladas no município de Porto Alegre, sendo 10 delas localizadas na área de estudo. Para que estas estratégias sejam cada vez mais efetivas, é necessário que se faça um mapeamento da conectividade da paisagem e uma avaliação da permeabilidade da matriz. Os principais fatores envolvidos nesta avalição consideram: número, tamanho e qualidade dos fragmentos; número, comprimento e qualidade dos corredores; e características da matriz (Rodriguez-Toledo et al. 2003). Porém, estas variáveis não se enquadram para estudos em escalas maiores, visto que frequentemente os animais se restringem a poucos agrupamentos de árvores ou até mesmo árvores isoladas. Por isso, estudos de conectividade e deslocamento com enfoque local são necessários para entender como as espécies se movimentam em uma matriz antropizada, buscando contribuir para o bemestar dos animais, evitando acidentes e visando o aumento a chance de sua persistência a longo prazo, possibilitando um sistema de imigração-emigração e garantindo a diversidade genética. Na região extremo-sul do município de Porto Alegre, grupos de bugio-ruivo (Alouatta guariba clamitans) habitam fragmentos florestais de encosta de morros e matas de restinga ao longo do Lago Guaíba. 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