Plotino e o problema da mistura

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Groisard, Jocelyn
Data de Publicação: 2010
Outros Autores: Baracat Júnior, José Carlos
Tipo de documento: Artigo
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional da UFRGS
Texto Completo: http://hdl.handle.net/10183/158627
Resumo: A mistura era um tema bastante debatido na filosofia grega antiga e Plotino, provavelmente sob a influência de Alexandre de Afrodísias, não permaneceu indiferente a esse problema. Ele chegou a dedicar-lhe um tratado inteiro, Enéadas II 7, no qual compara as teorias dos Peripatéticos e dos Estóicos acerca da mistura e, sem escolher entre elas, tenta fornecer uma nova solução para o problema transferindo-o do domínio da física para o da metafísica: não importa como os ingredientes se relacionam no corpo misturado porque qualquer corpo ultimamente deriva sua forma de princípio superior incorpóreo, e não de seus constituintes físicos. Plotino também recorreu à mistura em uma demonstração da natureza incorpórea da alma: se nós supusermos que a alma é corpórea, então ela deveria necessariamente estar misturada ao corpo, mas, se nenhum esquema de mistura é capaz de dar conta da união entre os dois, então nós deveríamos revisar nossa hipótese e concluir que a alma não é corpórea. Paradoxalmente, esse argumento negativo, ao dizer que a alma não pode estar misturada se ela é um corpo, sugere que, uma vez que de fato ela não é um corpo, ela pode estar misturada ao corpo de um modo bastante especial, que é perpassando-o completamente, do mesmo modo como os Estóicos argumentavam que os corpos perpassavam completamente uns aos outros quando se misturam. Assim, Plotino tentou ao mesmo tempo colocar um fim às infindáveis controvérsias acerca do tema físico da mistura e calçou o caminho para o uso de esquemas de mistura fora da física para entes incorpóreos, tais como a alma, um movimento que foi feito mais explicitamente por Porfírio e que se tornou imensamente influente no uso do conceito de mistura na metafísica neoplatônica tardia.
id UFRGS-2_9888146cdfd7212eaaaef032fe06feb5
oai_identifier_str oai:www.lume.ufrgs.br:10183/158627
network_acronym_str UFRGS-2
network_name_str Repositório Institucional da UFRGS
repository_id_str
spelling Groisard, JocelynBaracat Júnior, José Carlos2017-05-26T02:31:33Z20101984-249Xhttp://hdl.handle.net/10183/158627000774142A mistura era um tema bastante debatido na filosofia grega antiga e Plotino, provavelmente sob a influência de Alexandre de Afrodísias, não permaneceu indiferente a esse problema. Ele chegou a dedicar-lhe um tratado inteiro, Enéadas II 7, no qual compara as teorias dos Peripatéticos e dos Estóicos acerca da mistura e, sem escolher entre elas, tenta fornecer uma nova solução para o problema transferindo-o do domínio da física para o da metafísica: não importa como os ingredientes se relacionam no corpo misturado porque qualquer corpo ultimamente deriva sua forma de princípio superior incorpóreo, e não de seus constituintes físicos. Plotino também recorreu à mistura em uma demonstração da natureza incorpórea da alma: se nós supusermos que a alma é corpórea, então ela deveria necessariamente estar misturada ao corpo, mas, se nenhum esquema de mistura é capaz de dar conta da união entre os dois, então nós deveríamos revisar nossa hipótese e concluir que a alma não é corpórea. Paradoxalmente, esse argumento negativo, ao dizer que a alma não pode estar misturada se ela é um corpo, sugere que, uma vez que de fato ela não é um corpo, ela pode estar misturada ao corpo de um modo bastante especial, que é perpassando-o completamente, do mesmo modo como os Estóicos argumentavam que os corpos perpassavam completamente uns aos outros quando se misturam. Assim, Plotino tentou ao mesmo tempo colocar um fim às infindáveis controvérsias acerca do tema físico da mistura e calçou o caminho para o uso de esquemas de mistura fora da física para entes incorpóreos, tais como a alma, um movimento que foi feito mais explicitamente por Porfírio e que se tornou imensamente influente no uso do conceito de mistura na metafísica neoplatônica tardia.Mixture was a much debated issue in ancient Greek philosophy and Plotinus, probably under the influence of Alexander of Aphrodisias, did not remain indifferent to this problem. He even devoted it a whole treatise, Enneads II 7, in which he compares the theories of Peripatetics and Stoics on mixture and, without choosing between them, tries to provide a new solution to the problem by transferring it from the realm of physics to that of metaphysics: no matter how ingredients are in relation in the mixed body since any body eventually derives its form from a superior incorporeal principle and not from its physical constituents. Plotinus also referred to mixture in a demonstration of the soul’s incorporeal nature: if we suppose that the soul is corporeal, then it should necessarily be mixed to the body, but if no scheme of mixture can account for the union between the two of them, then we should revise our hypothesis and conclude that the soul is not corporeal. Quite paradoxically, this negative argument, by saying that the soul cannot be mixed if it is a body, suggests that, since in fact it is not a body, it can be mixed to the body in a very special way, that is by pervading it completely just as Stoics argued bodies completely pervade each other when they mix. Thus Plotinus at the same time tried to put an end to the endless controversies on the physical issue of mixture and paved the way for the use of mixture schemes outside physics for incorporeal entities such as the soul, a move which was made more explicit by Porphyry and became greatly influential on the use of the concept of mixture in later Neoplatonic metaphysics.application/pdfporArchai. Brasília, DF. N. 5 (jul. 2010), p. 37-48Plotino, 205-270MisturaMetafísicaPlotinusAlexander of aphrodisiasPorphyryStoicsMixturePlotino e o problema da misturaPlotinus and the problem of mixture info:eu-repo/semantics/articleinfo:eu-repo/semantics/otherinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Repositório Institucional da UFRGSinstname:Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)instacron:UFRGSORIGINAL000774142.pdf000774142.pdfTexto completoapplication/pdf670720http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/10183/158627/1/000774142.pdf2ef6cb734a87cbe7e1ff1a734aa02822MD51TEXT000774142.pdf.txt000774142.pdf.txtExtracted Texttext/plain58738http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/10183/158627/2/000774142.pdf.txt41481a5775b5170b02706b1aa778a74fMD5210183/1586272023-04-27 03:30:56.021561oai:www.lume.ufrgs.br:10183/158627Repositório de PublicaçõesPUBhttps://lume.ufrgs.br/oai/requestopendoar:2023-04-27T06:30:56Repositório Institucional da UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)false
dc.title.pt_BR.fl_str_mv Plotino e o problema da mistura
dc.title.alternative.en.fl_str_mv Plotinus and the problem of mixture
title Plotino e o problema da mistura
spellingShingle Plotino e o problema da mistura
Groisard, Jocelyn
Plotino, 205-270
Mistura
Metafísica
Plotinus
Alexander of aphrodisias
Porphyry
Stoics
Mixture
title_short Plotino e o problema da mistura
title_full Plotino e o problema da mistura
title_fullStr Plotino e o problema da mistura
title_full_unstemmed Plotino e o problema da mistura
title_sort Plotino e o problema da mistura
author Groisard, Jocelyn
author_facet Groisard, Jocelyn
Baracat Júnior, José Carlos
author_role author
author2 Baracat Júnior, José Carlos
author2_role author
dc.contributor.author.fl_str_mv Groisard, Jocelyn
Baracat Júnior, José Carlos
dc.subject.por.fl_str_mv Plotino, 205-270
Mistura
Metafísica
topic Plotino, 205-270
Mistura
Metafísica
Plotinus
Alexander of aphrodisias
Porphyry
Stoics
Mixture
dc.subject.eng.fl_str_mv Plotinus
Alexander of aphrodisias
Porphyry
Stoics
Mixture
description A mistura era um tema bastante debatido na filosofia grega antiga e Plotino, provavelmente sob a influência de Alexandre de Afrodísias, não permaneceu indiferente a esse problema. Ele chegou a dedicar-lhe um tratado inteiro, Enéadas II 7, no qual compara as teorias dos Peripatéticos e dos Estóicos acerca da mistura e, sem escolher entre elas, tenta fornecer uma nova solução para o problema transferindo-o do domínio da física para o da metafísica: não importa como os ingredientes se relacionam no corpo misturado porque qualquer corpo ultimamente deriva sua forma de princípio superior incorpóreo, e não de seus constituintes físicos. Plotino também recorreu à mistura em uma demonstração da natureza incorpórea da alma: se nós supusermos que a alma é corpórea, então ela deveria necessariamente estar misturada ao corpo, mas, se nenhum esquema de mistura é capaz de dar conta da união entre os dois, então nós deveríamos revisar nossa hipótese e concluir que a alma não é corpórea. Paradoxalmente, esse argumento negativo, ao dizer que a alma não pode estar misturada se ela é um corpo, sugere que, uma vez que de fato ela não é um corpo, ela pode estar misturada ao corpo de um modo bastante especial, que é perpassando-o completamente, do mesmo modo como os Estóicos argumentavam que os corpos perpassavam completamente uns aos outros quando se misturam. Assim, Plotino tentou ao mesmo tempo colocar um fim às infindáveis controvérsias acerca do tema físico da mistura e calçou o caminho para o uso de esquemas de mistura fora da física para entes incorpóreos, tais como a alma, um movimento que foi feito mais explicitamente por Porfírio e que se tornou imensamente influente no uso do conceito de mistura na metafísica neoplatônica tardia.
publishDate 2010
dc.date.issued.fl_str_mv 2010
dc.date.accessioned.fl_str_mv 2017-05-26T02:31:33Z
dc.type.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/article
info:eu-repo/semantics/other
dc.type.status.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/publishedVersion
format article
status_str publishedVersion
dc.identifier.uri.fl_str_mv http://hdl.handle.net/10183/158627
dc.identifier.issn.pt_BR.fl_str_mv 1984-249X
dc.identifier.nrb.pt_BR.fl_str_mv 000774142
identifier_str_mv 1984-249X
000774142
url http://hdl.handle.net/10183/158627
dc.language.iso.fl_str_mv por
language por
dc.relation.ispartof.pt_BR.fl_str_mv Archai. Brasília, DF. N. 5 (jul. 2010), p. 37-48
dc.rights.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/openAccess
eu_rights_str_mv openAccess
dc.format.none.fl_str_mv application/pdf
dc.source.none.fl_str_mv reponame:Repositório Institucional da UFRGS
instname:Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
instacron:UFRGS
instname_str Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
instacron_str UFRGS
institution UFRGS
reponame_str Repositório Institucional da UFRGS
collection Repositório Institucional da UFRGS
bitstream.url.fl_str_mv http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/10183/158627/1/000774142.pdf
http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/10183/158627/2/000774142.pdf.txt
bitstream.checksum.fl_str_mv 2ef6cb734a87cbe7e1ff1a734aa02822
41481a5775b5170b02706b1aa778a74f
bitstream.checksumAlgorithm.fl_str_mv MD5
MD5
repository.name.fl_str_mv Repositório Institucional da UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
repository.mail.fl_str_mv
_version_ 1801224916195868672