Pra não dizer que Não Falei das dores: violência e silêncio no romance de Beatriz Bracher
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Data de Publicação: | 2021 |
Tipo de documento: | Dissertação |
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Título da fonte: | Repositório Institucional da UFRN |
Texto Completo: | https://repositorio.ufrn.br/handle/123456789/32040 |
Resumo: | A partir de uma abordagem que investiga a criação literária em concomitância com a representação da vida social, conforme a crítica integrativa de Antonio Candido (2014a, 2017), esta pesquisa teve como objeto de estudo o romance contemporâneo Não falei, da escritora brasileira Beatriz Bracher. A obra lida com a narração memorialística de um narradorprotagonista que foi torturado durante a ditadura civil-militar brasileira e acusado de ter delatado o cunhado, militante político assassinado pelo regime autoritário. Esses acontecimentos resultam em um silêncio de anos, no qual o sujeito ficcional se recusa a endereçar a acusação. Frente a essa configuração romanesca, o objetivo desta pesquisa foi analisar, no texto literário, as intercorrências entre violência e silêncio. Estudamos a primeira temática segundo as contribuições de Jaime Ginzburg (2012, 2017), Márcio Seligmann-Silva (2000) e Sigmund Freud (1989, 2012), no que tange à estética da violência, à representação da catástrofe e ao trauma decorrente da tortura; a segunda, conforme o entendimento de Roland Barthes (2003) do silêncio como signo, de Eni Orlandi (2007), quanto ao silenciamento como interdição do sentido, e de Lourival Holanda (1992), no que diz respeito à não-verbalização como manifestação que pode permitir entrever opressões sociais. Ao longo do estudo, foram destacados o aspecto fragmentário da representação da tortura, a equivalência entre o silêncio do torturado e a resistência, o impacto da violência na visão de mundo do narrador e o silêncio como uma condição cultivada ao longo da obra, seja no âmbito familiar, perante os conhecidos ou durante a ditadura civil-militar. Percebe-se, então, que a postura linguística reticente e reservada do protagonista em se defender da acusação advém de uma desconfiança com a linguagem e com os homens, cujas raízes estão na sala de interrogatório em que a violência foi exercida. Além disso, notou-se como a representação literária cria uma narração incompleta e polissêmica, na esteira dos traumas que atingiram o narrador durante a tortura, das perdas sofridas por ele e da necessidade pelo silêncio como resguardo de si mesmo. O estudo dessas questões indica a relevância da obra literária na adoção de uma perspectiva singular de um acontecimento histórico traumático, evidenciando, por meio da situação ficcional, aquilo que foi encoberto pelos discursos oficiais. Esta pesquisa foi realizada com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Brasil (CAPES) – Código de Financiamento 001. |
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A obra lida com a narração memorialística de um narradorprotagonista que foi torturado durante a ditadura civil-militar brasileira e acusado de ter delatado o cunhado, militante político assassinado pelo regime autoritário. Esses acontecimentos resultam em um silêncio de anos, no qual o sujeito ficcional se recusa a endereçar a acusação. Frente a essa configuração romanesca, o objetivo desta pesquisa foi analisar, no texto literário, as intercorrências entre violência e silêncio. Estudamos a primeira temática segundo as contribuições de Jaime Ginzburg (2012, 2017), Márcio Seligmann-Silva (2000) e Sigmund Freud (1989, 2012), no que tange à estética da violência, à representação da catástrofe e ao trauma decorrente da tortura; a segunda, conforme o entendimento de Roland Barthes (2003) do silêncio como signo, de Eni Orlandi (2007), quanto ao silenciamento como interdição do sentido, e de Lourival Holanda (1992), no que diz respeito à não-verbalização como manifestação que pode permitir entrever opressões sociais. Ao longo do estudo, foram destacados o aspecto fragmentário da representação da tortura, a equivalência entre o silêncio do torturado e a resistência, o impacto da violência na visão de mundo do narrador e o silêncio como uma condição cultivada ao longo da obra, seja no âmbito familiar, perante os conhecidos ou durante a ditadura civil-militar. Percebe-se, então, que a postura linguística reticente e reservada do protagonista em se defender da acusação advém de uma desconfiança com a linguagem e com os homens, cujas raízes estão na sala de interrogatório em que a violência foi exercida. Além disso, notou-se como a representação literária cria uma narração incompleta e polissêmica, na esteira dos traumas que atingiram o narrador durante a tortura, das perdas sofridas por ele e da necessidade pelo silêncio como resguardo de si mesmo. O estudo dessas questões indica a relevância da obra literária na adoção de uma perspectiva singular de um acontecimento histórico traumático, evidenciando, por meio da situação ficcional, aquilo que foi encoberto pelos discursos oficiais. Esta pesquisa foi realizada com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Brasil (CAPES) – Código de Financiamento 001.Based upon an understanding of literature that considers social life, as proposed by the integralist procedure by Antonio Candido (2014a, 2017), this study analysed the contemporary novel Não falei, written by Beatriz Bracher. The novel brings the narrative of a narrator that remembers the time when he was subjected to torture during the Brazilian civil and military dictatorship, time frame in which he suffered, besides physical subjugation, with the loss of his brother-in-law, Armando, a revolutionary activist murdered by the Brazilian state. The capture of Armando is linked, by relatives and acquaintanceships, to the narrator himself, accused of giving away information during torture that occasioned the killing. These facts result in a silence of many years, in which the protagonist refuses to address the accusation. Given the novel’s themes, the goal of this research was to investigate, in the literary text, the intercurrences between violence and silence. We studied the first according to the understanding of Jaime Ginzburg (2012, 2017), Márcio Seligmann-Silva (2000) and Sigmund Freud (1989, 2012) on the aesthetic of violence, on the representation of catastrophe and on the residual trauma from experiencing torture; the second, following the propositions of Roland Barthes (2003), that sees silence as a sign, of Eni Orlandi (2007), on the matter of forceful silencing as the interdiction of signification, and of Lourival Holanda (1992) on nonverbalization as a manifestation of social oppression. During the study, we established the fragmentary aspect of the representation of torture, the equivalence amongst the torture victim’s silence and resistance, the impact of violence in the perspective of the narrator and silence as a condition cultivated in different levels through the novel, be it inside the protagonist’s family in the past, with acquaintances in the present or during the military dictatorship. We concluded, confronted by such results, that the narrator’s reticent and reserved linguistic behaviour in defending himself from the accusation that hovers over his head comes from a distrust in language and in men, a disbelief that has its roots in the torture procedure. Furthermore, it was noted how the literary representation creates an incomplete and polysemic narration after the traumas that hit the narrator. The study of these matters points out the relevance of the novel in adopting a singular perspective of a traumatic historical event, evidencing, through the fictional word, what was covered by the official discourses.Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPESUniversidade Federal do Rio Grande do NortePROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS DA LINGUAGEMUFRNBrasilLiteratura brasileiraRomance contemporâneoSilêncioViolênciaNão faleiBeatriz BracherPra não dizer que Não Falei das dores: violência e silêncio no romance de Beatriz Bracherinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisinfo:eu-repo/semantics/openAccessporreponame:Repositório Institucional da UFRNinstname:Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)instacron:UFRNORIGINALPranaodizer_Silva_2021.pdfapplication/pdf1318765https://repositorio.ufrn.br/bitstream/123456789/32040/1/Pranaodizer_Silva_2021.pdf62a95aab2113eedfdd68990f3ca840feMD51TEXTPranaodizer_Silva_2021.pdf.txtPranaodizer_Silva_2021.pdf.txtExtracted texttext/plain369287https://repositorio.ufrn.br/bitstream/123456789/32040/2/Pranaodizer_Silva_2021.pdf.txtd909ccb42409b0e5fdd1e15922e0d037MD52THUMBNAILPranaodizer_Silva_2021.pdf.jpgPranaodizer_Silva_2021.pdf.jpgGenerated Thumbnailimage/jpeg1169https://repositorio.ufrn.br/bitstream/123456789/32040/3/Pranaodizer_Silva_2021.pdf.jpgb188a8fe9ab2b2e4178419bbd81a82a1MD53123456789/320402021-04-11 06:04:52.936oai:https://repositorio.ufrn.br:123456789/32040Repositório de PublicaçõesPUBhttp://repositorio.ufrn.br/oai/opendoar:2021-04-11T09:04:52Repositório Institucional da UFRN - Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)false |
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A partir de uma abordagem que investiga a criação literária em concomitância com a representação da vida social, conforme a crítica integrativa de Antonio Candido (2014a, 2017), esta pesquisa teve como objeto de estudo o romance contemporâneo Não falei, da escritora brasileira Beatriz Bracher. A obra lida com a narração memorialística de um narradorprotagonista que foi torturado durante a ditadura civil-militar brasileira e acusado de ter delatado o cunhado, militante político assassinado pelo regime autoritário. Esses acontecimentos resultam em um silêncio de anos, no qual o sujeito ficcional se recusa a endereçar a acusação. Frente a essa configuração romanesca, o objetivo desta pesquisa foi analisar, no texto literário, as intercorrências entre violência e silêncio. Estudamos a primeira temática segundo as contribuições de Jaime Ginzburg (2012, 2017), Márcio Seligmann-Silva (2000) e Sigmund Freud (1989, 2012), no que tange à estética da violência, à representação da catástrofe e ao trauma decorrente da tortura; a segunda, conforme o entendimento de Roland Barthes (2003) do silêncio como signo, de Eni Orlandi (2007), quanto ao silenciamento como interdição do sentido, e de Lourival Holanda (1992), no que diz respeito à não-verbalização como manifestação que pode permitir entrever opressões sociais. Ao longo do estudo, foram destacados o aspecto fragmentário da representação da tortura, a equivalência entre o silêncio do torturado e a resistência, o impacto da violência na visão de mundo do narrador e o silêncio como uma condição cultivada ao longo da obra, seja no âmbito familiar, perante os conhecidos ou durante a ditadura civil-militar. Percebe-se, então, que a postura linguística reticente e reservada do protagonista em se defender da acusação advém de uma desconfiança com a linguagem e com os homens, cujas raízes estão na sala de interrogatório em que a violência foi exercida. Além disso, notou-se como a representação literária cria uma narração incompleta e polissêmica, na esteira dos traumas que atingiram o narrador durante a tortura, das perdas sofridas por ele e da necessidade pelo silêncio como resguardo de si mesmo. O estudo dessas questões indica a relevância da obra literária na adoção de uma perspectiva singular de um acontecimento histórico traumático, evidenciando, por meio da situação ficcional, aquilo que foi encoberto pelos discursos oficiais. Esta pesquisa foi realizada com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Brasil (CAPES) – Código de Financiamento 001. |
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