Entre liberdades e restrições: experiências na mobilidade urbana de crianças nos trajetos casa-escola-casa em Quixadá, Ceará

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Martins, Diego Freire
Data de Publicação: 2021
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional da UFRN
Texto Completo: https://repositorio.ufrn.br/handle/123456789/46470
Resumo: As crianças, sobretudo de classe média urbana, têm um papel social cada vez mais dependente do adulto, invisibilizada nos processos decisórios da vida urbana, consideradas a cidadã do futuro e não do hoje e confinada em ambientes privados sob o argumento de segurança e bem-estar. Seus deslocamentos são vertiginosamente mais motorizados, poucas vezes independentes (sem supervisão direta de adultos) e vivenciados através de vidros em “ilhas privadas”, na qual o espaço público é apenas passagem. Essas relações têm impactado diretamente em seu desenvolvimento social, emocional, mental e espacial. Há diversos estudos e iniciativas que protagonizam a relação criança-cidade e seus deslocamentos, todavia, há uma lacuna sobre pesquisas fora dos grandes centros urbanos de países em desenvolvimento. Assim, o objetivo desta pesquisa foi compreender as interações criança-cidade à luz das experiências de mobilidade urbana nos trajetos casa-escola-casa em Quixadá/CE e seus (des)estímulos ao transporte ativo e independente. Estruturamos o percurso metodológico em (1) revisão de literatura sobre a mobilidade ativa/independente e nas experiências urbanas como possibilidades cidadãs (BARBOSA, 2016; SARMENTO, 2018; TONUCCI, 2005) através da percepção ambiental e das relações afetivas na vinculação ao lugar como base para uma ação-transformação éticopolítica na cidade (GIULIANI, 2003; ITTELSON, 1978; LYNCH, 1982; TUAN, 2013). Em seguida, desenvolvemos um estudo de caráter exploratório com a (2) caracterização de aspectos sociofísicos dos trajetos por meio de mapeamentos, observações em campo e registros fotográficos. Posteriormente, (3) aplicamos questionários com pais/responsáveis e realizamos entrevistas estruturadas e mapas afetivos com crianças de 8 a 11 anos em três escolas públicas. Os resultados apontaram que 73% das crianças participantes realizaram trajetos com modais ativos e 50% do total teve alguma experiência de mobilidade autônoma. Parte dos adultos se mostrou resistente à mobilidade ativa e, mais ainda, às deslocações independentes em razão de longas distâncias, violência urbana, medo de desconhecidos, trânsito e conforto ambiental. As características que potencializaram o transporte ativo e independente foram a permeabilidade urbana (configurações da malha, quadras); diversidade de usos do solo; legibilidade urbana para os moradores; presença de rede de vizinhança; e atribuição de qualificações positivas. O conhecimento ambiental foi mais sólido e crítico com vinculações funcional, relacional e simbólica com os trajetos nas crianças que adotaram mobilidade ativa, enquanto nas crianças de mobilidade motorizada a vinculação foi apenas funcional e menos crítica. Assim, concluímos que os ambientes (social, construído, familiar, de transporte e subjetividades) de Quixadá tiveram mais aspectos que favoreceram a adoção de transporte ativo/independente, embora não seja intencionalmente educativa no aspecto espacial do ambiente urbano. Essa realidade tem oportunizado a experienciação e desenvolvimento de vínculos da criança com o espaço público construindo maior potencialidade cidadã. Mais do que nunca, se aspiramos por cidades mais democráticas e plurais em tempos difíceis como o que enfrentamos, precisamos amplificar o potencial educativo da cidade, além de necessária, a esperança na infância é também uma possibilidade de resistência.
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Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) - Centro de Tecnologia, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2021.https://repositorio.ufrn.br/handle/123456789/46470As crianças, sobretudo de classe média urbana, têm um papel social cada vez mais dependente do adulto, invisibilizada nos processos decisórios da vida urbana, consideradas a cidadã do futuro e não do hoje e confinada em ambientes privados sob o argumento de segurança e bem-estar. Seus deslocamentos são vertiginosamente mais motorizados, poucas vezes independentes (sem supervisão direta de adultos) e vivenciados através de vidros em “ilhas privadas”, na qual o espaço público é apenas passagem. Essas relações têm impactado diretamente em seu desenvolvimento social, emocional, mental e espacial. Há diversos estudos e iniciativas que protagonizam a relação criança-cidade e seus deslocamentos, todavia, há uma lacuna sobre pesquisas fora dos grandes centros urbanos de países em desenvolvimento. Assim, o objetivo desta pesquisa foi compreender as interações criança-cidade à luz das experiências de mobilidade urbana nos trajetos casa-escola-casa em Quixadá/CE e seus (des)estímulos ao transporte ativo e independente. Estruturamos o percurso metodológico em (1) revisão de literatura sobre a mobilidade ativa/independente e nas experiências urbanas como possibilidades cidadãs (BARBOSA, 2016; SARMENTO, 2018; TONUCCI, 2005) através da percepção ambiental e das relações afetivas na vinculação ao lugar como base para uma ação-transformação éticopolítica na cidade (GIULIANI, 2003; ITTELSON, 1978; LYNCH, 1982; TUAN, 2013). Em seguida, desenvolvemos um estudo de caráter exploratório com a (2) caracterização de aspectos sociofísicos dos trajetos por meio de mapeamentos, observações em campo e registros fotográficos. Posteriormente, (3) aplicamos questionários com pais/responsáveis e realizamos entrevistas estruturadas e mapas afetivos com crianças de 8 a 11 anos em três escolas públicas. Os resultados apontaram que 73% das crianças participantes realizaram trajetos com modais ativos e 50% do total teve alguma experiência de mobilidade autônoma. Parte dos adultos se mostrou resistente à mobilidade ativa e, mais ainda, às deslocações independentes em razão de longas distâncias, violência urbana, medo de desconhecidos, trânsito e conforto ambiental. As características que potencializaram o transporte ativo e independente foram a permeabilidade urbana (configurações da malha, quadras); diversidade de usos do solo; legibilidade urbana para os moradores; presença de rede de vizinhança; e atribuição de qualificações positivas. O conhecimento ambiental foi mais sólido e crítico com vinculações funcional, relacional e simbólica com os trajetos nas crianças que adotaram mobilidade ativa, enquanto nas crianças de mobilidade motorizada a vinculação foi apenas funcional e menos crítica. Assim, concluímos que os ambientes (social, construído, familiar, de transporte e subjetividades) de Quixadá tiveram mais aspectos que favoreceram a adoção de transporte ativo/independente, embora não seja intencionalmente educativa no aspecto espacial do ambiente urbano. Essa realidade tem oportunizado a experienciação e desenvolvimento de vínculos da criança com o espaço público construindo maior potencialidade cidadã. Mais do que nunca, se aspiramos por cidades mais democráticas e plurais em tempos difíceis como o que enfrentamos, precisamos amplificar o potencial educativo da cidade, além de necessária, a esperança na infância é também uma possibilidade de resistência.Children, especially those from the urban middle class, have a social role that is increasingly dependent on the adult, invisible in the decision-making processes of urban life, considered the citizen of the future and not of today, and confined in private environments based on the argument of safety and well-being. Its movements are more motorized, rarely independent (without direct supervision by adults) and experienced through glass on “private islands”, in which the public space is just a passage. These relationships have directly impacted their social, emotional, mental and spatial development. There are several studies and initiatives that play a leading role in the child-city relationship and its displacements, however, there is a gap in research outside the large urban centers of developing countries. Thus, the objective of this research was to understand the child-city interactions in the light of urban mobility experiences in the home-school-home routes in Quixadá/CE and their (dis)stimulations to active and independent transport. We structured the methodological path in (1) literature review on active/independent mobility and urban experiences as citizen possibilities (BARBOSA, 2016; SARMENTO, 2018; TONUCCI, 2005) through environmental perception and affective relationships in the attachment to place as basis for an ethical-political action-transformation in the city (GIULIANI, 2003; ITTELSON, 1978; LYNCH, 1982; TUAN, 2013). Then, we developed an exploratory study with the (2) characterization of socio-physical aspects of the paths through mapping, field observations and photographic records. Subsequently, (3) we applied questionnaires with parents/guardians and conducted structured interviews and affective maps with children aged 8 to 11 years in three public schools. The results showed that 73% of the participating children traveled with active modes and 50% of the total had some experience of autonomous mobility. Part of the adults proved resistant to active mobility and, even more, to independent travel due to long distances, urban violence, fear of strangers, traffic and environmental comfort. The characteristics that enhanced active and independent transport were urban permeability (network configurations, blocks); diversity of land uses; urban legibility for the residents; presence of a neighborhood network; and attribution of positive qualifications. Environmental knowledge was more solid and critical with a functional, relational and symbolic links with the paths in children who adopted active mobility, while in children with motorized mobility the link was only functional and less critical. Thus, we conclude that the environments (social, built, family, transport and subjectivities) of Quixadá had more aspects that favored the adoption of active/independent transport, although it is not intentionally educational in the spatial aspect of the urban environment. This reality has provided opportunities for the child's experience and development of bonds with the public space, building greater citizenship potential. More than ever, if we aspire for more democratic and plural cities in difficult times like the one we are facing, we need to amplify the city's educational potential, in addition to being necessary, hope in childhood is also a possibility for resistance.Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPESUniversidade Federal do Rio Grande do NortePROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMOUFRNBrasilMobilidade ativaMobilidade independente de criançasExperiências urbanasPercepção ambientalCidadaniaEntre liberdades e restrições: experiências na mobilidade urbana de crianças nos trajetos casa-escola-casa em Quixadá, Cearáinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisinfo:eu-repo/semantics/openAccessporreponame:Repositório Institucional da UFRNinstname:Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)instacron:UFRNORIGINALEntreliberdadesrestricoes_Martins_2021.pdfapplication/pdf253894967https://repositorio.ufrn.br/bitstream/123456789/46470/1/Entreliberdadesrestricoes_Martins_2021.pdf6c66c0b8433ca9c3b639c71d9430de7dMD51123456789/464702022-05-02 10:35:47.141oai:https://repositorio.ufrn.br:123456789/46470Repositório de PublicaçõesPUBhttp://repositorio.ufrn.br/oai/opendoar:2022-05-02T13:35:47Repositório Institucional da UFRN - Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)false
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