A psicologia e a transgeneridade: saberes e distanciamentos

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Moraes, Antonia Nathalia Duarte de
Data de Publicação: 2021
Tipo de documento: Tese
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional da UFRN
Texto Completo: https://repositorio.ufrn.br/handle/123456789/44587
Resumo: Embora tenhamos o psicólogo como profissional obrigatório em uma equipe de trabalho que executa uma parte significativa da oferta de cuidados às pessoas transgêneras, essas experiências ocupam pouco espaço de reflexão no campo da atuação psicológica, e a produção na área é feita por poucos pesquisadores. Nos perguntamos se esse profissional de psicologia está preparado para lidar com o público trans e as suas demandas caraterísticas. Portanto, temos como objetivo do trabalho compreender o saber-fazer que está sendo vivenciado nas práticas dos atendimentos psicológicos a pessoas trans, a fim de contribuir para a construção de um fazer em psicologia emancipatório, inclusivo e político. E como objetivos específicos temos: (a) conhecer as práticas de atendimentos psicológicos a pessoas trans, na perspectiva das pessoas trans; (b) conhecer as práticas de atendimentos psicológicos a pessoas trans, na perspectiva dos psicólogos que as atenderam; (c) investigar através de que meios (formação, cursos, leituras, perspectivas teóricas) se construiu o saber sobre as diferentes identidades de gênero, pelos psicólogos entrevistados; (d) investigar qual a concepção a respeito da transexualidade, pelos psicólogos; e) Identificar as concepções e os desejos de mudança em suas práticas nas experiências de atendimentos psicoterápicos, na perspectiva de psicoterapeutas e pacientes. Foi utilizada a pesquisa qualitativa. Como estratégias metodológicas recorremos a entrevista em profundidade com roteiro e o diário de campo. Os colaboradores foram constituídos por 5 pessoas que se declararam como pessoas transgêneras e que passaram por atendimento psicológico em Natal, e por 5 psicólogos da cidade de Natal que atenderam pessoas trans. A análise e interpretação das narrativas foi baseada em princípios hermenêuticos-dialéticos que buscaram interpretar o contexto, as razões e as lógicas de falas, ações e inter-relações entre grupos e instituições. A partir do diálogo com as narrativas chegamos a três eixos temáticos: A construção do saber sobre as identidades de gênero na psicologia; Revisitando a psicoterapia com pessoas transgêneras; e, Psicoterapia e transgeneridade: o que temos a aprender? No primeiro eixo identificamos a transexualidade compreendida como um caminho fluido, em trânsito, não conforme com a cisnorma. Mas, pudemos perceber também, associações ao sofrimento, alguns equívocos ainda em relação a linguagem, a conceitos fundantes da existência, principalmente no que se refere ao sistema sexogênero, e a sexualidade/identidade de gênero. A respeito das formações, observou-se uma total ausência de matérias específicas no currículo da graduação dos nossos entrevistados sobre gênero e sexualidade. No segundo eixo constatamos que todos os entrevistados tiveram experiências negativas com os primeiros profissionais que buscaram, já em relação aos psicoterapeutas com os quais estavam em atendimento no momento da entrevista atribuem somente sentidos positivos para estas relações. A respeito dos profissionais, apareceram medos e inseguranças frente a uma demanda “nova”, o aprendizado sobre gênero ocorre a partir da experiência prática e a transformação pessoal e profissional em uma psicoterapia que cura a dois. Discutimos, também, o papel do laudo psicoterápico, divergindo entre a tutela e a libertação. No terceiro eixo encontramos uma necessidade urgente de mais conhecimento sobre as demandas de gênero nas formações em psicologia. A suspensão fenomenológica como característica essencial para entrar em contato com a demanda, assim como atitudes do psicoterapeuta de empatia, respeito, acolhimento, aceitação e abertura e olhar emancipatório. E, por fim, o reconhecimento que a discussão das identidades de gênero diz respeito a todos, trazendo como essencial o processo pessoal de terapia e/ou autoconhecimento e desconstrução dos próprios preconceitos. Ancorados nos princípios dos direitos humanos, e entendendo a saúde como direito inalienável de toda e qualquer pessoa, este estudo espera proporcionar reflexões capazes de auxiliar psicólogos que lidam com as pessoas transexuais no seu cotidiano de trabalho, trazendo pistas para promoção de uma psicoterapia mais sensível às demandas de pessoas não-cisgêneras.
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Tese (Doutorado em Psicologia) - Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2021.https://repositorio.ufrn.br/handle/123456789/44587Embora tenhamos o psicólogo como profissional obrigatório em uma equipe de trabalho que executa uma parte significativa da oferta de cuidados às pessoas transgêneras, essas experiências ocupam pouco espaço de reflexão no campo da atuação psicológica, e a produção na área é feita por poucos pesquisadores. Nos perguntamos se esse profissional de psicologia está preparado para lidar com o público trans e as suas demandas caraterísticas. Portanto, temos como objetivo do trabalho compreender o saber-fazer que está sendo vivenciado nas práticas dos atendimentos psicológicos a pessoas trans, a fim de contribuir para a construção de um fazer em psicologia emancipatório, inclusivo e político. E como objetivos específicos temos: (a) conhecer as práticas de atendimentos psicológicos a pessoas trans, na perspectiva das pessoas trans; (b) conhecer as práticas de atendimentos psicológicos a pessoas trans, na perspectiva dos psicólogos que as atenderam; (c) investigar através de que meios (formação, cursos, leituras, perspectivas teóricas) se construiu o saber sobre as diferentes identidades de gênero, pelos psicólogos entrevistados; (d) investigar qual a concepção a respeito da transexualidade, pelos psicólogos; e) Identificar as concepções e os desejos de mudança em suas práticas nas experiências de atendimentos psicoterápicos, na perspectiva de psicoterapeutas e pacientes. Foi utilizada a pesquisa qualitativa. Como estratégias metodológicas recorremos a entrevista em profundidade com roteiro e o diário de campo. Os colaboradores foram constituídos por 5 pessoas que se declararam como pessoas transgêneras e que passaram por atendimento psicológico em Natal, e por 5 psicólogos da cidade de Natal que atenderam pessoas trans. A análise e interpretação das narrativas foi baseada em princípios hermenêuticos-dialéticos que buscaram interpretar o contexto, as razões e as lógicas de falas, ações e inter-relações entre grupos e instituições. A partir do diálogo com as narrativas chegamos a três eixos temáticos: A construção do saber sobre as identidades de gênero na psicologia; Revisitando a psicoterapia com pessoas transgêneras; e, Psicoterapia e transgeneridade: o que temos a aprender? No primeiro eixo identificamos a transexualidade compreendida como um caminho fluido, em trânsito, não conforme com a cisnorma. Mas, pudemos perceber também, associações ao sofrimento, alguns equívocos ainda em relação a linguagem, a conceitos fundantes da existência, principalmente no que se refere ao sistema sexogênero, e a sexualidade/identidade de gênero. A respeito das formações, observou-se uma total ausência de matérias específicas no currículo da graduação dos nossos entrevistados sobre gênero e sexualidade. No segundo eixo constatamos que todos os entrevistados tiveram experiências negativas com os primeiros profissionais que buscaram, já em relação aos psicoterapeutas com os quais estavam em atendimento no momento da entrevista atribuem somente sentidos positivos para estas relações. A respeito dos profissionais, apareceram medos e inseguranças frente a uma demanda “nova”, o aprendizado sobre gênero ocorre a partir da experiência prática e a transformação pessoal e profissional em uma psicoterapia que cura a dois. Discutimos, também, o papel do laudo psicoterápico, divergindo entre a tutela e a libertação. No terceiro eixo encontramos uma necessidade urgente de mais conhecimento sobre as demandas de gênero nas formações em psicologia. A suspensão fenomenológica como característica essencial para entrar em contato com a demanda, assim como atitudes do psicoterapeuta de empatia, respeito, acolhimento, aceitação e abertura e olhar emancipatório. E, por fim, o reconhecimento que a discussão das identidades de gênero diz respeito a todos, trazendo como essencial o processo pessoal de terapia e/ou autoconhecimento e desconstrução dos próprios preconceitos. Ancorados nos princípios dos direitos humanos, e entendendo a saúde como direito inalienável de toda e qualquer pessoa, este estudo espera proporcionar reflexões capazes de auxiliar psicólogos que lidam com as pessoas transexuais no seu cotidiano de trabalho, trazendo pistas para promoção de uma psicoterapia mais sensível às demandas de pessoas não-cisgêneras.Although we have the psychologist as a mandatory professional in a work team that performs a significant part of the provision of care to transgender people, these experiences occupy little space for reflection in the field of psychological action, and the production in the area is carried out by few researchers. We wonder if this psychology professional is prepared to deal with the trans public and its characteristic demands. Therefore, the objective of this work is to understand the know-how that is being experienced in the practices of psychological care for trans people, in order to contribute to the construction of knowledge specific to psychology, more sensitive in the health care of the trans population. And as specific objectives we have: (a) know the practices of psychological care for trans people, from the perspective of trans people; (b) know the practices of psychological care for trans people, from the perspective of the psychologists who attended them; (c) investigate through which means (training, courses, readings, theoretical perspectives) knowledge about different gender identities was built by the interviewed psychologists; (d) investigate what is the conception of transsexuality by psychologists; e) identify good practices of psychologists in successful experiences of care in the conception of trans people. Qualitative research was used. As methodological strategies, we used an in-depth interview with a script and a field diary. The collaborators consisted of 5 people who declared themselves as transgender people and who underwent psychological care in Natal, and 5 psychologists from the city of Natal who attended trans people. The analysis and interpretation of the narratives was based on hermeneutic-dialectical principles that sought to interpret the context, reasons and logic of speeches, actions and interrelationships between groups and institutions. From the dialogue with the narratives, we reach three thematic axes: The construction of knowledge about gender identities in psychology; Revisiting psychotherapy with transgender people; and, Psychotherapy and transgenderism: what do we have to learn? In the first axis, we identify transsexuality understood as a fluid path, in transit, not in accordance with the cisnorm. But, we could also notice associations to suffering, some mistakes still in relation to language, to fundamental concepts of existence, mainly with regard to the sex-gender system, and sexuality/gender identity. Regarding education, there was a total absence of specific subjects in the undergraduate curriculum of our interviewees about gender and sexuality. In the second axis, we found that all respondents had negative experiences with the first professionals they sought, whereas in relation to the psychotherapists they were attending at the time of the interview, they only attribute positive meanings to these relationships. Regarding the professionals, fears and insecurities emerged in the face of a “new” demand, learning about gender takes place from practical experience and the transformation of personal and professional training into a psychotherapy that cures two. We also discuss the role of the psychotherapeutic report, diverging between guardianship and release. In the third axis we find an urgent need for more knowledge about the demands of gender in psychology training. The phenomenological suspension as an essential feature to get in touch with the demand, as well as the psychotherapist's attitudes of empathy, respect, acceptance, acceptance and openness and an emancipatory look. And, finally, the recognition that the discussion of gender identities concerns everyone, bringing as essential the personal process of therapy and/or self-knowledge and deconstruction of their own prejudices. Anchored in the principles of human rights, and understanding health as an inalienable right of everyone, this study hopes to provide reflections capable of helping psychologists who deal with transgender people in their daily work, bringing clues to the promotion of a more sensitive psychotherapy to the demands of non-cisgender people.Universidade Federal do Rio Grande do NortePROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIAUFRNBrasilPsicologiaTransgeneridadeTransexualidadePsicoterapiaHermenêutica-dialéticaA psicologia e a transgeneridade: saberes e distanciamentosinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisinfo:eu-repo/semantics/openAccessporreponame:Repositório Institucional da UFRNinstname:Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)instacron:UFRNORIGINALpsicologiatransgeneridadesaberes_Moraes_2021.pdfapplication/pdf685117https://repositorio.ufrn.br/bitstream/123456789/44587/1/psicologiatransgeneridadesaberes_Moraes_2021.pdfc7e3d599fb04ce2ae4260de2685044f4MD51123456789/445872022-05-02 12:54:53.163oai:https://repositorio.ufrn.br:123456789/44587Repositório de PublicaçõesPUBhttp://repositorio.ufrn.br/oai/opendoar:2022-05-02T15:54:53Repositório Institucional da UFRN - Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)false
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