Atividades humanas: práticas sociais diferenciadas
Autor(a) principal: | |
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Data de Publicação: | 2013 |
Outros Autores: | |
Tipo de documento: | Artigo |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional |
Texto Completo: | https://www.cadernosdeterapiaocupacional.ufscar.br/index.php/cadernos/article/view/905 |
Resumo: | As atividades humanas são práticas sociais que se desenvolvem em relações, lutas de podere conflitos entre indivíduos e coletivos inseridos em uma estrutura social hierarquizadade acordo com as condições econômicas, educacionais, oportunidades de aquisição deconhecimento, capacidade de reverter relações sociais em capital e com o status socialdo indivíduo e do grupo social; o que Bourdieu (2008) denominou capitais econômico,cultural, social e simbólico, e com valores a partir de um campo específico, no qual seestabelece a posição social dos indivíduos.As atividades humanas ocorrem em um contexto de desigualdade não somenteeconômica, na medida em que existem déficits de capitais culturais que podem, porexemplo, influenciar no acesso a bens simbólicos. As ações humanas estão localizadas emgrupos sociais distintos que nos descrevem posições privilegiadas ou não privilegiadas deindivíduos e grupos conforme o acúmulo e composição desses capitais na trajetória davida. Portanto, falar de atividade como instrumento ou recurso da Terapia Ocupacionalé associá-la ao espaço social multidimensional na qual está inscrita.As dimensões sociais (os capitais) trazem as diferenciações. Há práticas que seaproximam e outras que se afastam por distinção. As preferências, gostos inerentes aquaisquer atividades humanas, são reconhecidas por certos agentes sociais e distintas poroutros. A escolha do instrumento ou recurso pelo terapeuta ocupacional e/ou indivíduo/comunidade/organização assume significado dentre as práticas culturais, valores, crenças deum determinado coletivo social (KONDO, 2004). Há o perigo do terapeuta ocupacionalagir com suposições não examinadas quando se trabalha com indivíduos cujas experiênciaseconômicas e culturais são bem diferentes das suas (BEAGAN, 2007). Nesse sentidocompreendem-se as atividades humanas no campo da cultura, e as mesmas envolvemhábitos, técnicas, instrumentos, materiais construídos socialmente e com conhecimentoshistoricamente constituídos (LIMA; OKUMA; PASTORE, 2013).As atividades humanas não são iguais ou igualitárias, são imbricadas em relaçõessociais e não se dão pela ação de indivíduos isoladamente, fazem parte de relações quese “entrelaçam de modo amistoso ou hostil” (ELIAS, 1993, p. 194). Havemos de nosdeparar com formas de fazer a princípio tão comuns e tão diferenciadas, por exemplo:o que come o operário e, sobretudo a sua maneira de comer, o esporte que ele pratica esua maneira de praticá-lo, as suas opiniões políticas e sua maneira de exprimi-las diferemsistematicamente do consumo ou das atividades correspondentes de um industrial. Assim,por exemplo, o mesmo comportamento ou o mesmo bem pode aparecer como distintopara um, pretensioso ou banal para outro, vulgar a um terceiro (BOURDIEU, 2008). Éna experiência vivida dos indivíduos que se apreende a atividade humana, compõem-segostos, compreendem-se as vantagens e desvantagens entre pessoas ou grupos sociais.Trabalhar com atividades em Terapia Ocupacional é lidar com mediação de relaçõesmúltiplas situadas no tempo e nos espaços culturais (BARROS; GHIRARDI; LOPES,2002). Os conceitos e formas utilizados por terapeutas ocupacionais assumem também significados distintos, baseados no mesmo processo histórico, cultural e social constitutivode quaisquer atividades humanas.A atividade enquanto fato e ato (objeto) que nos define profissionalmente tambémnos dificulta uma unicidade, há a estranheza do tão comum e tão distintivo, comumem qualquer momento da vida e em quaisquer circunstâncias humanas. A atenção doterapeuta ocupacional está centrada nas atividades cotidianas, e são as atividades que nospermitem estarmos vivos ou podem nos levar no caminho da morte, da desigualdade eopressão. Nessa vivacidade humana buscamos formas de constituir a profissão.Para quaisquer usos que se faça da atividade é fundamental que se tenha a consciênciade que ela não é por si só benéfica. Pode ser um instrumento, um recurso e/ou métodoque vise à redução de injustiças cotidianas, injustiças ocupacionais (TOWNSEND;MARVAL, 2013) tão próprias nesse contexto desigual. |
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