Nova semiótica pós-Covid para humanos e outras criaturas melhores
Autor(a) principal: | |
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Data de Publicação: | 2020 |
Outros Autores: | , |
Tipo de documento: | Artigo |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Repositório Institucional da UFSC |
Texto Completo: | https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/209821 |
Resumo: | “Não vejo ninguém. […] um guarda-chuva de mulher, aberto e revirado, no chão, e uma bolsinha. Um táxi está na calçada […] Vim à procura de alguns milhares de desaparecidos […] Um evento (inimaginável) surpreendeu aqui a gente que dormia […] mas na verdade não fugiram […] partiram de outra maneira. Raptados. Arrastados….”.[i] Quem está falando é o protagonista de Dissipatio H.G. – o romance de ficção psicológica de Guido Morselli – recém resgatado do próprio suicídio e retornado a um mundo vazio. Aflito, abatido? De modo nenhum: “O mundo nunca esteve tão vivo quanto hoje, que uma certa raça de bípedes deixou de frequentá-lo. Nunca esteve tão limpo, luminoso, alegre”[ii]. Muitas vezes pensei, embaraçada, no hipocondríaco (e antropófobo) homem de Morselli em minhas breves e cautelosas excursões à cidade em quarentena. Embaraço, mas também sentimento de culpa, sim, porque eu também acho belíssimas e metafísicas as praças esvaziadas de nós humanos, restituídas a uma inédita completude de espírito e formas. Mas é lícito um olhar estetizante, eco-decadente, dentro de uma crise que produziu centenas de milhares de mortos e novas pobrezas? E porque em nós humanos mascarados vejo os manequins das gélidas praças de De Chirico, ou as figuras estupefatas de Magritte? |
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