A palavra esgarçada: pensamento e poesia em Giorgio Caproni
Autor(a) principal: | |
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Data de Publicação: | 2018 |
Tipo de documento: | Livro |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Repositório Institucional da UFSC |
Texto Completo: | https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/230750 |
Resumo: | Neste livro estão reunidos alguns ensaios dedicados à poesia de Giorgio Caproni, um dos maiores poetas da literatura italiana da segunda metade do século XX, que aos poucos vem chegando e se aproximando do leitor brasileiro. Tal aproximação resulta da antologia A coisa perdida – Agamben comenta Caproni, publicada em 2011, com organização e tradução de Aurora F. Bernardini, que traz amostras significativas do percurso poético caproniano, transitando por todas as suas obras, e também da circulação dos textos do filósofo italiano Giorgio Agamben, amigo do poeta, os quais trazem citações e referências à poesia de Caproni. Os seis ensaios aqui reunidos, portanto, cada qual com seu enfoque específico, visam fazer circular essa poesia, abrindo-a para novos leitores e novos olhares. O percurso pelos versos de Giorgio Caproni aqui proposto pode ser dividido em dois momentos. O primeiro tem como foco sua trajetória poética, da juventude à maturidade, a busca contínua por um “tom”, por uma escrita, por uma “língua” que parece sempre lhe escapar. A juventude, marcada por certa vitalidade, ainda que com cadências melancólicas, identificada nos primeiros livros, amadurece com e na dura experiência da guerra, vivenciada fisicamente como partigiano. Sem dúvida, esse momento, particular e coletivo, o marca, deixa rastros que serão indeléveis, inclusive nos últimos livros na década de 1980. A guerra, ou, melhor dizendo, a experiência que ela provoca, é lacerante, causa fraturas incuráveis e torna-se um elemento essencial, indo além do próprio acontecimento histórico, registrado nos poemas, sendo um exemplo, justamente, “1944”. A guerra “penetra nos ossos”, para lembrar um verso caproniano. A aspereza, a brutalidade e a selvageria desse acontecimento – da esfera do indizível – penetram na própria existência do homem, transformando-se assim em elemento de leitura e reflexão do poeta. É das mazelas, dos destroços, das ruinas que pode vir o verso, ou seja, a poesia como um gesto ético de reflexão. O desmoronamento de algumas categorias, antes fundantes, é inevitável: a centralidade do eu, o questionamento do poder de representação da linguagem, as estruturas fechadas e mais tradicionais da própria poesia são só alguns exemplos dessa urdidura. Nessa linha, mesmo dialogando intensamente com a tradição poética italiana, Giorgio Caproni se abre para um verdadeiro diálogo profícuo com outras produções literárias e filosóficas do século XX. O segundo momento adentra talvez numa esfera mais privada, a dos livros lidos, anotados e relidos. Caproni que lê outros livros, o leitor- poeta-leitor. Quando parte da biblioteca que pertenceu ao poeta vai se abrindo, algumas incursões passam a ser possíveis, como Hugo von Hofmannsthal, J. L. Borges, Vittorio Sereni, René Char, Eugenio Montale, e passíveis de serem vistas ao lado das atividades de crítico (as inúmeras resenhas publicadas ao longo da vida) e de tradutor. Para entender um pouco mais da figura desse leitor, mais do que especial, seguem-se, agora, os rastros concernentes à relação que vai sendo estabelecida, aos poucos, com dois poetas, Pier Paolo Pasolini e Antonio Machado. Não é uma mera coincidência o fato de o último ensaio ser dedicado aos contatos e contágios com o poeta espanhol, desdobrando assim para além das fronteiras italianas a poesia de Giorgio Caproni. Dos seis ensaios aqui reunidos, o terceiro e o sexto são totalmente inéditos, sendo o último um desdobramento da conferência apresentada no evento “Giorgio, io e gli altri”, realizado na Universidad Complutense, em Madri, em outubro de 2015. Os demais ensaios, que já tinham sido publicados em periódicos nacionais e internacionais, sofreram agora modificações, cortes e integrações. Foram publicados: o primeiro, “A palavra esgarçada de Giorgio Caproni”, na Revista de Italianística, XXVII, 2014, p. 16-24; o segundo, “Movimento dos restos: encenações de Didi- Huberman e Giorgio Caproni”, in: M. B. R. Flores; P. Peterle (Org.), História e arte: herança, memória, patrimônio, São Paulo, Rafael Copetti Editor, 2014, v. 1, p. 163-183; o quarto, “Leituras, anotações, marcações: o ‘canteiro de obras’ de Giorgio Caproni”, em Manuscrítica, n. 31, 2016, 9 p. 83-89; o quinto, “Cartografie letterarie: Giorgio Caproni lettore e recensore”, Campi immaginabili, I-II, 2016, p. 329-345. Um agradecimento a todos aqueles que me acompanharam nesse percurso-vórtice pela poesia de G. Caproni. A Enrico Testa por ter me recebido na Università di Genova para a realização de Pós-doutorado (bolsa CAPES) em 2014, pelos ensinamentos e pela preciosa e sincera amizade. A Lucia Wataghin também pela amizade, troca intelectual e, sobretudo, pela conferência dedicada a Caproni, em 2007, na Faculdade de Ciências e Letras da UNESP-Assis. A Fabiana Assini, Luiza Faccio, Helena Bressan, Agnes Ghisi e Alencar Schueroff pelos diálogos e debates. Uma lembrança especial vai a A. Santurbano. Por fim, um agradecimento às agências de fomento (CNPq, CAPES, FAPESC) que vem apoiando a pesquisa na área de italianística e, principalmente, de poesia italiana. |
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O percurso pelos versos de Giorgio Caproni aqui proposto pode ser dividido em dois momentos. O primeiro tem como foco sua trajetória poética, da juventude à maturidade, a busca contínua por um “tom”, por uma escrita, por uma “língua” que parece sempre lhe escapar. A juventude, marcada por certa vitalidade, ainda que com cadências melancólicas, identificada nos primeiros livros, amadurece com e na dura experiência da guerra, vivenciada fisicamente como partigiano. Sem dúvida, esse momento, particular e coletivo, o marca, deixa rastros que serão indeléveis, inclusive nos últimos livros na década de 1980. A guerra, ou, melhor dizendo, a experiência que ela provoca, é lacerante, causa fraturas incuráveis e torna-se um elemento essencial, indo além do próprio acontecimento histórico, registrado nos poemas, sendo um exemplo, justamente, “1944”. A guerra “penetra nos ossos”, para lembrar um verso caproniano. A aspereza, a brutalidade e a selvageria desse acontecimento – da esfera do indizível – penetram na própria existência do homem, transformando-se assim em elemento de leitura e reflexão do poeta. É das mazelas, dos destroços, das ruinas que pode vir o verso, ou seja, a poesia como um gesto ético de reflexão. O desmoronamento de algumas categorias, antes fundantes, é inevitável: a centralidade do eu, o questionamento do poder de representação da linguagem, as estruturas fechadas e mais tradicionais da própria poesia são só alguns exemplos dessa urdidura. Nessa linha, mesmo dialogando intensamente com a tradição poética italiana, Giorgio Caproni se abre para um verdadeiro diálogo profícuo com outras produções literárias e filosóficas do século XX. O segundo momento adentra talvez numa esfera mais privada, a dos livros lidos, anotados e relidos. Caproni que lê outros livros, o leitor- poeta-leitor. Quando parte da biblioteca que pertenceu ao poeta vai se abrindo, algumas incursões passam a ser possíveis, como Hugo von Hofmannsthal, J. L. Borges, Vittorio Sereni, René Char, Eugenio Montale, e passíveis de serem vistas ao lado das atividades de crítico (as inúmeras resenhas publicadas ao longo da vida) e de tradutor. Para entender um pouco mais da figura desse leitor, mais do que especial, seguem-se, agora, os rastros concernentes à relação que vai sendo estabelecida, aos poucos, com dois poetas, Pier Paolo Pasolini e Antonio Machado. Não é uma mera coincidência o fato de o último ensaio ser dedicado aos contatos e contágios com o poeta espanhol, desdobrando assim para além das fronteiras italianas a poesia de Giorgio Caproni. Dos seis ensaios aqui reunidos, o terceiro e o sexto são totalmente inéditos, sendo o último um desdobramento da conferência apresentada no evento “Giorgio, io e gli altri”, realizado na Universidad Complutense, em Madri, em outubro de 2015. 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O primeiro tem como foco sua trajetória poética, da juventude à maturidade, a busca contínua por um “tom”, por uma escrita, por uma “língua” que parece sempre lhe escapar. A juventude, marcada por certa vitalidade, ainda que com cadências melancólicas, identificada nos primeiros livros, amadurece com e na dura experiência da guerra, vivenciada fisicamente como partigiano. Sem dúvida, esse momento, particular e coletivo, o marca, deixa rastros que serão indeléveis, inclusive nos últimos livros na década de 1980. A guerra, ou, melhor dizendo, a experiência que ela provoca, é lacerante, causa fraturas incuráveis e torna-se um elemento essencial, indo além do próprio acontecimento histórico, registrado nos poemas, sendo um exemplo, justamente, “1944”. A guerra “penetra nos ossos”, para lembrar um verso caproniano. 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Os demais ensaios, que já tinham sido publicados em periódicos nacionais e internacionais, sofreram agora modificações, cortes e integrações. Foram publicados: o primeiro, “A palavra esgarçada de Giorgio Caproni”, na Revista de Italianística, XXVII, 2014, p. 16-24; o segundo, “Movimento dos restos: encenações de Didi- Huberman e Giorgio Caproni”, in: M. B. R. Flores; P. Peterle (Org.), História e arte: herança, memória, patrimônio, São Paulo, Rafael Copetti Editor, 2014, v. 1, p. 163-183; o quarto, “Leituras, anotações, marcações: o ‘canteiro de obras’ de Giorgio Caproni”, em Manuscrítica, n. 31, 2016, 9 p. 83-89; o quinto, “Cartografie letterarie: Giorgio Caproni lettore e recensore”, Campi immaginabili, I-II, 2016, p. 329-345. Um agradecimento a todos aqueles que me acompanharam nesse percurso-vórtice pela poesia de G. Caproni. 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