Saúde eco-cultural e resiliência: conhecimentos e práticas da medicina tradicional em comunidades rurais da Chapada do Araripe no Ceará e em comunidades quilombolas do litoral de Santa Catarina
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Data de Publicação: | 2015 |
Tipo de documento: | Tese |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Repositório Institucional da UFSC |
Texto Completo: | https://repositorio.ufsc.br/xmlui/handle/123456789/160652 |
Resumo: | Tese (doutorado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Ciências Biológicas, Programa de Pós-Graduação em Ecologia, Florianópolis, 2015. |
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Saúde eco-cultural e resiliência: conhecimentos e práticas da medicina tradicional em comunidades rurais da Chapada do Araripe no Ceará e em comunidades quilombolas do litoral de Santa CatarinaEcologiaEtnobotânicaCearáSanta CatarinaPlantas medicinaisCearáSanta CatarinaTese (doutorado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Ciências Biológicas, Programa de Pós-Graduação em Ecologia, Florianópolis, 2015.O conceito de sistemas sócio-ecológicos considera a complexidade dos sistemas humano-natureza e a inter-relação entre as diferentes partes. Os Sistemas Tradicionais de Saúde (STS) podem ser investigados no âmbito dos sistemas sócio-ecológicos. Os STS são mediados por especialistas locais de saúde e os ecossistemas naturais e o uso de plantas medicinais desempenham um papel importante na saúde das pessoas. Algumas das abordagens de pesquisas vinculadas aos sistemas sócio-ecológicos que podem ser utilizados para o estudo dos STS são a abordagem de saúde eco-cultural, de resiliência e de análise de redes. A abordagem da saúde eco-cultural considera a interação dinâmica entre humanos e ecossistemas, enfatizando as implicações da saúde dos ecossistemas para a saúde e bem-estar humano. A abordagem de resiliência considera que a cada grande perturbação ambiental ou social, a relação do humano-ambiente é alterada, e um novo equilíbrio se desenvolve. A análise de redes pode ser uma ferramenta complementar para os estudos de resiliência, já que estas focam na estrutura das interações entre os componentes do sistema sócio-ecológico e na forma em que esta estrutura afeta o funcionamento do sistema. Através do estudo de caso em duas regiões brasileiras (comunidades rurais da Chapada do Araripe no Ceará e comunidades quilombolas do litoral de Santa Catarina), nós buscamos analisar: 1) a influência da saúde do ambiente na saúde humana; 2) o uso combinado da medicina tradicional e biomedicina; 3) a prática das benzeduras e os conhecimentos, aprendizados e relações sociais associadas a mesma; 4) a resiliência e capacidade de adaptação dos sistemas tradicionais de saúde. O primeiro artigo desta tese trata da compreensão sobre o processo de saúde em três comunidades rurais da região do Araripe, a partir da análise das opiniões de 66 especialistas locais de saúde sobre elementos que influenciam a saúde humana, e como o ambiente contribui para isso. Entre as influências do ambiente na saúde humana foram reportadas as condições climáticas, qualidade da água e do ar, recreação, recursos medicinais e alimentícios. Foram identificadas 192 espécies de plantasmedicinais, a maioria extraída de ecossistemas naturais, revelando a importância dos ambientes conservados pela Floresta Nacional do Araripe para a saúde e bem estar das populações humanas. O segundo artigo objetivou investigar a relação entre a saúde humana e saúde do ambiente em comunidades quilombolas do litoral de Santa Catarina. Foram realizadas entrevistas com 184 adultos sobre elementos que influenciam a saúde humana e sobre as plantas medicinais conhecidas. Também foi realizado um mapeamento participativo de ambientes que trazem benefícios para a saúde. A qualidade da água/ar e recreação/lazer foram os benefícios mais reconhecidos das áreas florestais para a saúde humana. Foram identificadas 152 espécies de plantas medicinais, sendo que as espécies mais citadas são plantas cultivadas. O mapeamento de serviços ambientais revela áreas prioritárias para a saúde, que estão localizadas em florestas e próximo aos corpos d?água e demonstram a importância de manter o acesso a estes benefícios através da demarcação do território destas comunidades. No terceiro artigo investigamos o uso combinado da medicina tradicional e da biomedicina, a partir de entrevistas com 66 especialistas locais do Araripe e 22 de comunidades quilombolas. Nas comunidades quilombolas é maior o número de especialistas que percebem a diminuição no número e na procura por benzedeiras, bem como no uso de plantas medicinais. O conhecimento de plantas medicinais e o uso de medicamentos ocorre de forma complementar nas duas regiões. As plantas medicinais são utilizadas para o tratamento de problemas gastrointestinais, dores em geral, gripe, resfriados, vermes intestinais e os medicamentos são utilizados principalmente para problemas de pressão e doenças como a diabetes mellitus. No quarto artigo abordamos os conhecimentos vinculados a prática das benzeduras e as relações sociais entre os benzedores do Araripe, a partir de entrevistas com 40 benzedores. Os benzedores tratam cerca de 20 doenças e conhecem várias plantas medicinais, sendo que seis plantas são mais importantes para o ritual das benzeduras. A transmissão do conhecimento sobre as benzeduras e sobre as plantas medicinais ocorre principalmente através de pessoas que possuem grau de parentesco. Ao analisarmos as relações sociais entre os benzedores, concluímos que a popularidade dos benzedores não foi13influenciada pelo número de plantas conhecidas e pelo número de doenças que tratam através das benzeduras. Além disso, nas comunidades de Macaúba e Cacimbas os benzedores mais conhecidos são também os mais procurados pelos demais benzedores para troca de informação e de benzeduras, já em Cacimbas existe uma benzedeira que se destaca, sendo uma referência para os demais para a troca de informações e de benzeduras. O quinto artigo articula os demais artigos dentro da perspectiva da resiliência sócio-ecológica de sistemas tradicionais de saúde, identificando quais são os principais condicionantes de mudança que influenciaram os STS e analisando os atributos relacionados à sociobiodiversidade, à organização social e à aprendizagem que contribuem para a resiliência sócio-ecológica e adaptabilidade destes sistemas. Os principais condicionantes de mudanças nos STS estão vinculados às mudanças nos modos de vida, ao acesso facilitado à medicina moderna, mudanças nas doenças mais incidentes, ao estabelecimento da Floresta Nacional do Araripe e ao processo de reconhecimento das comunidades quilombolas. Os atributos da sociobiodiversidade, organização social e aprendizagem registradas nas comunidades garantem a resiliência e a adaptabilidade destes sistemas. Os atributos mais críticos para a resiliência dos STS nas comunidades estão relacionados à organização social, pois estes podem favorecer a co-gestão, valorizando o conhecimento e as práticas tradicionais e os processos locais de aprendizagem. As informações reunidas neste estudo demonstram que os STS continuam desempenhando um papel fundamental na saúde e no bem-estar das comunidades estudadas e ressaltam, também, a importância de buscar alternativas para o seu fortalecimento, através da valorização dos conhecimentos tradicionais e dos especialistas locais que atuam como guardiões deste conhecimento.<br>Abstract : The concept of socio-ecological systems considers the complexity of human-nature systems and the interrelationship between the different parties. The Traditional Health Systems (THS) can be investigated in the context of socio-ecological systems. The THS are mediated by local health experts and natural ecosystems and the use of medicinal plants play an important role in health. Some research approaches linked to socio-ecological systems that can be used to study the THS are the eco-cultural health, resilience and network analysis. The approach of eco-cultural health considers the dynamic interaction between humans and ecosystems, emphasizing the implications of ecosystem health for the health and human well being. The resilience approach considers that every major environmental or social disturbance, the human-environment relationship is changed, and a new equilibrium develops. Network analysis can be a complementary tool for studies of resilience, as they focus on the structure of the interactions between the components of the socio-ecological system and the way in which this structure affects system performance. Through the case study in two Brazilian regions (rural communities of the Araripe in Ceara and maroon communities of Santa Catarina), we seek to assess: 1) the influence of environmental health on human health; 2) complementarity between traditional medicine and biomedicine; 3) the practice and knowledge of benzeduras, learning and social relations associated with it; 4) the resilience and adaptability of traditional health systems. The first article deals with the understanding of the health process in three rural communities in the Araripe region, from the analysis of the opinions of 66 local health experts on elements that influence human health, and how the environment contributes to this. Among the influences of the environment on human health have been reported weather conditions, water and air quality, recreation, food and medicinal resources. They identified 192 species of medicinal plants, most of them extracted of natural ecosystems, revealing the importance of the environment preserved by the National Forest Araripe for the health and well being ofhuman populations. The second article aimed to investigate the relationship between human health and environmental health in maroon communities of the Santa Catarina coast. Interviews were conducted with 184 adults on elements that influence human health and the well-known medicinal plants. It was also conducted a participatory environments mapping that bring health benefits. The quality of the water / air and recreation / leisure were the most recognized benefits of forests to human health. 152 species of medicinal plants have been identified, and the most cited species are cultivated plants. The mapping of environmental services reveals priority areas for health, which are located in forests and near the water bodies, demonstrating the importance of maintaining access to these benefits through the demarcation of the territory of these communities. In the third article we investigate the combined use of traditional medicine and biomedicine, from interviews with 66 local experts in Araripe and 22 in maroon communities. The maroon communities have a greater number of experts who realize the decrease in the number and search for healers as well as the use of medicinal plants. The knowledge of medicinal plants and the use of drugs occurs in a complementary manner in the two regions. The medicinal plants are used for the treatment of gastrointestinal disorders, pains in general, flu, cold, intestinal worms and drugs are mainly used for pressure problems and diseases such as diabetes mellitus. In the fourth article we discuss the knowledge linked to the practice of benzeduras and social relations between the healers of Araripe, from interviews with 40 healers. The healers treat about 20 diseases and know several medicinal plants. Six plants are most important to the ritual of benzeduras. The transmission of knowledge on the benzeduras and about medicinal plants occurs mainly through people who have kinship. In assessing the social relations among healers, we conclude that the popularity of healers was not influenced by the number of known plants and the number of diseases dealing through benzeduras. Moreover, in Macaúba and Cacimbas communities the best known healers are also the most sought by other healers to exchange information and benzeduras, but in Cacimbas there is a healer that stands out, being a reference for the other to exchange information and benzeduras. The fifth article articulates the17others articles from the perspective of socio-ecological resilience of traditional health systems, identifying what are the main changes of conditions that influenced the THS and evaluating the attributes related to social biodiversity, governance and learning that contribute to resilience and adaptability of these systems. The main determinants of changes in THS are linked to changes in lifestyles, easier access to modern medicine, changes in more incidents diseases, the establishment of the National Forest Araripe and the recognition of the Quilombo communities process. The attributes of social biodiversity, social organization and learning logged in communities ensure the resilience and adaptability of these systems. The most critical attributes to the resilience of THS in communities are related to the governance, as these may favor the management-adaptive, valuing the knowledge and traditional practices and local learning processes. The information compiled in this study demonstrate that the THS continue to play a key role in health and well-being of the communities studied and emphasized also the importance of seeking alternatives to its strengthening, through the enhancement of traditional knowledge and of local experts that act as guardians of this knowledge.Hanazaki, NatáliaUniversidade Federal de Santa CatarinaZank, Sofia2016-04-19T04:05:40Z2016-04-19T04:05:40Z2015info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesis205 p.| il., grafs., tabs.application/pdf337976https://repositorio.ufsc.br/xmlui/handle/123456789/160652porreponame:Repositório Institucional da UFSCinstname:Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)instacron:UFSCinfo:eu-repo/semantics/openAccess2016-04-19T04:05:40Zoai:repositorio.ufsc.br:123456789/160652Repositório InstitucionalPUBhttp://150.162.242.35/oai/requestopendoar:23732016-04-19T04:05:40Repositório Institucional da UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)false |
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