Trabalhadores livres como pássaros: reprodução social da subsistência no contexto da expropriação contemporânea na América Latina

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Cataño Hoyos, Claudia Janet
Data de Publicação: 2020
Tipo de documento: Tese
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional da UFSC
Texto Completo: https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/219397
Resumo: Tese (doutorado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Ciências da Educação, Programa de Pós-Graduação em Educação, Florianópolis, 2020.
id UFSC_da17e280c8fcfac4016b32e96b31bbb7
oai_identifier_str oai:repositorio.ufsc.br:123456789/219397
network_acronym_str UFSC
network_name_str Repositório Institucional da UFSC
repository_id_str 2373
spelling Trabalhadores livres como pássaros: reprodução social da subsistência no contexto da expropriação contemporânea na América LatinaEducaçãoDesapropriaçãoTrabalhadores ruraisTese (doutorado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Ciências da Educação, Programa de Pós-Graduação em Educação, Florianópolis, 2020.Nesta pesquisa estudamos o processo de reprodução social da força de trabalho rural no contexto da expropriação contemporânea da terra e de outros meios de sub-existência da classe trabalhadora. O propósito geral é evidenciar o projeto do Banco Interamericano de Desenvolvimento - BID para a educação dos trabalhadores rurais e suas repercussões nas condições de vida e de trabalho da classe trabalhadora na América Latina. Evidenciamos que a expropriação não é somente um processo do passado, a expropriação, na sua forma esporádica e sistemática, é hoje um dos principais componentes do atual projeto de produção capitalista na região. A análise dos documentos de planejamento estratégico dos setores de investimento do BID, no período 2016-2019 nos tem permitido constatar a vigência de um projeto de expropriação sistemática da propriedade e do uso coletivo da terra rural, da natureza, da saúde e da educação pública e de outros bens públicos administrados pelo Estado. Também observamos a expropriação sistemática de meios de subsistência dos trabalhadores, na forma de acesso aos rios e aos bosques, no salário por tempo de trabalho, na aposentadoria, nos programas de assistência social, nas técnicas e tecnologias de produção agropecuária, na produção doméstica de alimentos, na educação, além da proibição ou apropriação de formas de organização coletiva do trabalho. Para tal fim, foram desenvolvidos novos e sofisticados mecanismos de expropriação da classe trabalhadora, os quais restringem ainda mais a sua capacidade de reprodução biológica e social. As contrarreformas, a governança, a segurança alimentar, o salário por peça, o ?sistema de propriedade privada?, o ? sistema de direitos de uso? privado, a lei de patentes, os ?subsídios inteligentes? e a cooptação e instrumentalização de organizações sociais são exemplos de mecanismos de expropriação sistemática da classe trabalhadora promovidos pelo BID. Embora o projeto político-econômico deste agente do capital vise a apropriação de produtos da natureza e produtos do trabalho humano presentes na terra rural, o Banco não tem um projeto educativo específico para os trabalhadores rurais. O BID tem um projeto político-educacional com ênfase em propósitos ideológicos de adequação, adaptação e neutralização, dirigido ao conjunto da classe trabalhadora da América Latina, e nomeado ?trajetórias laborais de sucesso?. Encontramos que a educação do capital como dimensão subjetiva da reprodução social contribui para a consolidação dos processos de expropriação e exploração do trabalho, conserva e oculta as expropriações e suas consequências, adequa a força de trabalho às necessidades produtivas e adapta os trabalhadores ao desemprego, a condições precárias de vida e de trabalho e à miséria humana. Como consequências, identificamos que o processo de expropriação contemporânea permite aos proprietários dos meios de produção controlar a reprodução biológica e social da força de trabalho na dimensão ambiental, política, econômica e cultural, ameaçando a vida dos trabalhadores e a vida do planeta. Também lhes permite direcionar e conservar a reprodução social da estrutura de propriedade e das relações de produção, bem como determinar os mecanismos de aumento da exploração intensiva e extensiva do trabalho e a consequente produção de mais-valia relativa e absoluta, e particularmente, permite ao capital apropriar-se de tempo social de trabalho. Do lado dos trabalhadores, a expropriação da propriedade e o uso comum dos bens públicos e das funções do Estado, combinados com a expropriação de meios de sobrevivência, condenam a classe trabalhadora a uma existência abaixo das possibilidades que o mundo de hoje tem condições de lhe oferecer. As características do processo de expropriação contemporânea, articulado ao processo de exploração do trabalho, cria as condições para que o trabalhador fique integralmente consumido e subsumido pelo capital e pelas restrições impostas à sua sub-existência. Concluímos que há uma relação orgânica entre o processo de expropriação contemporânea, o processo de reprodução social, o processo de exploração do trabalho e a educação. Argumentamos que a expropriação é um processo contemporâneo que se articula organicamente ao processo de exploração do trabalho. A expropriação e a exploração constituem uma unidade tão orgânica quanto a composição do capital, uma vez que o processo de expropriação tem como resultado a concentração e centralização do tempo de trabalho social materialmente objetivado, garantindo, assim, a conservação do componente objetivo do valor e o controle do processo de reprodução biológica e social da força de trabalho. De forma concomitante, o processo de exploração do trabalho centra-se no componente subjetivo do valor e garante a reprodução do mais valor, apropria-se do tempo de trabalho presente, captura e direciona em seu benefício a força de trabalho em movimento.Abstract: In this research, we study the process of social reproduction of the rural labor force in the context of contemporary land expropriation and other means of the working class sub-existence. The general purpose is to highlight the project of the Inter-American Development Bank (IDB) for the education of rural workers and its repercussions on the living and working conditions of the working class in Latin America. We have shown that expropriation is not just a process of the past. However, today, it is one of the main components of the current capitalist production project in the region in its sporadic and systematic form. The analysis of the strategic planning documents of the IDB's investment sectors in the period 2016-2019 has allowed us to see the validity of a project for the systematic expropriation of property and the collective use of rural land, nature, public health, education and other public goods administered by the State. We also observed the systematic expropriation of workers' means of subsistence, in the form of access to rivers and forests, wages for working time, retirement, social assistance programs, agricultural production techniques and technologies, domestic food production, education, in addition to the prohibition or appropriation of forms of collective work organization. To that end, new and sophisticated mechanisms for expropriating the working class were developed, which further restrict their capacity for biological and social reproduction. Counter-reforms, governance, food security, wages per piece, \"Private property system\", the private \"use rights system\", patent law, \"smart subsidies\" and the cooptation and instrumentalization of social organizations are examples of mechanisms for systematic expropriation of the working class promoted by the BID. Although this agent of capital's political-economic project aims to appropriate nature and human labor products present in rural land, the Bank does not have a specific educational project for rural workers. The BID has a political-educational project emphasizing ideological purposes of adequacy, adaptation and neutralization aimed at the working class of Latin America as a whole, and named \"successful work paths\". We find that capital education as a subjective dimension of social reproduction contributes to the consolidation of the expropriation and labor exploitation processes, preserves, hides expropriations and consequences, adjusts the workforce to productive needs and adapts workers to unemployment, to precarious living and working conditions and human misery. Consequently, we identified that the process of contemporary expropriation allows the owners of the production means to control the biological and social reproduction of the workforce in the environmental, political, economic, and cultural dimension, threatening the workers' lives and the planet life. It also allows them to direct and conserve the social reproduction of the property structure and production relations, as well as determining the mechanisms for increasing the intensive and extensive labor exploitation and the consequent production of relative and absolute surplus value, and mainly, it allows the capital to appropriate social work time. On the side of the workers, the property expropriation and the common use of public goods and the State's functions, combined with the expropriation of survival means, condemn the working class to an existence below the possibilities that the world today can offer. The characteristics of the contemporary expropriation linked to the labor exploitation processes create the conditions for the worker to be fully consumed and subsumed by capital and the restrictions imposed on its sub-existence. We conclude that there is an organic link among the contemporary expropriation, the labor exploitation processes, and education. We argue that expropriation is a contemporaneous process organically linked to the labor exploitation process. The expropriation and exploitation constitute a unit as organic as the capital composition since the expropriation process results in the concentration and centralization of the materially targeted social working time, thus ensuring the conservation of the objective component of value and the control of the biological and social reproduction process of the workforce. Concomitantly, the process of labor exploitation focuses on the subjective component of value and guarantees the reproduction of the most value, appropriating the present working time, capturing, and directing the moving workforce to its benefit.Vendramini, Célia ReginaUniversidade Federal de Santa CatarinaCataño Hoyos, Claudia Janet2021-01-14T18:09:04Z2021-01-14T18:09:04Z2020info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesis278 p.| il.application/pdf370967https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/219397porreponame:Repositório Institucional da UFSCinstname:Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)instacron:UFSCinfo:eu-repo/semantics/openAccess2021-01-14T18:09:04Zoai:repositorio.ufsc.br:123456789/219397Repositório InstitucionalPUBhttp://150.162.242.35/oai/requestopendoar:23732021-01-14T18:09:04Repositório Institucional da UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)false
dc.title.none.fl_str_mv Trabalhadores livres como pássaros: reprodução social da subsistência no contexto da expropriação contemporânea na América Latina
title Trabalhadores livres como pássaros: reprodução social da subsistência no contexto da expropriação contemporânea na América Latina
spellingShingle Trabalhadores livres como pássaros: reprodução social da subsistência no contexto da expropriação contemporânea na América Latina
Cataño Hoyos, Claudia Janet
Educação
Desapropriação
Trabalhadores rurais
title_short Trabalhadores livres como pássaros: reprodução social da subsistência no contexto da expropriação contemporânea na América Latina
title_full Trabalhadores livres como pássaros: reprodução social da subsistência no contexto da expropriação contemporânea na América Latina
title_fullStr Trabalhadores livres como pássaros: reprodução social da subsistência no contexto da expropriação contemporânea na América Latina
title_full_unstemmed Trabalhadores livres como pássaros: reprodução social da subsistência no contexto da expropriação contemporânea na América Latina
title_sort Trabalhadores livres como pássaros: reprodução social da subsistência no contexto da expropriação contemporânea na América Latina
author Cataño Hoyos, Claudia Janet
author_facet Cataño Hoyos, Claudia Janet
author_role author
dc.contributor.none.fl_str_mv Vendramini, Célia Regina
Universidade Federal de Santa Catarina
dc.contributor.author.fl_str_mv Cataño Hoyos, Claudia Janet
dc.subject.por.fl_str_mv Educação
Desapropriação
Trabalhadores rurais
topic Educação
Desapropriação
Trabalhadores rurais
description Tese (doutorado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Ciências da Educação, Programa de Pós-Graduação em Educação, Florianópolis, 2020.
publishDate 2020
dc.date.none.fl_str_mv 2020
2021-01-14T18:09:04Z
2021-01-14T18:09:04Z
dc.type.status.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/publishedVersion
dc.type.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/doctoralThesis
format doctoralThesis
status_str publishedVersion
dc.identifier.uri.fl_str_mv 370967
https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/219397
identifier_str_mv 370967
url https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/219397
dc.language.iso.fl_str_mv por
language por
dc.rights.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/openAccess
eu_rights_str_mv openAccess
dc.format.none.fl_str_mv 278 p.| il.
application/pdf
dc.source.none.fl_str_mv reponame:Repositório Institucional da UFSC
instname:Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)
instacron:UFSC
instname_str Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)
instacron_str UFSC
institution UFSC
reponame_str Repositório Institucional da UFSC
collection Repositório Institucional da UFSC
repository.name.fl_str_mv Repositório Institucional da UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)
repository.mail.fl_str_mv
_version_ 1808652239300984832