Em busca da melhor versão contra si mesmo: sobre o coaching, a verdade e o governo pela liberdade no neoliberalismo

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Tavares, Larissa Ferreira
Data de Publicação: 2021
Tipo de documento: Tese
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional da UFSC
Texto Completo: https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/229355
Resumo: Tese (doutorado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro Sócio-Econômico, Programa de Pós-Graduação em Administração, Florianópolis, 2021.
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spelling Universidade Federal de Santa CatarinaTavares, Larissa FerreiraBirochi, Renê2021-10-14T19:32:47Z2021-10-14T19:32:47Z2021373013https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/229355Tese (doutorado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro Sócio-Econômico, Programa de Pós-Graduação em Administração, Florianópolis, 2021.A ampliação da lógica econômica para todas as esferas da vida e o estabelecimento da concorrência como norma de conduta são elementos do avanço do neoliberalismo que contribuíram para tornar cada vez mais necessário o investimento em si mesmo. Ao compreender que a competição se dá em todos os aspectos de sua vida, o indivíduo no neoliberalismo recorre a variadas técnicas e estratégias de luta. Neste cenário, cresce o número de treinadores, consultores, administradores do eu ou, simplesmente, coachs que sugerem, em tom religioso, que ?mostrar? a alma é a receita do sucesso. Desse modo, tomando o cristianismo e o neoliberalismo como regimes de verdade (FOUCAULT, 2014), este estudo objetiva analisar como o coaching atua na constituição do indivíduo empresário de si no Brasil. Para tanto, foram coletados dados primários (observação participante em dois grandes eventos de coaching: Tony Robbins Brasil e Desperte seu Poder) e secundários (materiais dos eventos, sites e redes sociais), ambos tratados mediante análise de conteúdo (BARDIN, 2016). A partir das categorias do reconhecimento das faltas (FOUCAULT, 2014) evidenciou-se que o fenômeno do coaching segue a ordem das três práticas do cristianismo primitivo: 1) o batismo, morte voluntária para a vida, que no coaching é o olhar para dentro de si; 2) a penitência eclesial, essa segunda chance do perdão dada por Cristo, e no coaching, a transformação e expulsão desse outro eu; e 3) a direção de consciência, no cristianismo as técnicas para entrar na ordem estabelecida, e no coaching os exercícios para manifestar/confessar o que se sente. Neste processo, a ideia de salvação através da perfeição e da cura e ainda a promessa de felicidade, transformação e vida extraordinária a curto prazo, dão espaço ao indivíduo empresário de si: um ser iluminado e espiritualizado que recorre ao otimismo para suportar o fracasso ou dilemas do mundo real. Também foi possível observar que o cristianismo primitivo aparece de forma atualizada no neoliberalismo e, com isso contribui para constituir o empresário de si, que precisa se mostrar como pecador para vencer. Neste contexto, esses empreendedores do eu fazem do coaching o suprassumo da cura rápida e através do ato de confissão possibilitam ao indivíduo se perdoar (parar de sofrer) para então, competir com todo seu potencial. Intensifica-se, assim, a indústria da cura e a da felicidade, uma vez que ser infeliz é sinônimo de fracasso. No processo, o empresário de si, carrega e é, em si, uma nova forma de organização que enriquece através de sua história e concorre com ele mesmo. Isso implica que, embora no neoliberalismo a ideia de empresa seja um referente, ela não é central, pois, tal indivíduo, como organização, pulveriza a ideia de coletivo, competindo contra si próprio. No ritual de produzir felicidade e robôs-alegres, o coaching se mostra como uma forma atualizada de conduzir os vivos e o neoliberalismo opera como regime de governo pela verdade, uma vez que, a confissão é pensada como serviço público e coloca a obediência não mais nos corpos, mas na subjetividade.Abstract: The expansion of the economic logic to all spheres of life and the establishment of competition as a standard of conduct are elements of the advance of neoliberalism that have contributed to making investment in itself more and more necessary. By understanding that a competition takes place in all aspects of their life, the individual in neoliberalism resorts to various fighting techniques and strategies. In this scenario, the number of coaches, consultants, administrators of the ?I? increase, or, simply, coaches that advocate, in a religious tone, that ?showing? the soul is the recipe for success. Thus, taking Christianity and neoliberalism as regimes of truth (FOUCAULT, 2014), this study aims to analyze how coaching acts in the constitution of the self-entrepeneur in Brazil. For this purpose, primary data (observation in two major coaching events: Tony Robbins Brazil and Desperte seu Poder) and secondary data (event material, websites, and social networks) were collected, both treated through content analysis (BARDIN, 2016). From the categories of recognition of absences (FOUCAULT, 2014) it was evident that the phenomenon of coaching follows the order of the three practices of primitive Christianity: 1) baptism, voluntary death for life, which in coaching it is the looking within yourself; 2) ecclesial penance, the second chance for forgiveness given by Christ, which in coaching it is the transformation and expulsion of that other self; and 3) a direction of conscience, in the Christianity these are the techniques for entering into establish order, which in coaching would be the training exercises to manifest/confess your feelings. In this process, the idea of rescue through perfection and healing, and even the promise of happiness, transformation and extraordinary life in the short term, gives space to the entrepreneur of himself: an enlightened and spiritual being who uses optimism to support failure or dilemmas of the real world. It was also possible to observe that primitive Christianity appears in an updated form in neoliberalism and, with this, it contributes to constitute the self-entreperneurs, who needs to show themselves as sinners in order to win. In this context, these entrepreneurs of the self make coaching the epitome of quick healing and through the act of confession enable the individual to forgive himself (stop suffering), to then compete with his full potential. Thus, the healing and happiness industry is intensified, since being unhappy is synonymous with failure. In the process, the enterpreneaur of the self carries and is, in itself, a new form of organization that enriches through its history and competes with itself. This implies that, although in neoliberalism the idea of the company is a reference, it is not central, since an individual as an organization, pulverizes the idea of the collective, competing against himself. In the ritual of producing happiness and joyful robots, coaching is shown as an updated way of leading the living and neoliberalism operates as a government regime for the truth, since confession is thought of as a public service and places obedience no longer in bodies, but in subjectivity.150 p.porAdministraçãoCoachingNeoliberalismoSucesso profissionalSubjetividadeEm busca da melhor versão contra si mesmo: sobre o coaching, a verdade e o governo pela liberdade no neoliberalismoinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisreponame:Repositório Institucional da UFSCinstname:Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)instacron:UFSCinfo:eu-repo/semantics/openAccessORIGINALPCAD1170-T.pdfPCAD1170-T.pdfapplication/pdf1194813https://repositorio.ufsc.br/bitstream/123456789/229355/-1/PCAD1170-T.pdf6c4acf22cffaea4e06237e85d91a1e3aMD5-1123456789/2293552021-10-14 16:32:47.107oai:repositorio.ufsc.br:123456789/229355Repositório de PublicaçõesPUBhttp://150.162.242.35/oai/requestopendoar:23732021-10-14T19:32:47Repositório Institucional da UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)false
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