Por uma poesia dos restos: o feio e o insignificante em Manoel de Barros

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Costa, Leila de Aguiar [UNIFESP]
Data de Publicação: 2017
Tipo de documento: Artigo
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional da UNIFESP
Texto Completo: https://repositorio.unifesp.br/handle/11600/55332
http://www.olhodagua.ibilce.unesp.br/index.php/Olhodagua/article/view/377
Resumo: “As palavras querem me ser. Dou-lhes à boca o áspero. Tiro-lhes o verniz e os voos metafísicos” (BARROS, 1996, p. 333-334): eis como, segundo seus próprios termos, Manoel de Barros exercita-se no ato poético. Desenvernizar a poesia é, pois, desembaraçá-la de tudo aquilo que a perdeu e a perverteu. É, então, oportunidade para o Poeta de desinventar e desescrever todos os sentidos arbitrariamente constituídos, todos os signos autoritariamente instituídos. Sobre a ruína do logos, Manoel de Barros edificará uma poética que recusa toda elevação e defende a insignificância e a desimportância da poesia. Descobrir-se-ão assim poemas que resgatam um repositório de formas desgastadas, de fragmentos da linguagem cotidiana e de imagens do mundo que, de um modo ou de outro, confundem-se com certa estética do feio: a golpes de deslocamentos, de desvios e de transgressões de toda organização linguística e retórica - em um exercício de mise en abyme para o qual apontam títulos que levam os termos “Compêndio”, “Tratado”, “Gramática”, “Livro”, inaugura-se uma inaudita cena da despalavra, por onde deambulam figuras como “cuspe”, “bosta”, “detritos semoventes”, “urinóis”, e outras tantas marginais. Neste artigo, procurar-se-á, pois, acompanhar os movimentos de uma palavra poética tornada opaca que entende, é Manoel de Barros quem o diz, que “o que é bom para o lixo é bom para poesia” (BARROS, 2010, p. 147).
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