Anticorpos pré-formados contra os Antígenos de Neutrófilos Humanos-3 (HNA-3): métodos de detecção e associação com episódios de rejeição aguda após o transplante renal

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Ramos, Juliana Oliveira Martins [UNIFESP]
Data de Publicação: 2024
Tipo de documento: Tese
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional da UNIFESP
Texto Completo: https://hdl.handle.net/11600/70839
Resumo: Introdução: O aperfeiçoamento dos regimes de imunossupressão determinou uma redução significativa da incidência de rejeição aguda (RA) em receptores de transplante renal. Contudo, a RA ainda é uma das causas mais frequentes de perda progressiva da função do rim transplantado. A presença de anticorpos pré-formados contra o sistema de antígenos leucocitários humanos (HLA) está associada com a maior incidência de RA mediada por anticorpos (RMA) e menor sobrevida do enxerto renal. Recentemente, um número crescente de rejeição renal relacionada a episódios de RMA têm sido diagnosticados, sugerindo que este fenótipo histológico de rejeição seja atualmente uma das causas mais frequentes de perda do enxerto. Inusitadamente, numa proporção significativa desses episódios de RMA não se identifica nenhum anticorpo contra antígenos do sistema HLA, o que sugere que anticorpos direcionados contra outros antígenos podem participar da fisiopatologia da RMA após o transplante renal. Alguns alvos incluem receptores presentes nas células endoteliais renais, como por exemplo o receptor AT1R, MICA e CTL-2. A proteína CTL-2 está presente em diversos tecidos do corpo humano, principalmente nas células endoteliais microvasculares dos pulmões e nas células tubulares renais. Os antígenos de neutrófilos humano-3 (HNA-3) estão localizados na primeira alça extramembranar dessa proteína. Os anticorpos direcionados contra esses antígenos são formados a partir da exposição alogênica e estão associados principalmente a casos de reações transfusionais graves. Devido à presença do antígeno HNA-3 nas células tubulares renais, existe a suspeita de que a aloimunização neutrofílica também possa estar envolvida no desenvolvimento da RA após o transplante renal. Objetivo: Investigar a associação entre a presença de anticorpos anti-HNA-3 pré-formados e o desenvolvimento do segundo episódio de RA após o transplante renal. Casuística e Métodos: Trata-se de um estudo de coorte retrospectivo que incluiu 1256 pacientes que apresentaram o primeiro episódio de RA após o transplante renal entre os anos de 2011 e 2019. A pesquisa e a identificação dos anticorpos anti-HNA-3 foram realizadas em amostras de soro obtidas antes do transplante renal, através das seguintes técnicas sorológicas: Teste de Aglutinação de Granulócitos (GAT), Teste de Imunofluorescência de Granulócitos (Flow-GIFT) e técnica baseada em microesferas (kit LABSCreen Multi, One Lambda). A genotipagem HNA-3 dos pacientes e de seus respectivos doadores de rim foram realizadas por PCR-RFLP apenas nas amostras com suspeita da presença de anticorpos anti-HNA-3. O grupo sem anticorpos anti-HNA-3 incluiu pacientes que também apresentaram o primeiro episódio de RA e que não apresentavam anticorpos anti-HNA-3 antes do transplante, pareados pela data do transplante, idade, sexo, tempo em diálise, tipo de doador (vivo ou falecido), total de incompatibilidades HLA, porcentagem de reatividade contra painel (PRA), terapia de indução e imunossupressão de manutenção. Resultados: Dos 1256 pacientes incluídos no estudo, 33 (2,6%) apresentaram anticorpos anti-HNA-3 antes do transplante, sendo 4 anti-HNA-3a e 29 anti-HNA-3b. Destes, 13 (39,4%) eram anticorpos específicos contra os antígenos HNA-3 do doador. Não foram observadas diferenças significativas nas características demográficas entre os grupos com e sem anticorpos anti-HNA-3. A incidência do segundo episódio de RA foi maior no grupo de pacientes com anticorpos anti-HNA-3 (33,3 vs. 9,1%, OR=5.00; 95% CI=1.245 – 30.083; p= 0,033). Além disso, a sobrevida do enxerto 12 meses após o segundo episódio de RA foi menor no grupo de pacientes com anticorpos anti-HNA-3 em comparação com o grupo de pacientes sem anticorpos anti-HNA-3 (66,7% vs. 90,9%, p= 0,014, através dos testes de Log Rank, Breslow e Tarone-Ware). Conclusão: O estudo demonstrou que a presença de anticorpos anti-HNA-3 antes do transplante renal está associada a um aumento da incidência do segundo episódio de RA do transplante renal e a uma menor sobrevida do enxerto, possivelmente devido a mecanismos inflamatórios, imunológicos e disfunção endotelial semelhantes aos observados na RMA por anticorpos anti-HLA. Esses resultados têm implicações clínicas significativas, indicando a necessidade de considerar os anticorpos anti-HNA-3 como fatores de risco para a RA do transplante renal e de aprofundar as investigações dos mecanismos subjacentes a esse processo.
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Recentemente, um número crescente de rejeição renal relacionada a episódios de RMA têm sido diagnosticados, sugerindo que este fenótipo histológico de rejeição seja atualmente uma das causas mais frequentes de perda do enxerto. Inusitadamente, numa proporção significativa desses episódios de RMA não se identifica nenhum anticorpo contra antígenos do sistema HLA, o que sugere que anticorpos direcionados contra outros antígenos podem participar da fisiopatologia da RMA após o transplante renal. Alguns alvos incluem receptores presentes nas células endoteliais renais, como por exemplo o receptor AT1R, MICA e CTL-2. A proteína CTL-2 está presente em diversos tecidos do corpo humano, principalmente nas células endoteliais microvasculares dos pulmões e nas células tubulares renais. Os antígenos de neutrófilos humano-3 (HNA-3) estão localizados na primeira alça extramembranar dessa proteína. Os anticorpos direcionados contra esses antígenos são formados a partir da exposição alogênica e estão associados principalmente a casos de reações transfusionais graves. Devido à presença do antígeno HNA-3 nas células tubulares renais, existe a suspeita de que a aloimunização neutrofílica também possa estar envolvida no desenvolvimento da RA após o transplante renal. Objetivo: Investigar a associação entre a presença de anticorpos anti-HNA-3 pré-formados e o desenvolvimento do segundo episódio de RA após o transplante renal. Casuística e Métodos: Trata-se de um estudo de coorte retrospectivo que incluiu 1256 pacientes que apresentaram o primeiro episódio de RA após o transplante renal entre os anos de 2011 e 2019. A pesquisa e a identificação dos anticorpos anti-HNA-3 foram realizadas em amostras de soro obtidas antes do transplante renal, através das seguintes técnicas sorológicas: Teste de Aglutinação de Granulócitos (GAT), Teste de Imunofluorescência de Granulócitos (Flow-GIFT) e técnica baseada em microesferas (kit LABSCreen Multi, One Lambda). A genotipagem HNA-3 dos pacientes e de seus respectivos doadores de rim foram realizadas por PCR-RFLP apenas nas amostras com suspeita da presença de anticorpos anti-HNA-3. O grupo sem anticorpos anti-HNA-3 incluiu pacientes que também apresentaram o primeiro episódio de RA e que não apresentavam anticorpos anti-HNA-3 antes do transplante, pareados pela data do transplante, idade, sexo, tempo em diálise, tipo de doador (vivo ou falecido), total de incompatibilidades HLA, porcentagem de reatividade contra painel (PRA), terapia de indução e imunossupressão de manutenção. Resultados: Dos 1256 pacientes incluídos no estudo, 33 (2,6%) apresentaram anticorpos anti-HNA-3 antes do transplante, sendo 4 anti-HNA-3a e 29 anti-HNA-3b. Destes, 13 (39,4%) eram anticorpos específicos contra os antígenos HNA-3 do doador. Não foram observadas diferenças significativas nas características demográficas entre os grupos com e sem anticorpos anti-HNA-3. A incidência do segundo episódio de RA foi maior no grupo de pacientes com anticorpos anti-HNA-3 (33,3 vs. 9,1%, OR=5.00; 95% CI=1.245 – 30.083; p= 0,033). Além disso, a sobrevida do enxerto 12 meses após o segundo episódio de RA foi menor no grupo de pacientes com anticorpos anti-HNA-3 em comparação com o grupo de pacientes sem anticorpos anti-HNA-3 (66,7% vs. 90,9%, p= 0,014, através dos testes de Log Rank, Breslow e Tarone-Ware). Conclusão: O estudo demonstrou que a presença de anticorpos anti-HNA-3 antes do transplante renal está associada a um aumento da incidência do segundo episódio de RA do transplante renal e a uma menor sobrevida do enxerto, possivelmente devido a mecanismos inflamatórios, imunológicos e disfunção endotelial semelhantes aos observados na RMA por anticorpos anti-HLA. Esses resultados têm implicações clínicas significativas, indicando a necessidade de considerar os anticorpos anti-HNA-3 como fatores de risco para a RA do transplante renal e de aprofundar as investigações dos mecanismos subjacentes a esse processo.Introduction: Advancements in immunosuppression regimens have led to a significant reduction in the incidence of acute rejection (AR) among kidney transplant recipients. However, AR remains the most common cause of progressive loss of transplanted kidney function. The presence of preformed antibodies against human leukocyte antigen (HLA) system antigens is associated with increased incidence of antibody-mediated rejection (AMR) and decreased renal graft survival. Recently, there has been a growing number of kidney rejection episodes related to AMR, suggesting that this histological phenotype of rejection is currently the most common cause of graft loss. Interestingly, a significant proportion of these AMR episodes do not involve identification of any antibodies against HLA system antigens, suggesting that antibodies directed against other antigens may contribute to the pathophysiology of AMR post-kidney transplantation. Some targets include receptors present on renal endothelial cells, such as the AT1R receptor, MICA, and CTL-2. CTL-2 protein is present in various tissues of the human body, mainly in the microvascular endothelial cells of the lungs and renal tubular cells. Human neutrophil antigen-3 (HNA-3) antigens are located in the first extramembranous loop of this protein. Antibodies directed against these antigens are formed following allogeneic exposure and are primarily associated with severe transfusion reactions. Due to the presence of the HNA-3 antigen on renal tubular cells, there is suspicion that neutrophilic alloimmunization may also be involved in the development of AR post-kidney transplantation. Objective: To investigate the association between the presence of preformed anti-HNA-3 antibodies and the development of the second episode of AR post-kidney transplantation. Patients and Methods: This is a retrospective cohort study that included 1256 patients who experienced the first episode of AR post-kidney transplantation between 2011 and 2019. Research and identification of anti-HNA-3 antibodies were performed on serum samples obtained before kidney transplantation using the following serological techniques: Granulocyte Agglutination Test (GAT), Granulocyte Immunofluorescence Test (Flow-GIFT), and microsphere-based technique (LABSCreen Multi kit, One Lambda). HNA-3 genotyping of patients and their respective kidney donors was performed by PCR-RFLP only in samples suspected of containing anti-HNA-3 antibodies. The group without anti-HNA-3 antibodies included patients who also experienced the first episode of AR and did not have anti-HNA-3 antibodies before transplantation, matched by transplantation date, age, sex, dialysis duration, donor type (living or deceased), total HLA incompatibilities, panel-reactive antibody (PRA) percentage, induction therapy, and maintenance immunosuppression. Results: Of the 1256 patients included in the study, 33 (2.6%) had anti-HNA-3 antibodies before transplantation, with 4 being anti-HNA-3a and 29 anti-HNA-3b. Among these, 13 (39.4%) had specific antibodies against donor HNA-3 antigens. There were no significant differences in demographic characteristics between the groups with and without anti-HNA-3 antibodies. The incidence of the second episode of AR was higher in the group of patients with anti-HNA-3 antibodies (33.3% vs. 9.1%, OR=5.00; 95% CI=1.245 – 30.083; p= 0.033). Additionally, graft survival 12 months after the second episode of AR was lower in the group of patients with anti-HNA-3 antibodies compared to the group without anti-HNA-3 antibodies (66.7% vs. 90.9%, p= 0.014, using Log Rank, Breslow, and Tarone-Ware tests). Conclusion: The study demonstrated that the presence of anti-HNA-3 antibodies before kidney transplantation is associated with an increased incidence of the second episode of AR post-kidney transplantation and lower graft survival, possibly due to inflammatory, immunological, and endothelial dysfunction mechanisms similar to those observed in AMR due to anti-HLA antibodies. These findings have significant clinical implications, indicating the need to consider anti-HNA-3 antibodies as risk factors for AR post-kidney transplantation and to further investigate the underlying mechanisms of this process.Outra142167/2018-5Universidade Federal de São PauloBordin, José Orlando [UNIFESP]Silva Junior, Helio Tedesco [UNIFESP]http://lattes.cnpq.br/1621797721074970http://lattes.cnpq.br/4235368036147314http://lattes.cnpq.br/1669872385507535Ramos, Juliana Oliveira Martins [UNIFESP]2024-03-14T12:58:27Z2024-03-14T12:58:27Z2024-03-06info:eu-repo/semantics/doctoralThesisinfo:eu-repo/semantics/publishedVersion170 f.application/pdfRAMOS, Juliana Oliveira Martins. Anticorpos pré-formados contra os Antígenos de Neutrófilos Humanos-3 (HNA-3): métodos de detecção e associação com episódios de rejeição aguda após o transplante renal. 2024. 170 f. Tese (Doutorado em Medicina: Hematologia) – Escola Paulista de Medicina, Universidade Federal de São Paulo, São Paulo, 2024.https://hdl.handle.net/11600/70839porSão Pauloinfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Repositório Institucional da UNIFESPinstname:Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP)instacron:UNIFESP2024-08-13T21:37:30Zoai:repositorio.unifesp.br/:11600/70839Repositório InstitucionalPUBhttp://www.repositorio.unifesp.br/oai/requestbiblioteca.csp@unifesp.bropendoar:34652024-08-13T21:37:30Repositório Institucional da UNIFESP - Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP)false
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