Por trás dos muros do Hospital Colônia de Barbacena: o papel da enfermagem no holocausto brasileiro

• Autor(a) principal: Silva, Jefferson Lucas Lustosa da [UNIFESP]
• Data de Publicação: 2021
• Tipo de documento: Trabalho de conclusão de curso
• Idioma: por
• Título da fonte: Repositório Institucional da UNIFESP
• Texto Completo: https://hdl.handle.net/11600/62346
• topic: Manicômios; Enfermagem; Barbacena

Os manicômios no Brasil representam um símbolo histórico resultante de uma antiga visão de mundo, de sistema de saúde e de Enfermagem. Este período marca a retirada de milhares de indivíduos considerados impróprios ao convívio social, submetendo estes a tratamentos desumanos e obscuros em hospitais psiquiátricos. Barbacena pode ser considerado como o maior símbolo do modelo manicomial no país, sendo maior em quantidade de pacientes internados durante todo o século XX, e, também, por ter apresentado a surpreendente marca de cerca de 60.000 mortes de indivíduos em suas dependências. Tendo como base essa simbologia e fazendo uso da obra bibliográfica Holocausto Brasileiro, da Jornalista Daniela Arbox, o presente estudo teve como objetivo analisar e refletir sobre a assistência prestada, especialmente quanto a atuação e constituição da Enfermagem, no cuidado aos pacientes do manicômio de Barbacena. Busca-se dar espaço para que essa pesquisa também alcance as concepções de saúde e transtorno mental presentes na referida obra, bem como a organização do sistema e dos serviços de saúde à época. Este trabalho tem como fundamento metodológico uma pesquisa qualitativa fundamentada na Análise de Conteúdo, de acordo com a proposta de BARDIN (2011). Após a análise dos dados depreendeu-se três categorias: Cuidador, Gerenciador e Recursos. Como principais resultados, verificou-se que a Enfermagem em relação à categoria Cuidadora, se pautava basicamente em ações sem critério técnico, sem julgamento científico e sem criticidade para entender seu papel dentro do sistema da saúde à época. Observamos reflexos de uma sociedade patriarcal, que destinou os serviços de Enfermagem à mulher e a colocou em uma posição submissa diante de outras categorias masculinas, como a Medicina. Em relação a categoria Gerenciador, verificou-se a constante presença das religiosas no setor administrativo, mesmo quando a Enfermagem já possuía profissionalização e formação para o cuidado e gerenciamento. Por fim, na categoria Recursos, verificou-se a precariedade destes recursos em virtude da existência de um sistema de saúde frágil e pela concepção do enclausuramento e acúmulo de pacientes em ambientes fechados que não dispunham de recursos físicos, materiais e humanos para propor qualquer devolutiva satisfatória aos seus pacientes. Como consideração final, evidencia-se a importância do desenvolvimento da Enfermagem como uma categoria reflexiva e científica com relação às suas ações e ao sistema que ela compõe, enquanto mecanismo central, para impedir que erros outrora cometidos sejam capazes de serem repetidos.