Papel da inervação sensorial mediada por fibras nervosas tipo C na Doença de Chagas aguda em camundongos

• Autor(a) principal: CUBA, Marília Beatriz de
• Data de Publicação: 2019
• Tipo de documento: Tese
• Idioma: por
• Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFTM
• Texto Completo: http://bdtd.uftm.edu.br/handle/123456789/1759
• topic: Neuroimunomodulação.; Doença de Chagas.; Resistência.; Suscetibilidade.; Neuroimmunomodulation.; Chagas disease.; Resistance.; Susceptibility.; CNPQ::CIENCIAS DA SAUDE::MEDICINA::CLINICA MEDICA::DOENCAS INFECCIOSAS E PARASITARIAS

A evolução de uma doença durante a infecção por um determinado agente parasitário é criticamente influenciada pelas interações dinâmicas e recíprocas entre os mecanismos efetores da imunidade inata e adaptativa do hospedeiro contra o parasito e as estratégias parasitárias de evasão e resistência à imunidade protetora. Evidências clínicas e experimentais publicadas na literatura científica demonstram uma influência crítica do sistema nervoso central e periférico sobre a organização da resposta comportamental imunológica em diversos contextos imunogênicos, tais como doenças infecciosas, câncer, transplante, autoimunidade etc. Dados experimentais coletados pelo nosso grupo apontam que o sistema nervoso autônomo, tanto simpático quanto parassimpático, é um elemento chave na dinâmica da relação Trypanosoma cruzi-hospedeiro que, em última análise, determina o curso da infecção e a evolução da patogênese provocada pelo protozoário, nas fases aguda e crônica da doença de Chagas. Contudo, o possível papel funcional de vias e circuitos neurais sensoriais nos mecanismos imunológicos responsáveis por promover um perfil de resistência ou suscetibilidade do hospedeiro tanto ao parasito quanto à miocardite chagásica aguda, para o nosso conhecimento, nunca foi investigado. Do exposto, a tese aqui apresentada teve como objetivo principal averiguar um eventual papel funcional de fibras aferentes do tipo C sensíveis à capsaicina nos mecanismos imunológicos de resistência e suscetibilidade à infecção pelo T. cruzi em camundongos das linhagens isogênicas Balb/c e C57BL/6, suscetível e resistente à infecção pela cepa Colombiana, respectivamente, bem como o comportamento da doença nestes animais durante a fase aguda da infecção. Para isso, hospedeiros isogênicos geneticamente resistentes à infecção (C57BL/6), hospedeiros suscetíveis à infecção (Balb/c), e também hospedeiros suscetíveis à infecção, porém, com desnervação das fibras sensoriais por tratamento com capsaicina (Balb/c desnervados) foram inoculados com formas tripomastigotas da cepa Colombiana de T. cruzi, 7 dias após o último dia tratamento dos animais com capsaicina ou veículo. No decorrer e após 21 dias de infecção, curva de parasitemia, eletrocardiograma, ecocardiograma, histopatologia e análise do perfil fenotípico de subgrupos de células T auxiliares (TCD4+) presentes no baço, bem como o nível de citocinas séricas foram estudados. Os grupos de animais foram pareados por idade, fundo genético e tratamento, sendo os grupos de animais não infectados utilizados como controle negativo (C57BL/6, Balb/c não desnervados e Balb/c desnervados). Os animais do grupo C57BL/6 infectado, quando comparado com animais dos grupos Balb/c infectados não desnervados e Balb/c infectados desnervados, apresentaram parâmetros parasitológicos, eletro- e ecocardiográficos, histopatológicos e imunológicos condizentes com o perfil genético de resistência do hospedeiro, ou seja, uma significativa atenuação da miocardite e número reduzidos de protozoários no coração e no sangue. Em adição, curiosamente, pode-se observar que os animais Balb/c infectados desnervados apresentaram uma significativa diminuição tanto do infiltrado inflamatório miocárdico quanto dos níveis quantitativos de parasitos na circulação e no tecido cardíaco, associado a uma significativa melhora funcional dos parâmetros eletro- e ecocardiográficos em comparação com animais do grupo Balb/c infectado não desnervado. Uma potencialização do padrão de resposta imune do tipo Th1 nos animais chagásicos desnervados, evidenciada por um aumento significativo na frequência de células do subgrupo Th1 em comparação com o grupo Balb/c chagásico não desnervado, oferece uma explicação para os resultados supracitados. Em conjunto, os resultados experimentais apresentados nesta tese sugerem que fibras sensoriais primárias sensíveis à capsaicina são capazes de diminuir parcialmente padrões de respostas imune do tipo Th1 durante a fase aguda da infecção experimental pela cepa Colombiana do T. cruzi em camundongos da linhagem Balb/c, promovendo uma maior suscetibilidade do hospedeiro à doença. O eventual envolvimento de circuitos sensoriais centrais intimamente relacionados com a via aferente estudada, e os mecanismos neurofisiológicos pelos quais a construção perceptiva da doença leva à diminuição da frequência de células dos subgrupos Th1, provocando, consequentemente, um aumento da suscetibilidade do hospedeiro da linhagem Balb/c à infecção, precisam ser averiguados.