Tlamum Ukuá: marcadores da etnicidade Puri em sistemas agroalimentares
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Data de Publicação: | 2024 |
Tipo de documento: | Tese |
Idioma: | por |
Título da fonte: | LOCUS Repositório Institucional da UFV |
Texto Completo: | https://locus.ufv.br/handle/123456789/32859 https://doi.org/10.47328/ufvbbt.2024.382 |
Resumo: | Os indígenas Puri foram considerados extintos no século XIX, mas o Censo de 2010 registrou a autodeclaração de 675 pessoas e a etnia é considerada em etnogênese. O processo de etnogênese ressignifica o que é ser indígena e aponta novas formas de ser e assumir-se Puri no presente. O povo Puri aos poucos ressurge e retoma sua identidade apesar das ausências e não- existências criadas e recriadas ao longo de dois séculos de apagamento. A etnicidade Puri, na Zona da Mata de Minas Gerais, está sendo reelaborada de diversas maneiras e mobiliza uma multiplicidade de sujeitos, entre eles agricultores(as) familiares que se identificam como Puri ou descendentes de Puri e suas organizações. Nos atuais sistemas agroalimentares de agricultores(as) Puri ou descendentes Puri são encontrados elementos históricos e traços culturais que afirmam a condição da etnia Puri na atualidade. Assim, o objetivo desta pesquisa foi identificar e analisar possíveis marcadores da etnicidade Puri no processo de desenho e manejo dos seus sistemas agroalimentares. Especificamente objetivou-se i) analisar a etnogênese Puri, a emergência dessa etnicidade e os marcadores que sobressaem nesse contexto de reconstrução identitária; ii) identificar e analisar as relações estabelecidas entre agricultores e agricultoras Puri, animais e plantas da mata ou criados e cultivadas há gerações pelos seus ancestrais; iii) compreender como os espaços da mata e da roça, a partir de seus elementos, usos e significados, contribuem para a reconstrução da etnicidade Puri; iv) analisar as formas de uso e cuidados dos agroecossistemas e subagroecossistemas de agricultores e agricultoras familiares Puri; v) analisar e avaliar os solos de agroecossistemas Puri a partir da perspectiva científica e também a terra, a partir da compreensão dos(as) agricultores(as) Puri. A pesquisa foi realizada principalmente na Serra do Brigadeiro (reivindicada como Serra dos Puri). As metodologias utilizadas promoveram espaços ricos de reflexão e troca entre participantes em visitas, reuniões, encontros, caminhadas, combinados a entrevistas, questionários, etnomapeamentos, imageamento com uso de drone, análises de solos e intercâmbio. Os dados revelaram que a etnicidade Puri se manifesta em processos de mobilização, participação e organização popular, que sua resistência se tece no cotidiano de maneira silenciosa, em diálogo e tensão com a questão ambiental e no processo de reconquista do território. Amor e cuidado com a terra e a mata, paciência, cooperação, busca de consenso e vida em comunidade parecem compor marcadores importantes na compreensão da etnicidade na Serra dos Puri, assim como sua maneira própria de resistir, com ginga e persistência. Interações com animais, fungos e plantas, seus usos alimentares e artesanais, antigos e atuais, sugerem outros marcadores culturais. A diversidade biocultural pode ser considerada marcadora da etnicidade Puri nos sistemas agroalimentares camponeses da Zona da Mata, que integram os espaços da roça e da mata e sugerem uma ontologia Puri relacionada à existência de um continuum ecológico e imaterial entre os espaços da agricultura e da floresta. A análise de usos e significados de agroecossistemas Puri revelaram práticas de solidariedade, reciprocidade e manutenção de uma memória familiar e coletiva. Esses agroecossistemas são também atravessados por lógicas capitalista e hegemônicas da agricultura, revelando que a agricultura Puri também é permeada de contradições. Há cafezais cultivados em monocultura e com agrotóxicos e cafezais agroecológicos, onde a monocultura dá lugar à diversidade, que promove importantes benefícios, como o controle biológico, a polinização, a ciclagem de nutriente e a qualidade da água. As análises dos fluxos internos e externos nas lavouras de café e quintais revelaram a coexistência de trocas ecológicas, com a natureza, e econômicas, com o mercado, além de relações de reciprocidade, que influenciam na qualidade dos solos. Análises participativas do solo indicaram solos de melhor qualidade nos quintais, enquanto análises químicas indicaram solos de melhor qualidade nas lavouras de café. Percebeu-se que a boa qualidade dos solos não é dependente do uso de insumos externos e se potencializa com a biodiversidade, o manejo de resíduos e a complexidade de fluxos internos dos agroecosistemas. O cuidado, útxe, com a terra nos agroecossistemas demonstrou uma compreensão de terra para além do solo, substrato ou base física, pois a terra é lugar de morar, brincar, conviver e se conectar às histórias familiares, à memoria afetiva e à ancestralidade. Ao mesmo tempo em que é cuidada, a terra cuida, alimenta e cura. A diversidade nos quintais, sua forte conexão com os fluxos internos dos agroecossistemas, a pequena variação estatística nos solos dos quintais e a importância alimentar, nutricional, medicinal e afetiva, revelaram a importância dos quintais como espaços contra-hegemônicos, mesmo dentro de propriedades mais convencionais. É na resistência dos quintais, muitas vezes escondidos na paisagem, que a etnicidade Puri se revelou com mais força nos agroecosssistemas de famílias agricultoras Puri. Palavras-chave: Etnogênese; Relação cultura-natureza; Agroecossistemas. |
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Tlamum Ukuá: marcadores da etnicidade Puri em sistemas agroalimentaresTlamum Ukuá: markers of Puri ethnicity in agrifood systemsAgricultura familiar - Zona da Mata (MG: Mesorregião)Indígenas da América do Sul - Agricultura - Zona da Mata (MG: Mesorregião)Índios Puri - Identidade étinica - Zona da Mata (MG: Mesorregião)Agrossilvicultura - Zona da Mata (MG: Mesorregião)CIENCIAS AGRARIAS::AGRONOMIA::CIENCIA DO SOLOOs indígenas Puri foram considerados extintos no século XIX, mas o Censo de 2010 registrou a autodeclaração de 675 pessoas e a etnia é considerada em etnogênese. O processo de etnogênese ressignifica o que é ser indígena e aponta novas formas de ser e assumir-se Puri no presente. O povo Puri aos poucos ressurge e retoma sua identidade apesar das ausências e não- existências criadas e recriadas ao longo de dois séculos de apagamento. A etnicidade Puri, na Zona da Mata de Minas Gerais, está sendo reelaborada de diversas maneiras e mobiliza uma multiplicidade de sujeitos, entre eles agricultores(as) familiares que se identificam como Puri ou descendentes de Puri e suas organizações. Nos atuais sistemas agroalimentares de agricultores(as) Puri ou descendentes Puri são encontrados elementos históricos e traços culturais que afirmam a condição da etnia Puri na atualidade. Assim, o objetivo desta pesquisa foi identificar e analisar possíveis marcadores da etnicidade Puri no processo de desenho e manejo dos seus sistemas agroalimentares. Especificamente objetivou-se i) analisar a etnogênese Puri, a emergência dessa etnicidade e os marcadores que sobressaem nesse contexto de reconstrução identitária; ii) identificar e analisar as relações estabelecidas entre agricultores e agricultoras Puri, animais e plantas da mata ou criados e cultivadas há gerações pelos seus ancestrais; iii) compreender como os espaços da mata e da roça, a partir de seus elementos, usos e significados, contribuem para a reconstrução da etnicidade Puri; iv) analisar as formas de uso e cuidados dos agroecossistemas e subagroecossistemas de agricultores e agricultoras familiares Puri; v) analisar e avaliar os solos de agroecossistemas Puri a partir da perspectiva científica e também a terra, a partir da compreensão dos(as) agricultores(as) Puri. A pesquisa foi realizada principalmente na Serra do Brigadeiro (reivindicada como Serra dos Puri). As metodologias utilizadas promoveram espaços ricos de reflexão e troca entre participantes em visitas, reuniões, encontros, caminhadas, combinados a entrevistas, questionários, etnomapeamentos, imageamento com uso de drone, análises de solos e intercâmbio. Os dados revelaram que a etnicidade Puri se manifesta em processos de mobilização, participação e organização popular, que sua resistência se tece no cotidiano de maneira silenciosa, em diálogo e tensão com a questão ambiental e no processo de reconquista do território. Amor e cuidado com a terra e a mata, paciência, cooperação, busca de consenso e vida em comunidade parecem compor marcadores importantes na compreensão da etnicidade na Serra dos Puri, assim como sua maneira própria de resistir, com ginga e persistência. Interações com animais, fungos e plantas, seus usos alimentares e artesanais, antigos e atuais, sugerem outros marcadores culturais. A diversidade biocultural pode ser considerada marcadora da etnicidade Puri nos sistemas agroalimentares camponeses da Zona da Mata, que integram os espaços da roça e da mata e sugerem uma ontologia Puri relacionada à existência de um continuum ecológico e imaterial entre os espaços da agricultura e da floresta. A análise de usos e significados de agroecossistemas Puri revelaram práticas de solidariedade, reciprocidade e manutenção de uma memória familiar e coletiva. Esses agroecossistemas são também atravessados por lógicas capitalista e hegemônicas da agricultura, revelando que a agricultura Puri também é permeada de contradições. Há cafezais cultivados em monocultura e com agrotóxicos e cafezais agroecológicos, onde a monocultura dá lugar à diversidade, que promove importantes benefícios, como o controle biológico, a polinização, a ciclagem de nutriente e a qualidade da água. As análises dos fluxos internos e externos nas lavouras de café e quintais revelaram a coexistência de trocas ecológicas, com a natureza, e econômicas, com o mercado, além de relações de reciprocidade, que influenciam na qualidade dos solos. Análises participativas do solo indicaram solos de melhor qualidade nos quintais, enquanto análises químicas indicaram solos de melhor qualidade nas lavouras de café. Percebeu-se que a boa qualidade dos solos não é dependente do uso de insumos externos e se potencializa com a biodiversidade, o manejo de resíduos e a complexidade de fluxos internos dos agroecosistemas. O cuidado, útxe, com a terra nos agroecossistemas demonstrou uma compreensão de terra para além do solo, substrato ou base física, pois a terra é lugar de morar, brincar, conviver e se conectar às histórias familiares, à memoria afetiva e à ancestralidade. Ao mesmo tempo em que é cuidada, a terra cuida, alimenta e cura. A diversidade nos quintais, sua forte conexão com os fluxos internos dos agroecossistemas, a pequena variação estatística nos solos dos quintais e a importância alimentar, nutricional, medicinal e afetiva, revelaram a importância dos quintais como espaços contra-hegemônicos, mesmo dentro de propriedades mais convencionais. É na resistência dos quintais, muitas vezes escondidos na paisagem, que a etnicidade Puri se revelou com mais força nos agroecosssistemas de famílias agricultoras Puri. Palavras-chave: Etnogênese; Relação cultura-natureza; Agroecossistemas.The Puri indigenous people were considered extinct in the 19th century, but the 2010 Census recorded the self-declaration of 675 people and the ethnicity is considered in ethnogenesis. The process of ethnogenesis gives new meaning to what it means to be indigenous and points out new ways of being and identifying as Puri in the present. The Puri people gradually resurface and regain their identity despite the absences and non-existences created and recreated over two centuries of erasure. The Puri ethnicity in the Zona da Mata of Minas Gerais is being re- elaborated in different ways and mobilizes a multiplicity of subjects, including family farmers who identify themselves as Puri or descendants of Puri and their organizations. In the current agri-food systems of Puri farmers or Puri descendants, historical elements and cultural traits are found that affirm the condition of the Puri ethnic group today. Therefore, the objective of this research was to identify and analyze possible markers of Puri ethnicity in the process of designing and managing their agri-food systems. Specifically, the objective was to i) analyze Puri ethnogenesis, the emergence of this ethnicity and the markers that stand out in this context of identity reconstruction; ii ) identify and analyze the relationships established between Puri farmers, animals and plants from the forest or raised and cultivated for generations by their ancestors; iii ) understand how the spaces of the forest and the countryside, based on their elements, uses and meanings, contribute to the reconstruction of Puri ethnicity; iv ) analyze the ways of using and caring for agroecosystems and subagroecosystems of Puri family farmers; v) analyze and evaluate Puri agroecosystem soils from a scientific perspective and also the land, from the understanding of Puri farmers . The research was carried out mainly in the Serra do Brigadeiro (claimed as Serra dos Puri). The methodologies used promoted rich spaces for reflection and exchange between participants in visits, gatherings, meetings, walks, combined with interviews, questionnaires, ethnomapping, drone imaging, soil analysis and exchange. The data revealed that Puri ethnicity manifests itself in processes of mobilization, participation and popular organization, that its resistance is woven into daily life in a silent way, in dialogue and tension with environmental issues and in the process of reconquering the territory. Love and care for the land and the forest, patience, cooperation, search for consensus and community life seems to make up important markers in understanding ethnicity in the Serra dos Puri, as well as their own way of resisting, with zest and persistence. Interactions with animals, fungi and plants, their ancient and current food and craft uses suggest other cultural markers. Biocultural diversity can be considered a marker of Puri ethnicity in the peasant agri-food systems of Zona da Mata, which integrate the spaces of the countryside and the forest and suggest a Puri ontology related to the existence of an ecological and intangible continuum between the spaces of agriculture and forest. The analysis of uses and meanings of Puri agroecosystems revealed practices of solidarity, reciprocity and maintenance of a family and collective memory. These agroecosystems are also crossed by capitalist and hegemonic logics of agriculture, revealing that Puri agriculture is also permeated with contradictions. There are coffee plantations grown in monoculture and with pesticides and agroecological coffee plantations, where monoculture gives way to diversity, which promotes important benefits, such as biological control, pollenization, nutrient cycling and water quality. Analysis of internal and external flows in coffee plantations and home gardens revealed the coexistence of ecological exchanges with nature and economic exchanges with the market, in addition to reciprocal relationships, which influence soil quality. Participatory soil analyses indicated better quality soils in home gardens, while chemical analyses indicated better quality soils in coffee farms. It was noticed that good soil quality is not dependent on the use of external inputs and is enhanced by biodiversity, waste management and the complexity of internal flows of agroecosystems. The attentive care for the land in agroecosystems demonstrated an understanding of the land beyond the soil, substrate or physical base, as the land is a place to live, play, coexist and connect with family stories, affective memory and ancestry. At the same time as it is cared for, the earth cares, feeds and heals. The diversity in home gardens, their strong connection with the internal flows of agroecosystems, the small statistical variation in home garden soils and the food, nutritional, medicinal, and emotional importance, revealed the importance of home gardens as counter- hegemonic spaces, even within more conventional properties. It is in the resistance of home gardens, often hidden in the landscape, that Puri ethnicity revealed itself most strongly in the agroecosystems of Puri farming families. Keywords: Ethnogenesis; Culture-nature relationship; AgroecosystemsCoordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES)Universidade Federal de ViçosaSolos e Nutrição de PlantasCardoso, Irene Mariahttp://lattes.cnpq.br/3570198774831465Hillenkamp, IsabelleMendonça, Maria AliceFerrari, Clara Teixeira2024-09-13T16:54:37Z2024-04-16info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisapplication/pdfFERRARI, Clara Teixeira. Tlamum Ukuá: marcadores da etnicidade Puri em sistemas agroalimentares. 2024. 239 f. Tese (Doutorado em Solos e Nutrição de Plantas) - Universidade Federal de Viçosa, Viçosa. 2024.https://locus.ufv.br/handle/123456789/32859https://doi.org/10.47328/ufvbbt.2024.382porinfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:LOCUS Repositório Institucional da UFVinstname:Universidade Federal de Viçosa (UFV)instacron:UFV2024-09-14T06:03:37Zoai:locus.ufv.br:123456789/32859Repositório InstitucionalPUBhttps://www.locus.ufv.br/oai/requestfabiojreis@ufv.bropendoar:21452024-09-14T06:03:37LOCUS Repositório Institucional da UFV - Universidade Federal de Viçosa (UFV)false |
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Os indígenas Puri foram considerados extintos no século XIX, mas o Censo de 2010 registrou a autodeclaração de 675 pessoas e a etnia é considerada em etnogênese. O processo de etnogênese ressignifica o que é ser indígena e aponta novas formas de ser e assumir-se Puri no presente. O povo Puri aos poucos ressurge e retoma sua identidade apesar das ausências e não- existências criadas e recriadas ao longo de dois séculos de apagamento. A etnicidade Puri, na Zona da Mata de Minas Gerais, está sendo reelaborada de diversas maneiras e mobiliza uma multiplicidade de sujeitos, entre eles agricultores(as) familiares que se identificam como Puri ou descendentes de Puri e suas organizações. Nos atuais sistemas agroalimentares de agricultores(as) Puri ou descendentes Puri são encontrados elementos históricos e traços culturais que afirmam a condição da etnia Puri na atualidade. Assim, o objetivo desta pesquisa foi identificar e analisar possíveis marcadores da etnicidade Puri no processo de desenho e manejo dos seus sistemas agroalimentares. Especificamente objetivou-se i) analisar a etnogênese Puri, a emergência dessa etnicidade e os marcadores que sobressaem nesse contexto de reconstrução identitária; ii) identificar e analisar as relações estabelecidas entre agricultores e agricultoras Puri, animais e plantas da mata ou criados e cultivadas há gerações pelos seus ancestrais; iii) compreender como os espaços da mata e da roça, a partir de seus elementos, usos e significados, contribuem para a reconstrução da etnicidade Puri; iv) analisar as formas de uso e cuidados dos agroecossistemas e subagroecossistemas de agricultores e agricultoras familiares Puri; v) analisar e avaliar os solos de agroecossistemas Puri a partir da perspectiva científica e também a terra, a partir da compreensão dos(as) agricultores(as) Puri. A pesquisa foi realizada principalmente na Serra do Brigadeiro (reivindicada como Serra dos Puri). As metodologias utilizadas promoveram espaços ricos de reflexão e troca entre participantes em visitas, reuniões, encontros, caminhadas, combinados a entrevistas, questionários, etnomapeamentos, imageamento com uso de drone, análises de solos e intercâmbio. Os dados revelaram que a etnicidade Puri se manifesta em processos de mobilização, participação e organização popular, que sua resistência se tece no cotidiano de maneira silenciosa, em diálogo e tensão com a questão ambiental e no processo de reconquista do território. Amor e cuidado com a terra e a mata, paciência, cooperação, busca de consenso e vida em comunidade parecem compor marcadores importantes na compreensão da etnicidade na Serra dos Puri, assim como sua maneira própria de resistir, com ginga e persistência. Interações com animais, fungos e plantas, seus usos alimentares e artesanais, antigos e atuais, sugerem outros marcadores culturais. A diversidade biocultural pode ser considerada marcadora da etnicidade Puri nos sistemas agroalimentares camponeses da Zona da Mata, que integram os espaços da roça e da mata e sugerem uma ontologia Puri relacionada à existência de um continuum ecológico e imaterial entre os espaços da agricultura e da floresta. A análise de usos e significados de agroecossistemas Puri revelaram práticas de solidariedade, reciprocidade e manutenção de uma memória familiar e coletiva. Esses agroecossistemas são também atravessados por lógicas capitalista e hegemônicas da agricultura, revelando que a agricultura Puri também é permeada de contradições. Há cafezais cultivados em monocultura e com agrotóxicos e cafezais agroecológicos, onde a monocultura dá lugar à diversidade, que promove importantes benefícios, como o controle biológico, a polinização, a ciclagem de nutriente e a qualidade da água. As análises dos fluxos internos e externos nas lavouras de café e quintais revelaram a coexistência de trocas ecológicas, com a natureza, e econômicas, com o mercado, além de relações de reciprocidade, que influenciam na qualidade dos solos. Análises participativas do solo indicaram solos de melhor qualidade nos quintais, enquanto análises químicas indicaram solos de melhor qualidade nas lavouras de café. Percebeu-se que a boa qualidade dos solos não é dependente do uso de insumos externos e se potencializa com a biodiversidade, o manejo de resíduos e a complexidade de fluxos internos dos agroecosistemas. O cuidado, útxe, com a terra nos agroecossistemas demonstrou uma compreensão de terra para além do solo, substrato ou base física, pois a terra é lugar de morar, brincar, conviver e se conectar às histórias familiares, à memoria afetiva e à ancestralidade. Ao mesmo tempo em que é cuidada, a terra cuida, alimenta e cura. A diversidade nos quintais, sua forte conexão com os fluxos internos dos agroecossistemas, a pequena variação estatística nos solos dos quintais e a importância alimentar, nutricional, medicinal e afetiva, revelaram a importância dos quintais como espaços contra-hegemônicos, mesmo dentro de propriedades mais convencionais. É na resistência dos quintais, muitas vezes escondidos na paisagem, que a etnicidade Puri se revelou com mais força nos agroecosssistemas de famílias agricultoras Puri. Palavras-chave: Etnogênese; Relação cultura-natureza; Agroecossistemas. |
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