Antropologia contemporânea, sociedades complexas e outras questões
Autor(a) principal: | |
---|---|
Data de Publicação: | 2018 |
Tipo de documento: | Artigo |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Anuário Antropológico (Online) |
Texto Completo: | https://periodicos.unb.br/index.php/anuarioantropologico/article/view/6554 |
Resumo: | Que antropólogo poderia levar realmente a sério uma suposta "antropologia das sociedades primitivas" (ou "simples”, ou como se quiser denominá- las)? Sabe-se que as primeiras críticas ao emprego dessas categorias remontam ao final do século passado, com as obras de Boas e Durkheim, constituindo hoje um dos poucos aspectos quase consensuais da disciplina. Parece, contudo, que falar em sociedades "complexas" ou "modernas” não levanta tantos problemas, o que é evidentemente um contra-senso, se admitirmos a impossibilidade ou a inadequação do uso de termos como "simples" ou "primitivo". Essa ausência de problematização só pode derivar na verdade do fato de tendermos a esquecer como a própria noção de "sociedade primitiva" foi construída. Como demonstrou Adam Kuper num trabalho fascinante, a elaboração de uma imagem das sociedades ditas primitivas, bem como das "tradicionais", cumpriu a função política e intelectual de permitir o desenvolvimento de imagens da "sociedade moderna", "complexa", de nossa própria cultura enfim (Kuper 1988). A análise de Kuper permite igualmente uma melhor compreensão de alguns problemas mais específicos que parecem comprometer os estudos antropológicos das sociedades complexas. Se a noção de sociedade primitiva foi constituída, implícita ou inconscientemente, como projeção invertida da nossa, e se a função latente dessa projeção foi a de objetivar ou ratificar uma certa imagem de nós mesmos, isso significa que, para os primeiros antropólogos, a contribuição da antropologia para a análise das sociedades complexas deveria ser apenas parcial e indireta. |
id |
UNB-23_8d6276d266034f645d2e2df81663a1fe |
---|---|
oai_identifier_str |
oai:ojs.pkp.sfu.ca:article/6554 |
network_acronym_str |
UNB-23 |
network_name_str |
Anuário Antropológico (Online) |
repository_id_str |
|
spelling |
Antropologia contemporânea, sociedades complexas e outras questõesAntropologiaQue antropólogo poderia levar realmente a sério uma suposta "antropologia das sociedades primitivas" (ou "simples”, ou como se quiser denominá- las)? Sabe-se que as primeiras críticas ao emprego dessas categorias remontam ao final do século passado, com as obras de Boas e Durkheim, constituindo hoje um dos poucos aspectos quase consensuais da disciplina. Parece, contudo, que falar em sociedades "complexas" ou "modernas” não levanta tantos problemas, o que é evidentemente um contra-senso, se admitirmos a impossibilidade ou a inadequação do uso de termos como "simples" ou "primitivo". Essa ausência de problematização só pode derivar na verdade do fato de tendermos a esquecer como a própria noção de "sociedade primitiva" foi construída. Como demonstrou Adam Kuper num trabalho fascinante, a elaboração de uma imagem das sociedades ditas primitivas, bem como das "tradicionais", cumpriu a função política e intelectual de permitir o desenvolvimento de imagens da "sociedade moderna", "complexa", de nossa própria cultura enfim (Kuper 1988). A análise de Kuper permite igualmente uma melhor compreensão de alguns problemas mais específicos que parecem comprometer os estudos antropológicos das sociedades complexas. Se a noção de sociedade primitiva foi constituída, implícita ou inconscientemente, como projeção invertida da nossa, e se a função latente dessa projeção foi a de objetivar ou ratificar uma certa imagem de nós mesmos, isso significa que, para os primeiros antropólogos, a contribuição da antropologia para a análise das sociedades complexas deveria ser apenas parcial e indireta.Brasília DF: Universidade de Brasília Instituto de Ciências Sociais Departamento de Antropologia2018-02-02info:eu-repo/semantics/articleinfo:eu-repo/semantics/publishedVersionapplication/pdfhttps://periodicos.unb.br/index.php/anuarioantropologico/article/view/6554Anuário Antropológico; Vol. 18 No. 1 (1994): Anuário Antropológico; 113-153Anuário Antropológico; Vol. 18 Núm. 1 (1994): Anuário Antropológico; 113-153Anuário Antropológico; Vol. 18 No. 1 (1994): Anuário Antropológico; 113-153Anuário Antropológico; v. 18 n. 1 (1994): Anuário Antropológico; 113-1532357-738X0102-4302reponame:Anuário Antropológico (Online)instname:Universidade de Brasília (UnB)instacron:UNBporhttps://periodicos.unb.br/index.php/anuarioantropologico/article/view/6554/7561Copyright (c) 1994 Anuário Antropológicohttps://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0info:eu-repo/semantics/openAccessGoldman, Marcio2023-06-14T17:49:50Zoai:ojs.pkp.sfu.ca:article/6554Revistahttps://journals.openedition.org/aa/PUBhttps://periodicos.unb.br/index.php/anuarioantropologico/oairevista.anuario.antropologico@gmail.com || Revista.anuario.antropologico@gmail.com2357-738X0102-4302opendoar:2023-06-14T17:49:50Anuário Antropológico (Online) - Universidade de Brasília (UnB)false |
dc.title.none.fl_str_mv |
Antropologia contemporânea, sociedades complexas e outras questões |
title |
Antropologia contemporânea, sociedades complexas e outras questões |
spellingShingle |
Antropologia contemporânea, sociedades complexas e outras questões Goldman, Marcio Antropologia |
title_short |
Antropologia contemporânea, sociedades complexas e outras questões |
title_full |
Antropologia contemporânea, sociedades complexas e outras questões |
title_fullStr |
Antropologia contemporânea, sociedades complexas e outras questões |
title_full_unstemmed |
Antropologia contemporânea, sociedades complexas e outras questões |
title_sort |
Antropologia contemporânea, sociedades complexas e outras questões |
author |
Goldman, Marcio |
author_facet |
Goldman, Marcio |
author_role |
author |
dc.contributor.author.fl_str_mv |
Goldman, Marcio |
dc.subject.por.fl_str_mv |
Antropologia |
topic |
Antropologia |
description |
Que antropólogo poderia levar realmente a sério uma suposta "antropologia das sociedades primitivas" (ou "simples”, ou como se quiser denominá- las)? Sabe-se que as primeiras críticas ao emprego dessas categorias remontam ao final do século passado, com as obras de Boas e Durkheim, constituindo hoje um dos poucos aspectos quase consensuais da disciplina. Parece, contudo, que falar em sociedades "complexas" ou "modernas” não levanta tantos problemas, o que é evidentemente um contra-senso, se admitirmos a impossibilidade ou a inadequação do uso de termos como "simples" ou "primitivo". Essa ausência de problematização só pode derivar na verdade do fato de tendermos a esquecer como a própria noção de "sociedade primitiva" foi construída. Como demonstrou Adam Kuper num trabalho fascinante, a elaboração de uma imagem das sociedades ditas primitivas, bem como das "tradicionais", cumpriu a função política e intelectual de permitir o desenvolvimento de imagens da "sociedade moderna", "complexa", de nossa própria cultura enfim (Kuper 1988). A análise de Kuper permite igualmente uma melhor compreensão de alguns problemas mais específicos que parecem comprometer os estudos antropológicos das sociedades complexas. Se a noção de sociedade primitiva foi constituída, implícita ou inconscientemente, como projeção invertida da nossa, e se a função latente dessa projeção foi a de objetivar ou ratificar uma certa imagem de nós mesmos, isso significa que, para os primeiros antropólogos, a contribuição da antropologia para a análise das sociedades complexas deveria ser apenas parcial e indireta. |
publishDate |
2018 |
dc.date.none.fl_str_mv |
2018-02-02 |
dc.type.driver.fl_str_mv |
info:eu-repo/semantics/article info:eu-repo/semantics/publishedVersion |
format |
article |
status_str |
publishedVersion |
dc.identifier.uri.fl_str_mv |
https://periodicos.unb.br/index.php/anuarioantropologico/article/view/6554 |
url |
https://periodicos.unb.br/index.php/anuarioantropologico/article/view/6554 |
dc.language.iso.fl_str_mv |
por |
language |
por |
dc.relation.none.fl_str_mv |
https://periodicos.unb.br/index.php/anuarioantropologico/article/view/6554/7561 |
dc.rights.driver.fl_str_mv |
Copyright (c) 1994 Anuário Antropológico https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0 info:eu-repo/semantics/openAccess |
rights_invalid_str_mv |
Copyright (c) 1994 Anuário Antropológico https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0 |
eu_rights_str_mv |
openAccess |
dc.format.none.fl_str_mv |
application/pdf |
dc.publisher.none.fl_str_mv |
Brasília DF: Universidade de Brasília Instituto de Ciências Sociais Departamento de Antropologia |
publisher.none.fl_str_mv |
Brasília DF: Universidade de Brasília Instituto de Ciências Sociais Departamento de Antropologia |
dc.source.none.fl_str_mv |
Anuário Antropológico; Vol. 18 No. 1 (1994): Anuário Antropológico; 113-153 Anuário Antropológico; Vol. 18 Núm. 1 (1994): Anuário Antropológico; 113-153 Anuário Antropológico; Vol. 18 No. 1 (1994): Anuário Antropológico; 113-153 Anuário Antropológico; v. 18 n. 1 (1994): Anuário Antropológico; 113-153 2357-738X 0102-4302 reponame:Anuário Antropológico (Online) instname:Universidade de Brasília (UnB) instacron:UNB |
instname_str |
Universidade de Brasília (UnB) |
instacron_str |
UNB |
institution |
UNB |
reponame_str |
Anuário Antropológico (Online) |
collection |
Anuário Antropológico (Online) |
repository.name.fl_str_mv |
Anuário Antropológico (Online) - Universidade de Brasília (UnB) |
repository.mail.fl_str_mv |
revista.anuario.antropologico@gmail.com || Revista.anuario.antropologico@gmail.com |
_version_ |
1797225472505937920 |