"Eu acho que você vai criando uma couraça" : abordagem psicodinâmica do sofrimento no trabalho e das defesas entre policiais civis de uma unidade da Polícia Civil no Brasil
Autor(a) principal: | |
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Data de Publicação: | 2011 |
Tipo de documento: | Tese |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Repositório Institucional da UnB |
Texto Completo: | http://repositorio.unb.br/handle/10482/10312 |
Resumo: | Tese (doutorado)—Universidade de Brasília, Instituto de Psicologia, Departamento de Psicologia do Trabalho, 2011. |
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"Eu acho que você vai criando uma couraça" : abordagem psicodinâmica do sofrimento no trabalho e das defesas entre policiais civis de uma unidade da Polícia Civil no BrasilPsicologia organizacionalPoliciais civisCrianças e violênciaTese (doutorado)—Universidade de Brasília, Instituto de Psicologia, Departamento de Psicologia do Trabalho, 2011.A violência, tanto física quanto psicológica, contra crianças e adolescentes é caracterizada pelo poder do mais forte sobre o mais fraco. Na maioria das vezes, é cometida por pessoas muito próximas das vítimas, ou por pessoas da própria família. Por se passar no âmbito familiar, muitas vezes esse tipo de violência pode não ser denunciado. As denúncias desse crime, no Brasil, podem ser feitas por meio de instituições da chamada rede de proteção, dentre elas os Conselhos Tutelares, os hospitais, as escolas, as delegacias de proteção à criança e ao adolescente e as delegacias, de maneira geral. No caso de a denúncia transitar, de alguma forma, pela instituição policial, caberá ao agente policial tomar as providências no que diz respeito à investigação, inclusive o atendimento à vítima. Esse trabalhador e essa trabalhadora são o objeto de estudo desta tese, cujo objetivo geral é verificar se um grupo de policiais da Polícia Civil, que investiga ocorrências nas quais crianças e adolescentes são vítimas de violência, estaria usando estratégias de defesa psíquicas para executar o seu trabalho. Trata-se de um estudo de caso, com abordagem qualitativa, cujo método de pesquisa está apoiado nos princípios da Psicodinâmica do Trabalho que é a análise dos processos psíquicos mobilizados pelo encontro entre o sujeito e as imposições geradas pelos processos de trabalho. Para a construção dos dados, foram constituídos dois grupos de 10 policiais cada, sendo homens e mulheres. Pelas sessões realizadas, e a partir dos movimentos temáticos recorrentes no grupo, delimitaram-se alguns dos fatores implícitos no processo de adoecimento desses e dessas policiais, como falta de reconhecimento, do próprio policial, da importância do seu trabalho; não reconhecimento, pela chefia, do real do trabalho; sensação de impotência diante da gravidade dos casos investigados e dos casos que não conseguem investigar; dificuldades nos relacionamentos entre os pares, decorrente das pressões no ambiente de trabalho; perseveração do trabalho na vida pessoal; pressões para aceleração no ritmo de trabalho com exigências por número de casos atendidos; feminização do trabalho; cobranças pelo cumprimento de prazos; e ameaças de mudança de seção dentro da unidade, e de transferência para outras unidades. A tese defendida é de que o trabalho desses e dessas policiais é pouco valorizado dentro da própria instituição, por não ser o "verdadeiro trabalho policial", que repousa em um "ethos guerreiro", um ofício viril, mas um trabalho feminizado. A abordagem teórica e metodológica da Psicodinâmica do Trabalho permitiu que se tivesse acesso a algumas estratégias de defesa psíquicas utilizadas por esses e essas policiais para executarem o seu trabalho. Ter acesso a algumas estratégias coletivas, como negação, sublimação e formação reativa (banalização e eufemização) possibilitou a interpretação do sofrimento vivenciado por esses e essas profissionais ao desempenhar uma atividade não valorizada socialmente por ser um trabalho feminizado e pela sensação de impotência, ao sentirem-se incapazes de proteger todas as crianças e adolescentes dos abusadores, já que "eles estão por toda parte". Observou-se que esses trabalhadores e essas trabalhadoras não percebem o sentido do trabalho que executam, e não têm total conhecimento quanto à sua atuação, o que impacta na insatisfação em desempenhá-la. Algumas estratégias de defesa parecem já estar fracassando, gerando um sofrimento patogênico no grupo e desencadeando algumas doenças que poderão, dentro de algum tempo, impossibilitar o desempenho de vários desses policiais no trabalho. ______________________________________________________________________________ ABSTRACTThe main of this thesis was to verify the psychic defense mechanisms that (civil) policemen and women would be using while working with children and teenagers. Assuming that the access to dynamics of acknowledgment at work can happen in unequal way for men and women, we examined if these policemen/policewomen have developed differentiated strategies to deal with suffering. Policemen/women who investigate occurrences in which children and teenagers are victims of violence are the object of study of this thesis. This research is a case study with a qualitative approach, whose theoretical perspective method of research are supported by the principles of Psychodynamics of Work, especially the analysis of psychic processes mobilized by the encounter of the subject and the impositions generated by the working processes. For collecting data, two groups were formed with ten police officers, either men or women as described in the object. The advocated thesis is that the work of these policemen/policewomen is undervalued inside the institution and even by themselves for it is not "the real work of police officers", which lies on a "warrior ethos," a virile labor, but in a feminized occupation of care and protection in which the abuser can be considered "a sick person". The psychological, physical and sexual violence against children and teenagers is mostly committed by people very close to the victims or even by their own relatives. Because it happens in the family sphere, this type of violence may be not exposed and even hidden. These kinds of indictments in Brazil can be done through some institutions from the called safety net, such as the Child Protection Councils, hospitals, schools, offices for children and teenagers protection, and all police stations in general. If the complaint transits somehow in the police institution, it will be responsibility of the police agent to take the measures concerning the investigation, including the assistance to the victim, acting as a "psychologist" or "social assistant". From the analysis of the groups, it was inferred that these workers do not realize the meaning of the labor they execute by themselves. Moreover, since they do not have a full knowledge about their activities, they feel unsatisfied to carry it out. The theoretical and methodological approach of the Psychodynamics of Work allows us to access some psychic defense strategies used by these policemen/policewomen when performing their works. It comes to some strategies, for example: denial, sublimation and reactive formation (trivialization and euphemization), which made possible the interpretation of the suffering experienced by these professionals while performing an unvalued social activity, for it was a feminized work and because of the feeling of disability, when they feel inept to protect every child and teenager from their abusers, since "they (the abusers) are everywhere." Men and women seem to use different reaction formations. Since women have a direct contact with the victims, they may have to develop an "artificial femininity," which is, in turn, a defense subordinated to the virility reference, therefore, a male characteristic, which can be harmful to these women. For men, on the other hand, the work at this unit seems to be particularly prejudicial to their manly defenses and more significantly to their positions in society. By the sessions made and by the thematic movements recurrent in the group, some implicit factors of the process of illness of these police officers were bounded. These delimited factors led to the conclusion that some defense strategies used by this group of officers seem to be already failing, promoting a pathogenic suffering in the group and initiates some illness that may at a certain point turn into an unbearable work to be performed by several of these police officers. ______________________________________________________________________________ RÉSUMÉCette thèse vise à étudier les stratégies de défense psychologiques que les policiers et les policières utiliseraint dans leur travail avec les enfants et les adolescents. En supposant que 1'accès à la dynamique de la reconnaissance au travail peut arriver inégalement pour les hommes et pour les femmes, nous avons cherché aussi à vérifier si ces hommes et ces femmes de la police développent des stratégies différent face à la souffrance. Le policier et la policière que enquêtent sur les cas dans lesquels les enfants et les adolescents sont victimes de la violence sont l'objet de l'etude de cette these. II s'agit d'une etude de cas avec une approche qualitative, dont le point de vue théorique et les méthodes de recherche sont pris en charge sur les príncipes de la Psychodinamique du Travail, qui est 1'analyse des processus psychiques mobilises par la rencontre entre le sujet et les exigences générées par les processus de travail. Pour le collecte des donnés, on a crée deux groupes avec dix personnnes, hommes et femmes de la police civile, tel que décrit dans l'objet. La these soutennu c'est que le travail de ces agents ne sont pas valorises au sein de l'instituition, et même pour eux-mêmes, parce que ne c'est pas « vraiment le travail de la police » qui repose sur un « ethos guerrier », une travail viril, mais il s'agit d'une travail feminesée, de soin et de la protection, et les abus sexuels contre les enfants et les adolescents sont le plus souvent commis par des personnes três proches des victimes ou des personnes de sa famille. Parce que elle se passe dans la famille, cette violence ne peut pas être dénoncé et peut être même couvert. Les plaintes de crimes au Brésil peuvent entrer par certaines instituitions appelés filet de sécurité, par des Conseils Communitaires, les hôpitaux, les écoles, les postes de police de protection des enfants et des adolescents et tous les postes de police, afin general. Si Ia plainte passe par la police, le policier et Ia policière devront faire 1'ênquete et dormer 1'assistance à Ia victime. Sur cette manière de travailler les policier et Ia policière agissent comme « psychologue » ou « assistante social». II semble que ces travailleurs et ces travailleuses ne se rendent pas compte du sens du travail qu'ils et elíes effectuent. En outre, si ils et elles n'ont pas connaissance de leurs activités, ils se sentent insatisfaits de l'exécuter. L'approche théorique et méthodologique de la Psychodinamique du Travail a permis connaitre certaines strategies de defense psychique utilises par ces policiers et ces policières pour realiser leur travail. On a connu quelques strategies défensives : le déni, la formation réactionel et la sublimation (l'eufemization et la banalisation), ce qui a permis I'interpretation de la souffrance endurées par ces professionels de réaliser une activité peut valorisé socialement parce que le travail est feminisé, et le sentiment d'impuissance, de se sentir incapable de proteger tous les enfants et les adolescents contre les agresseurs, car «il (les abuseurs) sont partout». Hommes et femmes semblent utiliser formations réactionelles différentes : comme les femmes ont un contact direct avec les victimes, elles doivent dévelepper une « feminité artificialle », qui est soumis à une defense de reference de la virilité, une reference masculine, qui peut être préjudiciable à ces femmes. Autrement, pour les hommes, travailler dans cette unite semble être nocifs, notamment pour leurs defense viriles et plus significatife à leurs positions dans la societé. Pour les séances et à partir des mouvements récurrents dans le groupe, on peut delimiter certains des facteurs implicite dans le processus de la maladie des ces policiers et ces policières, conduisant à la conclusion que certaines strategies de defense utilise par ce groupe de policiers semblent déjà défaillante, causant des souffrance pathogènes et déclenchant certaines maladies qui peuvent, à un moment donné, empêcher ces travailleres de faire son travail.Instituto de Psicologia (IP)Departamento de Psicologia Social e do Trabalho (IP PST)Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social, do Trabalho e das OrganizaçõesGalinkin, Ana LúciaAnchieta, Vânia Cristine Cavalcante2012-04-23T20:35:01Z2012-04-23T20:35:01Z2012-04-232011-10-03info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisapplication/pdfANCHIETA, Vânia Cristine Cavalcante. "Eu acho que você vai criando uma couraça" : abordagem psicodinâmica do sofrimento no trabalho e das defesas entre policiais civis de uma unidade da Polícia Civil no Brasil. 2011. xvii, 241 f. Tese (Doutorado em Psicologia Social, do Trabalho e das Organizações)—Universidade de Brasília, Brasília, 2011.http://repositorio.unb.br/handle/10482/10312info:eu-repo/semantics/openAccessporreponame:Repositório Institucional da UnBinstname:Universidade de Brasília (UnB)instacron:UNB2024-03-13T14:46:34Zoai:repositorio.unb.br:10482/10312Repositório InstitucionalPUBhttps://repositorio.unb.br/oai/requestrepositorio@unb.bropendoar:2024-03-13T14:46:34Repositório Institucional da UnB - Universidade de Brasília (UnB)false |
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