Seminário Virtual Perspectivas Críticas sobre o Trabalho no Turismo (3. : 2022 : Brasília)

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Paula, Angela Teberga de (coord.)
Data de Publicação: 2023
Outros Autores: Melo, Thiago Sebastiano de (coord.)
Tipo de documento: Artigo de conferência
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional da UnB
Texto Completo: http://repositorio2.unb.br/jspui/handle/10482/45989
Resumo: Prefácio - O tema deste 3º Seminário “Perspectivas Críticas sobre o Trabalho no Turismo”, realizado virtualmente, é “O futuro do trabalho no turismo”. Nesta edição, procuramos refletir sobre as tendências do futuro do trabalho no turismo, tendo em vista os avanços tecnológicos da indústria 4.0 e o contexto de desregulamentação das relações de trabalho. Ainda que seja impossível determinar com certeza como será o futuro do mundo da hospitalidade e do turismo, com a incorporação de tecnologia e processos de automação em atividades que, até poucos anos atrás, pareciam impossíveis de serem realizadas por máquinas, os serviços de atendimento e comunicação com os clientes têm sido progressivamente automatizados, por exemplo, reduzindo o quadro de trabalhadores e exigindo novas habilidades e conhecimentos daqueles que continuam trabalhando. O que podemos ter certeza é que o capital seguirá implacável em seu movimento para intensificar o trabalho dos trabalhadores. A tecnologia não serve aos trabalhadores, apesar de ter potencial para isso, mas ao capital, desenvolvida e empregada para reduzir custos e aumentar a extração de mais-valia. A intensificação das jornadas de trabalho são, historicamente, resultado direto da tensão entre classe burguesa e trabalhadora. O emprego da tecnologia, infelizmente, é voltado para aumentar a exploração, invadir o tempo de não trabalho e até promover a vigilância e controle dos trabalhadores. A única forma de resistir reside na organização dos(as) trabalhadores(as) do turismo e do fortalecimento das categorias profissionais que compõem esse grupo heterogêneo de trabalhadores e trabalhadoras. É também no âmbito dessa organização que reside a importância de se pautar este e outros assuntos no ensino universitário e nos eventos acadêmicos de turismo, sem nos deixarmos iludir pelas armadilhas do mercado. O texto que abre estes Anais é de autoria de Lourival José de Oliveira, uma síntese de sua apresentação na Mesa Redonda Legislação flexível, contrato de trabalho flexível: será o fim do emprego no turismo?, intitulada “A desvalorização do trabalho humano no século XXI e o descumprimento aos princípios constitucionais no Brasil”. A partir de uma abordagem jurídica, o autor questiona o significado da expressão trabalho livre em sua dimensão constitucional, compreendida como aquele trabalho que, contrariando a lógica do mercado, é suficiente para prover o trabalhador do necessário para sua sobrevivência, assim como uma vida mais ampla, com valorização efetiva da pessoa humana. Para tanto, Oliveira vale-se da crítica à lógica da produção, e a necessidade de se criar mecanismos de intervenções nas relações de trabalho que sejam capazes de restabelecer a dignidade no trabalho. Esta crítica está incorporada aos princípios constitucionais, na medida em que o desenvolvimento econômico só se justifica a partir da valorização do trabalho humano. Em seguida, o texto “Da cana de açúcar ao turismo: desenvolvimento desigual e combinado na política econômica de Maragogi/AL”, de autoria de Artemísia dos Santos Soares e Fabiano Duarte Machado, reflete sobre as forças político-econômicas e as contradições estruturais que sustentam o crescimento da atividade turística no município de Maragogi, no estado de Alagoas, traçando um panorama histórico do processo de reprodução da opressão a partir da divisão territorial do trabalho na cultura canavieira. A análise é realizada à luz da teoria do desenvolvimento desigual e combinado do capitalismo, a qual defende a ideia de que há territórios nos quais um setor extremamente moderno da economia pode existir concomitantemente a um mais atrasado, resultando numa formação social sem grandes contradições entre as classes dominantes, incluindo-se aí o turismo e seus reflexos. Felipe Zaltron de Sá, Carlos Eduardo Haas Hammes, Geovana Bacim e Alan Minzon Wilson assinam os dois textos seguintes, “Trabalho Estranhado, Estranho Familiar e Estranhamento: Como explorar estes conceitos para o Turismo” e “Existe inovação no trabalho estranhado do Turismo?”. O primeiro, em tom de ensaio, explora o binômio turismo e estranhamento. Os autores tomam três conceitos como pontos de partida: trabalho estranhado (de Marx), a ideia de estranho familiar (conceitos de Freud e Jung de Campos) e estranhamento (Gastal & Moesch). No segundo, os autores adotam perspectiva marxista para indagar a relação entre inovação e trabalho estranhado. A ideia de inovação vem da análise do Plano Nacional de Turismo 2018/2022, numa abordagem, segundo os autores, que silencia e apaga o trabalhador, pois responde às necessidades e exigências do capital. “Da Coleta do Pau-rosa (Aniba roseadora) ao uso da ictiofauna para o turismo: novas formas de exploração da natureza, velhas práticas e relações de trabalho” é a contribuição de Mayra Laborda Santos e Elenise Faria Scherer. Neste texto, as autoras trazem o histórico das dinâmicas de trabalho em torno dos recursos naturais na Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Uatumã/Amazonas que antecederam e/ou coexistem com o turismo de pesca que atualmente se realiza na região, numa dinâmica permeada por vários conflitos, tanto entre os trabalhadores da Reserva quanto entre estes e os agentes externos do turismo, como os proprietários de barco-hotéis. O texto “Tem que tirar o black”: mulheres negras e os violentos processos de seleção de emprego na aviação brasileira”, de autoria de Natália Araújo de Oliveira, Cassiana Panissa Gabrielli, Gabriela Nicolau Santos e Laiara Borges Amorim analisa o racismo a partir da perspectiva interseccional nos processos seletivos das mulheres negras tripulantes da aviação comercial brasileira. O foco da análise reside no cabelo dessas mulheres, que possui também um caráter simbólico, e confronta diretamente um determinado “perfil profissional” cujas características estão pautadas na branquitude. Em “Turismo: privilégio, prazer, repouso e servidão nas páginas da Vida Doméstica: Revista do Lar e da Mulher (1920 - 1930)”, que encerra essa publicação, os autores trazem uma perspectiva histórica ao analisarem o tratamento do turismo na revista “Vida Doméstica: Revista do Lar e da Mulher”, uma publicação carioca que, evidentemente, tinha como público alvo as mulheres, entre 1920 e 1930. Os autores encontraram uma campanha de valorização do turismo nacional nas páginas da revista, assim como temas relacionados às questões de gênero, classe social, trabalhadores e trabalhadoras do turismo. Pode-se dizer que, a partir dos textos apresentados pelos autores e autoras que integram esses Anais, o futuro do trabalho no turismo infelizmente não parece muito promissor. Uma abordagem historicizada dos temas revela muitos nexos de permanência entre o passado e o presente, que terão desdobramentos no futuro. Os textos apontam para estruturas de dominação e exploração, tanto simbólicas quanto materiais, tanto cotidianas quanto históricas, que passam por mudanças e transformações ao longo do tempo, que se adaptam a novas situações, que utilizam outras linguagens e instrumentos, mas que seguem firmes contribuindo com as forças do capital. Artemísia dos Santos Soares - Docente IFAL Maragogi; Bianca Briguglio - Socióloga/UNICAMP
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