Uma investigação sobre os princípios da moral

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Smith, Plínio Junqueira
Data de Publicação: 1997
Tipo de documento: Artigo
Idioma: por
Título da fonte: Manuscrito (Online)
Texto Completo: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/manuscrito/article/view/8665452
Resumo: Em 1995, foi traduzida para o português, por José Oscar de Almeida Marques, a obra que Hume julgou como a mais bem escrita por ele, Uma Investigação sobre os Princípios da Moral. A tradução de uma obra clássica e importante é sempre elogiável, sobretudo tendo-se em conta as poucas traduções de que dispomos; neste caso, a tradução é ainda mais bem vinda, porque feita por um filósofo. Como é bem sabido, Hume é um pensador decisivo na história da filosofia, cuja atualidade é inquestionável. Curiosamente, foi a sua “lógica” que chamou mais a atenção dos filósofos e que continua a servir de referência para muitas de nossas reflexões; sua filosofia moral, na qual ele estava pessoalmente mais interessado, foi bem menos estudada e causou menos repercussão. A tradução dessa obra prima permite-nos reavaliar a profundidade de reflexão humeana sobre a moral. Antes, entretanto, de comentar a tradução, talvez caiba fazer alguns comentários genéricos sobre Hume. A importância da reflexão de Hume sobre a moral pode ser percebida de várias perspectivas. Uma delas é papel que as preocupações de Hume com a moral desempenharam no seu desenvolvimento intelectual. Kemp Smith argumentou longamente que a “lógica” deveria ser compreendida a partir da inversão que Hume propunha dos papéis da razão e do sentimento na esfera moral. Tradicionalmente, concebia-se o juízo moral como determinado pela razão; Hume, no entanto, teria percebido  que a razão é incapaz de determinar por ela mesma qualquer juízo moral; seu papel seria somente o de descobrir qual o melhor meio de se atingir um fim, mas jamais poderia preferir um em fim em detrimento de outro; a preferência de um fim ou a aprovação de uma ação dependeria sempre de um sentimento moral. Aqui, segundo Kemp Smith, Hume estava seguindo de perto as pegadas de Francis Hutcheson, professor de filosofia moral na Universidade de Glasgow, com quem Hume manteve discussões filosóficas e trocou correspondência. Uma vez compreendida a subordinação em que a razão se encontra face aos sentimentos morais, se poderia compreender as inovações de Hume na sua “logica”, pois essa inversão também foi proposta nessa parte de sua filosofia. A razão, se deixada sozinha, acabaria por se autodestruir e nenhuma certeza restaria; não fosse a força inabalável de nossas crenças naturais. Hume estendeu, para além do campo da moral, a ideia de que a razão é e deve ser escrava das paixões.  
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