Meu corpo, minha moda: uma análise de discurso sobre o corpo dito desviante em revistas especializadas de moda

• Autor(a) principal: Carvalho, Pâmela Tavares de
• Data de Publicação: 2019
• Tipo de documento: Dissertação
• Idioma: por
• Título da fonte: Repositório Institucional da Universidade Cruzeiro do Sul
• Texto Completo: https://repositorio.cruzeirodosul.edu.br/handle/123456789/444
• topic: CNPQ::LINGUISTICA, LETRAS E ARTES; Discurso; Moda; Corpo; Memória; Dispositivo

No seio de uma sociedade voltada para o consumo e o espetáculo, o desejo de modelar uma aparência corporal legítima revela valores e passa a promover configurações de subjetividades e da própria sociedade: roupas e adornos se revestem de dimensões simbólicas e emocionais que habitam os corpos. Considerando as relações permeadas pelas imagens e consumos realizados em torno dos produtos de moda (materiais e imateriais), é necessário repensar a produção discursiva da moda e seus sentidos que penetram a cultura do corpo, a fim de reconhecer as práticas que regem a vida pós-moderna, marcada pela valorização do indivíduo juto ao seu corpo, aliada a uma noção de poder – saber, a partir da identificação da (des)construção de tais práticas. O discurso da moda estabelece uma série de possibilidades de ser e estar que, no conjunto de suas manifestações, apresenta uma organização própria enquanto linguagem que se relaciona diretamente com o imaginário corpóreo. O corpo é, portanto, o suporte ideal que orienta o discurso fashion. Desse modo, vislumbrando uma comunhão entre discurso, corpo e moda, vista esta última como acontecimento discursivo, como uma construção histórica e cultural sobre a qual se articulam diferentes saberes, objetiva-se, com a pesquisa, problematizar a moda como um dispositivo que autoriza dizibilidades e visibilidades sobre o corpo feminino desviante, ou seja, o gordo, o deficiente e o transexual. Para tanto, as práticas de interpretação, embasadas no interior do arcabouço teórico da Análise de Discurso de orientação francesa e dos postulados propostos por Michel Foucault e Jean Jacques Courtine, orientarão os caminhos desta pesquisa. Do imenso arquivo da moda sobre o corpo, a partir das reflexões teóricas, analisar-se-á um corpus constituído por discursos extraídos das chamadas revistas de moda, icônicas e populares, como a Vogue Brasil e Vogue Paris, a Glamour, a Moda Moldes e Marie Claire, nas quais é possível observar, por meio de movimentos estratégicos do dispositivo da moda, a irrupção de espaços de vizibilidades e dizibilidades que fazem circular por entre eles, com a construção de um efeito de democracia e pertencimento, corpos diferentes daquele cristalizado na sociedade como passível de voz na moda. Assim, é possível que os corpos ditos desviantes, deficientes, transexuais e gordos, circulem no espaço de moda, desde que respondam a um conjunto de regras, regras estas que circunscrevem corpos transexuais e deficientes magros e com contornos longilíneos e este último aprimorado pela tecnologia protética, e o gordo desde que valorize, ou melhor, corrija seu corpo por meio de saberes instituídos pela moda.