Legítima e liberdade testamentária no direito civil contemporâneo: entre a autonomia e a solidariedade

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Souza, Vanessa Ribeiro Corrêa Sampaio
Data de Publicação: 2021
Outros Autores: Júnior, Vitor de Azevedo Almeida
Tipo de documento: Artigo
Idioma: por
Título da fonte: Pensar (Fortaleza. Online)
Texto Completo: https://ojs.unifor.br/rpen/article/view/11484
Resumo: De acordo com as normas civis brasileiras a respeito da transmissão da propriedade post mortem, é possível identificar persistente primazia da proteção familiar na sucessão legítima e testamentária, neste último caso manifestada pela reserva de metade do patrimônio aos herdeiros necessários. Essa opção reflete os valores que informaram a família dos séculos XVIII e XIX, que zelava por seu fortalecimento mediante um sistema estratégico de concentração de riquezas, cujas bases eram: o enfeixamento de prerrogativas na pessoa do chefe da família, as relações negociais baseadas no parentesco (casamentos endogâmicos ou com sócios comerciais), e na sucessão-parentesco. Na contemporaneidade, em que pese a renovação axiológica promovida pela Constituição, o que ainda persiste no direito das sucessões brasileiro é uma forte restrição à autonomia testamentária do titular dos bens, eis que reservar patrimônio para a família, sem qualquer restrição razoável, concretiza uma postura paternalista, de todo insustentável à luz das novas concepções de família e propriedade. Uma adequada interpretação sistemática de princípios, que reúna o balanceamento entre autonomia, emancipação pessoal e solidariedade, induz à manutenção da legítima em benefício tão só de possíveis herdeiros vulneráveis (crianças, adolescentes ou pessoas com deficiência) que não consigam, por trabalho próprio, suprir suas necessidades de subsistência. Sua conservação integral, sem uma análise valorativa mais profunda, preserva a proteção da “família” como entidade abstrata, bem ao gosto do tempo em que as codificações oitocentistas concentravam as regras fundantes do direito privado.
id UNIFOR-3_e87112aa9936cb70ae47f614df59638a
oai_identifier_str oai:ojs.ojs.unifor.br:article/11484
network_acronym_str UNIFOR-3
network_name_str Pensar (Fortaleza. Online)
repository_id_str
spelling Legítima e liberdade testamentária no direito civil contemporâneo: entre a autonomia e a solidariedadePropriedade familiarherançalegítimaherdeiros necessáriosvulnerabilidade.De acordo com as normas civis brasileiras a respeito da transmissão da propriedade post mortem, é possível identificar persistente primazia da proteção familiar na sucessão legítima e testamentária, neste último caso manifestada pela reserva de metade do patrimônio aos herdeiros necessários. Essa opção reflete os valores que informaram a família dos séculos XVIII e XIX, que zelava por seu fortalecimento mediante um sistema estratégico de concentração de riquezas, cujas bases eram: o enfeixamento de prerrogativas na pessoa do chefe da família, as relações negociais baseadas no parentesco (casamentos endogâmicos ou com sócios comerciais), e na sucessão-parentesco. Na contemporaneidade, em que pese a renovação axiológica promovida pela Constituição, o que ainda persiste no direito das sucessões brasileiro é uma forte restrição à autonomia testamentária do titular dos bens, eis que reservar patrimônio para a família, sem qualquer restrição razoável, concretiza uma postura paternalista, de todo insustentável à luz das novas concepções de família e propriedade. Uma adequada interpretação sistemática de princípios, que reúna o balanceamento entre autonomia, emancipação pessoal e solidariedade, induz à manutenção da legítima em benefício tão só de possíveis herdeiros vulneráveis (crianças, adolescentes ou pessoas com deficiência) que não consigam, por trabalho próprio, suprir suas necessidades de subsistência. Sua conservação integral, sem uma análise valorativa mais profunda, preserva a proteção da “família” como entidade abstrata, bem ao gosto do tempo em que as codificações oitocentistas concentravam as regras fundantes do direito privado.Universidade de Fortaleza2021-07-30info:eu-repo/semantics/articleinfo:eu-repo/semantics/publishedVersionAvaliado pelos paresapplication/pdfhttps://ojs.unifor.br/rpen/article/view/1148410.5020/2317-2150.2021.11484Journal of Legal Sciences; Vol. 26 No. 2 (2021)Revista de Ciencias Jurídicas; Vol. 26 Núm. 2 (2021)Pensar - Revista de Ciências Jurídicas; v. 26 n. 2 (2021)2317-21501519-8464reponame:Pensar (Fortaleza. Online)instname:Universidade de Fortaleza (UNIFOR)instacron:UNIFORporhttps://ojs.unifor.br/rpen/article/view/11484/pdf_1Copyright (c) 2021 Pensar - Revista de Ciências Jurídicasinfo:eu-repo/semantics/openAccessSouza, Vanessa Ribeiro Corrêa SampaioJúnior, Vitor de Azevedo Almeida2021-08-13T17:55:32Zoai:ojs.ojs.unifor.br:article/11484Revistahttps://periodicos.unifor.br/rpenhttp://ojs.unifor.br/index.php/rpen/oai||revistapensar@unifor.br2317-21501519-8464opendoar:2021-08-13T17:55:32Pensar (Fortaleza. Online) - Universidade de Fortaleza (UNIFOR)false
dc.title.none.fl_str_mv Legítima e liberdade testamentária no direito civil contemporâneo: entre a autonomia e a solidariedade
title Legítima e liberdade testamentária no direito civil contemporâneo: entre a autonomia e a solidariedade
spellingShingle Legítima e liberdade testamentária no direito civil contemporâneo: entre a autonomia e a solidariedade
Souza, Vanessa Ribeiro Corrêa Sampaio
Propriedade familiar
herança
legítima
herdeiros necessários
vulnerabilidade.
title_short Legítima e liberdade testamentária no direito civil contemporâneo: entre a autonomia e a solidariedade
title_full Legítima e liberdade testamentária no direito civil contemporâneo: entre a autonomia e a solidariedade
title_fullStr Legítima e liberdade testamentária no direito civil contemporâneo: entre a autonomia e a solidariedade
title_full_unstemmed Legítima e liberdade testamentária no direito civil contemporâneo: entre a autonomia e a solidariedade
title_sort Legítima e liberdade testamentária no direito civil contemporâneo: entre a autonomia e a solidariedade
author Souza, Vanessa Ribeiro Corrêa Sampaio
author_facet Souza, Vanessa Ribeiro Corrêa Sampaio
Júnior, Vitor de Azevedo Almeida
author_role author
author2 Júnior, Vitor de Azevedo Almeida
author2_role author
dc.contributor.author.fl_str_mv Souza, Vanessa Ribeiro Corrêa Sampaio
Júnior, Vitor de Azevedo Almeida
dc.subject.por.fl_str_mv Propriedade familiar
herança
legítima
herdeiros necessários
vulnerabilidade.
topic Propriedade familiar
herança
legítima
herdeiros necessários
vulnerabilidade.
description De acordo com as normas civis brasileiras a respeito da transmissão da propriedade post mortem, é possível identificar persistente primazia da proteção familiar na sucessão legítima e testamentária, neste último caso manifestada pela reserva de metade do patrimônio aos herdeiros necessários. Essa opção reflete os valores que informaram a família dos séculos XVIII e XIX, que zelava por seu fortalecimento mediante um sistema estratégico de concentração de riquezas, cujas bases eram: o enfeixamento de prerrogativas na pessoa do chefe da família, as relações negociais baseadas no parentesco (casamentos endogâmicos ou com sócios comerciais), e na sucessão-parentesco. Na contemporaneidade, em que pese a renovação axiológica promovida pela Constituição, o que ainda persiste no direito das sucessões brasileiro é uma forte restrição à autonomia testamentária do titular dos bens, eis que reservar patrimônio para a família, sem qualquer restrição razoável, concretiza uma postura paternalista, de todo insustentável à luz das novas concepções de família e propriedade. Uma adequada interpretação sistemática de princípios, que reúna o balanceamento entre autonomia, emancipação pessoal e solidariedade, induz à manutenção da legítima em benefício tão só de possíveis herdeiros vulneráveis (crianças, adolescentes ou pessoas com deficiência) que não consigam, por trabalho próprio, suprir suas necessidades de subsistência. Sua conservação integral, sem uma análise valorativa mais profunda, preserva a proteção da “família” como entidade abstrata, bem ao gosto do tempo em que as codificações oitocentistas concentravam as regras fundantes do direito privado.
publishDate 2021
dc.date.none.fl_str_mv 2021-07-30
dc.type.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/article
info:eu-repo/semantics/publishedVersion
Avaliado pelos pares
format article
status_str publishedVersion
dc.identifier.uri.fl_str_mv https://ojs.unifor.br/rpen/article/view/11484
10.5020/2317-2150.2021.11484
url https://ojs.unifor.br/rpen/article/view/11484
identifier_str_mv 10.5020/2317-2150.2021.11484
dc.language.iso.fl_str_mv por
language por
dc.relation.none.fl_str_mv https://ojs.unifor.br/rpen/article/view/11484/pdf_1
dc.rights.driver.fl_str_mv Copyright (c) 2021 Pensar - Revista de Ciências Jurídicas
info:eu-repo/semantics/openAccess
rights_invalid_str_mv Copyright (c) 2021 Pensar - Revista de Ciências Jurídicas
eu_rights_str_mv openAccess
dc.format.none.fl_str_mv application/pdf
dc.publisher.none.fl_str_mv Universidade de Fortaleza
publisher.none.fl_str_mv Universidade de Fortaleza
dc.source.none.fl_str_mv Journal of Legal Sciences; Vol. 26 No. 2 (2021)
Revista de Ciencias Jurídicas; Vol. 26 Núm. 2 (2021)
Pensar - Revista de Ciências Jurídicas; v. 26 n. 2 (2021)
2317-2150
1519-8464
reponame:Pensar (Fortaleza. Online)
instname:Universidade de Fortaleza (UNIFOR)
instacron:UNIFOR
instname_str Universidade de Fortaleza (UNIFOR)
instacron_str UNIFOR
institution UNIFOR
reponame_str Pensar (Fortaleza. Online)
collection Pensar (Fortaleza. Online)
repository.name.fl_str_mv Pensar (Fortaleza. Online) - Universidade de Fortaleza (UNIFOR)
repository.mail.fl_str_mv ||revistapensar@unifor.br
_version_ 1788165788246474752