AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DA CRIANÇA SOROPOSITIVA: UMA ANÁLISE DO PENSAMENTO SOCIAL DE ENFERMEIROS HOSPITALARES

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Félix, Fábio de Oliveira
Data de Publicação: 2010
Outros Autores: Barbosa, Bruno Ferreira do Serrado, Gomes, Antônio Marcos Tosoli, Oliveira, Denise Cristina de, Oliveira, Camilla Cunha de
Tipo de documento: Artigo
Idioma: por
Título da fonte: Revista de Pesquisa: Cuidado é Fundamental Online
Texto Completo: https://seer.unirio.br/cuidadofundamental/article/view/1138
Resumo: INTRODUÇÃOO presente resumo integra o Projeto de pesquisa intitulado: Análise do cuidado de enfermagem no contexto do HIV/Aids: Representações sociais e memórias de enfermeiros e portadores nos 25 anos da síndrome. A Aids apresentou-se, desde o seu início, como uma síndrome que se enraizou no imaginário social e cultural de diversas maneiras, construindo imagens, atitudes, conhecimentos e práticas, em que os saberes do senso comum e científicos se entrecruzaram. De uma morbidade ligada a atitudes socialmente condenáveis passou a ser considerada como uma síndrome presente naqueles que podem ser considerados como vítimas, especialmente as crianças que possuem alto grau de vulnerabilidade.OBJETIVOSNeste sentido, adotou-se, como objetivo, analisar a representação social da criança soropositiva para o HIV, especialmente em sua dimensão imagética, e sua relação com a assistência de enfermagem.METODOLOGIATrata-se de um estudo de natureza qualitativa fundamentado na Teoria das Representações Sociais (TRS) em sua abordagem processual (MOSCOVICI, 1978, 291; JODELET, 2001, p. 17-44) desenvolvido com 20 enfermeiros que trabalham no contexto de dois hospitais universitários do Rio de Janeiro, na atenção direta às crianças soropositivas para o HIV e seus familiares. Os dados foram coletados através de entrevistas semi-estruturadas e analisados através da análise de conteúdo temática norteada pelos preceitos de Bardin (BARDIN, 1977, p. 221) sistematizada por Oliveira (OLIVEIRA, 2008, p. 569-576). A análise do conjunto das entrevistas gerou seis categorias a partir do recorte de 2.070 UR, representando 100% do material analisado. As categorias foram denominadas da seguinte maneira: Aspectos sociais, temporais, biológicos e culturais que envolvem o universo da Aids (284 UR, equivalendo a 13,7% do material), a imagem da criança e o futuro que a Aids lhe aparenta reservar (253, 12,3%), o processo de cuidar e sentimentos que a criança com Aids reserva (514, 24,8%), Tratamento e adesão da criança com Aids na perspectiva do enfermeiro (176, 8,5%), a família da criança com HIV/Aids (555, 26,8%) e práticas e atitudes profissionais: as condições existentes no manuseio da AIDS (285, 13,7%). Nesse estudo, será aprofundada a segunda categoria que diz respeito a imagem da criança e o futuro que a Aids aparenta reservar.RESULTADOSA Aids pediátrica trouxe uma nova representação da patologia devido a inserção de uma nova clientela soropositiva em seu contexto, uma vez que há uma diminuição do processo de culpabilização do portador, embora este fato ainda exista no que tange ao responsável pela inserção do vírus no seio familiar. Evidencia-se, nos profissionais que cuidam desta criança soropositiva, certa particularidade na ânsia de um trabalho mais complexo ou mesmo no despertar de sentimentos e emoções oriundos deste cuidado, já que a recuperação clínica desta criança muitas vezes é dificultada por seu estado. Ao mesmo tempo, empenhado na melhora do quadro clinico desta criança soropositiva, o profissional sofre um impacto significativo que pode influenciar seu trabalho ao sentir dificuldades em lidar com a morbidade e mortalidade da criança, uma vez que possui uma imagem sempre ligada a futuro, causando uma sensação de desconforto nesse profissional. Este relacionamento entre profissional e criança ainda sofre uma maior complexidade pela figura do familiar-cuidador, normalmente a mãe. Por isso, ao citarmos a criança com Aids não podemos esquecer deste familiar e suas vivências, pois este compreende toda a estigmatização enfrentada, bem como a gravidade e a letalidade da Aids. A hospitalização altera de forma significativa a vida de uma criança e a dinâmica familiar que, por sua vez, é levada a reorganizar seu cotidiano e suas atividades. A hospitalização promove sentimentos de angústias, impotência, preocupação e incerteza, além de instaurar o sofrimento a ambas as partes, devido à íntima ligação família-criança que se tem neste período (OLIVEIRA, I. ANGELO, M. 2000, p. 202-204). Observou-se, ainda, que a expectativa de melhora do quadro clínico da criança é modificada quando o profissional se depara com a Aids e suas peculiaridades, vivenciando, em seu imaginário, uma representação simultânea de vida e morte. A vida geralmente está associada à infância e ao futuro e a morte à velhice e ao passado. As internações e reinternações carregam consigo toda uma cooperação coletiva tanto da criança, como da família e da equipe de saúde. Sendo a Aids até então incurável, os comprometimentos causados por ela impõem limitações de funções ao indivíduo e envolvem todos os obstáculos e desvios da fisiologia normal (SILVA, F. M. CORREIA, I. 2006. p. 18-23). As incertezas a cada reinternação são muitas, pois a criança encontra-se num território onde o próximo passo sempre será uma incógnita. Esta dificuldade de conviver com a Aids se dá a cada novos sintomas e exames. Os profissionais, ao longo dos mais de 20 anos da síndrome no Brasil, referiram à imagem da Aids semelhante à do Cazuza na década de 80, exposta na mídia. Ao mesmo tempo, classificam como negativa a imagem que fazem da criança com Aids (como aquela sem expectativa de futuro) e utilizam adjetivos como sofrida e sentida em relação à sua restrição ao leito, quando esta encontra-se em estado grave. O sentimento de pesar é notório nos enfermeiros devido não só à incapacidade de deambular de algumas crianças, mas pela própria estrutura física da enfermaria que muitas das vezes se faz precária. Uma nomenclatura utilizada pelos depoentes foi o termo isolamento infantil, que faz referência a um local onde os leitos são fechados e formam quartos que abrigam somente a criança e seus familiares, sem o contato com as demais. A solidão devido ao isolamento desta criança no ambiente hospitalar é nítida durante a fase aguda da doença, em função da ausência da intensa atividade de uma criança saudável. Mas observa-se, como pontuou alguns autores, a construção de uma nova identidade nessas crianças, qual seja, ligada ao processo de hospitalização e de adoecimento, assim como à dependência tecnológica. Destaca-se que a Aids traçou uma nova forma de ser criança em que, em alguns momentos de sua história, permanece tempo considerável internada em hospitais, longe da escola, dos amigos, de diversões e, muitas vezes, da própria família (GOMES, A. M. T. 2005). Mas levando em consideração que esta criança não é associada à imagem de futuro, hoje, com o advento dos anti-retrovirais e tecnologias em saúde, nota-se uma tímida transformação nesta representação, englobando a possibilidade de sobrevivência à adolescência em alguns casos e para alguns profissionais. CONCLUSÃOConclui-se que a Aids ainda permeia num contexto de forte influência imaginária, de sofrimento,  de ausência de um futuro e muito atrelado à morte. Os profissionais, principalmente os enfermeiros, lidam com a criança com muito pesar, tristeza e com significativa percepção de abandono e solidão. Estes profissionais ainda encontram muita dificuldade de criar uma relação de confiança e aceitação com a criança soropositiva que apresenta maior confiança nos familiares por conta do convívio extra-hospitalar mais intenso. Contudo, graças à ao desenvolvimento da tecnologia em saúde e do tratamento medicamentoso, já se pode notar uma pequena evolução no discurso desses profissionais.
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Os dados foram coletados através de entrevistas semi-estruturadas e analisados através da análise de conteúdo temática norteada pelos preceitos de Bardin (BARDIN, 1977, p. 221) sistematizada por Oliveira (OLIVEIRA, 2008, p. 569-576). A análise do conjunto das entrevistas gerou seis categorias a partir do recorte de 2.070 UR, representando 100% do material analisado. As categorias foram denominadas da seguinte maneira: Aspectos sociais, temporais, biológicos e culturais que envolvem o universo da Aids (284 UR, equivalendo a 13,7% do material), a imagem da criança e o futuro que a Aids lhe aparenta reservar (253, 12,3%), o processo de cuidar e sentimentos que a criança com Aids reserva (514, 24,8%), Tratamento e adesão da criança com Aids na perspectiva do enfermeiro (176, 8,5%), a família da criança com HIV/Aids (555, 26,8%) e práticas e atitudes profissionais: as condições existentes no manuseio da AIDS (285, 13,7%). Nesse estudo, será aprofundada a segunda categoria que diz respeito a imagem da criança e o futuro que a Aids aparenta reservar.RESULTADOSA Aids pediátrica trouxe uma nova representação da patologia devido a inserção de uma nova clientela soropositiva em seu contexto, uma vez que há uma diminuição do processo de culpabilização do portador, embora este fato ainda exista no que tange ao responsável pela inserção do vírus no seio familiar. Evidencia-se, nos profissionais que cuidam desta criança soropositiva, certa particularidade na ânsia de um trabalho mais complexo ou mesmo no despertar de sentimentos e emoções oriundos deste cuidado, já que a recuperação clínica desta criança muitas vezes é dificultada por seu estado. Ao mesmo tempo, empenhado na melhora do quadro clinico desta criança soropositiva, o profissional sofre um impacto significativo que pode influenciar seu trabalho ao sentir dificuldades em lidar com a morbidade e mortalidade da criança, uma vez que possui uma imagem sempre ligada a futuro, causando uma sensação de desconforto nesse profissional. Este relacionamento entre profissional e criança ainda sofre uma maior complexidade pela figura do familiar-cuidador, normalmente a mãe. Por isso, ao citarmos a criança com Aids não podemos esquecer deste familiar e suas vivências, pois este compreende toda a estigmatização enfrentada, bem como a gravidade e a letalidade da Aids. A hospitalização altera de forma significativa a vida de uma criança e a dinâmica familiar que, por sua vez, é levada a reorganizar seu cotidiano e suas atividades. A hospitalização promove sentimentos de angústias, impotência, preocupação e incerteza, além de instaurar o sofrimento a ambas as partes, devido à íntima ligação família-criança que se tem neste período (OLIVEIRA, I. ANGELO, M. 2000, p. 202-204). Observou-se, ainda, que a expectativa de melhora do quadro clínico da criança é modificada quando o profissional se depara com a Aids e suas peculiaridades, vivenciando, em seu imaginário, uma representação simultânea de vida e morte. A vida geralmente está associada à infância e ao futuro e a morte à velhice e ao passado. As internações e reinternações carregam consigo toda uma cooperação coletiva tanto da criança, como da família e da equipe de saúde. Sendo a Aids até então incurável, os comprometimentos causados por ela impõem limitações de funções ao indivíduo e envolvem todos os obstáculos e desvios da fisiologia normal (SILVA, F. M. CORREIA, I. 2006. p. 18-23). As incertezas a cada reinternação são muitas, pois a criança encontra-se num território onde o próximo passo sempre será uma incógnita. Esta dificuldade de conviver com a Aids se dá a cada novos sintomas e exames. Os profissionais, ao longo dos mais de 20 anos da síndrome no Brasil, referiram à imagem da Aids semelhante à do Cazuza na década de 80, exposta na mídia. Ao mesmo tempo, classificam como negativa a imagem que fazem da criança com Aids (como aquela sem expectativa de futuro) e utilizam adjetivos como sofrida e sentida em relação à sua restrição ao leito, quando esta encontra-se em estado grave. O sentimento de pesar é notório nos enfermeiros devido não só à incapacidade de deambular de algumas crianças, mas pela própria estrutura física da enfermaria que muitas das vezes se faz precária. 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Nesse estudo, será aprofundada a segunda categoria que diz respeito a imagem da criança e o futuro que a Aids aparenta reservar.RESULTADOSA Aids pediátrica trouxe uma nova representação da patologia devido a inserção de uma nova clientela soropositiva em seu contexto, uma vez que há uma diminuição do processo de culpabilização do portador, embora este fato ainda exista no que tange ao responsável pela inserção do vírus no seio familiar. Evidencia-se, nos profissionais que cuidam desta criança soropositiva, certa particularidade na ânsia de um trabalho mais complexo ou mesmo no despertar de sentimentos e emoções oriundos deste cuidado, já que a recuperação clínica desta criança muitas vezes é dificultada por seu estado. Ao mesmo tempo, empenhado na melhora do quadro clinico desta criança soropositiva, o profissional sofre um impacto significativo que pode influenciar seu trabalho ao sentir dificuldades em lidar com a morbidade e mortalidade da criança, uma vez que possui uma imagem sempre ligada a futuro, causando uma sensação de desconforto nesse profissional. Este relacionamento entre profissional e criança ainda sofre uma maior complexidade pela figura do familiar-cuidador, normalmente a mãe. Por isso, ao citarmos a criança com Aids não podemos esquecer deste familiar e suas vivências, pois este compreende toda a estigmatização enfrentada, bem como a gravidade e a letalidade da Aids. A hospitalização altera de forma significativa a vida de uma criança e a dinâmica familiar que, por sua vez, é levada a reorganizar seu cotidiano e suas atividades. A hospitalização promove sentimentos de angústias, impotência, preocupação e incerteza, além de instaurar o sofrimento a ambas as partes, devido à íntima ligação família-criança que se tem neste período (OLIVEIRA, I. ANGELO, M. 2000, p. 202-204). Observou-se, ainda, que a expectativa de melhora do quadro clínico da criança é modificada quando o profissional se depara com a Aids e suas peculiaridades, vivenciando, em seu imaginário, uma representação simultânea de vida e morte. A vida geralmente está associada à infância e ao futuro e a morte à velhice e ao passado. As internações e reinternações carregam consigo toda uma cooperação coletiva tanto da criança, como da família e da equipe de saúde. Sendo a Aids até então incurável, os comprometimentos causados por ela impõem limitações de funções ao indivíduo e envolvem todos os obstáculos e desvios da fisiologia normal (SILVA, F. M. CORREIA, I. 2006. p. 18-23). As incertezas a cada reinternação são muitas, pois a criança encontra-se num território onde o próximo passo sempre será uma incógnita. Esta dificuldade de conviver com a Aids se dá a cada novos sintomas e exames. Os profissionais, ao longo dos mais de 20 anos da síndrome no Brasil, referiram à imagem da Aids semelhante à do Cazuza na década de 80, exposta na mídia. Ao mesmo tempo, classificam como negativa a imagem que fazem da criança com Aids (como aquela sem expectativa de futuro) e utilizam adjetivos como sofrida e sentida em relação à sua restrição ao leito, quando esta encontra-se em estado grave. O sentimento de pesar é notório nos enfermeiros devido não só à incapacidade de deambular de algumas crianças, mas pela própria estrutura física da enfermaria que muitas das vezes se faz precária. 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