Música e experiência psíquica: ressonâncias entre autismo e laço social

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Santos, Bruno Gonçalves dos
Data de Publicação: 2021
Tipo de documento: Tese
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional da UNESP
Texto Completo: http://hdl.handle.net/11449/215118
Resumo: Este trabalho discute os efeitos da música no psiquismo e a possibilidade de uma clínica do autismo norteada pela musicalidade, fazendo mediação com o laço social. Os sons encadeados, antes da representação, estão destituídos de significado e fazem relação imediata com a produção de afetos que estão fora da linguagem. Para discutir a hipótese da pesquisa, o ritmo é retomado como qualidade fundamental da sensorialidade e da percepção corporal e psíquica, possibilitando o estabelecimento de espaço intersubjetivo de constituição de linguagem. O ritmo é articulado ao conceito de estrutura, que neste trabalho é reformulado e proposto na qualidade de estrutura aberta, a partir de fenômenos de superposição e emaranhamento significante. Retoma-se, a partir dessa proposta, o significante no Real em um viés conceitual, apontando modos de coexistência de dois ou mais estados de estrutura. O significante no Real se articula diretamente com o fenômeno da elisão, mecanismo vigente na dinâmica psíquica autística e que atua como um bloqueio do sistema perceptivo para evitar a saturação psíquica do sensorial corpóreo. Trazendo o relato de dois casos clínicos decorrentes da pesquisa, o trabalho também discorre sobre as operações de alienação e separação, propostos por Lacan, articulando-os com a carta 52 de Freud, em relação ao processo de estratificação do aparato psíquico. Tais considerações se encontram com a proposta de um Silêncio Simbólico sobre a linguagem, que surge como suplência ao ponto surdo ausente no autismo. Por fim, os conceitos abordados direcionam a reflexão para o conceito de lalangue, que é o substrato que sustenta a estruturação da linguagem. Antes da constituição do modo de relação significante-significado, a musicalidade de lalangue estabelece o protagonismo da percepção sobre o sentido, demarcando a multiplicidade de afetos em fruição pela sonoridade humana. O fenômeno musical possibilita ao psiquismo fruir com o afeto em estrutura aberta, criando condições de trocas intersubjetivas que não são cerceadas pela lógica da significação. Conclui-se que o elemento fundamental para uma clínica que lida com o autismo se dá em torno da musicalidade de lalangue, pois a música demonstra ser um tipo de discurso que articula o mais singular do sujeito com o compartilhável da vida coletiva. A musicalidade dos sons influi e cria soluções de mediação entre a experiência subjetiva particular do sujeito autista e os modos de organização do laço social.
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O ritmo é articulado ao conceito de estrutura, que neste trabalho é reformulado e proposto na qualidade de estrutura aberta, a partir de fenômenos de superposição e emaranhamento significante. Retoma-se, a partir dessa proposta, o significante no Real em um viés conceitual, apontando modos de coexistência de dois ou mais estados de estrutura. O significante no Real se articula diretamente com o fenômeno da elisão, mecanismo vigente na dinâmica psíquica autística e que atua como um bloqueio do sistema perceptivo para evitar a saturação psíquica do sensorial corpóreo. Trazendo o relato de dois casos clínicos decorrentes da pesquisa, o trabalho também discorre sobre as operações de alienação e separação, propostos por Lacan, articulando-os com a carta 52 de Freud, em relação ao processo de estratificação do aparato psíquico. Tais considerações se encontram com a proposta de um Silêncio Simbólico sobre a linguagem, que surge como suplência ao ponto surdo ausente no autismo. Por fim, os conceitos abordados direcionam a reflexão para o conceito de lalangue, que é o substrato que sustenta a estruturação da linguagem. Antes da constituição do modo de relação significante-significado, a musicalidade de lalangue estabelece o protagonismo da percepção sobre o sentido, demarcando a multiplicidade de afetos em fruição pela sonoridade humana. O fenômeno musical possibilita ao psiquismo fruir com o afeto em estrutura aberta, criando condições de trocas intersubjetivas que não são cerceadas pela lógica da significação. Conclui-se que o elemento fundamental para uma clínica que lida com o autismo se dá em torno da musicalidade de lalangue, pois a música demonstra ser um tipo de discurso que articula o mais singular do sujeito com o compartilhável da vida coletiva. A musicalidade dos sons influi e cria soluções de mediação entre a experiência subjetiva particular do sujeito autista e os modos de organização do laço social.This work discusses the effects of music on the psyche and the possibility of a clinic of autism guided by musicality, mediating the social bond. The linked sounds, before the representation, are devoid of meaning and have an immediate relationship with the production of affections that are outside language. To discuss the research hypothesis, Rhythm is resumed as a fundamental quality of sensoriality and of bodily and psychic perception, enabling the establishment of an intersubjective space for language constitution. Rhythm is articulated to the concept of structure, which in this work is reformulated and proposed in the form of an Open Structure, based on phenomena of superposition and significant entanglement. From this proposal, the signifier is presented in the Real, which points out ways of coexistence of two or more states of structure. The signifier in the Real is directly articulated to the phenomenon of elision, a mechanism in the autistic psychic dynamic, which acts as a blockage in the perceptual system to avoid the psychic saturation of the corporeal sensorial. Whilst bringing the report of two clinical cases resulting from the research, the work also discusses the processes of alienation and separation, proposed by Lacan, articulating them to Freud's letter 52, on the process of stratification of the psychic apparatus. Such considerations meet with the proposal of a Symbolic Silence on language, which appears as a substitute for the absent deaf point in autism. Finally, the discussed concepts direct the reflection to the concept of Lalangue, which is the substratum that sustains the structuring of language. Before the constitution of the signifier-signified relation mode, the musicality of lalangue establishes the protagonism of perception over meaning, demarcating the multiplicity of affections in fruition by the human sonority. The musical phenomenon allows the psyche to relish affection in an open structure, creating conditions for intersubjective exchanges that are not restricted by the logic of signification. It is concluded that the fundamental element for a clinic of autism is around the musicality of lalangue, as music demonstrates itself to be a type of discourse that articulates the most singular aspects of the subject with what can be shared in collective life. The musicality of sounds influences and creates mediation solutions between the particular subjective experience of the autistic subject and the ways of organization of the social bond.Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP)2017/07157-32019/09195-5Universidade Estadual Paulista (Unesp)Dionisio, Gustavo Henrique [UNESP]Universidade Estadual Paulista (Unesp)Santos, Bruno Gonçalves dos2021-11-16T14:34:51Z2021-11-16T14:34:51Z2021-09-21info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisapplication/pdfhttp://hdl.handle.net/11449/21511833004048021P6porinfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Repositório Institucional da UNESPinstname:Universidade Estadual Paulista (UNESP)instacron:UNESP2024-06-18T14:02:54Zoai:repositorio.unesp.br:11449/215118Repositório InstitucionalPUBhttp://repositorio.unesp.br/oai/requestopendoar:29462024-08-05T15:14:39.207851Repositório Institucional da UNESP - Universidade Estadual Paulista (UNESP)false
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