O universo autoficcional de J. M. G. Le Clézio: Voyage à Rodrigues, Onitsha, L’Africain e Ritournelle de la faim

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Assunção, Islene França de [UNESP]
Data de Publicação: 2019
Tipo de documento: Tese
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional da UNESP
Texto Completo: http://hdl.handle.net/11449/183155
Resumo: Voyage à Rodrigues, Onitsha, L’Africain e Ritournelle de la faim são textos que acompanham as mutações da literatura francesa contemporânea, seguindo as tendências da escrita de si, mas, ao mesmo tempo, distanciando-se da linha tradicional da biografia e da autobiografia e assemelhando-se à nova forma recentemente surgida no universo autobiográfico, identificada como autoficção. Tendo em vista que a necessidade de compreensão de si mesmo exige uma interrogação concernente ao passado e à origem, nessas obras, os protagonistas empreendem uma viagem no tempo e no espaço rumo ao passado, a fim de narrar fatos da infância, da vida dos pais e antepassados ou de alguma pessoa que tenha importância em suas histórias de vida. Traduzindo um desejo geral da própria época corrente, a obra de Le Clézio confirma a obstinação dos escritores contemporâneos em encontrar a herança perdida e evitar a irremediável passagem do tempo. Esse retorno ao passado constitui uma partida cujo fim é a busca de si mesmo, uma vez que, no esforço de descobrir as origens, os heróis manifestam o desejo de recuperar a identidade perdida, de suprir uma falta e/ou de restituir a dignidade roubada a um dos membros de suas famílias. A viagem (real ou figurada) e a escrita tomam, por conseguinte, uma dimensão iniciática, já que se desvelam como produtos de uma busca identitária, assumindo o papel de mediadoras do autoconhecimento e de preservação da memória, devido à capacidade de resistir à passagem do tempo, fazendo sempre vivas as pessoas e os fatos narrados e impedindo-os de “caírem no esquecimento”. A fuga do presente exprime, ainda, a insatisfação das personagens leclézianas em relação ao materialismo da sociedade contemporânea, instituindo uma espécie de retorno à natureza e se apresentando como um meio de resistência à mentalidade dominante, revelando, assim, uma visão de mundo aparentemente contrária à globalização, ao consumismo e ao racionalismo exacerbado do homem atual. Desse modo, o objetivo deste trabalho é demonstrar, nas obras supracitadas, as particularidades da escrita autoficcional presentes nas narrativas e, também, constatar como Le Clézio ultrapassa o domínio da autobiografia tradicional. Ademais, visamos verificar que, se a autoficção é definido por um contrato de leitura ambíguo, os textos leclézianos examinados nesta tese devem ser considerados autoficcionais, visto que promovem essa ambiguidade por meio de estratégias genéricas complexas. Para desenvolver essas ideias, teremos como suporte as teorias e críticas da literatura contemporânea, da autobiografia e da autoficção – em específico as contribuições de Philippe Gasparini (2004, 2008, 2011, 2016) e Philippe Vilain (2005, 2009) –, bem como aquelas que tangem ao estudo do sujeito, da identidade e da memória, a partir das quais, faremos a leitura, interpretação e análise das obras estudadas.
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Tendo em vista que a necessidade de compreensão de si mesmo exige uma interrogação concernente ao passado e à origem, nessas obras, os protagonistas empreendem uma viagem no tempo e no espaço rumo ao passado, a fim de narrar fatos da infância, da vida dos pais e antepassados ou de alguma pessoa que tenha importância em suas histórias de vida. Traduzindo um desejo geral da própria época corrente, a obra de Le Clézio confirma a obstinação dos escritores contemporâneos em encontrar a herança perdida e evitar a irremediável passagem do tempo. Esse retorno ao passado constitui uma partida cujo fim é a busca de si mesmo, uma vez que, no esforço de descobrir as origens, os heróis manifestam o desejo de recuperar a identidade perdida, de suprir uma falta e/ou de restituir a dignidade roubada a um dos membros de suas famílias. A viagem (real ou figurada) e a escrita tomam, por conseguinte, uma dimensão iniciática, já que se desvelam como produtos de uma busca identitária, assumindo o papel de mediadoras do autoconhecimento e de preservação da memória, devido à capacidade de resistir à passagem do tempo, fazendo sempre vivas as pessoas e os fatos narrados e impedindo-os de “caírem no esquecimento”. A fuga do presente exprime, ainda, a insatisfação das personagens leclézianas em relação ao materialismo da sociedade contemporânea, instituindo uma espécie de retorno à natureza e se apresentando como um meio de resistência à mentalidade dominante, revelando, assim, uma visão de mundo aparentemente contrária à globalização, ao consumismo e ao racionalismo exacerbado do homem atual. Desse modo, o objetivo deste trabalho é demonstrar, nas obras supracitadas, as particularidades da escrita autoficcional presentes nas narrativas e, também, constatar como Le Clézio ultrapassa o domínio da autobiografia tradicional. Ademais, visamos verificar que, se a autoficção é definido por um contrato de leitura ambíguo, os textos leclézianos examinados nesta tese devem ser considerados autoficcionais, visto que promovem essa ambiguidade por meio de estratégias genéricas complexas. Para desenvolver essas ideias, teremos como suporte as teorias e críticas da literatura contemporânea, da autobiografia e da autoficção – em específico as contribuições de Philippe Gasparini (2004, 2008, 2011, 2016) e Philippe Vilain (2005, 2009) –, bem como aquelas que tangem ao estudo do sujeito, da identidade e da memória, a partir das quais, faremos a leitura, interpretação e análise das obras estudadas.Voyage à Rodrigues, Onitsha, L‟Africain et Ritournelle de la faim sont des récits qui accompagnent les mutations de la littérature française contemporaine en suivant les tendances de l‘écriture de soi, mais en même temps s‘ éloignent de la voie traditionnelle de la biographie et de l‘autobiographie et se rassemblent à la nouvelle forme née récemment dans l‘univers autobiographique, identifiées comme «autofiction ». Étant donné que le besoin de la compréhension de soi-même exige une interrogation concernant le passé et l‘origine, dans ces oeuvres les protagonistes entreprennent un voyage vers le passé dans le temps et dans l‘espace, afin de raconter des faits de leur enfance, de la vie de leurs parents, de leurs ancêtres ou de n‘importe quelle personne qui a de l‘importance dans leurs histoires de vie. En traduisant une envie générale à la propre époque actuelle, l‘oeuvre leclézienne va attester l‘obstination des écrivains contemporains de retrouver l‘héritage perdu et d‘éviter l‘irrémédiable passage du temps. Ce retour au passé va constituer un départ dont le but est la quête de soi-même, car dans l‘effort de découvrir les origines, les héros expriment le désir de retrouver l‘identité perdue, de pallier un manque ou de restituer la dignité enlevée à un des membres de leurs familles. Le voyage (réelle ou figurée) et l‘écriture prennent, par conséquent, une dimension initiatique, puisqu‘ils se montrent comme des produits d‘une quête identitaire en jouant le rôle de médiateurs de la connaissance de soi et de la préservation de la mémoire, en raison de leur capacité de résister au passage du temps, en faisant toujours vivants les personnes et les faits narrés et en les empêchant de tomber dans l‘oubli. La fuite du présent exprime encore l‘insatisfaction des personnages lecléziens par rapport au matérialisme de la société contemporaine, en instituant une espèce de retour à la nature et un moyen de résistance à la pensée dominante, en révélant ainsi une vision du monde apparemment contraire à la globalisation, au consumérisme et au rationalisme exacerbé de l‘homme actuel. De cette façon, l‘objectif de ce travail est celui de demontrer, dans ces oeuvrages, les particularités de l‘écriture autofictionnelle présentes dans les récits et aussi de constater comment Le Clézio dépasse le domaine de l‘autobiographie traditionnelle. En outre, nous cherchons à vérifier que si l'auto-fiction est défini par un contrat de lecture ambiguë, les textes lecléziens examinés dans cette thèse doivent être considérés autofictionnels, car ils promeuvent cette ambiguïté à travers des stratégies génériques complexes. Pour développer ces idées, on va avoir comme support les théories et critiques de la littérature contemporaine, de l‘autobiographie et de l‘autofiction – plus précisément les contributions de Philippe Gasparini (2004, 2008, 2011, 2016) et Philippe Vilain (2005, 2009) –, ainsi que celles concernant le sujet, l‘identité et la mémoire, à partir desquelles on fera la lecture, l‘interprétation et l‘analyse des oeuvres étudiées.Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq)141906/2015-4Universidade Estadual Paulista (Unesp)Camarani, Ana Luiza Silva [UNESP]Universidade Estadual Paulista (Unesp)Assunção, Islene França de [UNESP]2019-08-08T16:50:25Z2019-08-08T16:50:25Z2019-05-29info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisapplication/pdfhttp://hdl.handle.net/11449/18315500091919833004030016P0porinfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Repositório Institucional da UNESPinstname:Universidade Estadual Paulista (UNESP)instacron:UNESP2024-06-12T19:22:04Zoai:repositorio.unesp.br:11449/183155Repositório InstitucionalPUBhttp://repositorio.unesp.br/oai/requestopendoar:29462024-08-05T22:37:04.707676Repositório Institucional da UNESP - Universidade Estadual Paulista (UNESP)false
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