Políticas de saúde mental no Brasil contemporâneo: a retomada da internação como dispositivo de controle das pessoas portadoras de transtornos mentais

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Veiga, Larissa Cristina Clemente [UNESP]
Data de Publicação: 2020
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional da UNESP
Texto Completo: http://hdl.handle.net/11449/194522
Resumo: Desde os anos de 1980 no Brasil está em curso um processo de reorganização da assistência psiquiátrica, denominado de Reforma Psiquiátrica (RP). Após a promulgação da lei nº 10.216/2001, conhecida como lei da RP, esse processo vem sendo conduzido pelo governo federal, especialmente, por meio de portarias expedidas diretamente do gabinete do Ministério da Saúde (MS). Com isso, as políticas públicas direcionadas às pessoas portadoras de transtornos mentais (PPTM) passaram a orientar-se em função de outro dispositivo, a Saúde Mental (SM), que prioriza a atenção psicossocial, comunitária e territorializada, ao invés da psiquiatria asilar. Tais elementos são princípios norteadores da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) criada em 2011 para sistematizar os serviços da SM. Entretanto, mudanças jurídicas mais recentes têm reforçado a prática da internação psiquiátrica e ampliado a capacidade de instituições com caráter asilar e disciplinar como Comunidades Terapêuticas (CTs) e Unidades de Acolhimento (UA), indo na contramão das diretrizes preconizadas pela lei nº 10.216/01 e pela RAPS. A partir desse quadro e com base no instrumental analítico foucaultiano, o presente trabalho buscou analisar os discursos produzidos através das normativas do MS, após a promulgação da lei da RP, objetivando investigar o papel das internações psiquiátricas no interior do circuito terapêutico criado pela Rede de Atenção Psicossocial. Após revisão bibliográfica e análise do material coletado, observamos que a inserção de mecanismos direcionados a “atenção a crise”, “usuários de drogas” e “crianças e adolescentes” aliados a ideia de risco e perigo social tem ativado as práticas de internação e disciplinarização. Desse modo, as internações psiquiátricas e demais dispositivos de disciplinarização no interior da RAPS curta-circuitam a possibilidade de um sistema comunitário e tornam-se cada vez mais operativos para o campo da segurança pública e para políticas de controle biopolítico da população.
id UNSP_46e07d670e1292028453feb08a38044b
oai_identifier_str oai:repositorio.unesp.br:11449/194522
network_acronym_str UNSP
network_name_str Repositório Institucional da UNESP
repository_id_str 2946
spelling Políticas de saúde mental no Brasil contemporâneo: a retomada da internação como dispositivo de controle das pessoas portadoras de transtornos mentaisMental health policies in contemporary Brazil: the resumption of hospitalization as a control device for people with mental disordersPolítica pública de saúde mentalInternação psiquiátricaPoder psiquiátricoReforma psiquiátricaPublic mental health policyPsychiatric hospitalizationPsychiatric powerPsychiatric reformDesde os anos de 1980 no Brasil está em curso um processo de reorganização da assistência psiquiátrica, denominado de Reforma Psiquiátrica (RP). Após a promulgação da lei nº 10.216/2001, conhecida como lei da RP, esse processo vem sendo conduzido pelo governo federal, especialmente, por meio de portarias expedidas diretamente do gabinete do Ministério da Saúde (MS). Com isso, as políticas públicas direcionadas às pessoas portadoras de transtornos mentais (PPTM) passaram a orientar-se em função de outro dispositivo, a Saúde Mental (SM), que prioriza a atenção psicossocial, comunitária e territorializada, ao invés da psiquiatria asilar. Tais elementos são princípios norteadores da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) criada em 2011 para sistematizar os serviços da SM. Entretanto, mudanças jurídicas mais recentes têm reforçado a prática da internação psiquiátrica e ampliado a capacidade de instituições com caráter asilar e disciplinar como Comunidades Terapêuticas (CTs) e Unidades de Acolhimento (UA), indo na contramão das diretrizes preconizadas pela lei nº 10.216/01 e pela RAPS. A partir desse quadro e com base no instrumental analítico foucaultiano, o presente trabalho buscou analisar os discursos produzidos através das normativas do MS, após a promulgação da lei da RP, objetivando investigar o papel das internações psiquiátricas no interior do circuito terapêutico criado pela Rede de Atenção Psicossocial. Após revisão bibliográfica e análise do material coletado, observamos que a inserção de mecanismos direcionados a “atenção a crise”, “usuários de drogas” e “crianças e adolescentes” aliados a ideia de risco e perigo social tem ativado as práticas de internação e disciplinarização. Desse modo, as internações psiquiátricas e demais dispositivos de disciplinarização no interior da RAPS curta-circuitam a possibilidade de um sistema comunitário e tornam-se cada vez mais operativos para o campo da segurança pública e para políticas de controle biopolítico da população.Since the 1980s in Brazil, a process of reorganization of the psychiatric care has been underway, called Psychiatric Reform (PR). After the enactment of law nº. 10,216/2001, also known as The PR Law, this process has been conducted by the federal government, especially through ordinances issued directly from the Ministry of Health (MH). As a result, public policies aimed at people with mental disorders started to be guided by another branch, the Mental Health System (MHS), which prioritizes psychosocial, community and territorialization care, rather than psychiatric hospitals. Such elements are guiding principles of the Psychosocial Care Network (RAPS - Rede de Atenção Psicossocial) created in 2011 to systematize the services of the MHS. However, more recent legal changes have reinforced the practice of psychiatric hospitalization and expanded the capacity of institutions with asylum and disciplinary characteristics, such as Therapeutic Communities (CTs - Comunidades Terapêuticas) and Reception Units (UA - Unidades de Acolhimento), going against the guidelines recommended by the law 10,216/01 and by RAPS. Based on the context above and on the Foucauldian discourse analysis, the present work sought to analyze the discourses produced through the norms of the Ministry of Health, after the promulgation of The PR Law, aiming at investigation of the role of psychiatric hospitalizations within the therapeutic circuit created by the Psychosocial Care Network. After a bibliographic review and consistent analysis of the collected material, it was observed that the insertion of mechanisms directed to “attention to the crisis”, “drug users” and “children and adolescents”, allied to the idea of a risk and social danger has activated the practices of hospitalization and discipline. In this way, psychiatric hospitalizations and other disciplinary systems within the RAPS produce a short-circuit in the community system and become increasingly operative on the field of public security and on biopolitical policies control of the population.Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES)CAPES: 001Universidade Estadual Paulista (Unesp)Schumacher, Aluísio Almeida [UNESP]Universidade Estadual Paulista (Unesp)Veiga, Larissa Cristina Clemente [UNESP]2020-12-08T21:49:51Z2020-12-08T21:49:51Z2020-09-29info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisapplication/pdfhttp://hdl.handle.net/11449/19452233004110042P8porinfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Repositório Institucional da UNESPinstname:Universidade Estadual Paulista (UNESP)instacron:UNESP2024-08-12T18:43:20Zoai:repositorio.unesp.br:11449/194522Repositório InstitucionalPUBhttp://repositorio.unesp.br/oai/requestopendoar:29462024-08-12T18:43:20Repositório Institucional da UNESP - Universidade Estadual Paulista (UNESP)false
dc.title.none.fl_str_mv Políticas de saúde mental no Brasil contemporâneo: a retomada da internação como dispositivo de controle das pessoas portadoras de transtornos mentais
Mental health policies in contemporary Brazil: the resumption of hospitalization as a control device for people with mental disorders
title Políticas de saúde mental no Brasil contemporâneo: a retomada da internação como dispositivo de controle das pessoas portadoras de transtornos mentais
spellingShingle Políticas de saúde mental no Brasil contemporâneo: a retomada da internação como dispositivo de controle das pessoas portadoras de transtornos mentais
Veiga, Larissa Cristina Clemente [UNESP]
Política pública de saúde mental
Internação psiquiátrica
Poder psiquiátrico
Reforma psiquiátrica
Public mental health policy
Psychiatric hospitalization
Psychiatric power
Psychiatric reform
title_short Políticas de saúde mental no Brasil contemporâneo: a retomada da internação como dispositivo de controle das pessoas portadoras de transtornos mentais
title_full Políticas de saúde mental no Brasil contemporâneo: a retomada da internação como dispositivo de controle das pessoas portadoras de transtornos mentais
title_fullStr Políticas de saúde mental no Brasil contemporâneo: a retomada da internação como dispositivo de controle das pessoas portadoras de transtornos mentais
title_full_unstemmed Políticas de saúde mental no Brasil contemporâneo: a retomada da internação como dispositivo de controle das pessoas portadoras de transtornos mentais
title_sort Políticas de saúde mental no Brasil contemporâneo: a retomada da internação como dispositivo de controle das pessoas portadoras de transtornos mentais
author Veiga, Larissa Cristina Clemente [UNESP]
author_facet Veiga, Larissa Cristina Clemente [UNESP]
author_role author
dc.contributor.none.fl_str_mv Schumacher, Aluísio Almeida [UNESP]
Universidade Estadual Paulista (Unesp)
dc.contributor.author.fl_str_mv Veiga, Larissa Cristina Clemente [UNESP]
dc.subject.por.fl_str_mv Política pública de saúde mental
Internação psiquiátrica
Poder psiquiátrico
Reforma psiquiátrica
Public mental health policy
Psychiatric hospitalization
Psychiatric power
Psychiatric reform
topic Política pública de saúde mental
Internação psiquiátrica
Poder psiquiátrico
Reforma psiquiátrica
Public mental health policy
Psychiatric hospitalization
Psychiatric power
Psychiatric reform
description Desde os anos de 1980 no Brasil está em curso um processo de reorganização da assistência psiquiátrica, denominado de Reforma Psiquiátrica (RP). Após a promulgação da lei nº 10.216/2001, conhecida como lei da RP, esse processo vem sendo conduzido pelo governo federal, especialmente, por meio de portarias expedidas diretamente do gabinete do Ministério da Saúde (MS). Com isso, as políticas públicas direcionadas às pessoas portadoras de transtornos mentais (PPTM) passaram a orientar-se em função de outro dispositivo, a Saúde Mental (SM), que prioriza a atenção psicossocial, comunitária e territorializada, ao invés da psiquiatria asilar. Tais elementos são princípios norteadores da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) criada em 2011 para sistematizar os serviços da SM. Entretanto, mudanças jurídicas mais recentes têm reforçado a prática da internação psiquiátrica e ampliado a capacidade de instituições com caráter asilar e disciplinar como Comunidades Terapêuticas (CTs) e Unidades de Acolhimento (UA), indo na contramão das diretrizes preconizadas pela lei nº 10.216/01 e pela RAPS. A partir desse quadro e com base no instrumental analítico foucaultiano, o presente trabalho buscou analisar os discursos produzidos através das normativas do MS, após a promulgação da lei da RP, objetivando investigar o papel das internações psiquiátricas no interior do circuito terapêutico criado pela Rede de Atenção Psicossocial. Após revisão bibliográfica e análise do material coletado, observamos que a inserção de mecanismos direcionados a “atenção a crise”, “usuários de drogas” e “crianças e adolescentes” aliados a ideia de risco e perigo social tem ativado as práticas de internação e disciplinarização. Desse modo, as internações psiquiátricas e demais dispositivos de disciplinarização no interior da RAPS curta-circuitam a possibilidade de um sistema comunitário e tornam-se cada vez mais operativos para o campo da segurança pública e para políticas de controle biopolítico da população.
publishDate 2020
dc.date.none.fl_str_mv 2020-12-08T21:49:51Z
2020-12-08T21:49:51Z
2020-09-29
dc.type.status.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/publishedVersion
dc.type.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/masterThesis
format masterThesis
status_str publishedVersion
dc.identifier.uri.fl_str_mv http://hdl.handle.net/11449/194522
33004110042P8
url http://hdl.handle.net/11449/194522
identifier_str_mv 33004110042P8
dc.language.iso.fl_str_mv por
language por
dc.rights.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/openAccess
eu_rights_str_mv openAccess
dc.format.none.fl_str_mv application/pdf
dc.publisher.none.fl_str_mv Universidade Estadual Paulista (Unesp)
publisher.none.fl_str_mv Universidade Estadual Paulista (Unesp)
dc.source.none.fl_str_mv reponame:Repositório Institucional da UNESP
instname:Universidade Estadual Paulista (UNESP)
instacron:UNESP
instname_str Universidade Estadual Paulista (UNESP)
instacron_str UNESP
institution UNESP
reponame_str Repositório Institucional da UNESP
collection Repositório Institucional da UNESP
repository.name.fl_str_mv Repositório Institucional da UNESP - Universidade Estadual Paulista (UNESP)
repository.mail.fl_str_mv
_version_ 1808128142268694528