Pessoa afeita ao crime: criminalização de travestis e o discurso judicial criminal paulista

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Serra, Victor Siqueira
Data de Publicação: 2018
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional da UNESP
Texto Completo: http://hdl.handle.net/11449/182087
Resumo: Esta pesquisa busca compreender em que situações conflituosas envolvendo travestis o sistema de justiça criminal interveio, de que forma essas intervenções ocorreram e como tudo isso foi representado na “ponta final” do processo penal. Para isso, analiso 100 acórdãos criminais do Tribunal de Justiça de São Paulo, coletados a partir da palavra-chave “travesti”. Por meio da análise de discurso - atento, portanto, ao poder da linguagem -, busquei compreender em que momentos a travestilidade é evidenciada ou silenciada, e de que formas estereótipos e expectativas sociais influenciam as decisões jurídicas e o funcionamento do sistema de justiça criminal paulista. Considerando a vulnerabilidade em que vive grande parte das travestis, a distribuição desigual de violência, as estratégias estatais de controle dos crimes e a seletividade de classe, raça e gênero inerente ao poder punitivo em nossa sociedade, concluo que o Tribunal de Justiça de São Paulo reproduz a imagem de travestis como pessoas necessariamente desviantes e criminosas, culminando em um processo de criminalização que deslegitima suas narrativas sobre os conflitos e legitima práticas bastante questionáveis do sistema de justiça. Sua humanidade somente é reconhecida depois da morte – para punir com prisão seus agressores. A ambivalência dos discursos sobre travestis e as profundas desigualdades que marcam o processo penal concretizam as expectativas sociais e servem como fundamentação jurídica para a criminalização das travestis, em um processo conhecido na criminologia crítica como profecia auto realizada, processo que é, ao mesmo tempo, causa e consequência do que se costuma denominar vulnerabilidade (ou vulnerabilização) social.
id UNSP_69c8ecba3cdb0be4556c9d90e0ecbb19
oai_identifier_str oai:repositorio.unesp.br:11449/182087
network_acronym_str UNSP
network_name_str Repositório Institucional da UNESP
repository_id_str 2946
spelling Pessoa afeita ao crime: criminalização de travestis e o discurso judicial criminal paulistaPersona avezada al crimen: criminalización de travestis y el discurso judicial criminal en São PauloTravestisCriminologia críticaDiscurso judicialSistema de justiça criminalTransvestitesCritical criminologyJuridical discourseCriminal justice systemEsta pesquisa busca compreender em que situações conflituosas envolvendo travestis o sistema de justiça criminal interveio, de que forma essas intervenções ocorreram e como tudo isso foi representado na “ponta final” do processo penal. Para isso, analiso 100 acórdãos criminais do Tribunal de Justiça de São Paulo, coletados a partir da palavra-chave “travesti”. Por meio da análise de discurso - atento, portanto, ao poder da linguagem -, busquei compreender em que momentos a travestilidade é evidenciada ou silenciada, e de que formas estereótipos e expectativas sociais influenciam as decisões jurídicas e o funcionamento do sistema de justiça criminal paulista. Considerando a vulnerabilidade em que vive grande parte das travestis, a distribuição desigual de violência, as estratégias estatais de controle dos crimes e a seletividade de classe, raça e gênero inerente ao poder punitivo em nossa sociedade, concluo que o Tribunal de Justiça de São Paulo reproduz a imagem de travestis como pessoas necessariamente desviantes e criminosas, culminando em um processo de criminalização que deslegitima suas narrativas sobre os conflitos e legitima práticas bastante questionáveis do sistema de justiça. Sua humanidade somente é reconhecida depois da morte – para punir com prisão seus agressores. A ambivalência dos discursos sobre travestis e as profundas desigualdades que marcam o processo penal concretizam as expectativas sociais e servem como fundamentação jurídica para a criminalização das travestis, em um processo conhecido na criminologia crítica como profecia auto realizada, processo que é, ao mesmo tempo, causa e consequência do que se costuma denominar vulnerabilidade (ou vulnerabilização) social.This research seeks to understand in which conflicts involving transvestites the criminal justice system intervened, how these interventions occurred and how all this was represented in the “final point” of the criminal process. For that, I analyzed 100 criminal decisions of São Paulo’s Supreme Court, collected through the key-word “transvestite”. Using discourse analysis – therefore watchful of the power of language –, I tried to understand which moments travestility is evidenced or silenced, how stereotypes and social expectations influence juridical decisions and the criminal justice system’s functioning. Considering the vulnerability under which most transvestites live, the unequal distribution of violence, the State’s strategies to control crimes and the class, race and gender selectivity inherent to the punitive power in our society, I concluded that São Paulo’s Supreme Court reproduce the image of transvestites as necessarily deviant and criminal people, culminating in a criminalization process that delegitimizes their narratives about the conflicts and legitimize profoundly questionable practices of the criminal justice system. Their humanity is only recognized after death. The ambivalence of discourses surrounding transvestites and the deeply rooted inequities that constitutes the criminal process materialize the social expectations and serve as legal validation for the criminalization of transvestites, consolidating a process known in critical criminology as self-fulfilling prophecy, a process that is, at the same time, cause and consequence of what is usually called social vulnerability (or vulnerabilization).Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES)CAPES 001Universidade Estadual Paulista (Unesp)Braga, Ana Gabriela Mendes [UNESP]Universidade Estadual Paulista (Unesp)Serra, Victor Siqueira2019-05-21T19:37:07Z2019-05-21T19:37:07Z2018-04-25info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisapplication/pdfhttp://hdl.handle.net/11449/18208700091675833004072068P9porinfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Repositório Institucional da UNESPinstname:Universidade Estadual Paulista (UNESP)instacron:UNESP2024-06-26T18:06:36Zoai:repositorio.unesp.br:11449/182087Repositório InstitucionalPUBhttp://repositorio.unesp.br/oai/requestopendoar:29462024-08-05T13:51:32.038762Repositório Institucional da UNESP - Universidade Estadual Paulista (UNESP)false
dc.title.none.fl_str_mv Pessoa afeita ao crime: criminalização de travestis e o discurso judicial criminal paulista
Persona avezada al crimen: criminalización de travestis y el discurso judicial criminal en São Paulo
title Pessoa afeita ao crime: criminalização de travestis e o discurso judicial criminal paulista
spellingShingle Pessoa afeita ao crime: criminalização de travestis e o discurso judicial criminal paulista
Serra, Victor Siqueira
Travestis
Criminologia crítica
Discurso judicial
Sistema de justiça criminal
Transvestites
Critical criminology
Juridical discourse
Criminal justice system
title_short Pessoa afeita ao crime: criminalização de travestis e o discurso judicial criminal paulista
title_full Pessoa afeita ao crime: criminalização de travestis e o discurso judicial criminal paulista
title_fullStr Pessoa afeita ao crime: criminalização de travestis e o discurso judicial criminal paulista
title_full_unstemmed Pessoa afeita ao crime: criminalização de travestis e o discurso judicial criminal paulista
title_sort Pessoa afeita ao crime: criminalização de travestis e o discurso judicial criminal paulista
author Serra, Victor Siqueira
author_facet Serra, Victor Siqueira
author_role author
dc.contributor.none.fl_str_mv Braga, Ana Gabriela Mendes [UNESP]
Universidade Estadual Paulista (Unesp)
dc.contributor.author.fl_str_mv Serra, Victor Siqueira
dc.subject.por.fl_str_mv Travestis
Criminologia crítica
Discurso judicial
Sistema de justiça criminal
Transvestites
Critical criminology
Juridical discourse
Criminal justice system
topic Travestis
Criminologia crítica
Discurso judicial
Sistema de justiça criminal
Transvestites
Critical criminology
Juridical discourse
Criminal justice system
description Esta pesquisa busca compreender em que situações conflituosas envolvendo travestis o sistema de justiça criminal interveio, de que forma essas intervenções ocorreram e como tudo isso foi representado na “ponta final” do processo penal. Para isso, analiso 100 acórdãos criminais do Tribunal de Justiça de São Paulo, coletados a partir da palavra-chave “travesti”. Por meio da análise de discurso - atento, portanto, ao poder da linguagem -, busquei compreender em que momentos a travestilidade é evidenciada ou silenciada, e de que formas estereótipos e expectativas sociais influenciam as decisões jurídicas e o funcionamento do sistema de justiça criminal paulista. Considerando a vulnerabilidade em que vive grande parte das travestis, a distribuição desigual de violência, as estratégias estatais de controle dos crimes e a seletividade de classe, raça e gênero inerente ao poder punitivo em nossa sociedade, concluo que o Tribunal de Justiça de São Paulo reproduz a imagem de travestis como pessoas necessariamente desviantes e criminosas, culminando em um processo de criminalização que deslegitima suas narrativas sobre os conflitos e legitima práticas bastante questionáveis do sistema de justiça. Sua humanidade somente é reconhecida depois da morte – para punir com prisão seus agressores. A ambivalência dos discursos sobre travestis e as profundas desigualdades que marcam o processo penal concretizam as expectativas sociais e servem como fundamentação jurídica para a criminalização das travestis, em um processo conhecido na criminologia crítica como profecia auto realizada, processo que é, ao mesmo tempo, causa e consequência do que se costuma denominar vulnerabilidade (ou vulnerabilização) social.
publishDate 2018
dc.date.none.fl_str_mv 2018-04-25
2019-05-21T19:37:07Z
2019-05-21T19:37:07Z
dc.type.status.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/publishedVersion
dc.type.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/masterThesis
format masterThesis
status_str publishedVersion
dc.identifier.uri.fl_str_mv http://hdl.handle.net/11449/182087
000916758
33004072068P9
url http://hdl.handle.net/11449/182087
identifier_str_mv 000916758
33004072068P9
dc.language.iso.fl_str_mv por
language por
dc.rights.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/openAccess
eu_rights_str_mv openAccess
dc.format.none.fl_str_mv application/pdf
dc.publisher.none.fl_str_mv Universidade Estadual Paulista (Unesp)
publisher.none.fl_str_mv Universidade Estadual Paulista (Unesp)
dc.source.none.fl_str_mv reponame:Repositório Institucional da UNESP
instname:Universidade Estadual Paulista (UNESP)
instacron:UNESP
instname_str Universidade Estadual Paulista (UNESP)
instacron_str UNESP
institution UNESP
reponame_str Repositório Institucional da UNESP
collection Repositório Institucional da UNESP
repository.name.fl_str_mv Repositório Institucional da UNESP - Universidade Estadual Paulista (UNESP)
repository.mail.fl_str_mv
_version_ 1808128284065529856