A disfluência comum e gaga

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Vischi, Mariane Carvalho [UNESP]
Data de Publicação: 2017
Tipo de documento: Tese
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional da UNESP
Texto Completo: http://hdl.handle.net/11449/150072
Resumo: O presente trabalho investiga e compara a disfluência na fala de pessoas gagas e não gagas. O primeiro tipo foi denominado de disfluência gaga e o segundo, de disfluência comum. De uma maneira geral, as disfluências são caracterizadas pelo não fluir normal dos segmentos sonoros da fala, devido à presença de hesitações e de interrupções durante o processo comunicativo. Inicialmente, foi feita uma revisão bibliográfica sobre a relação da fluência com a disfluência a partir de uma compilação dos principais estudos sobre o assunto. Na sequência, apresentamos os trabalhos da literatura especializada e da linguística para a disfluência gaga, bem como dos aspectos que tratam da articulação da fala e dos elementos suprassegmentais. A metodologia consistiu na gravação semiespontânea de seis informantes gagos e seis não gagos. Como parte da metodologia para a formação do corpus, foi pedido a eles que narrassem algum fato que tivesse marcado suas vidas. Não foi definida de uma temática específica. Os dados foram analisados auditivamente e acusticamente. Para a análise acústica utilizou-se o software PRAAT. Para análise e interpretação dos dados foram usados modelos teóricos referentes à fonologia autossegmental (Pierrehumbert,1980; Ladd, 1996, entre outros) e, como apoio teórico, o da fonologia funcional (Halliday, 1970; Cagliari, 2007). Também foram utilizados os trabalhos relacionados ao estudo da fluência e disfluência da fala de uma maneira geral (Scarpa, 1995; Cruz, 2009; Koch, 2009; Scarpa; Fernandes-Svartman, 2012; Merlo, 2015, entre outros), bem como da disfluência gaga (Van Riper, 1971; Friedman 1986; Azevedo, 2000, entre outros). A investigação acústica estuda os segmentos fonéticos, as pausas, as repetições, as hesitações, os alongamentos e os bloqueios de fala. A interpretação fonológica investiga o comportamento dos fonemas nos dois tipos de disfluências. Os resultados mostraram, em relação à análise da F0 e padrão da intensitade, diferenças pouco significativas para a comparação entre os dois tipos de disfluências. A duração foi o evento que mais distanciou os dois tipos de fala, sendo maior para os falantes com disfluência gaga. Em relação aos tipos de disfluências (repetições, inserções, hesitações, entre outros), tanto os informantes gagos quanto os não gagos realizaram o mesmo tipo de disfluência. A diferença entre eles deve-se à quantidade e à complexidade das disfluências. Nesse caso, os informantes gagos tendem a apresentar um maior número de disfluências por grupo tonal, bem como uma quantidade maior de disfluências complexas. Outra diferença entre os dois grupos está na duração e quantidade de pausas, que tende a ser maior para os informantes com disfluência gaga. A análise fonológica, por sua vez, mostrou que gagos e não gagos tendem a manter o padrão entoacional para as repetições, inserções e hesitações. Esses resultados confirmam a hipótese de que a gagueira estaria mais relacionada a uma questão articulatória que leva, por meio de uma empatia fonética negativa, a quebra na expectativa do interlocutor. Já a disfluência comum, por estar mais relacionada a fenômenos estilísticos, não é sentida da mesma maneira. Mesmo assim, o caminho mais adequado não é o de distanciar negativamente esses dois tipos de fala, uma vez que os eventos são os mesmos, o que muda é o modo como eles são refletidos e sentidos.
id UNSP_75ee59c6f3dae3b5f1ee0bed643eebb9
oai_identifier_str oai:repositorio.unesp.br:11449/150072
network_acronym_str UNSP
network_name_str Repositório Institucional da UNESP
repository_id_str 2946
spelling A disfluência comum e gagaThe common and stutterer dysfluencyFluênciaDisfluência comumDisfluência gagaArticulaçãoEmpatia negativaFluencyCommon dysfluencyStutterer dysfluencyArticulationNegative empathyO presente trabalho investiga e compara a disfluência na fala de pessoas gagas e não gagas. O primeiro tipo foi denominado de disfluência gaga e o segundo, de disfluência comum. De uma maneira geral, as disfluências são caracterizadas pelo não fluir normal dos segmentos sonoros da fala, devido à presença de hesitações e de interrupções durante o processo comunicativo. Inicialmente, foi feita uma revisão bibliográfica sobre a relação da fluência com a disfluência a partir de uma compilação dos principais estudos sobre o assunto. Na sequência, apresentamos os trabalhos da literatura especializada e da linguística para a disfluência gaga, bem como dos aspectos que tratam da articulação da fala e dos elementos suprassegmentais. A metodologia consistiu na gravação semiespontânea de seis informantes gagos e seis não gagos. Como parte da metodologia para a formação do corpus, foi pedido a eles que narrassem algum fato que tivesse marcado suas vidas. Não foi definida de uma temática específica. Os dados foram analisados auditivamente e acusticamente. Para a análise acústica utilizou-se o software PRAAT. Para análise e interpretação dos dados foram usados modelos teóricos referentes à fonologia autossegmental (Pierrehumbert,1980; Ladd, 1996, entre outros) e, como apoio teórico, o da fonologia funcional (Halliday, 1970; Cagliari, 2007). Também foram utilizados os trabalhos relacionados ao estudo da fluência e disfluência da fala de uma maneira geral (Scarpa, 1995; Cruz, 2009; Koch, 2009; Scarpa; Fernandes-Svartman, 2012; Merlo, 2015, entre outros), bem como da disfluência gaga (Van Riper, 1971; Friedman 1986; Azevedo, 2000, entre outros). A investigação acústica estuda os segmentos fonéticos, as pausas, as repetições, as hesitações, os alongamentos e os bloqueios de fala. A interpretação fonológica investiga o comportamento dos fonemas nos dois tipos de disfluências. Os resultados mostraram, em relação à análise da F0 e padrão da intensitade, diferenças pouco significativas para a comparação entre os dois tipos de disfluências. A duração foi o evento que mais distanciou os dois tipos de fala, sendo maior para os falantes com disfluência gaga. Em relação aos tipos de disfluências (repetições, inserções, hesitações, entre outros), tanto os informantes gagos quanto os não gagos realizaram o mesmo tipo de disfluência. A diferença entre eles deve-se à quantidade e à complexidade das disfluências. Nesse caso, os informantes gagos tendem a apresentar um maior número de disfluências por grupo tonal, bem como uma quantidade maior de disfluências complexas. Outra diferença entre os dois grupos está na duração e quantidade de pausas, que tende a ser maior para os informantes com disfluência gaga. A análise fonológica, por sua vez, mostrou que gagos e não gagos tendem a manter o padrão entoacional para as repetições, inserções e hesitações. Esses resultados confirmam a hipótese de que a gagueira estaria mais relacionada a uma questão articulatória que leva, por meio de uma empatia fonética negativa, a quebra na expectativa do interlocutor. Já a disfluência comum, por estar mais relacionada a fenômenos estilísticos, não é sentida da mesma maneira. Mesmo assim, o caminho mais adequado não é o de distanciar negativamente esses dois tipos de fala, uma vez que os eventos são os mesmos, o que muda é o modo como eles são refletidos e sentidos.The present work investigates and compares the dysfluency speech of stuttering and non-stuttering people. The first type was called stutterer dysfluency and the second common disfluency. In general, dysfluencies are characterized by no expected flow of the phonetic segments of speech due to the presence of hesitations and interruptions during the communication process. A general review of the literature on the relationship between fluency and dysfluency is presented with comments. A special review presents works of linguists, discussing stutterer dysfluency in particular in relation to segmental and suprasegmental articulatory problems. The methodology consists of recordings of semi spontaneous speech by six stutterers and non-stutterers informants. As part of the methodology for the formation of the corpus, the informants were asked to report any fact that marked their lives. Data were analyzed auditorily and acoustically. For acoustic analysis, the PRAAT software was used. Theoretical models regarding autosegmental phonology (Pierrehumbert, 1980; Ladd, 1996 among others) and functional phonology (Halliday, 1970, Cagliari, 2007) were used for theoretical support. The study of fluency and dysfluency discusses in particular the works from Scarpa (1995); Cruz (2009); Koch (2009) and Merlo (2015). On the other hand, stutterer dysfluency reminds the works of Van Riper (1971); Friedman (1986); Azevedo (2000), among others. The acoustic analyses take into consideration the phonetic segments, pauses, repetitions, hesitations, speech stretching and blocking. The phonological interpretation investigates the phoneme behavior in both types of disfluency. The results revealed, in relation to the analysis of F0 and intensity standard, minor differences in comparing the two types of disfluency. The duration was the event that more distanced the two types of speech behavior, being higher for speakers with stutterer dysfluency. The difference between them is due to the amount of occurrences and the types of complex disfluencies. Stuttering informants tend to have a larger number of dysfluency by tonal group as well as a greater amount of complex dysfluency. The phonological analyses, in turn, showed that stuttering and non-stuttering tend to maintain the intonation pattern for repeats, insertions and hesitations. These results confirm the hypothesis that stuttering is more related to an articulation process which leads, through a negative phonetic empathy, to break the expectation of the interlocutor. On the other hand, common dysfluency which is more related to stylistic phenomena is also involved with the same kind of speech problems but in a different dimension. Indeed, the most appropriate conclusion is to set a scale for the events with the two types of disfluency in opposite positions. This scale is interpreted as such by the persons involved in the problem, being framed by different expectations.Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq)CNPq: 141913/2013-4Universidade Estadual Paulista (Unesp)Cagliari, Luiz Carlos [UNESP]Universidade Estadual Paulista (Unesp)Vischi, Mariane Carvalho [UNESP]2017-04-06T17:14:36Z2017-04-06T17:14:36Z2017-03-03info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisapplication/pdfhttp://hdl.handle.net/11449/15007200088359033004030009P49965718421533502porinfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Repositório Institucional da UNESPinstname:Universidade Estadual Paulista (UNESP)instacron:UNESP2024-06-13T14:21:28Zoai:repositorio.unesp.br:11449/150072Repositório InstitucionalPUBhttp://repositorio.unesp.br/oai/requestopendoar:29462024-08-05T14:39:39.472841Repositório Institucional da UNESP - Universidade Estadual Paulista (UNESP)false
dc.title.none.fl_str_mv A disfluência comum e gaga
The common and stutterer dysfluency
title A disfluência comum e gaga
spellingShingle A disfluência comum e gaga
Vischi, Mariane Carvalho [UNESP]
Fluência
Disfluência comum
Disfluência gaga
Articulação
Empatia negativa
Fluency
Common dysfluency
Stutterer dysfluency
Articulation
Negative empathy
title_short A disfluência comum e gaga
title_full A disfluência comum e gaga
title_fullStr A disfluência comum e gaga
title_full_unstemmed A disfluência comum e gaga
title_sort A disfluência comum e gaga
author Vischi, Mariane Carvalho [UNESP]
author_facet Vischi, Mariane Carvalho [UNESP]
author_role author
dc.contributor.none.fl_str_mv Cagliari, Luiz Carlos [UNESP]
Universidade Estadual Paulista (Unesp)
dc.contributor.author.fl_str_mv Vischi, Mariane Carvalho [UNESP]
dc.subject.por.fl_str_mv Fluência
Disfluência comum
Disfluência gaga
Articulação
Empatia negativa
Fluency
Common dysfluency
Stutterer dysfluency
Articulation
Negative empathy
topic Fluência
Disfluência comum
Disfluência gaga
Articulação
Empatia negativa
Fluency
Common dysfluency
Stutterer dysfluency
Articulation
Negative empathy
description O presente trabalho investiga e compara a disfluência na fala de pessoas gagas e não gagas. O primeiro tipo foi denominado de disfluência gaga e o segundo, de disfluência comum. De uma maneira geral, as disfluências são caracterizadas pelo não fluir normal dos segmentos sonoros da fala, devido à presença de hesitações e de interrupções durante o processo comunicativo. Inicialmente, foi feita uma revisão bibliográfica sobre a relação da fluência com a disfluência a partir de uma compilação dos principais estudos sobre o assunto. Na sequência, apresentamos os trabalhos da literatura especializada e da linguística para a disfluência gaga, bem como dos aspectos que tratam da articulação da fala e dos elementos suprassegmentais. A metodologia consistiu na gravação semiespontânea de seis informantes gagos e seis não gagos. Como parte da metodologia para a formação do corpus, foi pedido a eles que narrassem algum fato que tivesse marcado suas vidas. Não foi definida de uma temática específica. Os dados foram analisados auditivamente e acusticamente. Para a análise acústica utilizou-se o software PRAAT. Para análise e interpretação dos dados foram usados modelos teóricos referentes à fonologia autossegmental (Pierrehumbert,1980; Ladd, 1996, entre outros) e, como apoio teórico, o da fonologia funcional (Halliday, 1970; Cagliari, 2007). Também foram utilizados os trabalhos relacionados ao estudo da fluência e disfluência da fala de uma maneira geral (Scarpa, 1995; Cruz, 2009; Koch, 2009; Scarpa; Fernandes-Svartman, 2012; Merlo, 2015, entre outros), bem como da disfluência gaga (Van Riper, 1971; Friedman 1986; Azevedo, 2000, entre outros). A investigação acústica estuda os segmentos fonéticos, as pausas, as repetições, as hesitações, os alongamentos e os bloqueios de fala. A interpretação fonológica investiga o comportamento dos fonemas nos dois tipos de disfluências. Os resultados mostraram, em relação à análise da F0 e padrão da intensitade, diferenças pouco significativas para a comparação entre os dois tipos de disfluências. A duração foi o evento que mais distanciou os dois tipos de fala, sendo maior para os falantes com disfluência gaga. Em relação aos tipos de disfluências (repetições, inserções, hesitações, entre outros), tanto os informantes gagos quanto os não gagos realizaram o mesmo tipo de disfluência. A diferença entre eles deve-se à quantidade e à complexidade das disfluências. Nesse caso, os informantes gagos tendem a apresentar um maior número de disfluências por grupo tonal, bem como uma quantidade maior de disfluências complexas. Outra diferença entre os dois grupos está na duração e quantidade de pausas, que tende a ser maior para os informantes com disfluência gaga. A análise fonológica, por sua vez, mostrou que gagos e não gagos tendem a manter o padrão entoacional para as repetições, inserções e hesitações. Esses resultados confirmam a hipótese de que a gagueira estaria mais relacionada a uma questão articulatória que leva, por meio de uma empatia fonética negativa, a quebra na expectativa do interlocutor. Já a disfluência comum, por estar mais relacionada a fenômenos estilísticos, não é sentida da mesma maneira. Mesmo assim, o caminho mais adequado não é o de distanciar negativamente esses dois tipos de fala, uma vez que os eventos são os mesmos, o que muda é o modo como eles são refletidos e sentidos.
publishDate 2017
dc.date.none.fl_str_mv 2017-04-06T17:14:36Z
2017-04-06T17:14:36Z
2017-03-03
dc.type.status.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/publishedVersion
dc.type.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/doctoralThesis
format doctoralThesis
status_str publishedVersion
dc.identifier.uri.fl_str_mv http://hdl.handle.net/11449/150072
000883590
33004030009P4
9965718421533502
url http://hdl.handle.net/11449/150072
identifier_str_mv 000883590
33004030009P4
9965718421533502
dc.language.iso.fl_str_mv por
language por
dc.rights.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/openAccess
eu_rights_str_mv openAccess
dc.format.none.fl_str_mv application/pdf
dc.publisher.none.fl_str_mv Universidade Estadual Paulista (Unesp)
publisher.none.fl_str_mv Universidade Estadual Paulista (Unesp)
dc.source.none.fl_str_mv reponame:Repositório Institucional da UNESP
instname:Universidade Estadual Paulista (UNESP)
instacron:UNESP
instname_str Universidade Estadual Paulista (UNESP)
instacron_str UNESP
institution UNESP
reponame_str Repositório Institucional da UNESP
collection Repositório Institucional da UNESP
repository.name.fl_str_mv Repositório Institucional da UNESP - Universidade Estadual Paulista (UNESP)
repository.mail.fl_str_mv
_version_ 1808128396094341120