O ato performático-cínico: Ricardo Lísias e uma nova autoficção

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Silva, Luis Claudio Ferreira [UNESP]
Data de Publicação: 2019
Tipo de documento: Tese
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional da UNESP
Texto Completo: http://hdl.handle.net/11449/182545
Resumo: O presente trabalho tem como objetivo refletir sobre a produção autoficcional de Ricardo Lísias, dando ênfase aos dois últimos romances, desse subgênero, produzidos pelo autor, a saber, Delegado Tobias (2015) e Inquérito policial: família Tobias (2016), sem perder de vista os dois anteriores: O céu dos suicidas (2012) e Divórcio (2013). A hipótese é a de que haveria uma evolução/transformação no seu fazer autoficcional, com os dois livros mais recentes marcando essa mudança, com elementos que não apareciam nas produções anteriores – nem na de outros autores. A autoficção, bem como o autor em questão, é um gênero por si só polêmico e controverso, e que muitas vezes é apontado como módo fácil de fazer literatura. Leyla Perrone-Moisés, por exemplo, é uma das vozes que discordam dessa afirmação. Cunhado na França em 1977 por Serge Doubrovsky, o subgênero, sem nenhuma conotação depreciativa no prefixo, já recebeu inúmeras abordagens de diversos estudiosos tanto na França como no resto do mundo, inclusive no Brasil. Produzido em grande quantidade neste século, chegou a incomodar o escritor Daniel Galera que disse, em 2013, esperar que o gênero fosse passageiro. Ao contrário das perspectivas, a autoficção se firmou e se reinventou, sobretudo pelas produções de Ricardo Lísias. Por isso, também apresentarei uma perspectiva histórica do termo para ver a mudança na sua compreensão, trazendo autores como, além dos já citados, Philippe Lejeune e Vincent Colonna. Como a autoficção sempre aponta para um duplo, acredito ser importante uma análise além da intratextual: a extratextual. Por isso, trago os estudos de Bourdieu sobre o campo literário para o debate, tentando analisar o percurso de Lísias e o reconhecimento de sua obra no campo, passando por discussões sobre o mercado editoral e espetacularização. O escritor também atua como um agente plural dentro do campo literário, pois também é pesquisador, tradutor e participou de grandes prêmios literários. Sua “costura” foi extremamemente importante para a sua consolidção nesse campo, sobretudo pela hipótese que apresento: Lísias constrói uma postura autoficcional também em suas entrevistas. Seu ato performático, todavia, usa de um elemento importante: o cinismo. Discutirei essas questões a partir do trabalho de Peter Sloterdjik para falar de cinismo dentro da performance na obra lisiana. Nessa reconfiguração da autoficção, Lísias utilisa ferramentas interessantes como a metaficção, o sarcasmo, redes sociais e o mashup, reconstruindo esse espelho enviesado que é a autoficção, fazendo uma espécie de dupla performance e colaborando para embaralhar ainda mais as fronteiras entre o real e o ficcional.
id UNSP_9c4b00b38758e2b141e45be52dd2a7b6
oai_identifier_str oai:repositorio.unesp.br:11449/182545
network_acronym_str UNSP
network_name_str Repositório Institucional da UNESP
repository_id_str 2946
spelling O ato performático-cínico: Ricardo Lísias e uma nova autoficçãoL'acte performatique-cynique: Ricardo Lísias et une nouvelle autofictionRicardo LísiasCampo LiterárioAutoficçãoLiteratura ContemporâneaPerformanceLiterary fieldAutofictionO presente trabalho tem como objetivo refletir sobre a produção autoficcional de Ricardo Lísias, dando ênfase aos dois últimos romances, desse subgênero, produzidos pelo autor, a saber, Delegado Tobias (2015) e Inquérito policial: família Tobias (2016), sem perder de vista os dois anteriores: O céu dos suicidas (2012) e Divórcio (2013). A hipótese é a de que haveria uma evolução/transformação no seu fazer autoficcional, com os dois livros mais recentes marcando essa mudança, com elementos que não apareciam nas produções anteriores – nem na de outros autores. A autoficção, bem como o autor em questão, é um gênero por si só polêmico e controverso, e que muitas vezes é apontado como módo fácil de fazer literatura. Leyla Perrone-Moisés, por exemplo, é uma das vozes que discordam dessa afirmação. Cunhado na França em 1977 por Serge Doubrovsky, o subgênero, sem nenhuma conotação depreciativa no prefixo, já recebeu inúmeras abordagens de diversos estudiosos tanto na França como no resto do mundo, inclusive no Brasil. Produzido em grande quantidade neste século, chegou a incomodar o escritor Daniel Galera que disse, em 2013, esperar que o gênero fosse passageiro. Ao contrário das perspectivas, a autoficção se firmou e se reinventou, sobretudo pelas produções de Ricardo Lísias. Por isso, também apresentarei uma perspectiva histórica do termo para ver a mudança na sua compreensão, trazendo autores como, além dos já citados, Philippe Lejeune e Vincent Colonna. Como a autoficção sempre aponta para um duplo, acredito ser importante uma análise além da intratextual: a extratextual. Por isso, trago os estudos de Bourdieu sobre o campo literário para o debate, tentando analisar o percurso de Lísias e o reconhecimento de sua obra no campo, passando por discussões sobre o mercado editoral e espetacularização. O escritor também atua como um agente plural dentro do campo literário, pois também é pesquisador, tradutor e participou de grandes prêmios literários. Sua “costura” foi extremamemente importante para a sua consolidção nesse campo, sobretudo pela hipótese que apresento: Lísias constrói uma postura autoficcional também em suas entrevistas. Seu ato performático, todavia, usa de um elemento importante: o cinismo. Discutirei essas questões a partir do trabalho de Peter Sloterdjik para falar de cinismo dentro da performance na obra lisiana. Nessa reconfiguração da autoficção, Lísias utilisa ferramentas interessantes como a metaficção, o sarcasmo, redes sociais e o mashup, reconstruindo esse espelho enviesado que é a autoficção, fazendo uma espécie de dupla performance e colaborando para embaralhar ainda mais as fronteiras entre o real e o ficcional.The purpose of this study is to reflect on the autofictional production of Ricardo Lísias, especially in the last two novels writed by him: Delegado Tobias (2015) and Inquérito policial: família Tobias (2016), not forgetting the two previous ones: O céu dos suicídas (2012) and Divórcio (2013). The hypothesis is: there would be an evolution / transformation in the way of the autoficction: in two most recent books would sign this change, by using some elements which were not used in the other productions – in those of the others authors either. Autofiction is a genre, as well as Lísias, controversial that is sometimes understood as an easy way to make literature. Leyla Perrone-Moisés, who occupies a theoretical place, is, for example, one of the scientists who does not agree with negative statements about the autofiction. Created in France in 1977 by Serge Doubrovsky, its has alredy been studied by a large number of scientists, either in France or elsewhere – even in Brazil. Produced in large quantities in this century, the autofiction has embarrased the writer Daniel Galera, who said, in 2013, hopes that autofiction will disapeare soon. In contrast to these perspectives, its has stabilized and recovered, especially for Ricardo Lísias new novels. For this, I will also present a historical perspective of the therm to see changes in its understanding, inviting authors like, in addition to those already mentioned, Philippe Lejeune and Vincent Colonna. As autofiction always presupposes a double, I believe that analysis is necessary because this extra-textual one. For this, I will also discuss Bordieu’s work on the literaty field, analyzing Lísias’ career and the recognition of his work in this field, including discussions on spectacularization and the book and publishing market. The writer plays the role of a plural agent in the field because he is also a researcher, translator and has may indications for important literary awards in Brasil. His articulation was extermely important for him to consolidate in this cultural field, especially for the hypothesis that I present: the autoficcion made by Lísias is also present in his interviews. However, his performative role uses an important element: cynicism. I will discuss theses questions form Peter Sloterdjik’s book to talk about cynicism in performance. In this reconfiguration of autofiction. Lísias uses interesting tools such as metafiction, sarcasm, social networks and mashup, reconstructing the mirror that is autofiction, doing a kind of double performance and collaborating to further blend the boundaries between the real and the fictionalUniversidade Estadual Paulista (Unesp)Santini, Juliana [UNESP]Universidade Estadual Paulista (Unesp)Silva, Luis Claudio Ferreira [UNESP]2019-07-16T16:51:35Z2019-07-16T16:51:35Z2019-05-27info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisapplication/pdfapplication/pdfhttp://hdl.handle.net/11449/18254500091851733004030016P0porinfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Repositório Institucional da UNESPinstname:Universidade Estadual Paulista (UNESP)instacron:UNESP2023-12-21T06:23:52Zoai:repositorio.unesp.br:11449/182545Repositório InstitucionalPUBhttp://repositorio.unesp.br/oai/requestopendoar:29462023-12-21T06:23:52Repositório Institucional da UNESP - Universidade Estadual Paulista (UNESP)false
dc.title.none.fl_str_mv O ato performático-cínico: Ricardo Lísias e uma nova autoficção
L'acte performatique-cynique: Ricardo Lísias et une nouvelle autofiction
title O ato performático-cínico: Ricardo Lísias e uma nova autoficção
spellingShingle O ato performático-cínico: Ricardo Lísias e uma nova autoficção
Silva, Luis Claudio Ferreira [UNESP]
Ricardo Lísias
Campo Literário
Autoficção
Literatura Contemporânea
Performance
Literary field
Autofiction
title_short O ato performático-cínico: Ricardo Lísias e uma nova autoficção
title_full O ato performático-cínico: Ricardo Lísias e uma nova autoficção
title_fullStr O ato performático-cínico: Ricardo Lísias e uma nova autoficção
title_full_unstemmed O ato performático-cínico: Ricardo Lísias e uma nova autoficção
title_sort O ato performático-cínico: Ricardo Lísias e uma nova autoficção
author Silva, Luis Claudio Ferreira [UNESP]
author_facet Silva, Luis Claudio Ferreira [UNESP]
author_role author
dc.contributor.none.fl_str_mv Santini, Juliana [UNESP]
Universidade Estadual Paulista (Unesp)
dc.contributor.author.fl_str_mv Silva, Luis Claudio Ferreira [UNESP]
dc.subject.por.fl_str_mv Ricardo Lísias
Campo Literário
Autoficção
Literatura Contemporânea
Performance
Literary field
Autofiction
topic Ricardo Lísias
Campo Literário
Autoficção
Literatura Contemporânea
Performance
Literary field
Autofiction
description O presente trabalho tem como objetivo refletir sobre a produção autoficcional de Ricardo Lísias, dando ênfase aos dois últimos romances, desse subgênero, produzidos pelo autor, a saber, Delegado Tobias (2015) e Inquérito policial: família Tobias (2016), sem perder de vista os dois anteriores: O céu dos suicidas (2012) e Divórcio (2013). A hipótese é a de que haveria uma evolução/transformação no seu fazer autoficcional, com os dois livros mais recentes marcando essa mudança, com elementos que não apareciam nas produções anteriores – nem na de outros autores. A autoficção, bem como o autor em questão, é um gênero por si só polêmico e controverso, e que muitas vezes é apontado como módo fácil de fazer literatura. Leyla Perrone-Moisés, por exemplo, é uma das vozes que discordam dessa afirmação. Cunhado na França em 1977 por Serge Doubrovsky, o subgênero, sem nenhuma conotação depreciativa no prefixo, já recebeu inúmeras abordagens de diversos estudiosos tanto na França como no resto do mundo, inclusive no Brasil. Produzido em grande quantidade neste século, chegou a incomodar o escritor Daniel Galera que disse, em 2013, esperar que o gênero fosse passageiro. Ao contrário das perspectivas, a autoficção se firmou e se reinventou, sobretudo pelas produções de Ricardo Lísias. Por isso, também apresentarei uma perspectiva histórica do termo para ver a mudança na sua compreensão, trazendo autores como, além dos já citados, Philippe Lejeune e Vincent Colonna. Como a autoficção sempre aponta para um duplo, acredito ser importante uma análise além da intratextual: a extratextual. Por isso, trago os estudos de Bourdieu sobre o campo literário para o debate, tentando analisar o percurso de Lísias e o reconhecimento de sua obra no campo, passando por discussões sobre o mercado editoral e espetacularização. O escritor também atua como um agente plural dentro do campo literário, pois também é pesquisador, tradutor e participou de grandes prêmios literários. Sua “costura” foi extremamemente importante para a sua consolidção nesse campo, sobretudo pela hipótese que apresento: Lísias constrói uma postura autoficcional também em suas entrevistas. Seu ato performático, todavia, usa de um elemento importante: o cinismo. Discutirei essas questões a partir do trabalho de Peter Sloterdjik para falar de cinismo dentro da performance na obra lisiana. Nessa reconfiguração da autoficção, Lísias utilisa ferramentas interessantes como a metaficção, o sarcasmo, redes sociais e o mashup, reconstruindo esse espelho enviesado que é a autoficção, fazendo uma espécie de dupla performance e colaborando para embaralhar ainda mais as fronteiras entre o real e o ficcional.
publishDate 2019
dc.date.none.fl_str_mv 2019-07-16T16:51:35Z
2019-07-16T16:51:35Z
2019-05-27
dc.type.status.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/publishedVersion
dc.type.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/doctoralThesis
format doctoralThesis
status_str publishedVersion
dc.identifier.uri.fl_str_mv http://hdl.handle.net/11449/182545
000918517
33004030016P0
url http://hdl.handle.net/11449/182545
identifier_str_mv 000918517
33004030016P0
dc.language.iso.fl_str_mv por
language por
dc.rights.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/openAccess
eu_rights_str_mv openAccess
dc.format.none.fl_str_mv application/pdf
application/pdf
dc.publisher.none.fl_str_mv Universidade Estadual Paulista (Unesp)
publisher.none.fl_str_mv Universidade Estadual Paulista (Unesp)
dc.source.none.fl_str_mv reponame:Repositório Institucional da UNESP
instname:Universidade Estadual Paulista (UNESP)
instacron:UNESP
instname_str Universidade Estadual Paulista (UNESP)
instacron_str UNESP
institution UNESP
reponame_str Repositório Institucional da UNESP
collection Repositório Institucional da UNESP
repository.name.fl_str_mv Repositório Institucional da UNESP - Universidade Estadual Paulista (UNESP)
repository.mail.fl_str_mv
_version_ 1797790068971143168