Alegoria e carnavalização em "O santeiro do Mangue", de Oswald de Andrade

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Maciel, Sirlene Sales
Data de Publicação: 2018
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional da UNESP
Texto Completo: http://hdl.handle.net/11449/158258
Resumo: O presente estudo tem como objetivo analisar a alegoria e a carnavalização no drama épico O santeiro do Mangue: mistério gozoso em forma de Ópera (2012), assim como a multiplicidade de vozes que, por meio de contradições, saltos e fragmentos, subvertem os ensinamentos didático-pedagógicos cristãos que estão inseridos na formação da sociedade brasileira desde o início da catequese. O autor pretende um teatro de massas, em que a carnavalização e a alegoria convivem em duplicidade, ou de forma dialética, como instrumentos de revelação do pensamento autoral. Se por um lado temos o clima de festa e o riso ambivalente trazendo cenas carnavalizantes, temos, por outro, a revelação melancólica que traz os ecos da modernidade para a obra. Tanto uma quanto a outra são estratégias discursivas que inserem o texto no contexto de sua produção. O messianismo, tão criticado por Oswald de Andrade em sua tese A crise da filosofia Messiânica, está também presente na obra, pois, de uma forma dialética e contraditória, as vozes dos subalternos esperam por uma salvação, porém ela não vem dos céus, mas do mundo concreto, vem do aspecto político. Por meio da busca utópica do Matriarcado de Pindorama a antropofagia deglute a velha sociedade em termos estéticos e políticos. Desse modo, podemos pensar que não existe a ruptura com todos os messianismos, mas apenas a substituição de um por outro, ou, como na tese do autor: o messianismo religioso pelo messianismo político, que seriam as duas faces da mesma moeda. Em outros termos, podemos afirmar que o engajamento estético está vinculado a um engajamento político, sobretudo pelo uso dos recursos épicos, como a técnica do distanciamento, a falta de linearidade, os títulos nas cenas que funcionam como cartazes, o tom de ópera, com inserções do coro, a presença de um narrador. Tudo isso leva a uma ruptura com a ilusão do palco e propõe elementos reflexivos nos moldes do teatro brechtiano. O autor movimenta múltiplas vozes no drama épico e apresenta uma saída de classes, ao mesmo tempo em que há um choque com sua ironia e com seu pensamento filosófico, orientando a reflexão dos leitores/espectadores de forma não autoritária e extremamente contraditória.
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Se por um lado temos o clima de festa e o riso ambivalente trazendo cenas carnavalizantes, temos, por outro, a revelação melancólica que traz os ecos da modernidade para a obra. Tanto uma quanto a outra são estratégias discursivas que inserem o texto no contexto de sua produção. O messianismo, tão criticado por Oswald de Andrade em sua tese A crise da filosofia Messiânica, está também presente na obra, pois, de uma forma dialética e contraditória, as vozes dos subalternos esperam por uma salvação, porém ela não vem dos céus, mas do mundo concreto, vem do aspecto político. Por meio da busca utópica do Matriarcado de Pindorama a antropofagia deglute a velha sociedade em termos estéticos e políticos. Desse modo, podemos pensar que não existe a ruptura com todos os messianismos, mas apenas a substituição de um por outro, ou, como na tese do autor: o messianismo religioso pelo messianismo político, que seriam as duas faces da mesma moeda. Em outros termos, podemos afirmar que o engajamento estético está vinculado a um engajamento político, sobretudo pelo uso dos recursos épicos, como a técnica do distanciamento, a falta de linearidade, os títulos nas cenas que funcionam como cartazes, o tom de ópera, com inserções do coro, a presença de um narrador. Tudo isso leva a uma ruptura com a ilusão do palco e propõe elementos reflexivos nos moldes do teatro brechtiano. O autor movimenta múltiplas vozes no drama épico e apresenta uma saída de classes, ao mesmo tempo em que há um choque com sua ironia e com seu pensamento filosófico, orientando a reflexão dos leitores/espectadores de forma não autoritária e extremamente contraditória.The present study aims to analyze the allegory and the process of turning human actions into a ‘carnival’ in the epic drama O santeiro do Mangue: a luxurious mystery novel structured as an opera (2012) with multiple voices, that by means of contradictions, jumps and fragments, subverts the Christian didactic-pedagogical practices that constitute the values of Brazilian society since catechism. The author intends to create a popular theater where carnival and allegory coexist in duplicity, or dialectically in the work as instruments of authorial thoughts revelations and if on the one hand we have the atmosphere of partying and ambivalent laughter bringing carnival scenes, on the other hand we face the melancholic revelation that brings the echoes of modernity to the work. Both are discursive strategies that insert the text into the context of its production. Messianic believes, so criticized by Oswald de Andrade in his thesis ‘A crise da filosofia Messiânica’ (The Crisis of Messianic Philosophy), are also present in the work, as in a dialectical and contradictory way the subalterns voices hope for salvation, does not come from heaven but from concrete world, the political side. Through the search of the utopian ‘Matriarcado de Pindorama’ anthropophagy swallows the old society in aesthetic and political terms. Thus, one could think there is no rupture with all messianic believes, but only the substitution of one for another, or as in the author's thesis: messianic religion for messianic politics both sides of the same coin. That is to say, the aesthetic engagement is linked to political one, especially by the use of epic resources, such as the detachment technique, the lack of linearity, scenes titles functioning as posters, operatic tone, the choir insertions, the narrator’s presence, all of those aspects lead to a disruption to the stage illusion and propose reflective elements in Brecht’s theater molds. The author moves multiple voices in the epic drama and presents a departure from classes, at the same time as those clash with his irony and his philosophical thoughts, directing the readers’/spectators’ reflection to a non-authoritarian and extremely contradictory way.OutraUniversidade Estadual Paulista (Unesp)Silva, Paulo César Andrade de [UNESP]Universidade Estadual Paulista (Unesp)Maciel, Sirlene Sales2018-11-12T19:58:20Z2018-11-12T19:58:20Z2018-09-28info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisapplication/pdfapplication/pdfhttp://hdl.handle.net/11449/15825800090992133004030016P092904592614743980000-0001-5898-2914porinfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Repositório Institucional da UNESPinstname:Universidade Estadual Paulista (UNESP)instacron:UNESP2024-06-12T14:28:24Zoai:repositorio.unesp.br:11449/158258Repositório InstitucionalPUBhttp://repositorio.unesp.br/oai/requestopendoar:29462024-08-05T23:45:04.456007Repositório Institucional da UNESP - Universidade Estadual Paulista (UNESP)false
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