Projeto Integrado: arte e educação

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Guimarães, Ana Archangelo [UNESP]
Data de Publicação: 2001
Outros Autores: Souza, Renata Junqueira [UNESP]
Tipo de documento: Artigo de conferência
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional da UNESP
Texto Completo: http://proex.reitoria.unesp.br/congressos/Congressos/1__Congresso/Aten__o_Especial___Crian_a/Trabalho06.htm
http://hdl.handle.net/11449/148172
Resumo: O curso de Pedagogia da UNESP de Presidente Prudente tem por proposta formar o professor, tanto para a habilitação específica do magistério quanto para as séries iniciais do primeiro grau. No processo de formação, entretanto, muitos professores foram identificando um distanciamento dos alunos - futuros professores daquele que é o professor que está no dia a dia da escola pública. Não um distanciamento físico, uma vez que os estágios os obrigam a essa proximidade, mas um distanciamento que os impele para um olhar pouco voltado para o entendimento, compreensão e contextualização dos fenômenos de sala de aula, especialmente aqueles que incidem diretamente sobre o papel do professor. Um distanciamento criado a partir de uma supervalorização dos referenciais teóricos e da crítica competente aprendidos na universidade, criado no vácuo existente entre o discurso que valoriza o processo de ação e reflexão e uma prática que substitui a ação pela observação. Alunos e professores questionaram a relação teoria e prática vivida; reivindicaram um conhecimento que proporcionasse, mais que aproximação, a integração com o real e não o afastamento dele. É desse caminho que nasceu, há 5 anos, o Projeto Integrado. O Projeto Integrado busca proporcionar, além da discussão conceitual proposta em cada uma das disciplinas, espaços de confronto; confronto entre a idealização e a realização, confronto entre o conhecimento já produzido e aquele que está por ser criado, confronto entre as concepções contraditórias presentes em cada sujeito. Busca criar um canal real de interação e participação no dia a dia da escola pública, ainda no processo de formação do profissional. Isto garante a construção da identidade profissional marcada pela orientação e não pelo abandono. No contexto do acompanhamento sistemático e encorajador, fica o aluno seguro para ir além da reflexão e enfrentar a ação. Na ousadia de um fazer-fundamentado, pode este futuro profissional refletir sobre os próprios limites e possibilidades, pode estudar, criar, agir, avaliar o real e a si próprio; pode o sujeito se comprometer com suas convicções ao mesmo tempo em que aceita pô-las à prova; pode o sujeito colocar-se no lugar do outro. Pode o sujeito ser investigativo, atuante e capaz de transformações internas profundas. O Projeto se organiza a partir de algumas das disciplinas obrigatórias e optativas do Curso de Pedagogia. Nelas, são trabalhados não apenas seus conteúdos específicos, como também os aspectos relevantes para o contato direto do aluno-futuro professor com a escola, como, por exemplo, o diagnóstico dos aspectos organizacionais, pedagógicos, metodológicos e afetivos da escola. Também são abordadas as ansiedades vividas pelos alunos que enfrentam a sala de aula pela primeira vez, e, através delas, a possível ansiedade persecutória do professor da escola que os terá como estagiários-parceiros. Desta forma, o aluno pode enfrentar a situação de estágio sem fazer uso de atitudes muitas vezes autoritárias que escamoteiam sua insegurança, além de poder compreender as possíveis reações dos professores da escola. Algumas dificuldades têm sido freqüentes no desenvolvimento do Projeto Integrado. As dificuldades internas dizem respeito à resistência presente entre alguns professores da própria universidade, que relutam em aceitar um estágio que supere a observação e análise crítica do fazer do outro. Entretanto, o apoio do Curso, através de seu Conselho, e da totalidade dos alunos, tem sido fundamental para a continuidade desta iniciativa. Outra dificuldade provém da resistência que a escola pública tem em relação à Universidade. Exatamente por se sentir freqüentemente observada e criticada, tal como nos estágios que o Projeto pretende superar, a escola desconfia de uma iniciativa em que se busque a parceria. O Projeto tem passado por pequenas modificações desde o seu nascimento, em virtude das avaliações realizadas anualmente por alunos do Curso de Pedagogia e professores da rede pública. Entretanto, o procedimento básico permanece o mesmo, uma vez que é ele quem concretiza seus princípios fundamentais. A estrutura básica dos Projeto é a seguinte: 1. Aulas das disciplinas envolvidas no Projeto, onde são discutidas as questões conceituais específicas e aquelas que permitem a aproximação do aluno à realidade da escola em que realizará o estágio (desenvolvidas em horário regular de aula); 2. Realização do diagnóstico na escola (as aulas na universidade são suspensas por 2 dias para que os alunos desenvolvam estas atividades na escola pública); 3. Elaboração de Projeto de Trabalho a ser desenvolvido com as crianças da escola pública, a partir do diagnóstico realizado e do conteúdo aprendido nas disciplinas (atividade desenvolvida pelos alunos da Pedagogia nas aulas das disciplinas envolvidas no Projeto Integrado, sob a orientação de seus professores); 4. Momento de observação da prática docente do professor (cerca de 15 horas de observações por disciplina); 5. Retorno à escola pública para o enfrentamento da situação docente, através do desenvolvimento das ações planejadas no momento anterior (item 3) (novamente as aulas são suspensas, agora por 1 semana, para que os alunos assumam, agora como professores, as classes em que realizaram seus diagnósticos); 6. Relato e avaliação das experiências entre os colegas, momento em que são discutidas as possibilidades e limites da formação do pedagogo (nos horários das disciplinas, sob supervisão do professor); 7. Avaliação geral do Projeto (todas as disciplinas juntas, com seus respectivos alunos, e os professores, coordenadores e diretores das escolas envolvidas no Projeto). Com este processo, o Projeto tem conseguido contribuir para o desenvolvimento mais pleno da figura do professor, pois as atividades realizadas em sala e extra-sala pretendem, qualificar nosso aluno-futuro professor para realizar diagnósticos, apresentar/elaborar e desenvolver projetos, mini-cursos, propostas curriculares, aulas e seminários. Tais atividades, além de desenvolverem habilidades de leitura voltadas especificamente para cada uma das disciplinas envolvidas, dado o caráter integrado do projeto, sua preocupação com o enfrentamento da sala de aula, a compreensão e contextualização dos fenômenos de sala de aula, o papel do professor com o domínio do processo ensino/aprendizagem, centram esforços para qualificar e preparar os futuros educadores, teórica e praticamente, para o e no exercício da docência. O Projeto tem proporcionado o exercício da problematização. Este possibilita a reconstrução do conhecimento, uma vez que o aluno ao problematizar a realidade vivenciada e experimentada faz e refaz questionamentos, busca respostas, procedimentos e justificativas a questões já trabalhadas e identificadas por outros. Pelo fato de o aluno colocar-se na situação de sujeito do e no processo educacional, tais questões passam a ser apropriados de forma significativa, dinâmica, em interação com outras perspectivas, análises e possibilidades. Além dos ganhos diretos na formação do aluno, outros benefícios podem ser evidenciados no desenvolvimento deste Projeto; afinal, as tarefas de ensino, pesquisa e extensão, propostas como o tripé de sustentação da universidade, não são plenamente realizáveis caso não haja uma articulação intencional entre elas. Ou seja, é na produção da pesquisa que se delineiam ensino e extensão; na realização da extensão, são gestados objetos de pesquisa e ensino; no ensino são concebidas possibilidades de extensão e de pesquisa. Do confronto entre essas instâncias nasce o que verdadeiramente se pode denominar de relação entre a teoria e a prática. Neste confronto, o Projeto permitiu a professores e alunos o conhecimento das reais demandas presentes na realidade das escolas, não apenas para identificação de novos objetos de pesquisa, mas para o aprimoramento da formação de um profissional que possa enfrentá-las com uma atitude mais madura, menos ingênua. Além disso, a extensão viabilizada com o Projeto evidenciou algumas das dificuldades do relacionamento da Universidade com a sociedade, o que permite aos sujeitos que fazem parte e representam esta primeira uma profunda avaliação e auto-crítica com relação à sua postura frente à segunda.
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Isto garante a construção da identidade profissional marcada pela orientação e não pelo abandono. No contexto do acompanhamento sistemático e encorajador, fica o aluno seguro para ir além da reflexão e enfrentar a ação. Na ousadia de um fazer-fundamentado, pode este futuro profissional refletir sobre os próprios limites e possibilidades, pode estudar, criar, agir, avaliar o real e a si próprio; pode o sujeito se comprometer com suas convicções ao mesmo tempo em que aceita pô-las à prova; pode o sujeito colocar-se no lugar do outro. Pode o sujeito ser investigativo, atuante e capaz de transformações internas profundas. O Projeto se organiza a partir de algumas das disciplinas obrigatórias e optativas do Curso de Pedagogia. Nelas, são trabalhados não apenas seus conteúdos específicos, como também os aspectos relevantes para o contato direto do aluno-futuro professor com a escola, como, por exemplo, o diagnóstico dos aspectos organizacionais, pedagógicos, metodológicos e afetivos da escola. Também são abordadas as ansiedades vividas pelos alunos que enfrentam a sala de aula pela primeira vez, e, através delas, a possível ansiedade persecutória do professor da escola que os terá como estagiários-parceiros. Desta forma, o aluno pode enfrentar a situação de estágio sem fazer uso de atitudes muitas vezes autoritárias que escamoteiam sua insegurança, além de poder compreender as possíveis reações dos professores da escola. Algumas dificuldades têm sido freqüentes no desenvolvimento do Projeto Integrado. As dificuldades internas dizem respeito à resistência presente entre alguns professores da própria universidade, que relutam em aceitar um estágio que supere a observação e análise crítica do fazer do outro. Entretanto, o apoio do Curso, através de seu Conselho, e da totalidade dos alunos, tem sido fundamental para a continuidade desta iniciativa. Outra dificuldade provém da resistência que a escola pública tem em relação à Universidade. Exatamente por se sentir freqüentemente observada e criticada, tal como nos estágios que o Projeto pretende superar, a escola desconfia de uma iniciativa em que se busque a parceria. O Projeto tem passado por pequenas modificações desde o seu nascimento, em virtude das avaliações realizadas anualmente por alunos do Curso de Pedagogia e professores da rede pública. Entretanto, o procedimento básico permanece o mesmo, uma vez que é ele quem concretiza seus princípios fundamentais. A estrutura básica dos Projeto é a seguinte: 1. Aulas das disciplinas envolvidas no Projeto, onde são discutidas as questões conceituais específicas e aquelas que permitem a aproximação do aluno à realidade da escola em que realizará o estágio (desenvolvidas em horário regular de aula); 2. Realização do diagnóstico na escola (as aulas na universidade são suspensas por 2 dias para que os alunos desenvolvam estas atividades na escola pública); 3. Elaboração de Projeto de Trabalho a ser desenvolvido com as crianças da escola pública, a partir do diagnóstico realizado e do conteúdo aprendido nas disciplinas (atividade desenvolvida pelos alunos da Pedagogia nas aulas das disciplinas envolvidas no Projeto Integrado, sob a orientação de seus professores); 4. Momento de observação da prática docente do professor (cerca de 15 horas de observações por disciplina); 5. Retorno à escola pública para o enfrentamento da situação docente, através do desenvolvimento das ações planejadas no momento anterior (item 3) (novamente as aulas são suspensas, agora por 1 semana, para que os alunos assumam, agora como professores, as classes em que realizaram seus diagnósticos); 6. Relato e avaliação das experiências entre os colegas, momento em que são discutidas as possibilidades e limites da formação do pedagogo (nos horários das disciplinas, sob supervisão do professor); 7. Avaliação geral do Projeto (todas as disciplinas juntas, com seus respectivos alunos, e os professores, coordenadores e diretores das escolas envolvidas no Projeto). Com este processo, o Projeto tem conseguido contribuir para o desenvolvimento mais pleno da figura do professor, pois as atividades realizadas em sala e extra-sala pretendem, qualificar nosso aluno-futuro professor para realizar diagnósticos, apresentar/elaborar e desenvolver projetos, mini-cursos, propostas curriculares, aulas e seminários. Tais atividades, além de desenvolverem habilidades de leitura voltadas especificamente para cada uma das disciplinas envolvidas, dado o caráter integrado do projeto, sua preocupação com o enfrentamento da sala de aula, a compreensão e contextualização dos fenômenos de sala de aula, o papel do professor com o domínio do processo ensino/aprendizagem, centram esforços para qualificar e preparar os futuros educadores, teórica e praticamente, para o e no exercício da docência. O Projeto tem proporcionado o exercício da problematização. Este possibilita a reconstrução do conhecimento, uma vez que o aluno ao problematizar a realidade vivenciada e experimentada faz e refaz questionamentos, busca respostas, procedimentos e justificativas a questões já trabalhadas e identificadas por outros. Pelo fato de o aluno colocar-se na situação de sujeito do e no processo educacional, tais questões passam a ser apropriados de forma significativa, dinâmica, em interação com outras perspectivas, análises e possibilidades. Além dos ganhos diretos na formação do aluno, outros benefícios podem ser evidenciados no desenvolvimento deste Projeto; afinal, as tarefas de ensino, pesquisa e extensão, propostas como o tripé de sustentação da universidade, não são plenamente realizáveis caso não haja uma articulação intencional entre elas. Ou seja, é na produção da pesquisa que se delineiam ensino e extensão; na realização da extensão, são gestados objetos de pesquisa e ensino; no ensino são concebidas possibilidades de extensão e de pesquisa. Do confronto entre essas instâncias nasce o que verdadeiramente se pode denominar de relação entre a teoria e a prática. Neste confronto, o Projeto permitiu a professores e alunos o conhecimento das reais demandas presentes na realidade das escolas, não apenas para identificação de novos objetos de pesquisa, mas para o aprimoramento da formação de um profissional que possa enfrentá-las com uma atitude mais madura, menos ingênua. 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Alunos e professores questionaram a relação teoria e prática vivida; reivindicaram um conhecimento que proporcionasse, mais que aproximação, a integração com o real e não o afastamento dele. É desse caminho que nasceu, há 5 anos, o Projeto Integrado. O Projeto Integrado busca proporcionar, além da discussão conceitual proposta em cada uma das disciplinas, espaços de confronto; confronto entre a idealização e a realização, confronto entre o conhecimento já produzido e aquele que está por ser criado, confronto entre as concepções contraditórias presentes em cada sujeito. Busca criar um canal real de interação e participação no dia a dia da escola pública, ainda no processo de formação do profissional. Isto garante a construção da identidade profissional marcada pela orientação e não pelo abandono. No contexto do acompanhamento sistemático e encorajador, fica o aluno seguro para ir além da reflexão e enfrentar a ação. Na ousadia de um fazer-fundamentado, pode este futuro profissional refletir sobre os próprios limites e possibilidades, pode estudar, criar, agir, avaliar o real e a si próprio; pode o sujeito se comprometer com suas convicções ao mesmo tempo em que aceita pô-las à prova; pode o sujeito colocar-se no lugar do outro. Pode o sujeito ser investigativo, atuante e capaz de transformações internas profundas. O Projeto se organiza a partir de algumas das disciplinas obrigatórias e optativas do Curso de Pedagogia. Nelas, são trabalhados não apenas seus conteúdos específicos, como também os aspectos relevantes para o contato direto do aluno-futuro professor com a escola, como, por exemplo, o diagnóstico dos aspectos organizacionais, pedagógicos, metodológicos e afetivos da escola. Também são abordadas as ansiedades vividas pelos alunos que enfrentam a sala de aula pela primeira vez, e, através delas, a possível ansiedade persecutória do professor da escola que os terá como estagiários-parceiros. Desta forma, o aluno pode enfrentar a situação de estágio sem fazer uso de atitudes muitas vezes autoritárias que escamoteiam sua insegurança, além de poder compreender as possíveis reações dos professores da escola. Algumas dificuldades têm sido freqüentes no desenvolvimento do Projeto Integrado. As dificuldades internas dizem respeito à resistência presente entre alguns professores da própria universidade, que relutam em aceitar um estágio que supere a observação e análise crítica do fazer do outro. Entretanto, o apoio do Curso, através de seu Conselho, e da totalidade dos alunos, tem sido fundamental para a continuidade desta iniciativa. Outra dificuldade provém da resistência que a escola pública tem em relação à Universidade. Exatamente por se sentir freqüentemente observada e criticada, tal como nos estágios que o Projeto pretende superar, a escola desconfia de uma iniciativa em que se busque a parceria. O Projeto tem passado por pequenas modificações desde o seu nascimento, em virtude das avaliações realizadas anualmente por alunos do Curso de Pedagogia e professores da rede pública. Entretanto, o procedimento básico permanece o mesmo, uma vez que é ele quem concretiza seus princípios fundamentais. A estrutura básica dos Projeto é a seguinte: 1. Aulas das disciplinas envolvidas no Projeto, onde são discutidas as questões conceituais específicas e aquelas que permitem a aproximação do aluno à realidade da escola em que realizará o estágio (desenvolvidas em horário regular de aula); 2. Realização do diagnóstico na escola (as aulas na universidade são suspensas por 2 dias para que os alunos desenvolvam estas atividades na escola pública); 3. Elaboração de Projeto de Trabalho a ser desenvolvido com as crianças da escola pública, a partir do diagnóstico realizado e do conteúdo aprendido nas disciplinas (atividade desenvolvida pelos alunos da Pedagogia nas aulas das disciplinas envolvidas no Projeto Integrado, sob a orientação de seus professores); 4. Momento de observação da prática docente do professor (cerca de 15 horas de observações por disciplina); 5. Retorno à escola pública para o enfrentamento da situação docente, através do desenvolvimento das ações planejadas no momento anterior (item 3) (novamente as aulas são suspensas, agora por 1 semana, para que os alunos assumam, agora como professores, as classes em que realizaram seus diagnósticos); 6. Relato e avaliação das experiências entre os colegas, momento em que são discutidas as possibilidades e limites da formação do pedagogo (nos horários das disciplinas, sob supervisão do professor); 7. Avaliação geral do Projeto (todas as disciplinas juntas, com seus respectivos alunos, e os professores, coordenadores e diretores das escolas envolvidas no Projeto). Com este processo, o Projeto tem conseguido contribuir para o desenvolvimento mais pleno da figura do professor, pois as atividades realizadas em sala e extra-sala pretendem, qualificar nosso aluno-futuro professor para realizar diagnósticos, apresentar/elaborar e desenvolver projetos, mini-cursos, propostas curriculares, aulas e seminários. Tais atividades, além de desenvolverem habilidades de leitura voltadas especificamente para cada uma das disciplinas envolvidas, dado o caráter integrado do projeto, sua preocupação com o enfrentamento da sala de aula, a compreensão e contextualização dos fenômenos de sala de aula, o papel do professor com o domínio do processo ensino/aprendizagem, centram esforços para qualificar e preparar os futuros educadores, teórica e praticamente, para o e no exercício da docência. O Projeto tem proporcionado o exercício da problematização. Este possibilita a reconstrução do conhecimento, uma vez que o aluno ao problematizar a realidade vivenciada e experimentada faz e refaz questionamentos, busca respostas, procedimentos e justificativas a questões já trabalhadas e identificadas por outros. Pelo fato de o aluno colocar-se na situação de sujeito do e no processo educacional, tais questões passam a ser apropriados de forma significativa, dinâmica, em interação com outras perspectivas, análises e possibilidades. Além dos ganhos diretos na formação do aluno, outros benefícios podem ser evidenciados no desenvolvimento deste Projeto; afinal, as tarefas de ensino, pesquisa e extensão, propostas como o tripé de sustentação da universidade, não são plenamente realizáveis caso não haja uma articulação intencional entre elas. Ou seja, é na produção da pesquisa que se delineiam ensino e extensão; na realização da extensão, são gestados objetos de pesquisa e ensino; no ensino são concebidas possibilidades de extensão e de pesquisa. Do confronto entre essas instâncias nasce o que verdadeiramente se pode denominar de relação entre a teoria e a prática. Neste confronto, o Projeto permitiu a professores e alunos o conhecimento das reais demandas presentes na realidade das escolas, não apenas para identificação de novos objetos de pesquisa, mas para o aprimoramento da formação de um profissional que possa enfrentá-las com uma atitude mais madura, menos ingênua. Além disso, a extensão viabilizada com o Projeto evidenciou algumas das dificuldades do relacionamento da Universidade com a sociedade, o que permite aos sujeitos que fazem parte e representam esta primeira uma profunda avaliação e auto-crítica com relação à sua postura frente à segunda.
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