Memórias de um outro em mim: leitura crítica de Mil rosas roubadas, de Silviano Santiago
Autor(a) principal: | |
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Data de Publicação: | 2021 |
Tipo de documento: | Tese |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Repositório Institucional da UNESP |
Texto Completo: | http://hdl.handle.net/11449/204250 |
Resumo: | Proponho aqui um estudo analítico-interpretativo da obra Mil rosas roubadas, de Silviano Santiago (Companhia das Letras, 2014), que tem como foco o percurso da memória do narrador que, ao rememorar o amigo Zeca, falecido recentemente e a quem tanto amara, volta-se a si próprio. Nesse percurso, o narrador lembra-se de quando e onde conheceu o amigo e dos momentos que marcaram suas vidas. O objetivo é compreender como se opera a fusão entre memória e imaginação em um relato supostamente confessional, biográfico, ou autobiográfico. O narrador de Mil rosas roubadas se apresenta como homodiegético, em nível microestrutural, tendo em vista que contará a história do amigo Zeca, mas no avançar da narração torna-se autodiegético, pois ao mergulhar no mais íntimo da psique do outro busca algum entendimento sobre si mesmo, uma vez que nem o tempo e a maturidade lhe haviam trazido. No percurso da pesquisa, parte-se da hipótese de que o eixo metalinguístico desnuda o eu profundo do narrador, na medida em que constrói a face do ficcionista. Do processo de saída de si, encontro com o outro e regresso a si, é possível que o eu da enunciação reconheça a presença de dois eus distintos e conflitantes no interior de sua psique. Deste encontro pode resultar o acabamento estético do herói de Mil rosas roubadas e, sobretudo, o reconhecimento do eu profundo que, até então, encontrava-se à sombra do eu narrado. A fim de poder elucidar tais hipóteses ao longo da pesquisa, valho-me da abordagem estruturalista na perspectiva dos estudos narratológicos de Gérard Genette (1979), para a compreensão dos aspectos do narrador e do discurso; de Mikhail Bakhtin (1997), no intuito de compreender como se dá o percurso do acabamento estético do herói de Mil rosas roubadas operado pelo narrador-escritor. Michel Collot (2013) torna-se relevante, na medida em que problematiza o processo de saída e regresso ao eu profundo, sendo que semelhante pormenor é perceptível no protagonista do romance de Santiago. Aparentemente, a personagem precisa deslocar o eu profundo ao exterior, para assim, através do olhar do outro, retornar a si de posse das informações suficientes para a construção do herói. Jeanne Marie Gagnebin (2006) contribui na elucidação das questões relacionadas à memória, haja vista a predisposição do narrador em relativizar sua própria atitude rememorativa. Sigmund Freud (1930) auxilia no que se refere à compreensão de certos mecanismos psíquicos que se escondem nos meandros da microestrutura e são imprescindíveis para compreensão do romance. Além disso, em Luto e melancolia, Freud contribui para a compreensão do papel da morte de Zeca no processo de escrita de Mil rosas roubadas. Clement Rosset (1976) traz decisiva contribuição para as implicações que cercam a noção de real, sendo possível avaliar as duas faces distintas que separam o eu narrador do eu narrado. Com efeito, tal percurso na abordagem crítica pretende resultar na compreensão dos efeitos de sentido advindos das categorias de modo e voz no romance contemporâneo híbrido de Silviano Santiago. |
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Memórias de um outro em mim: leitura crítica de Mil rosas roubadas, de Silviano SantiagoMemories of another in me: critical reading of Mil rosas roubadas, by Silviano SantiagoNarradorMemóriaEuMil rosas roubadasSilviano SantiagoNarratorMemoryMeProponho aqui um estudo analítico-interpretativo da obra Mil rosas roubadas, de Silviano Santiago (Companhia das Letras, 2014), que tem como foco o percurso da memória do narrador que, ao rememorar o amigo Zeca, falecido recentemente e a quem tanto amara, volta-se a si próprio. Nesse percurso, o narrador lembra-se de quando e onde conheceu o amigo e dos momentos que marcaram suas vidas. O objetivo é compreender como se opera a fusão entre memória e imaginação em um relato supostamente confessional, biográfico, ou autobiográfico. O narrador de Mil rosas roubadas se apresenta como homodiegético, em nível microestrutural, tendo em vista que contará a história do amigo Zeca, mas no avançar da narração torna-se autodiegético, pois ao mergulhar no mais íntimo da psique do outro busca algum entendimento sobre si mesmo, uma vez que nem o tempo e a maturidade lhe haviam trazido. No percurso da pesquisa, parte-se da hipótese de que o eixo metalinguístico desnuda o eu profundo do narrador, na medida em que constrói a face do ficcionista. Do processo de saída de si, encontro com o outro e regresso a si, é possível que o eu da enunciação reconheça a presença de dois eus distintos e conflitantes no interior de sua psique. Deste encontro pode resultar o acabamento estético do herói de Mil rosas roubadas e, sobretudo, o reconhecimento do eu profundo que, até então, encontrava-se à sombra do eu narrado. A fim de poder elucidar tais hipóteses ao longo da pesquisa, valho-me da abordagem estruturalista na perspectiva dos estudos narratológicos de Gérard Genette (1979), para a compreensão dos aspectos do narrador e do discurso; de Mikhail Bakhtin (1997), no intuito de compreender como se dá o percurso do acabamento estético do herói de Mil rosas roubadas operado pelo narrador-escritor. Michel Collot (2013) torna-se relevante, na medida em que problematiza o processo de saída e regresso ao eu profundo, sendo que semelhante pormenor é perceptível no protagonista do romance de Santiago. Aparentemente, a personagem precisa deslocar o eu profundo ao exterior, para assim, através do olhar do outro, retornar a si de posse das informações suficientes para a construção do herói. Jeanne Marie Gagnebin (2006) contribui na elucidação das questões relacionadas à memória, haja vista a predisposição do narrador em relativizar sua própria atitude rememorativa. Sigmund Freud (1930) auxilia no que se refere à compreensão de certos mecanismos psíquicos que se escondem nos meandros da microestrutura e são imprescindíveis para compreensão do romance. Além disso, em Luto e melancolia, Freud contribui para a compreensão do papel da morte de Zeca no processo de escrita de Mil rosas roubadas. Clement Rosset (1976) traz decisiva contribuição para as implicações que cercam a noção de real, sendo possível avaliar as duas faces distintas que separam o eu narrador do eu narrado. Com efeito, tal percurso na abordagem crítica pretende resultar na compreensão dos efeitos de sentido advindos das categorias de modo e voz no romance contemporâneo híbrido de Silviano Santiago.I propose here a analytical-interpretive study of the work Mil rosas roubadas, by Silviano Santiago (Companhia das Letras, 2014), which focuses on the narrator's memory path that, when remembering his friend Zeca, recently deceased and whom he loved so much, it turns to itself. Along the way, the narrator remembers when and where he had met his friend and the moments that marked his life. The objective is to understand how the fusion between memory and imagination operates in a supposedly confessional, biographical, or autobiographical account. The narrator of Mil rosas roubadas presents himself as homodiegetic, on a microstructural level, considering that he will tell the story of his friend Zeca, but as the narrative progresses, he becomes autodiegetic, as he dives into the most intimate part of the other's psyche and seeks some understanding about himself, since neither time nor maturity had brought him. In the course of the research, we start from the hypothesis that the metalinguistic axis exposes the narrator's deep self, insofar as it constructs the face of the fiction writer. From the process of leaving oneself, meeting with the other and returning to oneself, it is possible that the enunciation self recognizes the presence of two distinct and conflicting selves within its psyche. This encounter can result in the aesthetic finish of the hero of Mil rosas roubadas and, above all, the recognition of the deep self that, until then, was in the shadow of the narrated self. In order to elucidate such hypotheses throughout the research, I use the structuralist approach in the perspective of Gérard Genette's (1979) narratological studies, to understand the aspects of the narrator and the discourse; by Mikail Bakhtin (1997), in order to understand how the aesthetic finish of the hero of Mil rosas roubadas is operated by the narrator-writer. Michel Collot (2013) becomes relevant, insofar as it problematizes the process of leaving and returning to the deep self, and such detail is noticeable in the protagonist of the Santiago novel. Apparently, the character needs to move the deep self to the outside, so that, through the eyes of the other, return to itself in possession of sufficient information for the construction of the hero. Jeanne Marie Gagnebin (2006) contributes to the elucidation of issues related to memory, given the narrator's predisposition to relativize his own remembrance attitude. Sigmund Freud (1930) helps with the understanding of certain psychic mechanisms that are hidden in the intricacies of the microstructure and are essential for understanding the novel. In addition, in Luto e melancolia, Freud contributes to the understanding of the role of Zeca's death in the process of writing Mil rosas roubadas. Clement Rossett (1976) makes a decisive contribution to the implications that surround the notion of the real, making it possible to evaluate the two distinct faces that separate the narrating self from the narrated self. Indeed, such a path in the critical approach aims to result in an understanding of the effects of meaning arising from the categories of mode and voice in Silviano Santiago's contemporary hybrid novel.Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES)CAPES: 88882.180735/2018Universidade Estadual Paulista (Unesp)Busato, Susanna [UNESP]Universidade Estadual Paulista (Unesp)Lima, Leila Aparecida Cardoso de Freitas2021-03-31T20:41:47Z2021-03-31T20:41:47Z2021-03-04info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisapplication/pdfhttp://hdl.handle.net/11449/20425033004153015P2porinfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Repositório Institucional da UNESPinstname:Universidade Estadual Paulista (UNESP)instacron:UNESP2023-10-30T06:10:50Zoai:repositorio.unesp.br:11449/204250Repositório InstitucionalPUBhttp://repositorio.unesp.br/oai/requestopendoar:29462024-08-05T16:27:39.483135Repositório Institucional da UNESP - Universidade Estadual Paulista (UNESP)false |
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