Significação social do ingliding do falar porto-alegrense : percepção e avaliação linguística
Autor(a) principal: | |
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Data de Publicação: | 2022 |
Tipo de documento: | Tese |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS |
Texto Completo: | http://hdl.handle.net/10183/257923 |
Resumo: | Esta tese investiga a significação social do ingliding de vogais em sílabas tônicas, processo que gera ditongos centralizados (caf[ɛɐ], ag[ɔɐ]ra) no português falado em Porto Alegre (RS). Compreendendo que o ingliding constrói personae (ECKERT, 2008) e estilos de vida (BOURDIEU, 2015 [1979/1982]), o trabalho busca descobrir de que forma a variante ditongada é percebida e avaliada por porto-alegrenses, gaúchos e brasileiros. Aventa-se a hipótese, com base nos resultados de produção linguística (OLIVEIRA, 2018, 2021), de que os significados sociais do ingliding possuam intersecções com características comumente atribuídas a disposições corporais distensas, o que pode ocorrer via relação icônica (ECKERT, 2019), já que o ingliding surge de uma configuração articulatória (PRATT, 2018; HONIKMAN, 1964; LAVER, 1980) relaxada. Para realizar a investigação, os resultados dos estudos de produção linguística do ingliding servem de base para a elaboração de dois experimentos, ambos de tipo matched-guise technique (LAMBERT et al., 1960), aplicados de maneira online, via Google Forms, a ouvintes porto-alegrenses, gaúchos e brasileiros. O primeiro experimento, referido no trabalho como Experimento de Percepção e Avaliação, conta com questões de quatro tipos: diferenciais semânticos, escolhas forçadas, caixas de seleção e caixas de texto. Além disso, informações pessoais dos ouvintes foram coletadas, de modo a testar a influência de seus perfis sociais nas respostas dadas nos questionários. Busca-se descobrir se oposições como descolado-formal, expressivas para diferenciar estilos com e sem ingliding nos estudos de produção, aparecem também em termos de percepção e avaliação linguística. O experimento conta com áudios com e sem ingliding gravados por dois porto-alegrenses, um homem e uma mulher, além de áudios do tipo distrator, gravados por pessoas de fora de Porto Alegre, com as funções de familiarizar os ouvintes com o teste e distraí-los de seu propósito principal. O questionário foi respondido por 369 ouvintes. Os resultados do Experimento de Percepção e Avaliação revelam que o falar com ingliding é percebido e avaliado de maneira semelhante por porto-alegrenses, gaúchos e brasileiros, que diferem principalmente na atribuição do falar a regiões: para brasileiros, é um falar do Sul, para gaúchos e porto-alegrenses, é um falar de Porto Alegre. Em linhas gerais, o falar com ingliding é avaliado como menos agradável e percebido como menos natural, claro, formal, e mais cantado do que o falar sem ingliding. Classificado como marca de sotaque, o falar com ditongo centralizado é mais associado a falantes que podem ser descolados, malandros, expansivos, metidos, esnobes, ricos, e menos associado a falantes sérios, preocupados, reservados, esforçados, sociáveis, honestos, modestos. Embora os agentes sociais que mais produzem ingliding nos estudos de produção linguística queiram se marcar como pessoas que não são metidas ou esnobes, eles são assim avaliados, o que pode ser resultado da relação entre ingliding e classe social: quem mais produz ingliding ocupa posições superiores no espaço social (OLIVEIRA, 2018, 2021), de forma que o processo pode, de maneira mais ampla, indexar classe mais alta, sendo associado a uma tentativa de enquadramento a essa posição social e, por extensão, a pessoas metidas e esnobes. A falante mulher que gravou áudios para o experimento é quem recebe menos avaliações positivas quando produz ingliding, o que pode ter a ver com o entendimento dos ouvintes sobre papéis de gênero, levando-os a atribuir características negativas à falante quando ela rompe com expectativas calcadas na lógica da dominação masculina (BOURDIEU, 2012 [1998]) e faz uso de uma variável que indexa traços relacionados a menor formalidade e maior descontração, simbolicamente associados a construções identitárias masculinas. Os ouvintes também associam os falantes, em suas emissões com ingliding, a práticas realizadas fora de casa, como viajar e frequentar baladas, por exemplo. Os resultados das questões de diferenciais semânticos do Experimento de Percepção e Avaliação podem ser reorganizados em três Componentes Principais: sociabilidade, formalidade e sotaque. A percepção de sociabilidade em falares com e sem ingliding apresenta valores praticamente sobrepostos, o que não ocorre nos outros componentes: o falar com ingliding é atribuído a menores valores de formalidade e a maiores valores de sotaque. Em relação a sotaque, os ouvintes porto-alegrenses, isto é, que compartilham a comunidade de fala com os falantes que gravaram estímulos de áudio, assinalam valores menores para a escala se comparados a falantes de fora da comunidade de fala. O segundo experimento, chamado de Experimento do Ilustrador, solicita aos ouvintes que ouçam um áudio e assinalem, dentre duas opções de ilustração, qual delas combina mais com a pessoa ouvida na gravação. As ilustrações são compostas de silhuetas de uma mesma pessoa desenhada em duas disposições corporais diferentes, uma tensa e outra distensa. Com o experimento, busca-se investigar se a interpretação de que os significados sociais do ingliding estão associados a disposições corporais relaxadas encontra respaldo na percepção dos ouvintes. Dois homens e duas mulheres porto-alegrenses gravaram áudios com e sem ingliding para compor o experimento, que também contou com áudios de tipo distrator gravados por um homem e por uma mulher que não são porto-alegrenses. 283 pessoas responderam ao questionário. Os resultados do Experimento do Ilustrador revelam que o falar com ingliding é associado a posturas corporais distensas, o que independe da localidade do ouvinte. Considerando a materialidade da linguagem (AGHA, 2006), ou seja, sua natureza corporificada, os resultados parecem mostrar que há características da própria realização física da vogal ditongada, marcada por relaxamento de tensão articulatória, que estão por trás de intersecções nos significados sociais. O ingliding pode se associar a alguns significados sociais através da iconicidade, atrelada ao caráter corporificado da linguagem: trata-se de uma variável que surge de perda de tensão articulatória e que compõe significados relacionados a usos distensos do corpo. A oposição tensão-distensão, presente nos esquemas corporais, organiza diversos significados sociais do ingliding: o processo é mais associado a características que têm a ver com usos distensos do corpo (descolado, expansivo, malandro), percebidas em diferentes culturas como opostas a traços de polidez, refinamento e respeitabilidade (AGHA, 2006) e associadas a usos do corpo típicos de classes mais altas (BOURDIEU, 2015 [1979/1982]). Além disso, os resultados revelam que as falantes mulheres são significativamente menos associadas a posturas distensas do que os falantes homens, e mais relacionadas às posturas tensas, o que corrobora a interpretação de que a percepção dos ouvintes é influenciada por concepções arraigadas de papéis de gênero, em que se espera menos relaxamento e distensão de corpos de mulheres. A partir dos resultados de ambos os experimentos, propõe-se que o ingliding seja uma variável integrada a usos estilísticos do corpo, uma vez que pode ser um dos resultados de um relaxamento do corpo com um todo, traço utilizado estilisticamente para criar personae e que pode ser registrado (AGHA, 2006). Assim, o ditongo centralizado possui significados sociais mediados pelo corpo, que parecem ser pontos de intersecção tanto entre produção e percepção linguística, quanto entre as percepções da variável por ouvintes de diferentes localidades, podendo constituir o cerne dos campos indexicais do ingliding. Os resultados desta investigação reforçam a importância de considerar a configuração articulatória e a configuração de maxilar (PRATT, 2018; PRATT e D’ONOFRIO, 2017) em estudos linguísticos, que devem contemplar a corporificação como aspecto central (PODESVA, 2021) às análises variacionistas. |
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Oliveira, Samuel Gomes deBattisti, Elisa2023-05-11T03:38:18Z2022http://hdl.handle.net/10183/257923001168390Esta tese investiga a significação social do ingliding de vogais em sílabas tônicas, processo que gera ditongos centralizados (caf[ɛɐ], ag[ɔɐ]ra) no português falado em Porto Alegre (RS). Compreendendo que o ingliding constrói personae (ECKERT, 2008) e estilos de vida (BOURDIEU, 2015 [1979/1982]), o trabalho busca descobrir de que forma a variante ditongada é percebida e avaliada por porto-alegrenses, gaúchos e brasileiros. Aventa-se a hipótese, com base nos resultados de produção linguística (OLIVEIRA, 2018, 2021), de que os significados sociais do ingliding possuam intersecções com características comumente atribuídas a disposições corporais distensas, o que pode ocorrer via relação icônica (ECKERT, 2019), já que o ingliding surge de uma configuração articulatória (PRATT, 2018; HONIKMAN, 1964; LAVER, 1980) relaxada. Para realizar a investigação, os resultados dos estudos de produção linguística do ingliding servem de base para a elaboração de dois experimentos, ambos de tipo matched-guise technique (LAMBERT et al., 1960), aplicados de maneira online, via Google Forms, a ouvintes porto-alegrenses, gaúchos e brasileiros. O primeiro experimento, referido no trabalho como Experimento de Percepção e Avaliação, conta com questões de quatro tipos: diferenciais semânticos, escolhas forçadas, caixas de seleção e caixas de texto. Além disso, informações pessoais dos ouvintes foram coletadas, de modo a testar a influência de seus perfis sociais nas respostas dadas nos questionários. Busca-se descobrir se oposições como descolado-formal, expressivas para diferenciar estilos com e sem ingliding nos estudos de produção, aparecem também em termos de percepção e avaliação linguística. O experimento conta com áudios com e sem ingliding gravados por dois porto-alegrenses, um homem e uma mulher, além de áudios do tipo distrator, gravados por pessoas de fora de Porto Alegre, com as funções de familiarizar os ouvintes com o teste e distraí-los de seu propósito principal. O questionário foi respondido por 369 ouvintes. Os resultados do Experimento de Percepção e Avaliação revelam que o falar com ingliding é percebido e avaliado de maneira semelhante por porto-alegrenses, gaúchos e brasileiros, que diferem principalmente na atribuição do falar a regiões: para brasileiros, é um falar do Sul, para gaúchos e porto-alegrenses, é um falar de Porto Alegre. Em linhas gerais, o falar com ingliding é avaliado como menos agradável e percebido como menos natural, claro, formal, e mais cantado do que o falar sem ingliding. Classificado como marca de sotaque, o falar com ditongo centralizado é mais associado a falantes que podem ser descolados, malandros, expansivos, metidos, esnobes, ricos, e menos associado a falantes sérios, preocupados, reservados, esforçados, sociáveis, honestos, modestos. Embora os agentes sociais que mais produzem ingliding nos estudos de produção linguística queiram se marcar como pessoas que não são metidas ou esnobes, eles são assim avaliados, o que pode ser resultado da relação entre ingliding e classe social: quem mais produz ingliding ocupa posições superiores no espaço social (OLIVEIRA, 2018, 2021), de forma que o processo pode, de maneira mais ampla, indexar classe mais alta, sendo associado a uma tentativa de enquadramento a essa posição social e, por extensão, a pessoas metidas e esnobes. A falante mulher que gravou áudios para o experimento é quem recebe menos avaliações positivas quando produz ingliding, o que pode ter a ver com o entendimento dos ouvintes sobre papéis de gênero, levando-os a atribuir características negativas à falante quando ela rompe com expectativas calcadas na lógica da dominação masculina (BOURDIEU, 2012 [1998]) e faz uso de uma variável que indexa traços relacionados a menor formalidade e maior descontração, simbolicamente associados a construções identitárias masculinas. Os ouvintes também associam os falantes, em suas emissões com ingliding, a práticas realizadas fora de casa, como viajar e frequentar baladas, por exemplo. Os resultados das questões de diferenciais semânticos do Experimento de Percepção e Avaliação podem ser reorganizados em três Componentes Principais: sociabilidade, formalidade e sotaque. A percepção de sociabilidade em falares com e sem ingliding apresenta valores praticamente sobrepostos, o que não ocorre nos outros componentes: o falar com ingliding é atribuído a menores valores de formalidade e a maiores valores de sotaque. Em relação a sotaque, os ouvintes porto-alegrenses, isto é, que compartilham a comunidade de fala com os falantes que gravaram estímulos de áudio, assinalam valores menores para a escala se comparados a falantes de fora da comunidade de fala. O segundo experimento, chamado de Experimento do Ilustrador, solicita aos ouvintes que ouçam um áudio e assinalem, dentre duas opções de ilustração, qual delas combina mais com a pessoa ouvida na gravação. As ilustrações são compostas de silhuetas de uma mesma pessoa desenhada em duas disposições corporais diferentes, uma tensa e outra distensa. Com o experimento, busca-se investigar se a interpretação de que os significados sociais do ingliding estão associados a disposições corporais relaxadas encontra respaldo na percepção dos ouvintes. Dois homens e duas mulheres porto-alegrenses gravaram áudios com e sem ingliding para compor o experimento, que também contou com áudios de tipo distrator gravados por um homem e por uma mulher que não são porto-alegrenses. 283 pessoas responderam ao questionário. Os resultados do Experimento do Ilustrador revelam que o falar com ingliding é associado a posturas corporais distensas, o que independe da localidade do ouvinte. Considerando a materialidade da linguagem (AGHA, 2006), ou seja, sua natureza corporificada, os resultados parecem mostrar que há características da própria realização física da vogal ditongada, marcada por relaxamento de tensão articulatória, que estão por trás de intersecções nos significados sociais. O ingliding pode se associar a alguns significados sociais através da iconicidade, atrelada ao caráter corporificado da linguagem: trata-se de uma variável que surge de perda de tensão articulatória e que compõe significados relacionados a usos distensos do corpo. A oposição tensão-distensão, presente nos esquemas corporais, organiza diversos significados sociais do ingliding: o processo é mais associado a características que têm a ver com usos distensos do corpo (descolado, expansivo, malandro), percebidas em diferentes culturas como opostas a traços de polidez, refinamento e respeitabilidade (AGHA, 2006) e associadas a usos do corpo típicos de classes mais altas (BOURDIEU, 2015 [1979/1982]). Além disso, os resultados revelam que as falantes mulheres são significativamente menos associadas a posturas distensas do que os falantes homens, e mais relacionadas às posturas tensas, o que corrobora a interpretação de que a percepção dos ouvintes é influenciada por concepções arraigadas de papéis de gênero, em que se espera menos relaxamento e distensão de corpos de mulheres. A partir dos resultados de ambos os experimentos, propõe-se que o ingliding seja uma variável integrada a usos estilísticos do corpo, uma vez que pode ser um dos resultados de um relaxamento do corpo com um todo, traço utilizado estilisticamente para criar personae e que pode ser registrado (AGHA, 2006). Assim, o ditongo centralizado possui significados sociais mediados pelo corpo, que parecem ser pontos de intersecção tanto entre produção e percepção linguística, quanto entre as percepções da variável por ouvintes de diferentes localidades, podendo constituir o cerne dos campos indexicais do ingliding. Os resultados desta investigação reforçam a importância de considerar a configuração articulatória e a configuração de maxilar (PRATT, 2018; PRATT e D’ONOFRIO, 2017) em estudos linguísticos, que devem contemplar a corporificação como aspecto central (PODESVA, 2021) às análises variacionistas.This dissertation investigates the social meaning of inglided vowels in stressed syllables, a process that generates centring diphthongs (caf[ɛɐ] (‘coffee’), ag[ɔɐ]ra (‘now’)) in Portuguese spoken in Porto Alegre (RS). By understanding that ingliding builds personae (ECKERT, 2008) and lifestyles (BOURDIEU, 2015 [1979/1982]), this study seeks to discover how the diphthongized variant is perceived and evaluated by people from Porto Alegre, Rio Grande do Sul and Brazil. It is hypothesized, based on the results of linguistic production (OLIVEIRA, 2018, 2021), that the social meanings of ingliding intersects the characteristics commonly attributed to relaxed body posture, which might occur through an iconic relationship (ECKERT, 2019), since ingliding arises from a relaxed articulatory setting (PRATT, 2018; HONIKMAN, 1964; LAVER, 1980). To carry out this investigation, the results of linguistic production studies on ingliding support the formulation of two experiments, both using the matched-guise technique (LAMBERT et al., 1960), and applied online, via Google Forms, to Porto Alegre, Rio Grande do Sul and Brazilian listeners. The first experiment, referred to in the study as the Perception and Evaluation Experiment, has four types of questions: semantic differentials, forced choices, checkboxes, and text boxes. In addition, listeners' personal information was collected in order to test the influence of their social profiles on the answers given in the questionnaires. The study investigates whether expressive oppositions such as cool-formal, which differentiate styles with and without ingliding in production studies, also appear in terms of linguistic perception and evaluation. The experiment includes audio recordings with and without ingliding made by two people from Porto Alegre, a man and a woman, in addition to filler-type audio recordings, made by people from outside of Porto Alegre, with the intention of familiarizing listeners with the test and distracting them from their main purpose. The questionnaire was answered by 369 listeners. The results of the Perception and Evaluation Experiment reveal that speaking with ingliding is perceived and evaluated in a similar way by people from Porto Alegre, Rio Grande do Sul and Brazil, who differ mainly in how they attribute the speech to regions: for Brazilians, it is speech from the South; to people from Rio Grande do Sul and Porto Alegre, it is speech typical in Porto Alegre. In general, speaking with ingliding is rated as less pleasant and perceived as less natural, clear, formal, and more song-like than speaking without ingliding. Classified as an accent mark, speaking with a centring diphthong is more associated with speakers who may be cool, sly, expansive, conceited, snobbish, or wealthy, and less associated with those who are serious, concerned, reserved, hardworking, sociable, honest, or modest. Although the social agents who produce the most ingliding in linguistic production studies want to mark themselves as people who are not conceited or snobs, they are evaluated as such, which may be a result of the relationship between ingliding and social class: those who produce the most inglided vowels occupy higher positions in the social space (OLIVEIRA, 2018, 2021), such that the process can, more broadly, index higher class, being associated with an attempt to fit into this social position and, by extension, with conceited and snobbish people. The female speaker who made audio recordings for the experiment is the one who received fewer positive evaluations when she produced ingliding, which may have to do with the listeners' understanding of gender roles, leading them to attribute negative characteristics to the speaker when she breaks from grounded expectations in the logic of masculine domination (BOURDIEU, 2012 [1998]) and makes use of a variable that indexes traits related to less formality and greater relaxation, symbolically associated with masculine identity constructions. Listeners also associate speakers, in their recordings with ingliding, with practices performed outside the home, such as traveling and going to nightclubs, for example. The results of the semantic differential questions in the Perception and Evaluation Experiment can be reorganized into three Principal Components: sociability, formality, and accent. The perception of sociability in speech with and without ingliding presents almost overlapping values, which does not occur in the other components: speaking with ingliding is attributed to lower values of formality and higher values of accent. Regarding accent, listeners from Porto Alegre, that is, those who share the speech community with speakers who recorded the audio stimuli, indicate lower values for the scale when compared to speakers from outside the speech community. The second experiment, called the Illustrator Experiment, asks participants to listen to an audio recording and indicate, between two illustrations, which one best matches the person heard in the recording. The illustrations are composed of silhouettes of the same person drawn with two different body postures, one tense and the other relaxed. With this experiment, the study seeks to investigate whether the interpretation that the social meanings of ingliding are associated with relaxed body postures is supported by the perception of listeners. Two men and two women from Porto Alegre made audio recordings with and without ingliding to compose the experiment, which also featured filler-type recordings made by a man and a woman who are not from Porto Alegre. 283 people responded to the questionnaire. The results of the Illustrator Experiment reveal that speaking with ingliding is associated with relaxed body postures, which does not depend on where the listener is from. Considering the materiality of language (AGHA, 2006), that is, its embodied nature, the results seem to show that there are characteristics of the physical realization of the diphthongized vowel, marked by relaxation of articulatory tension, that lie behind intersections in social meanings. Ingliding can be associated with some social meanings through iconicity, linked to the embodied nature of language: it is a variable that arises from the loss of articulatory tension and composes meanings related to relaxed uses of the body. The tension-distension opposition, present in body schemas, organizes several social meanings of ingliding: the process is more associated with characteristics that have to do with relaxed uses of the body (cool, expansive, sly), perceived in different cultures as opposing traits of politeness, refinement and respectability (AGHA, 2006) and associated with typical upper-class uses of the body (BOURDIEU, 2015 [1979/1982]). In addition, the results reveal that female speakers are significantly less associated with relaxed postures than male speakers, and more related to tense postures, which corroborates the interpretation that listeners' perception is influenced by ingrained conceptions of gender roles, in which less relaxation and distension of women's bodies is expected. From the results of both experiments, I propose that ingliding is a variable integrated into stylistic uses of the body, since it can be one of the results of a relaxation of the body as a whole, a trait used stylistically to create personae and that can become enregistered (AGHA, 2006). Thus, the centring diphthong has social meanings mediated by the body, which seem to be points of intersection both between linguistic production and perception, and between the perceptions of the variable by listeners from different regions, which may constitute the core of the indexical fields of ingliding. The results of this investigation reinforce the importance of considering the articulatory setting and the jaw setting (PRATT, 2018; PRATT and D'ONOFRIO, 2017) in linguistic studies, which should consider embodiment as a central aspect (PODESVA, 2021) in variationist analyses.application/pdfporVariação lingüísticaSignificaçãoCorporeidadeSociolingüísticaCultureLanguageLinguistic variantsStanceSignificação social do ingliding do falar porto-alegrense : percepção e avaliação linguísticainfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisUniversidade Federal do Rio Grande do SulInstituto de LetrasPrograma de Pós-Graduação em LetrasPorto Alegre, BR-RS2022doutoradoinfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGSinstname:Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)instacron:UFRGSTEXT001168390.pdf.txt001168390.pdf.txtExtracted Texttext/plain515876http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/10183/257923/2/001168390.pdf.txt30d530591b5cdd3efdfd8292e0fdd814MD52ORIGINAL001168390.pdfTexto completoapplication/pdf2848835http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/10183/257923/1/001168390.pdfb70ea401407e5ca013253805431a0147MD5110183/2579232023-05-12 03:26:09.329127oai:www.lume.ufrgs.br:10183/257923Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttps://lume.ufrgs.br/handle/10183/2PUBhttps://lume.ufrgs.br/oai/requestlume@ufrgs.br||lume@ufrgs.bropendoar:18532023-05-12T06:26:09Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)false |
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Para realizar a investigação, os resultados dos estudos de produção linguística do ingliding servem de base para a elaboração de dois experimentos, ambos de tipo matched-guise technique (LAMBERT et al., 1960), aplicados de maneira online, via Google Forms, a ouvintes porto-alegrenses, gaúchos e brasileiros. O primeiro experimento, referido no trabalho como Experimento de Percepção e Avaliação, conta com questões de quatro tipos: diferenciais semânticos, escolhas forçadas, caixas de seleção e caixas de texto. Além disso, informações pessoais dos ouvintes foram coletadas, de modo a testar a influência de seus perfis sociais nas respostas dadas nos questionários. Busca-se descobrir se oposições como descolado-formal, expressivas para diferenciar estilos com e sem ingliding nos estudos de produção, aparecem também em termos de percepção e avaliação linguística. O experimento conta com áudios com e sem ingliding gravados por dois porto-alegrenses, um homem e uma mulher, além de áudios do tipo distrator, gravados por pessoas de fora de Porto Alegre, com as funções de familiarizar os ouvintes com o teste e distraí-los de seu propósito principal. O questionário foi respondido por 369 ouvintes. Os resultados do Experimento de Percepção e Avaliação revelam que o falar com ingliding é percebido e avaliado de maneira semelhante por porto-alegrenses, gaúchos e brasileiros, que diferem principalmente na atribuição do falar a regiões: para brasileiros, é um falar do Sul, para gaúchos e porto-alegrenses, é um falar de Porto Alegre. Em linhas gerais, o falar com ingliding é avaliado como menos agradável e percebido como menos natural, claro, formal, e mais cantado do que o falar sem ingliding. Classificado como marca de sotaque, o falar com ditongo centralizado é mais associado a falantes que podem ser descolados, malandros, expansivos, metidos, esnobes, ricos, e menos associado a falantes sérios, preocupados, reservados, esforçados, sociáveis, honestos, modestos. Embora os agentes sociais que mais produzem ingliding nos estudos de produção linguística queiram se marcar como pessoas que não são metidas ou esnobes, eles são assim avaliados, o que pode ser resultado da relação entre ingliding e classe social: quem mais produz ingliding ocupa posições superiores no espaço social (OLIVEIRA, 2018, 2021), de forma que o processo pode, de maneira mais ampla, indexar classe mais alta, sendo associado a uma tentativa de enquadramento a essa posição social e, por extensão, a pessoas metidas e esnobes. A falante mulher que gravou áudios para o experimento é quem recebe menos avaliações positivas quando produz ingliding, o que pode ter a ver com o entendimento dos ouvintes sobre papéis de gênero, levando-os a atribuir características negativas à falante quando ela rompe com expectativas calcadas na lógica da dominação masculina (BOURDIEU, 2012 [1998]) e faz uso de uma variável que indexa traços relacionados a menor formalidade e maior descontração, simbolicamente associados a construções identitárias masculinas. Os ouvintes também associam os falantes, em suas emissões com ingliding, a práticas realizadas fora de casa, como viajar e frequentar baladas, por exemplo. Os resultados das questões de diferenciais semânticos do Experimento de Percepção e Avaliação podem ser reorganizados em três Componentes Principais: sociabilidade, formalidade e sotaque. A percepção de sociabilidade em falares com e sem ingliding apresenta valores praticamente sobrepostos, o que não ocorre nos outros componentes: o falar com ingliding é atribuído a menores valores de formalidade e a maiores valores de sotaque. Em relação a sotaque, os ouvintes porto-alegrenses, isto é, que compartilham a comunidade de fala com os falantes que gravaram estímulos de áudio, assinalam valores menores para a escala se comparados a falantes de fora da comunidade de fala. O segundo experimento, chamado de Experimento do Ilustrador, solicita aos ouvintes que ouçam um áudio e assinalem, dentre duas opções de ilustração, qual delas combina mais com a pessoa ouvida na gravação. As ilustrações são compostas de silhuetas de uma mesma pessoa desenhada em duas disposições corporais diferentes, uma tensa e outra distensa. Com o experimento, busca-se investigar se a interpretação de que os significados sociais do ingliding estão associados a disposições corporais relaxadas encontra respaldo na percepção dos ouvintes. Dois homens e duas mulheres porto-alegrenses gravaram áudios com e sem ingliding para compor o experimento, que também contou com áudios de tipo distrator gravados por um homem e por uma mulher que não são porto-alegrenses. 283 pessoas responderam ao questionário. Os resultados do Experimento do Ilustrador revelam que o falar com ingliding é associado a posturas corporais distensas, o que independe da localidade do ouvinte. Considerando a materialidade da linguagem (AGHA, 2006), ou seja, sua natureza corporificada, os resultados parecem mostrar que há características da própria realização física da vogal ditongada, marcada por relaxamento de tensão articulatória, que estão por trás de intersecções nos significados sociais. O ingliding pode se associar a alguns significados sociais através da iconicidade, atrelada ao caráter corporificado da linguagem: trata-se de uma variável que surge de perda de tensão articulatória e que compõe significados relacionados a usos distensos do corpo. A oposição tensão-distensão, presente nos esquemas corporais, organiza diversos significados sociais do ingliding: o processo é mais associado a características que têm a ver com usos distensos do corpo (descolado, expansivo, malandro), percebidas em diferentes culturas como opostas a traços de polidez, refinamento e respeitabilidade (AGHA, 2006) e associadas a usos do corpo típicos de classes mais altas (BOURDIEU, 2015 [1979/1982]). Além disso, os resultados revelam que as falantes mulheres são significativamente menos associadas a posturas distensas do que os falantes homens, e mais relacionadas às posturas tensas, o que corrobora a interpretação de que a percepção dos ouvintes é influenciada por concepções arraigadas de papéis de gênero, em que se espera menos relaxamento e distensão de corpos de mulheres. A partir dos resultados de ambos os experimentos, propõe-se que o ingliding seja uma variável integrada a usos estilísticos do corpo, uma vez que pode ser um dos resultados de um relaxamento do corpo com um todo, traço utilizado estilisticamente para criar personae e que pode ser registrado (AGHA, 2006). Assim, o ditongo centralizado possui significados sociais mediados pelo corpo, que parecem ser pontos de intersecção tanto entre produção e percepção linguística, quanto entre as percepções da variável por ouvintes de diferentes localidades, podendo constituir o cerne dos campos indexicais do ingliding. Os resultados desta investigação reforçam a importância de considerar a configuração articulatória e a configuração de maxilar (PRATT, 2018; PRATT e D’ONOFRIO, 2017) em estudos linguísticos, que devem contemplar a corporificação como aspecto central (PODESVA, 2021) às análises variacionistas. |
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