A reviravolta dos "fanáticos" : arenização, agenciamentos mercadológicos e novos movimentos políticos a partir do Sport Club Internacional

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Oliveira Júnior, Ricardo César Gadelha de
Data de Publicação: 2017
Tipo de documento: Tese
Idioma: por
Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS
Texto Completo: http://hdl.handle.net/10183/179816
Resumo: Esta tese propõe-se a analisar a adaptação de alguns estádios de futebol no Brasil ao que se convencionou chamar de "Padrão FIFA". Esse processo, aqui tratado pelo termo "arenização", constitui-se em um novo modelo de gestão dos espaços e das pessoas, que tem como objetivos principais transformar o futevol em um "espetáculo seguro, conformtável e rentável". Como consequência e exigência para que o Brasil pudesse sediar a Copa do Mundo de 2014, a reforma das praças esportivas acarretou em consequências diversas para o campo esportivo, sobretudo na administração das arenas, com a constituição de um novo mercado, com novos especialistas e conhecimentos reunidos sob o termo gestão de arenas esportivas. Oriundos do Marketing Esportivo, esses profissionais, em suas entrevistas, textos e livros performam um novo tipo de espectador para o futebol, denominado de cliente ou fã, menos preocupado com os resultados do time e mais centrado no jogo como uma "experiência". Essa nova formatação dos indivíduos que frequentam as arenas é construída a partir da opisição dos atributos que são considerados típicos do tercedor ou do fanático, principalemente em termos econômicos, ao defender a necesisdade de atrair um público mais rico, e morais, considerando o cliente um indivíduo mais "educado" e fácil de ser controlado. Ao mesmo tempo em que se pretendia introduzir um novo tipo de público, deu-se a formação de novos coletivos compostos por torcedores que passaram a perceber o torcer também como um ato político, que se posicionaram contrários às reformas dos estádios de futebol e à consequente mudança no público, a partir da defesa da perservação do que eles chamam de "cultra torcedora". Por meio de uma pesquisa etnográfica, investigou-se a mobilização de um desses grupos, o Povo do Clube, fundado em 2012 por torcedores do Sport Clube Internacional de Porto Alegre, proprietário do Beira-Rio um dos estádios que passou pelo processo de arenização. Tal grupo teve como motivo de sua aglutinação a perda da "identidade popular" atribuída ao clube, que teria se dado com as mudanças arquitetônicas em seu estádio, sobretudo com a extinção da "Coreia", setor onde se pagava o preço mais baixo para assistir às partidas. Desde seu início, o Povo do Clube se propôs a participar das disputas políticias internas ao clube, com a eleição de alguns de seus membros como conselheiros do Internacional nos dois últimos processos eleitorais, em 2014 e 2016. Tendo como estratégia política o resgate de um clube voltado para as classes pobres, com a utilização da frase "O povo fez o Inter", e a busca por representar politicamente os "coreanos", como são chamados os indivíduos que frequentavam o extinto setor, conseguiu aumentar seu capital político a ponto de aprovar uma nova modalidade de associação, com a aliança de grupos políticos mais antigos, direcionada a torcedores com renda de até dois salários mínimos. Assim, o Povo do Clube e os novos coletivos formados no Brasil na última década constituem um novo modelo de torcer, marcado pelo caráter político e pela luta por direitos.
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