A reviravolta dos "fanáticos" : arenização, agenciamentos mercadológicos e novos movimentos políticos a partir do Sport Club Internacional
Autor(a) principal: | |
---|---|
Data de Publicação: | 2017 |
Tipo de documento: | Tese |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS |
Texto Completo: | http://hdl.handle.net/10183/179816 |
Resumo: | Esta tese propõe-se a analisar a adaptação de alguns estádios de futebol no Brasil ao que se convencionou chamar de "Padrão FIFA". Esse processo, aqui tratado pelo termo "arenização", constitui-se em um novo modelo de gestão dos espaços e das pessoas, que tem como objetivos principais transformar o futevol em um "espetáculo seguro, conformtável e rentável". Como consequência e exigência para que o Brasil pudesse sediar a Copa do Mundo de 2014, a reforma das praças esportivas acarretou em consequências diversas para o campo esportivo, sobretudo na administração das arenas, com a constituição de um novo mercado, com novos especialistas e conhecimentos reunidos sob o termo gestão de arenas esportivas. Oriundos do Marketing Esportivo, esses profissionais, em suas entrevistas, textos e livros performam um novo tipo de espectador para o futebol, denominado de cliente ou fã, menos preocupado com os resultados do time e mais centrado no jogo como uma "experiência". Essa nova formatação dos indivíduos que frequentam as arenas é construída a partir da opisição dos atributos que são considerados típicos do tercedor ou do fanático, principalemente em termos econômicos, ao defender a necesisdade de atrair um público mais rico, e morais, considerando o cliente um indivíduo mais "educado" e fácil de ser controlado. Ao mesmo tempo em que se pretendia introduzir um novo tipo de público, deu-se a formação de novos coletivos compostos por torcedores que passaram a perceber o torcer também como um ato político, que se posicionaram contrários às reformas dos estádios de futebol e à consequente mudança no público, a partir da defesa da perservação do que eles chamam de "cultra torcedora". Por meio de uma pesquisa etnográfica, investigou-se a mobilização de um desses grupos, o Povo do Clube, fundado em 2012 por torcedores do Sport Clube Internacional de Porto Alegre, proprietário do Beira-Rio um dos estádios que passou pelo processo de arenização. Tal grupo teve como motivo de sua aglutinação a perda da "identidade popular" atribuída ao clube, que teria se dado com as mudanças arquitetônicas em seu estádio, sobretudo com a extinção da "Coreia", setor onde se pagava o preço mais baixo para assistir às partidas. Desde seu início, o Povo do Clube se propôs a participar das disputas políticias internas ao clube, com a eleição de alguns de seus membros como conselheiros do Internacional nos dois últimos processos eleitorais, em 2014 e 2016. Tendo como estratégia política o resgate de um clube voltado para as classes pobres, com a utilização da frase "O povo fez o Inter", e a busca por representar politicamente os "coreanos", como são chamados os indivíduos que frequentavam o extinto setor, conseguiu aumentar seu capital político a ponto de aprovar uma nova modalidade de associação, com a aliança de grupos políticos mais antigos, direcionada a torcedores com renda de até dois salários mínimos. Assim, o Povo do Clube e os novos coletivos formados no Brasil na última década constituem um novo modelo de torcer, marcado pelo caráter político e pela luta por direitos. |
id |
URGS_117f24c6b78c876e5ce743f8d81c7465 |
---|---|
oai_identifier_str |
oai:www.lume.ufrgs.br:10183/179816 |
network_acronym_str |
URGS |
network_name_str |
Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS |
repository_id_str |
1853 |
spelling |
Oliveira Júnior, Ricardo César Gadelha deDamo, Arlei Sander2018-06-27T02:35:12Z2017http://hdl.handle.net/10183/179816001062337Esta tese propõe-se a analisar a adaptação de alguns estádios de futebol no Brasil ao que se convencionou chamar de "Padrão FIFA". Esse processo, aqui tratado pelo termo "arenização", constitui-se em um novo modelo de gestão dos espaços e das pessoas, que tem como objetivos principais transformar o futevol em um "espetáculo seguro, conformtável e rentável". Como consequência e exigência para que o Brasil pudesse sediar a Copa do Mundo de 2014, a reforma das praças esportivas acarretou em consequências diversas para o campo esportivo, sobretudo na administração das arenas, com a constituição de um novo mercado, com novos especialistas e conhecimentos reunidos sob o termo gestão de arenas esportivas. Oriundos do Marketing Esportivo, esses profissionais, em suas entrevistas, textos e livros performam um novo tipo de espectador para o futebol, denominado de cliente ou fã, menos preocupado com os resultados do time e mais centrado no jogo como uma "experiência". Essa nova formatação dos indivíduos que frequentam as arenas é construída a partir da opisição dos atributos que são considerados típicos do tercedor ou do fanático, principalemente em termos econômicos, ao defender a necesisdade de atrair um público mais rico, e morais, considerando o cliente um indivíduo mais "educado" e fácil de ser controlado. Ao mesmo tempo em que se pretendia introduzir um novo tipo de público, deu-se a formação de novos coletivos compostos por torcedores que passaram a perceber o torcer também como um ato político, que se posicionaram contrários às reformas dos estádios de futebol e à consequente mudança no público, a partir da defesa da perservação do que eles chamam de "cultra torcedora". Por meio de uma pesquisa etnográfica, investigou-se a mobilização de um desses grupos, o Povo do Clube, fundado em 2012 por torcedores do Sport Clube Internacional de Porto Alegre, proprietário do Beira-Rio um dos estádios que passou pelo processo de arenização. Tal grupo teve como motivo de sua aglutinação a perda da "identidade popular" atribuída ao clube, que teria se dado com as mudanças arquitetônicas em seu estádio, sobretudo com a extinção da "Coreia", setor onde se pagava o preço mais baixo para assistir às partidas. Desde seu início, o Povo do Clube se propôs a participar das disputas políticias internas ao clube, com a eleição de alguns de seus membros como conselheiros do Internacional nos dois últimos processos eleitorais, em 2014 e 2016. Tendo como estratégia política o resgate de um clube voltado para as classes pobres, com a utilização da frase "O povo fez o Inter", e a busca por representar politicamente os "coreanos", como são chamados os indivíduos que frequentavam o extinto setor, conseguiu aumentar seu capital político a ponto de aprovar uma nova modalidade de associação, com a aliança de grupos políticos mais antigos, direcionada a torcedores com renda de até dois salários mínimos. Assim, o Povo do Clube e os novos coletivos formados no Brasil na última década constituem um novo modelo de torcer, marcado pelo caráter político e pela luta por direitos.application/pdfporSport Club InternacionalMarketing esportivoPesquisa etnográficaFutebol : Clube de elite : BrasilMudança culturalA reviravolta dos "fanáticos" : arenização, agenciamentos mercadológicos e novos movimentos políticos a partir do Sport Club Internacionalinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisUniversidade Federal do Rio Grande do SulInstituto de Filosofia e Ciências HumanasPrograma de Pós-Graduação em Antropologia SocialPorto Alegre, BR-RS2017doutoradoinfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGSinstname:Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)instacron:UFRGSORIGINAL001062337.pdf001062337.pdfTexto completoapplication/pdf4696029http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/10183/179816/1/001062337.pdffb58b12eec143b87b9a09cf80cbfdd7dMD51TEXT001062337.pdf.txt001062337.pdf.txtExtracted Texttext/plain880748http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/10183/179816/2/001062337.pdf.txte893471cb05b85d47d07a0d23bf98a71MD5210183/1798162018-06-28 02:28:39.453148oai:www.lume.ufrgs.br:10183/179816Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttps://lume.ufrgs.br/handle/10183/2PUBhttps://lume.ufrgs.br/oai/requestlume@ufrgs.br||lume@ufrgs.bropendoar:18532018-06-28T05:28:39Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)false |
dc.title.pt_BR.fl_str_mv |
A reviravolta dos "fanáticos" : arenização, agenciamentos mercadológicos e novos movimentos políticos a partir do Sport Club Internacional |
title |
A reviravolta dos "fanáticos" : arenização, agenciamentos mercadológicos e novos movimentos políticos a partir do Sport Club Internacional |
spellingShingle |
A reviravolta dos "fanáticos" : arenização, agenciamentos mercadológicos e novos movimentos políticos a partir do Sport Club Internacional Oliveira Júnior, Ricardo César Gadelha de Sport Club Internacional Marketing esportivo Pesquisa etnográfica Futebol : Clube de elite : Brasil Mudança cultural |
title_short |
A reviravolta dos "fanáticos" : arenização, agenciamentos mercadológicos e novos movimentos políticos a partir do Sport Club Internacional |
title_full |
A reviravolta dos "fanáticos" : arenização, agenciamentos mercadológicos e novos movimentos políticos a partir do Sport Club Internacional |
title_fullStr |
A reviravolta dos "fanáticos" : arenização, agenciamentos mercadológicos e novos movimentos políticos a partir do Sport Club Internacional |
title_full_unstemmed |
A reviravolta dos "fanáticos" : arenização, agenciamentos mercadológicos e novos movimentos políticos a partir do Sport Club Internacional |
title_sort |
A reviravolta dos "fanáticos" : arenização, agenciamentos mercadológicos e novos movimentos políticos a partir do Sport Club Internacional |
author |
Oliveira Júnior, Ricardo César Gadelha de |
author_facet |
Oliveira Júnior, Ricardo César Gadelha de |
author_role |
author |
dc.contributor.author.fl_str_mv |
Oliveira Júnior, Ricardo César Gadelha de |
dc.contributor.advisor1.fl_str_mv |
Damo, Arlei Sander |
contributor_str_mv |
Damo, Arlei Sander |
dc.subject.por.fl_str_mv |
Sport Club Internacional Marketing esportivo Pesquisa etnográfica Futebol : Clube de elite : Brasil Mudança cultural |
topic |
Sport Club Internacional Marketing esportivo Pesquisa etnográfica Futebol : Clube de elite : Brasil Mudança cultural |
description |
Esta tese propõe-se a analisar a adaptação de alguns estádios de futebol no Brasil ao que se convencionou chamar de "Padrão FIFA". Esse processo, aqui tratado pelo termo "arenização", constitui-se em um novo modelo de gestão dos espaços e das pessoas, que tem como objetivos principais transformar o futevol em um "espetáculo seguro, conformtável e rentável". Como consequência e exigência para que o Brasil pudesse sediar a Copa do Mundo de 2014, a reforma das praças esportivas acarretou em consequências diversas para o campo esportivo, sobretudo na administração das arenas, com a constituição de um novo mercado, com novos especialistas e conhecimentos reunidos sob o termo gestão de arenas esportivas. Oriundos do Marketing Esportivo, esses profissionais, em suas entrevistas, textos e livros performam um novo tipo de espectador para o futebol, denominado de cliente ou fã, menos preocupado com os resultados do time e mais centrado no jogo como uma "experiência". Essa nova formatação dos indivíduos que frequentam as arenas é construída a partir da opisição dos atributos que são considerados típicos do tercedor ou do fanático, principalemente em termos econômicos, ao defender a necesisdade de atrair um público mais rico, e morais, considerando o cliente um indivíduo mais "educado" e fácil de ser controlado. Ao mesmo tempo em que se pretendia introduzir um novo tipo de público, deu-se a formação de novos coletivos compostos por torcedores que passaram a perceber o torcer também como um ato político, que se posicionaram contrários às reformas dos estádios de futebol e à consequente mudança no público, a partir da defesa da perservação do que eles chamam de "cultra torcedora". Por meio de uma pesquisa etnográfica, investigou-se a mobilização de um desses grupos, o Povo do Clube, fundado em 2012 por torcedores do Sport Clube Internacional de Porto Alegre, proprietário do Beira-Rio um dos estádios que passou pelo processo de arenização. Tal grupo teve como motivo de sua aglutinação a perda da "identidade popular" atribuída ao clube, que teria se dado com as mudanças arquitetônicas em seu estádio, sobretudo com a extinção da "Coreia", setor onde se pagava o preço mais baixo para assistir às partidas. Desde seu início, o Povo do Clube se propôs a participar das disputas políticias internas ao clube, com a eleição de alguns de seus membros como conselheiros do Internacional nos dois últimos processos eleitorais, em 2014 e 2016. Tendo como estratégia política o resgate de um clube voltado para as classes pobres, com a utilização da frase "O povo fez o Inter", e a busca por representar politicamente os "coreanos", como são chamados os indivíduos que frequentavam o extinto setor, conseguiu aumentar seu capital político a ponto de aprovar uma nova modalidade de associação, com a aliança de grupos políticos mais antigos, direcionada a torcedores com renda de até dois salários mínimos. Assim, o Povo do Clube e os novos coletivos formados no Brasil na última década constituem um novo modelo de torcer, marcado pelo caráter político e pela luta por direitos. |
publishDate |
2017 |
dc.date.issued.fl_str_mv |
2017 |
dc.date.accessioned.fl_str_mv |
2018-06-27T02:35:12Z |
dc.type.status.fl_str_mv |
info:eu-repo/semantics/publishedVersion |
dc.type.driver.fl_str_mv |
info:eu-repo/semantics/doctoralThesis |
format |
doctoralThesis |
status_str |
publishedVersion |
dc.identifier.uri.fl_str_mv |
http://hdl.handle.net/10183/179816 |
dc.identifier.nrb.pt_BR.fl_str_mv |
001062337 |
url |
http://hdl.handle.net/10183/179816 |
identifier_str_mv |
001062337 |
dc.language.iso.fl_str_mv |
por |
language |
por |
dc.rights.driver.fl_str_mv |
info:eu-repo/semantics/openAccess |
eu_rights_str_mv |
openAccess |
dc.format.none.fl_str_mv |
application/pdf |
dc.source.none.fl_str_mv |
reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS instname:Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) instacron:UFRGS |
instname_str |
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) |
instacron_str |
UFRGS |
institution |
UFRGS |
reponame_str |
Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS |
collection |
Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS |
bitstream.url.fl_str_mv |
http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/10183/179816/1/001062337.pdf http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/10183/179816/2/001062337.pdf.txt |
bitstream.checksum.fl_str_mv |
fb58b12eec143b87b9a09cf80cbfdd7d e893471cb05b85d47d07a0d23bf98a71 |
bitstream.checksumAlgorithm.fl_str_mv |
MD5 MD5 |
repository.name.fl_str_mv |
Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) |
repository.mail.fl_str_mv |
lume@ufrgs.br||lume@ufrgs.br |
_version_ |
1810085446192988160 |