Suicídios no Rio Grande do Sul, Brasil : desenvolvimento e validação de método analítico para detecção de novas substâncias psicoativas em amostras forenses de sangue, aplicação nas vítimas jovens e perfil de todos os casos entre 2017 e 2019

• Autor(a) principal: Franck, Maria Cristina
• Data de Publicação: 2020
• Tipo de documento: Tese
• Idioma: por
• Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS
• Texto Completo: http://hdl.handle.net/10183/219238
• topic: Farmácia; Toxicologia forense; Transtornos relacionados ao uso de substâncias; Suicídio; Saúde pública; Análise multivariada; Suicide; Epidemiology; Public health; Forensic toxicology; Multivariate analysis; New psychoactive substances

A toxicologia forense é uma área da ciência que necessita de atualização constante devido ao surgimento de novas substâncias psicoativas (NSP), principalmente no mercado ilícito e que acabam afetando populações jovens, em particular. A identificação de NSP em amostras biológicas tem sido estimulada pelas autoridades mundiais, que visam estabelecer prioridades de controle internacional. Em paralelo, o estado do Rio Grande do Sul (RS) apresenta as maiores taxas de suicídio do Brasil e o consumo de NSP pode estar relacionado às vítimas jovens. Objetivos: Desenvolver um método para a detecção de NSP em sangue, aplicar nas amostras de jovens (15 a 29 anos) e avaliar o perfil epidemiológico, demográfico e toxicológico de todos os casos de suicídio necropsiados pelo Instituto-Geral de Perícias do RS (IGP-RS) entre 01 de janeiro de 2017 e 31 de dezembro de 2019, incluindo a verificação de associações. Métodos: Empregou-se a cromatografia a líquido com detecção por espectrometria de massa do tipo triplo quadrupolo (LC-MS/MS) para o desenvolvimento do método analítico. A validação foi realizada conforme as recomendações do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC). Analisaram-se 200 amostras de sangue (113 de vítimas jovens de suicídio e 87 de jovens relacionados a outros tipos de ocorrência policial). O estudo foi descritivo e transversal incluindo as variáveis: sexo, faixa etária, raça, ausência parental na certidão de nascimento, meio utilizado para o suicídio, contexto do óbito, histórico policial da vítima, causas prováveis para o suicídio, município, região e macrorregião do óbito e do nascimento, ano, estação do ano, mês, quinzena, dia da semana, turno, matrizes biológicas analisadas, resultados toxicológicos obtidos e Coordenadorias Regionais de Perícia (CRP) relacionadas aos casos sem avaliação laboratorial, por meio de consulta às ocorrências policiais e aos laudos periciais. As análises multivariadas de correspondência múltipla, teste de Cochran-Mantel-Haenszel X2 e modelos de regressão logística (α=0,05) foram realizadas no programa R® versão 3.5.1. Resultados: Desenvolveu-se um método específico, de fácil execução e com limites de detecção em níveis recreacionais, validado para a identificação simultânea de 51 NSP em amostras forenses de sangue. Os jovens corresponderam a 18,0% (n=725) de todas as vítimas de suicídio (N=4.019), suas maiores taxas localizaram-se nas regiões da Produção e Vale do Taquari e foram associados à ausência parental, às raças indígena, parda e negra, aos turnos madrugada, noite e tarde, à ausência de medicamentos, à ausência de antecedentes criminais e à presença de substâncias ilícitas, porém não se mostraram associados às NSP. A taxa média anual de suicídios no RS foi 11,8 casos/100 mil habitantes, com aumento de 13,3% de 2018 para 2019. Houve predomínio do sexo masculino (79,8%), da raça branca (90,5%), do meio enforcamento (73,0%) e da presença de depressão (26,3%). A região Vale do Rio Pardo e o município de Venâncio Aires registraram as maiores taxas estaduais (21,6 e 30,0/100 mil habitantes, respectivamente), assim como a faixa etária dos idosos (26,2 casos/100 mil habitantes). A presença de antecedentes criminais associou-se ao sexo masculino, aos adultos, ao período da noite e à ausência parental. O uso de arma de fogo se mostrou associado ao período da noite. Os dias úteis associaram-se aos idosos, à ausência parental e ao turno da manhã. O etanol foi detectado em 28,7% das amostras analisadas, com associação aos adultos, ao período da noite, aos finais de semana, à ausência de medicamentos, à presença de substâncias ilícitas e à presença de antecedentes criminais. Em 29,8% dos casos, houve a detecção de algum medicamento, que se mostrou associada ao sexo feminino, aos adultos e idosos, à intoxicação, à ausência de etanol, à ausência de venenos e ao outono-inverno. Os ansiolíticos foram a classe mais frequentemente detectada, associando-se ao sexo feminino, ao outono-inverno, às macrorregiões de Pelotas, Porto Alegre e Caxias do Sul, à intoxicação, à ausência de venenos e à presença de antecedentes criminais. Os antidepressivos mostraram-se associados ao sexo feminino, aos adultos e idosos, à intoxicação e à ausência de etanol. Os venenos associaram-se às macrorregiões de Passo Fundo e Caxias do Sul. Conclusões: Um método multianalítico para a identificação simultânea de 51 NSP em sangue foi desenvolvido, validado, aplicado em 200 amostras de jovens e implementado na rotina da Divisão de Toxicologia Forense do IGP-RS, ampliando sua capacidade analítica. O perfil das vítimas de suicídio no RS entre 2017 e 2019 foi estudado e apresentado, direcionando novas pesquisas, auxiliando na compreensão desse complexo fenômeno social e de saúde pública, subsidiando a elaboração de ações preventivas.