Nas cinzas da Coleção Perseverança, a memória arde : a mão afro-alagoana além da quebra do Xangô

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Almeida, Anderson Diego da Silva
Data de Publicação: 2021
Tipo de documento: Tese
Idioma: por
Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS
Texto Completo: http://hdl.handle.net/10183/222997
Resumo: Há óleo. Há sangue. Há restos de animais. Há espelhos colados. Há signos de orixás, voduns e inquices bordados. Há cheiro de ritual. Há objetos queimando. É a história de uma coleção secular. A narrativa apresentada, a seguir, foi tecida a partir do conceito de estética assombrada, que permeia a gênese da Coleção Perseverança. Nessa trajetória analítica, o foco era ir à busca de um criador e postular que é possível falar de um artista afro-alagoano, mesmo na impossibilidade de o encontrar fisicamente. Era preciso procurá-lo. E assim foi feito. Mas, também era preciso soprar em cinzas, enxergar camadas escondidas pelo assombro alimentado por teóricos, imprensa e uma sociedade racista. Era preciso ouvir o silêncio de memórias negras, constantemente perseguidas, incrustado em cada peça que compõe o conjunto expositivo, hoje salvaguardado pelo museu do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas – IHGAL. Era preciso não abandonar as histórias que antecederam o Quebra do Xangô, fatídico episódio orquestrado por um grupo miliciano, na noite de 1º de fevereiro de 1912, que culminou com a destruição dos conhecidos xangôs alagoanos, na cidade de Maceió. É desta devassa que a coleção aqui analisada é documento, memória cristalizada numa plástica sagrada. É neste cenário que a tese se constrói e, dele, vai além, propondo evidenciar as mãos de um artista invisível. Mãos afro-alagoanas que se apresentam nas flamas que saltam, constantemente, entre tantos documentos, que denunciam não somente a história do quebra-quebra, todavia, caminhos pelos quais o artista se alimentou criativamente para produzir, apesar das intempéries, sua estética afrorreligiosa. Para tal desafio, foi preciso seguir ancorados em Carlo Ginzburg, Georges Didi-Huberman, Mariano Carneiro da Cunha e Roberto Conduru, por indícios, pistas e inúmeras marcas que, no primeiro sopro, revelaram materiais, técnicas e, consequentemente, significados de feitura local. Contudo, será analisada a história dos objetos a partir das memórias que não se reduzem a 1912, mas que se reverberam numa plástica e funcionalidade intrínsecas aos ritos, aos folguedos e às paisagens de uma Maceió africanizada; histórias outras ainda não contadas. Expressar-se-á, então, que nas páginas que aqui se personificam como a escrita da memória de um anônimo, será encontrado um artista habilidoso, que riscou santos, que se imbuiu pelo sincretismo e não hesitou em se revelar. No assombro, há um artista que cantou ao orixá, que dançou Quilombo e Maracatu. Há um artista que bateu o ilu e rogou o Pai Nosso. Esta tese fala de um artista que se desvela até hoje.
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Era preciso ouvir o silêncio de memórias negras, constantemente perseguidas, incrustado em cada peça que compõe o conjunto expositivo, hoje salvaguardado pelo museu do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas – IHGAL. Era preciso não abandonar as histórias que antecederam o Quebra do Xangô, fatídico episódio orquestrado por um grupo miliciano, na noite de 1º de fevereiro de 1912, que culminou com a destruição dos conhecidos xangôs alagoanos, na cidade de Maceió. É desta devassa que a coleção aqui analisada é documento, memória cristalizada numa plástica sagrada. É neste cenário que a tese se constrói e, dele, vai além, propondo evidenciar as mãos de um artista invisível. Mãos afro-alagoanas que se apresentam nas flamas que saltam, constantemente, entre tantos documentos, que denunciam não somente a história do quebra-quebra, todavia, caminhos pelos quais o artista se alimentou criativamente para produzir, apesar das intempéries, sua estética afrorreligiosa. Para tal desafio, foi preciso seguir ancorados em Carlo Ginzburg, Georges Didi-Huberman, Mariano Carneiro da Cunha e Roberto Conduru, por indícios, pistas e inúmeras marcas que, no primeiro sopro, revelaram materiais, técnicas e, consequentemente, significados de feitura local. Contudo, será analisada a história dos objetos a partir das memórias que não se reduzem a 1912, mas que se reverberam numa plástica e funcionalidade intrínsecas aos ritos, aos folguedos e às paisagens de uma Maceió africanizada; histórias outras ainda não contadas. Expressar-se-á, então, que nas páginas que aqui se personificam como a escrita da memória de um anônimo, será encontrado um artista habilidoso, que riscou santos, que se imbuiu pelo sincretismo e não hesitou em se revelar. No assombro, há um artista que cantou ao orixá, que dançou Quilombo e Maracatu. Há um artista que bateu o ilu e rogou o Pai Nosso. Esta tese fala de um artista que se desvela até hoje.There is oil. There is blood. There are animal remains. There are mirrors glued. There are signs of orixás, voduns and embroidered inquiries. There is a smell of ritual. There are burning objects. It is the story of a secular collection. The narrative presented below was woven from the concept of haunted aesthetics, which permeates the genesis of the Perseverance Collection. In this analytical trajectory, the focus is to go to the serach for a creator and to postulate that it is possible to talk about an Afro-Alagoas artist, even if he does not find him physically. It was necessary to look for him. And so it was done. But it was also necessary to blow into ashes, to see layers hidden by the astonishment fed by theorists, the press and a racist society. It was necessary to listen to the silence of black memories, constantly pursued, embedded in each piece that makes up the exhibition set, now safeguarded by the museum of the Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas - IHGAL. It was necessary not to abandon the stories that preceded Quebra do Xangô, a fateful episode orchestrated by a militia group, on the night of February 1, 1912, which culminated in the well's destruction-known Alagoas xangôs in the city of Maceió. It is from this wantonness that the collection analyzed here is a document, a memory crystallized in a sacred plastic. It is in this scenario that the thesis is constructed and goes beyond it, proposing to highlight the hands of an invisible artist. Afro Alagoas hands that appear in the flames that leap, constantly, among so many documents, that denounce not only the history of the smash-break, however, paths through which the artist creatively nourished himself to produce, despite the weather, his Afro-religious aesthetics. For this challenge, it was necessary to remain anchored in Carlo Ginzburg, Georges Didi-Huberman, Mariano Carneiro da Cunha and Roberto Conduru, for indications, clues and countless marks that, in the first breath, revealed materials, techniques and meanings of local production. However, we will analyze the history of the objects from the memories that are not reduced to 1912, but, that reverberate in a plastic and functionality intrinsic to the rites, the fun and the landscapes of an Africanized Maceió; stories yet to be told. It will express that in the pages that are personified here as the writing of the memory of an anonymous person, It will find a skilled artist who crossed out saints, who was imbued with syncretism and did not hesitate to reveal himself. In amazement, there is an artist who sang to the orixá, who danced Quilombo and Maracatu. There is an artist who beat the ilú and begged our father. This thesis speaks of an artist who unveils himself today.application/pdfporArte negraMemóriaColeção (Arte)Afro-Alagoas handAfroreligious memoryHaunted artPerseverance CollectionXango breakNas cinzas da Coleção Perseverança, a memória arde : a mão afro-alagoana além da quebra do Xangôinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisUniversidade Federal do Rio Grande do SulInstituto de ArtesPrograma de Pós-Graduação em Artes VisuaisPorto Alegre, BR-RS2021doutoradoinfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGSinstname:Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)instacron:UFRGSTEXT001127342.pdf.txt001127342.pdf.txtExtracted Texttext/plain745480http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/10183/222997/2/001127342.pdf.txt5cad901742c400b4a6ad9afd807d4364MD52ORIGINAL001127342.pdfTexto completoapplication/pdf307219450http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/10183/222997/1/001127342.pdf7588723e29693388928a9c2608014886MD5110183/2229972021-07-09 04:39:34.590901oai:www.lume.ufrgs.br:10183/222997Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttps://lume.ufrgs.br/handle/10183/2PUBhttps://lume.ufrgs.br/oai/requestlume@ufrgs.br||lume@ufrgs.bropendoar:18532021-07-09T07:39:34Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)false
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